Movimento de Miranda preocupado com consequências da limpeza da barragem

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Ter, 21/09/2021 - 11:33


A barragem de Miranda do Douro está a ser intervencionada para a extracção de 8000 m³ de inertes para “desassoreamento parcial daquela zona” e manutenção da comporta de fundo da barragem, garantido a segurança desta infra-estrutura

A intervenção é da responsabilidade da Movhera, empresa que detém agora a concessão desta barragem, depois de ter sido vendida pela EDP. Num comunicado enviado pela Agência Portuguesa do Ambiente, que autorizou esta extracção, é explicado que os sedimentos finos serão “diluídos e descarregados” para jusante, na albufeira de Picote, e os maiores serão retirados para “separação”, “acondicionamento” e “deposição nos locais apropriados”. Porém, não foi esclarecido em que condições seriam depositados os inertes nem o local concreto. O Movimento Cultural da Terra de Miranda não ficou contente com a explicação e pede “transparência”. “As populações têm que saber, única e simplesmente, o que é que está nessas lamas. Pelo que dizem no comunicado, vai haver um escorrer de água com sólidos, rio abaixo, e as populações têm o direito de saber quais são as propriedades físico-químicas dessas lamas”, defendeu Susana Ruano, membro deste movimento cívico. Para o Movimento pode estar em causa a saúde das pessoas, uma vez que não se conhece a composição dos sedimentos que estão a ser extraídos, e também o ambiente. “Lamas que são de décadas de acumulação. O que têm? Quais são as características? Para onde vão? Parte delas vão rio abaixo. Outra parte vão ser depositadas, mas onde? Serão tratadas?”, questionou Susana Ruano, concluindo é preciso saber “até que ponto vai ou não influenciar a vida destas pessoas”. Em comunicado a APA referiu ainda que “em articulação com o ICNF e a Câmara Municipal de Miranda do Douro, autorizou esta intervenção que prevê que o desassoreamento seja realizado por dragagem”. Contactado o presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro, Artur Nunes, descartou responsabilidades. O Jornal Nordeste entrou ainda em contacto com a APA para obter mais esclarecimentos sobre as consequências que esta extracção poderá ter na saúde pública. Em resposta explicaram que foram feitas análises aos sedimentos que concluíram que é “material dragado limpo que pode ser depositado no meio aquático ou reposto em locais sujeitos a erosão ou utilizado para alimentação de praias sem normas restritivas”. Quanto aos inertes de maior dimensão “podem ser troncos ou outros que podem ser arrastados em cheias que serão retirados e enviados para os destinos legalmente previstos”. “A APA-Agência Portuguesa do Ambiente esclarece que não existe qualquer risco para a saúde pública pois são sedimentos que naturalmente circulam no rio e que devido à existência da barragem se vão acumulando”, concluiu.

Jornalista: 
Ângela Pais