O logro premeditado

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Ter, 27/09/2005 - 17:07


Todos sabemos que a comunicação social tem um poder muito grande e influencia as pessoas sobre os assuntos que interessam num determinado momento.

E talvez
por isso mesmo, assistimos a alguma comunicação social, tentar desviar a
atenção dos portugueses para outros assuntos que não são, seguramente, os
do momento.
As diversas estações de televisão deste país, estão a baralhar
completamente o povo português acerca das eleições. Estou convencido que
elas agem por interesses externos, por propostas exteriores e até por
sugestão imperiosa do governo. Seja como for, o certo é que elas transmitem
as notícias forjadas para este momento, mas que nada têm a ver com o momento
nacional que se vive.
De facto, vivemos agora um tempo de eleições autárquicas. Diga-se o que se
disser, as autárquicas estão à porta e as movimentações são imensas em
todos os concelhos. No entanto não é isso que passa pelas televisões. O que
verificamos todos os dias são as notícias sobre as eleições presidenciais,
que estão ainda longe no tempo, pois daqui até Janeiro ainda vai correr muita
água no caneiro! Então porque razão só se fala das presidenciais? Porque
razão só se dá cobertura às viagens de Mário Soares? Porque é que é
notícia, um jantar de Manuel Alegre com alguns amigos da sua terra natal? Só
porque ele disse que ia ser candidato à Presidência da República?
Francamente!
A verdade é que os portugueses estão a ser manipulados por uma comunicação
social dirigida superiormente para um determinado assunto, só para distrair e
desviar a atenção do que é mais importante. Se assim não fosse, como
explicar tais notícias? As eleições autárquicas devem ser e são o assunto
do momento e todos os portugueses devem estar envolvidos, de alguma maneira, no
seu desenrolar. É um assunto nacional. E vai ser o seu resultado, que vai
organizar as próximas eleições presidenciais. E aqui não está em causa
quem vai ganhar ou perder estas eleições. O que está em causa é o
cumprimento de um dever, o de cidadão nacional. É um dever que a todos
implica até mesmo os que fazem parte da comunicação social e dos partidos
políticos. Não é de todo um acto digno, o desviar as atenções das pessoas
para outros factos que não os do momento, só para retirar dividendos,
possivelmente, da não divulgação das notícias essenciais sobre as
autárquicas.
Isto não quer dizer que nada é dito sobre o assunto. É evidente que isso
seria de muito mau tom e nem sequer seria aceite pela sociedade. Nada disso. No
entanto, também é verdade que as notícias sobre as eleições do dia 9 do
corrente mês são, na sua maior parte desprestigiantes. Se não vejamos:
Fátima Felgueiras, fugida à justiça é candidata; Isaltino desafia o partido
e é candidato independente; Valentim Loureiro, à revelia do partido é
candidato e afronta o presidente do partido a que pertence; Torres afronta a
justiça e candidata-se como independente; o partido socialista está dividido
no seu apoio a vários candidatos e o mesmo se passa com o partido
social-democrata. Ora isto não prestigia estas eleições, como é óbvio. Mas
é facto que não é só isto que se passa. A cobertura sobre as presentes
eleições é deficiente. Todos já o notaram! Acabe-se com a tentativa de
enganar os portugueses e desviar a sua atenção para as próximas eleições,
quando ainda nem começaram verdadeiramente as autárquicas. Cada coisa a seu
tempo.
O que é certo é que a comunicação social não pode continuar a ser
manipulada, nem pode cair no facilitismo noticioso, correndo o risco de cair no
ridículo e na crítica fácil. Ou dá a notícia do momento e fica por aí
mesmo, ou então se quiser seguir a visão futurista das parangonas do logro,
que siga, mas não será por muito tempo certamente. Os portugueses ainda sabem
seleccionar! Felizmente, ou não, ainda temos por onde escolher!
Finalmente, cabe aqui uma palavra para criticar o governo sobre este assunto,
naturalmente. Verdade ou não, todos vão acreditando que quem está a
manipular alguma comunicação social é o governo. Será? Bem, o certo é que
isto lhe pode trazer dividendos, pois encobrindo os dissabores que as
autárquicas estão a ter, o melhor é realçar o que ainda vem longe,
aplanando assim o caminho para uma vitória presidencial. Faz sentido.
Seja como for, a comunicação social deve ser independente. Eu sei que é
difícil! Há publicidade, há subsídios, há interesses vários que
contribuem para a sua sobrevivência, principalmente numa conjuntura como a
actual. Mas nem todos os meios justificam os fins!
Cada coisa no seu lugar e a verdade acima de tudo! Deixemo-nos de logros.