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O mestre do ferro de Moncorvo

Ter, 25/10/2005 - 15:01


Aos 85 anos de idade, António Carvalho recorda o tempo em que transformava pedaços de ferro nos utensílios que haveriam de ajudar os homens nos trabalhos agrícolas.

O desafio lançado pelo seu compadre para picar foices levou António Carvalho a deixar a actividade agrícola para se dedicar, “de corpo e alma”, à profissão de ferreiro.
“Tudo que fiz tirei-o da minha cabeça. Nunca aprendi esta arte em nenhuma oficina de ferreiro e consegui fazer máquinas para moldar o ferro que nunca tinha visto”, realça este ferreiro.
A guilhotina de cortar o metal é um exemplo da imaginação e criatividade de António Carvalho, que foi apelidado de “mestre” por fornecedores de ferro vindos de diversos pontos do País.
A aldeia de Felgueiras, no concelho de Torre de Moncorvo, foi o primeiro local de trabalho de do artesão, que acabou por mudar a sua forja para a aldeia do Carvalhal, com vista a aumentar o volume de negócios.

A arte da cutelaria

A cutelaria era uma das áreas onde o trabalho de António Carvalho se distinguia dos restantes ferreiros. “Eu nunca aprendi a fazer objecto nenhum, mas conseguia pegar num pedaço de ferro e transformá-lo em facas, ceitouras, podões, machadas, entre outros objectos característicos da região”, sublinha o ferreiro de Felgueiras.
Segundo António Carvalho, a arte de moldar o ferro é difícil de aprender, pelo que os três aprendizes que passaram pela sua oficina acabaram por seguir outro rumo na vida.
Já os filhos do mestre chegaram a aprender a profissão de ferreiro, mas resolveram seguir um ramo ligado a este ofício, mas no estrangeiro.
É que trabalhar o ferro é uma tarefa dura, pelo que o calor do carvão e o peso do malho poderá ter assustado os mais jovens, que acabaram por não dar continuidade a esta actividade tradicional.
“Para moldar o ferro é preciso suar a testa. Naquele tempo, ser ferreiro dava dinheiro mas era preciso trabalhar de dia e de noite”, realça António Carvalho.

Museu homenageia ferreiros

Quando os utensílios feitos pelos ferreiros começaram a ter a concorrência da indústria, o artesão de Felgueiras, já instalado na aldeia do Carvalhal, decidiu modernizar a sua forja e dedicar-se mais à serralharia.
Nessa altura, doou as peças antigas ao Museu do Ferro de Moncorvo. Hoje, o fole de ferreiro, a safra, o martelo e o malho são algumas das peças da forja de António Carvalho, que podem ser encontradas naquela unidade museológica.
A direcção do Museu mostra-se reconhecida com a oferta e, na passada quinta-feira, prestou uma homenagem ao ferreiro, que naquele dia em que completou 85 anos de vida.
“Nós decidimos homenagear António Carvalho porque é o ferreiro mais antigo do concelho de Torre de Moncorvo e, ao mesmo tempo, pretendemos prestar a nossa homenagem a todos os ferreiros”, concluiu o responsável pelo museu, Nelson Campos.