“Os jogadores foram obrigados a crescer muito rápido, tal como a equipa técnica”

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Ter, 20/04/2021 - 21:53


A falta de recursos financeiros, a reestruturação do clube, a pandemia da Covid-19, e a mudança de treinador numa temporada desgastante para o Grupo Desportivo de Bragança que terminou com a despromoção ao distrital.

Depois de terminada a primeira fase do Campeonato de Portugal, o tempo é de reflexão para Rafael Nascimento, técnico do Grupo Desportivo de Bragança.

Os brigantinos desceram aos distritais numa temporada atípica, marcada pela pandemia da Covid-19 e pela reestruturação do clube. “O momento tem sido de reflexão para perceber onde errei como treinador para no futuro ter uma intervenção melhor”, disse o técnico.

Rafael Nascimento tem apenas 27 anos, é um dos mais jovens técnicos do Campeonato de Portugal e foi a primeira vez que treinou um plantel sénior. O treinador confessa que “não contava que esta oportunidade chegasse tão cedo” e que apesar de o desfecho da época ter sido a despromoção “foi uma experiência enriquecedora”. “Não teve o final que eu queria, mas foi enriquecedora na mesma”.

O técnico assumiu o comando da equipa no final de Dezembro, sucedendo a Marco Móbil, realizou 14 jogos, com três vitórias, sete empates e quatro derrotas.

O trabalho foi complicado e explica que a sua equipa técnica “teve que mexer no motor do carro com este em andamento”. “Quando assumimos o comando técnico não parámos, tivemos de trabalhar em algo que não construímos. Mas esta é a vida de treinador. Claro que gostaria de ter escolhido os jogadores, de ter construído o plantel, mas não adianta estar a pensar se teria sido diferente o resultado da época. Nunca vamos saber”.

A treinar um plantel bastante jovem, muitos dos jogadores estrearam-se no Campeonato de Portugal e outros numa equipa sénior, caso de Ruben Gonçalves, que foi lançado frente ao Braga B, ainda com Marco Móbil, com 16 anos, Rafael Nascimento tentou sempre “tirar o máximo de rendimento dos atletas”. “Nunca me agarrei a nada e sempre procurei rentabilizar ao máximo aquilo que tinha. Há no plantel jogadores com um potencial enorme, mas precisam de ganhar experiência, precisam de jogar para crescer. Foram obrigados a crescer muito rápido, tal como nós, equipa técnica”.

Na análise ao desempenho do grupo, Rafael Nascimento considera que o jogo da segunda volta com o Vimioso em casa, que terminou empatado sem golos, teve bastante peso para um desfecho de época negativo. “A equipa vinha de duas vitórias e um empate em Montalegre e o empate, em casa, com o Vimioso cortou-nos um pouco o alento. Foi um jogo em que nos sentimos prejudicados. Penso que o árbitro teve um dia mau. Depois, há o jogo em Vidago em que estivemos a ganhar e acabámos por sair de lá só com um ponto. O mesmo aconteceu na jornada seguinte, em casa, com o Pedras Salgadas”, recordou.

O técnico, que antes tinha funções directivas, lembra também que o actual contexto do clube não foi favorável na preparação da temporada. “Não se pode preparar uma época em Julho. Foi quando nos foi permitido começar a trabalhar porque antes não havia órgãos sociais. O clube ia terminar se não fosse esta comissão administrativa”.

Com um orçamento bastante reduzido e sem recursos para ombrear com outros emblemas adversários, a dificuldade para contratar jogadores “foi enorme”.

A juntar a todos estes obstáculos a pandemia da Covid-19 trouxe vários constrangimentos, sobretudo nos jogos fora de casa, na fase de confinamento. “Falo da questão das refeições. Lembro-me quando fomos jogar a Vidago tivemos de almoçar às 10h00 em Bragança para jogar às 15h00. Muitas vezes tivemos de almoçar em áreas de serviço. Isto não serve de desculpa, pois foi uma situação que afectou todas as equipas, mas em termos de logística e de gestão do plantel, também complicou”. 

Rafael Nascimento não sabe o que o futuro lhe reserva e garante não estar preocupado com isso, tendo apenas a certeza que vai continuar a treinar.

Sobre a fase que se segue do campeonato, o treinador vai ser um espectador atento e acredita que no que toca à equipas transmontanas, “o Mirandela, na série 2, e o Montalegre, na série 1, têm todas as condições para discutir a fase de acesso à Liga 3”.

 

Jornalista: 
Susana Madureira