Pauliteiras brilham no Planalto

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Qua, 17/08/2005 - 15:14


As pauliteiras de Valcerto, no concelho de Mogadouro, são um caso raro de popularidade, tanto na região como noutros pontos do País, dada a simpatia e alegria com que estas jovens se dedicam às danças dos paus.

Recorde-se que esta actividade cultural, que se perde no tempo, era reservada exclusivamente aos homens da Terra de Miranda, até há bem pouco tempo..
Este grupo de dançadoras é o único no País com estas características, uma vez que reuniu, há cerca de dois anos, um grupo de jovens raparigas com idades compreendidas entre os 16 e os 25 anos.
“O grupo foi constituído com o intuito de dar continuidade à tradição, já que a mesma tendia a perder-se em Valcerto. O gosto pelo passado foi o impulso que fez com que mesma não se extinguisse por completo”, salientou Isabel Sardinha, um dos elementos do grupo.
No início, foi o divertimento que juntou estas jovens, mas em pouco tempo esta situação acabou por evoluir, para uma forma de representar a cultura do concelho de Mogadouro. “Nunca pensámos que tivéssemos a expansão que acabamos por ter”, salientam a dançadeiras.

Pauliteiras actuam
em diversos palcos

Após dois anos de existência, estas jovens já tiveram cerca de meia centena de actuações tanto no concelho, como em toda a região Norte, e até já participaram em programas de televisão.
O facto deste grupo de mulheres vir quebrar um pouco a tradição, no início a questão era mais sensível. Agora o trabalho desenvolvido em prol da cultura local é visto com outros olhos. “Nós fazemos as coisas por gosto, não estamos aqui para afrontar a tradição, muito pelo contrário procuramos fazer com que a mesma seja perpetuada”, garantem as pauliteiras.
As tradições também evoluem e as pauliteiras de Valcerto são o exemplo vivo dessa evolução. “Não se trata de uma questão de emancipação do papel da mulher nas aldeias do interior, mas sim de dar continuidade a uma tradição secular, como é a dança dos paus”, acrescentaram.

Novas dançarinas
juntam-se ao grupo

Apesar de se tratar de uma dança vigorosa, as pauliteiras de Valcerto dizem estar preparadas para o desgaste das suas actuações e consideram que “a dança também não requer tanta força como inicialmente parece, mas sim resistência física, uma vez que as danças são movimentadas ”.
Em relação aos ensaios do grupo a situação complica-se, já que a maior parte das jovens são licenciadas e as outras estão a estudar fora do concelho, o que dificulta a reunião de todos os elementos do grupo.
Apesar das dificuldades iniciais em aprenderem a coordenação dos movimentos, dado que os métodos utilizados pelos mais velhos nem sempre eram os mais adequados, estas jovens deixam um agradecimento os elementos mais velhos com quem aprenderam.
Flávia Felgueiras, outro dos elementos do grupo, afirma que o grupo começou por despertar curiosidade. “Quando as pessoas vêm as raparigas a dançar com os paus ficam surpreendidas”, salienta esta pauliteira.
Quanto ao futuro, as jovens confessam que ainda não pensam muito nele mas já estão a preparar raparigas mais novas para integrarem o grupo, para passarem o gosto pela dança dos paus a outra geração.
“O tempo de férias junta-nos a todas com as dançadeiras mais novas. Por isso, o futuro do grupo de pauliteiras pode ser risonho”, realçam as pauliteiras.
Durante a época de Verão ainda se pode ver a alegria das raparigas de Valecerto a dançar a Bicha, as Campanitas, ente outros temas do cancioneiro mirandês.