Produtores de castanha dizem que estragos causados por javalis foram os piores dos últimos anos

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Ter, 27/10/2020 - 11:21


O javali não tem passado despercebido em algumas aldeias do concelho de Bragança.

Em Vila Boa de Carçãozinho, os produtores têm sofrido com os prejuízos causados por estes animais. Numa altura em que começa a cair a primeira castanha, os agricultores queixam-se de que muita é comida pelos javalis e que os estragos no terreno são evidentes. Ana Pereira tem quase 80 anos e mais de 10 mil castanheiros. Os estragos provocados pelo javali já não são novidade para si mas, este ano, as coisas parecem estar piores. “O javali dá muito prejuízo. No início [desta campanha] não conseguimos apanhar nenhuma castanha. Temos castanheiros que dão castanha em Setembro e quase que não aproveitámos nada”, contou. A agricultora acredita que com a falta de jovens caçadores e com o cancelamento das montarias, devido à pandemia, os estragos provocados pelo javali vão ser cada vez mais frequentes. Ana Pereira falou ainda dos danos que já provocaram nos lameiros. “Andam de volta das vacas e não têm medo de nadinha. Lavram os lameiros todos com o focinho”, disse. Augusto Pires é também produtor de castanhas e presidente da junta de Gondesende. Também tem sentido os estragos do javali e ouvido as queixas de outros agricultores. “Temos os soutos lisinhos para apanhar as castanhas e quando chove e eles vão lá, para juntar as castanhas, depois é um caos. Fossam tudo e depois as castanhas enterram-se”, disse. Na sua opinião, os javalis deveriam poder ser caçados “livremente” durante o tempo de caça. “Este ano vamos ter ainda o problema de não se realizarem as montarias e vai-se agravar muito a situação”, referiu. Segundo o Artigo 2, do Decreto-Lei n.º 202/2004, de 18 de Agosto, as esperas ao javali “só são permitidas no período de lua cheia” e nos “8 dias anteriores ao dia de calendário em que ocorre a lua cheia, independentemente da hora, o próprio dia e o dia seguinte a este”. Ainda assim, Augusto Pires considera que não é suficiente, visto que os javalis nem sempre aparecem neste período. As plantações de castanheiros novos também estão a ser destruídas. “Este ano foi dos piores anos que eu já vi. Deve haver muitos javalis”, referiu Virgílio Martins, de Vila Boa de Carçãozinho, contando que no que toca a plantações novas ainda é pior. “Os castanheiros que são plantados há dois ou três anos, eles partem-nos redondinhos. Quem vir aquilo pensa que foi alguém que os andou a partir, mas são eles com os dentes”, contou. O produtor tinha plantado cerca de 60 castanheiros, que foram todos destruídos pelo javali. Já Daniel Brás aponta que o maior aborrecimento nem é tanto o que o javali come, mas o que estraga. “Os javalis vão continuar a fazer estragos até ao fim da campanha. Quando têm pouca fome eles cortam as castanhas ao meio e não as comem e as castanhas ficam destroçadas”, afirmou. Há ainda quem acredita que o javali está a perder o medo às pessoas e está cada vez mais próximo das populações. Às oito e meia da manhã, o presidente da junta de Espinhosela viu 7 javalis, dois de grande porte e cinco pequenos, a comer nozes, próximos da estrada nacional 308, perto da aldeia de Carragosa. Octávio Reis contou que ainda os fotografou e só com a buzina do carro os animais fugiram.

Falta de apoios

Os produtores sentem que há falta de apoios por parte da tutela. Alguns deixaram de reportar os estragos ao Instituto da Conservação da Natureza e Floresta, porque dizem que raramente são indemnizados. “Nós já falamos todos em comunicarmos [ao ICNF], mas não comunicámos. Mas temos que o fazer”, afirmou Virgílio Martins, acrescentando que, ainda assim, tem noção de que “não há apoio nenhum”. “Antes quando havia estragos davam apoio, mas agora ouvi dizer que já não dão nada”, salientou. Também Augusto Pires considera que os produtores deveriam ser indemnizados. “Quando os javalis dão prejuízo eles [ICNF] deveriam ir ver e atribuir uma indemnização, mas não fazem nada disso”, afirmou. Até esta segunda-feira não foi possível chegar à fala com a directora regional do ICNF, apesar das várias tentativas.

Jornalista: 
Ângela Pais