Produtores de Raça Bísara dizem-se excluídos de apoio à carne de suínos

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Ter, 29/12/2020 - 10:56


A Associação Nacional de Criadores de Suínos de Raça Bísara (ANCSUB) contesta os critérios de acesso aos apoios da medida excepcional e temporária criado pelo ministério da Agricultura, porque fazem com que grande maioria dos criadores de suínos desta raça autóctone não sejam abrangidos.

A medida foi lançada pela tutela para ajudar os produtores de carne a responder às consequências económicas do surto pandémico, em particular à dificuldade de escoamento dos produtos perante o encerramento e limitação de horários de restaurantes, cafés e hotéis. Está previsto apoio aos sectores de aves, do leite e pequenos ruminantes e da carne de suínos. No entanto, os criadores da raça bísara queixam-se dos critérios para atribuição do apoio, que se destina essencialmente a explorações compostas por porcas reprodutoras e leitões. “Como está desenhada a portaria, exclui a grande maioria dos produtores de raça bísara”, afirma o secretário técnico da ANCSUB, Pedro Fernandes. A maioria dos criadores desta raça teve de se adaptar por causa da pandemia, explica ainda. “A candidatura é baseada na declaração de existências do mês de Abril, que já reflecte as alterações ao efectivo que os criadores fizeram para se defenderem dos efeitos da pandemia. Por exemplo, leitões que não foram vendidos, uma vez que encerraram os restaurantes e toda essa clientela, foram recriados para substituir reprodutores e também para fazer algumas engordas. Logo aí, é impossível cumprir com a alínea dos critérios de elegibilidade que diz que para terem o apoio 90% do efectivo da exploração, em Abril, tinha de ser constituída por porcas reprodutoras e leitões”, afirmou. O secretário técnico da ANCSUB explica ainda que devido às especificidades da raça, nomeadamente ao facto de muitos animais serem criados para fumeiro, tanto em Vinhais como na alheira de Mirandela, faz com que sejam muito poucos os produtores que conseguem aceder ao apoio. “Até agora têm sido pouquíssimos, a grande maioria não consegue cumprir os critérios de elegibilidade e, portanto, estão excluídos do apoio. Fizemos algumas candidaturas e aqui do concelho de Vinhais só um criador é que vai aceder, porque na altura da declaração de existências, ainda tinha lá muitos leitões e isso permite-lhe atingir os 90%”, afirmou. A ANCSUB contesta também o facto de ter sido aberta uma excepção neste critério para o porco alentejano e pede a mesma discriminação positiva para a raça bísara que tem o solar em Trás- -os-Montes. “Parecia-nos mais correcto haver também um subsector, como o que foi criado para o porco alentejano devido às suas especificidades, e acho isso bem, mas também achava bem que fossem atendidas as especificidades da raça bísara, porque estamos a falar de raças autóctones, que têm modos de exploração e produção muito específicos. Parece-me que não faz sentido isolar o porco alentejano e não outras raças autóctones, como o porco bísaro ou o malhado de Alcobaça”, sublinhou. A ANCSUB, que tem 160 explorações associadas, espera que quando forem lançadas medidas de apoio no futuro a definição de critérios seja diferente e a situação não se repita.

Foto: ANCSUB

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro