Ter, 10/08/2021 - 11:38
Os veados estão a provocar danos avultados nas culturas, especialmente de castanheiros, na zona da Lombada, no concelho de Bragança. O problema já não é de agora, mas tem vindo a piorar nos últimos anos. Os agricultores queixam- -se que o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas pouco faz para resolver a situação. “O ICNF vai ver os prejuízos, só que é muito complicado. Vêem uma árvore com um porte de uma saca de castanhas e dizem que vale dez euros e uma árvore para chegar a esse porte demora muitos anos. Uma árvore daquelas fica à volta de 200 ou 300 euros. Não é com dez euros que pagam os estragos”, afirmou o agricultor Duarte Fernandes. A falta de alimento nas montanhas estará na origem destes estragos. Os veados aproximam-se das populações e das culturas dos agricultores para se alimentarem. “Um dia destes até vão jantar comigo à sala”, disse João Rodrigues. Para o produtor também de castanha os estragos para além de trazerem custos, também atrasam na produção, visto que o castanheiro demora alguns anos até começar a dar lucro. Por isso, defende que a solução passará por “vedações colectivas”, caso seja permitido e financiado pelo ICNF, ou então pelo “abate selectivo para controlar a densidade desses animais nas aldeias”. O agricultor também se queixou da falta de respostas por parte Instituto de Conservação da Natureza e Florestas. “Eu chamo-lhe silêncio. A avaliação que eles fazem dos estragos é muito selectiva”, frisou. Sendo a Lombada uma das zonas nacionais de caça, os veados são a “grande troféu” para os caçadores. Assim, a sua procriação é uma mais-valia para os agricultores. Mas para o presidente da União de Freguesias de São Julião de Palácios e Deilão, aldeias inseridas nesta zona, os veados são uma “praga” e a situação está a tornar-se “insuportável”. “Qualquer plantação que é feita, qualquer horta que é sementada, ou seja faz logo uma vedação, ou então não vale a pena plantar. Os custos triplicam ou quadruplicam”, disse Altino Pires. O autarca criticou ainda a morosidade do pagamento dos prejuízos, que considera ser “muito inferior” ao valor merecido e também a posição do ICNF. “Não nos dão nenhuma resposta. Nós estamos inseridos numa zona de caça nacional da lombada, esta espécie representa em termos de caça um dos bons troféus e é aqui onde têm saído os bons troféus de caça de veado e, portanto ao ICNF interessa-lhe preservar esta questão e que haja esse tipo de animais para serem abatidos”, afirmou. Os agricultores e a junta de freguesia vão unir-se para mais uma vez reivindicarem uma solução que evite os estragos que têm sido provocados por este animal de grande porte. Mas as esperanças já são poucas. “Vamos mais uma vez apresentar uma reivindicação junto do ICNF e estou crente que vamos continuar exactamente como estamos”, concluiu Altino Pires. Contactada a directora regional do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, Sandra Sarmento, esclareceu que “o ICNF tem desenvolvido medidas que visam a prevenção de eventuais prejuízos, implementando projectos que visam a melhoria do habitat do veado, contemplando o aumento das áreas disponíveis de pastagens, fora do perímetro agrícola das povoações, no sentido de promover a disponibilidade de alimento para esta espécie”. Referiu ainda que é instalado “fio eléctrico a delimitar as culturas cerealíferas e pomares, tendo já sido instalados mais de 4,5 km deste fio, nas localidades de Deilão, Guadramil e Rio do Onor”. Sandra Sarmento acrescentou ainda que são pagos os prejuízos causados pelo veado, javali e corço, dentro da Zona de Caça Nacional da Lombada e que os veados são monitorizados e o seu abate o abate é feito pelo “método de aproximação garantindo a sustentabilidade desta espécie”.