PUB.

A CAIXA, CLARO

PUB.

Anda por aí muita gente a tentar convencer-nos, por um lado, que a Caixa Geral de Depósitos é um banco igual aos outros. Embora, no que convém, se apressem a evidenciar as diferenças, que as há, claro. Pior ainda, esquecem as mais polémicas e que estão, a meu ver, na origem da atual polémica sobre o Banco Público.
Dizem-nos que a CGD é uma entidade financeira que opera no mercado em igualdade de condições com a restante banca da praça. Não é totalmente verdade. É de todos conhecida a inércia inerente à condição humana a que nos tempos correntes se soma o incómodo associado à necessária alteração, uma a uma as contas e rendas mensais pagas de forma automática por débito em conta. Uma base sólida de clientes, que potencia uma grande rede de balcões, é, seguramente, uma invejável mais valia. Rede que não foi angariada em condições de igualdade com os seus concorrentes. Durante dezenas de anos houve contas obrigatórias no banco do Estado, para todos os funcionários públicos, para os depósitos e cauções determinados pela justiça e para a constituição de capital social das novas empresas. Esta situação, numa altura em que o negócio do dinheiro rendia juros apetecíveis (muitos dos depósitos referidos não conferiam qualquer benefício ao depositante) deu à instituição uma invejável posição no mercado. A posição cimeira que tem na praça não lhe advém da sua qualidade enquanto agente de mercado, mas por condições impostas pelo poder político.
Há também a pretenção de querer que fazer uma equivalência entre o acionista único da caixa e o conjunto de acionistas dos outros bancos. Ora há aí uma diferença enorme. Os acionistas privados quando nomeiam administradores e definem a estratégia comercial estão a fazê-lo colocando em jogono seu dinheiro. Já quem manda na administração da avenida João XXI, jogando embora com o seu prestígio, podendo ver-se condicionado na sua carreira política, não arrisca um único cêntimo do seu património pessoal. Os verdadeiros acionistas somos nós, todos os portugueses. E se não é aceitável, por impraticável, que seja uma assembleia geral de acionistas, tal como nas outras instituições, a determinar as orientações e representações da cúpula do banco pelo menos são-nos devidas explicações quando há situações anómalas ou excecionais como o próximo aumento de capital.
Também há quem se erga contra a possibilidade de haver uma comissão de inquérito que escalpelize e publicite as causas do tamanho desastre que se anuncia. Que o prejuízo que vai causar à reputação do maior banco português é inaceitável! Pelo contrário. Prejuízo grande, enorme, ser-lhe-á causado pela desconfiança que a situação atual levanta e agita. Que se apure tudo. Que se responsabilize quem tem de ser responsabilizado. Para que no futuro quem usa o meu dinheiro e o dinheiro do leitor saiba que se o não fizer adequadamente, se o não usar com o verdadeiro intuito e determinação de serviço público, terá de prestar contas perante quem é chamado a suportar as consequências dos desmandos e dos favores feitos aos amigos e correlegionários.
 
Por José Mário Leite