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A força do acossado

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Foi preciso aparecer a discussão do Orçamento do Estado para 2023, para nos desviar a atenção da continuada guerra da Ucrânia. Na verdade, quando se trata de dinheiro, os portugueses acordam e ainda mais quando esse dinheiro lhes é subtraído numa extensa conta onde o símbolo de somatório não entra. Perante tantas notícias sobre inflação, sobre aumentos de bens face a salários que nada gesticulam, é difícil não tomar posições. Mas será que adianta tomar uma posição de força? Que força temos nós perante uma realidade que é global? Parece que temos de entender que a subida dos preços é inevitável face ao aumento dos combustíveis que são, no fundo, o motor de toda a economia. Sem combustíveis nada funciona. Não há transportes, não há eletricidade, não há aquecimento, não há alimentos. Tudo pára. Se os combustíveis sobem de preço também terão de subir os produtos. Percebemos tudo isso, mas será que tem de ser assim mesmo? De facto, os governos têm tomado decisões avulsas e todas elas de acordo com os países onde se integram, no entanto nem sempre são bem recebidas e não são iguais, pois cada país é um caso diferente. A União Europeia tem tentado manter-se à tona e manter alguma uniformidade e concertação nas ações dos governos, mas não é fácil. Os subsídios que vão dar cujo destino é minorar os gastos e a inflação, são pontuais e nada vão resolver, mas são bem-vindos pois sempre ajudam a pagar algumas contas. Para o ano não há mais! A força dos acossados portugueses e outros que tais, limita- -se a reclamar, a fazer greves e a exigir aumentos de salários, mas pouco mais do que isso. E adianta? Não. Todos temos o direito de reclamar e devemos fazê-lo, mas para que os governos tenham a noção de que não estão sozinhos e não governam só para eles, embora até pareça que assim acontece em alguns casos, basta ver as últimas notícias sobre os favores que os membros do governo têm feito e até das incompatibilidades de alguns ministros. Todos se tentam governar pensando que nada se sabe, mas tudo vem a lume, assim funcione a liberdade de expressão. Deste modo, o acossado povo português sobrevive ao sabor das ondas que o governo vai fazendo esperando na praia algum raio de Sol neste fim de época balnear, na esperança de tornar mais leve o amargo que vai sentindo na boca em cada dia que passa. Acossado, mas não resignado. O Orçamento tem promessas, mas já sabemos que estas não são para cumprir. A força de um povo mede-se na sua atitude, na sua decisão, na sua exigência. Temos de esperar para ver a força que vai utilizar para reverter a situação. Mas atenção, pois todo o acossado não mede bem as suas reações! E de facto assim é. Se toda a Europa e o Mundo estão numa crise económica cada vez maior e sem sentido, ela deve-se à guerra da Ucrânia despoletada por um louco insensível e lunático por quem o mundo tinha alguma consideração há um ano atrás. As reticências que então se levantaram acabaram por ter razão. As consequências desta guerra que dura há mais de sete meses e que já destruiu muitas vilas e cidades e matou mais de cem mil pessoas, é absolutamente intragável. Nada consegue explicar este extermínio no século XXI. Numa sociedade dita moderna e avançada onde pautam as grandes descobertas científicas que podem contribuir para o bem da Humanidade, eis que surge um retrógrado governante com ideias imperialistas, autocrático e ditador, trocando as voltas ao progresso e ao avanço e liberdade dos povos. Contudo, a reação do exército ucraniano tem permitido contrariar os seus objetivos ao reconquistar as cidades que estiveram em posse dos russos. Putin e a Rússia estão a ficar acossados pelos ucranianos. A recente manifestação de vitória que Putin fez com a suposta anexação de quatro regiões ucranianas, nada mais foi do que a afirmação do seu falhanço no terrenos. Ele sabe que nenhuma dessas regiões está totalmente sob o seu domínio, antes pelo contrário. O exército ucraniano soma vitórias cada dia. Putin teve de mostrar somente a força do acossado que, sem outra justificação, fez a festa antes de a festa começar. E para que todos julgassem a sua vitória, lançou mais umas dezenas de mísseis sobre algumas cidades depois de os ucranianos, segundo ele, terem destruído a ponte de ligação entre a Rússia e a Crimeia. Foi a vingança do acossado. Foi o estertor da morte. O recente acordo entre Putin e Erdogan para o abastecimento de gás à Europa, nada mais é do que o acordo de interesses. Erdogan quer parecer o elo mais importante entre o ocidente e a Rússia e Putin quer-se fazer passar por “bonzinho” ao conceder o seu gás para abastecer a Europa, pois de outro modo não o venderia já que os boicotes europeus estão a funcionar. A Putin fazem falta os muitos milhões de dólares que diariamente entram. Acossado, um e outro por razões diferentes, tentam chegar a bom porto e sair airosamente do conflito. Poderá ser um bom caminho se chegarem a um acordo global onde se vislumbre o final da guerra. Putin não está em posição de querer muito mais tempo de guerra. Cada vez mais acossado, só o nuclear o vai mantendo à tona. Que fique por aí.

Luís Ferreira