Greenwashing - O chá e a palhinha

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O neologismo “greenwashing” derivado dos termos ingleses green (verde) e washing (lavagem) aplica-se a atividades, ações e produtos que se apropriaram de virtudes ambientalistas para, mediante técnicas de marketing e relações públicas se apresentarem como genuína e intrinsecamente alinhadas e empenhadas na defesa do meio-ambiente, sem que, em boa verdade, assim seja, de verdade. Tal como, sobretudo durante o anterior regime, em Portugal, se organizavam chás onde se recolhiam fundos e que eram anunciados e publicitados como valiosas e valorosas Ações de Caridade. Algumas damas, senhoras de bem (e muito bem na vida) organizavam frequentes reuniões onde serviam chá e recolhiam bens para entregar aos mais necessitados, assim lavando a alma, de forma chique e solidária. Era um jackpot de boas ações, em que todos ganhavam. Ganhavam desde logo os “pobrezinhos” porque sempre lhes tocavam umas croas, ganhava a elite religiosa e social, que intermediava a operação, ganhava a elite política que mostrava, à sociedade de então as senhoras modelo, legitimando o status quo, comprando favores e ganhando o céu, enquanto dominavam a terra. Mas era, toda a gente o sabe, puro fogo de palha que nada resolvia e, nalguns casos, branqueado o espírito, ainda contribuía mais para o aprofundamento da pobreza existente. Mas mascarava, remendava e servia, na perfeição e de forma barata, os objetivos de quem os promovia e sustentava.

Depois de abundantemente desmascarados e vigorosamente criticados, acabaram. Já não há. Agora, a prática da caridade deixou de ser elitista, democratizou-se e passou a chamar-se solidariedade. É séria, transparente e objetiva. Já não dá o jeito que deu.

Muito jeito deu uma fotografia de uma tartaruga com uma palhinha enfiada no nariz. Deu jeito aos paladinos ambientalistas pois a imagem é muito forte e serviu para abanar consciências! Tanta gente “acordou” para a grave crise ambiental que vivemos. Mas também deu muito jeito aos que, estando-se intrínseca e genuinamente borrifando para o ambiente, necessitam de parecer ecológicos, dos pés à cabeça por uma questão de sobrevivência no mercado ou por pura rentabilidade económica. Ser verde é hoje, também, uma moda! O que ainda há pouco tempo era tema que poucos levavam a sério, coisas de uns poucos idealistas que nem se vestiam de forma adequada, faz hoje parte relevante e indispensável dos programas partidários. Para muitos destes, o canudo plástico nas narinas do réptil foi uma bênção. A repulsa perante tal horror foi global e generalizada. A solução só podia ser a óbvia: Morte às palhinhas! Fim com elas. Nunca mais ninguém deverá beber qualquer líquido refrescante,  por um tubo plástico. E pronto. Missão cumprida.

O problema é que as ditas palhinhas representam uma infinitésima parte da montanha de plástico que consumimos, usamos, descartamos. A palhinha não é nada. É preciso acabar com ela, sim, mas também com os copos, as garrafas, os sacos, as embalagens e, sobretudo, é urgente e necessário deixar, definitivamente, de colocar plástico à volta do que já está “plastificado”.

Acabar com as palhinhas? Claro que sim! Mas de pouco adiantará se não tratarmos, adequada e atempadamente, do palheiro!

José Mário Leite