Inveja: a Arma dos Não Competentes

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A inveja, o 5.º dos sete pecados capitais, que, na opinião dos especialistas do comportamento humano, é o sentimento de frustração/incómodo por que é tomado um dado individuo, o invejoso, em consequência do sucesso ou posse material alcançados, com mérito e esforço, pelo Outro, que aquele não consegue obter, por incompetência ou outra razão qualquer. Dizem também os entendidos da mente humana que este comportamento, muito peculiar na tuga gente (um verdadeiro contra - senso, na medida que, na desgraça alheia, damos provas de sermos um povo generoso e solidário), é um transtorno de personalidade, uma patologia do foro mental. Definição científica que parece não se prestar a outros entendimentos ou contraditório, porquanto quem é afectado por tal doença está longe de ser feliz. Por ser um caso que me inspira, não podia deixar de partilhar, com quem está de bem com a vida, o exemplo do meu amigo Jorge Morais, que, estando, como amador, no ramo da restauração, há pouco mais de dois anos (sem “descontar” o período da pandemia e suas restrições), faz inveja a muito boa gente (nomeadamente aos oficiais do seu ofício) que está de portas abertas há vários anos, e se dizem entendidos na matéria. Conheço o Jorge há vários anos. Tive com ele maior proximidade, quando ambos, há uma década, frequentámos um curso de cozinha com o inigualável e famigerado Chef António. É das pessoas melhores, mais simpáticas e honestas que conheço. Diria, a personificação do cavalheirismo e do saber estar. Empresário numa área de negócio distinta, o seu sonho, de longa data, era abrir um restaurante que fizesse a diferença em Bragança. Aquilo que seria, à partida, inexequível, tornou-se realidade: em homenagem à sua querida mãe, que desapareceu há muitos anos, o Jorge deu o nome de “Dona Florinda” ao restaurante que é hoje, na minha opinião, um dos melhores do distrito de Bragança: amplo, airoso e com uma decoração lindíssima, destaca-se da concorrência, quer pela simpatia dos donos ( Jorge e Cláudia, sua encantadora esposa) e dos empregados, quer pela relação preço/ qualidade dos pratos que ali se confeccionam, sendo que ali o requinte, uma das marcas d`´agua, não é reflectido na factura a pagar. O Jorge, a quem lhe tiro o chapéu, pela coragem de arriscar numa área em que se julgava já tudo estar inventado, é daquelas pessoas que contrariam a portuguesíssima crença de que, nesta sociedade, só os desonestos têm sucesso e ganham dinheiro. Os verdadeiros empreendedores, como é o caso do meu venerando amigo, saltam do trapézio sem rede; não precisam de publicidade gratuita, nem de constar dos roteiros turísticos – “património” duma certa “elite”, diria eu. O meu insigne amigo Jorge, ao contrário de muitos, não é materialista nem ganancioso. Motiva os funcionários, valoriza-os e dá-lhes um salário muito acima do praticado no ramo. Como pessoa justa e de bom coração, não se aproveita da indecorosa politica de contratação de estagiários sem vencimento. O Jorge é uma pessoa com valores morais: não se cega com as carteiras recheadas dos estrangeiros, como alguns avaramente o fazem. O Jorge tem sempre a casa cheia, porque, para ele, a paixão pela a arte de cozinhar é incomparavelmente mais importante do que o vil metal. Em jeito de declaração de interesse, e para concluir, deixo aqui a nota de que este texto não foi lavrado por “encomenda”, a pedido – o “interessado” não teve conhecimento prévio do mesmo, nem lhe pedi autorização para mencionar o seu nome -, mas porque gosto de prestar tributo aos jorges deste país, que não desistem de perseguir os seus sonhos, mesmo quando os astros não estão alinhados. Este tipo de gente merece ser reconhecida. Todos os atributos para os qualificar pecam por escassos.

António Pires