Uma saia bem catita, olarila

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Joacine Moreira, do Livre e André Ventura, do Chega, foram os deputados que mais deram nas

vistas no arranque da nova Assembleia da República. O simples facto de terem sido eleitos, (o mesmo se dirá de João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal), representou, por si só, uma pedrada no charco de São Bento.

Acredita-se que com a esperada apresentação de temáticas que não constam das cartilhas dos partidos tradicionais, irão contribuir para uma nova vida da Assembleia até aqui dominada por useiros e vezeiros predadores partidários.

André Ventura faz-se notar por ideias que se convencionou serem de direita mas que, a ajuizar pelas redes sociais, estão a ter eco inusitado, para desgosto de muitos que se afirmam democratas e de esquerda. O povo, sôfrego de mudança, aguarda propostas concretas e credíveis.

Joacine Moreira, ainda que a sua bandeira principal seja o racismo de que levianamente acusa o povo português mas que, ela sim, dá mostra de cultivar, paradoxalmente não deu nas vistas por ser negra, mas por duas particularidades surpreendentes: a gaguez, que nada tem a ver com a cor da pele, e o fazer-se acompanhar, no acto da tomada de posse, por um elegante assessor trajando uma saia… bem catita, olarila.

Gaguez que, quer se queira quer não queira, é uma deficiência desesperante dado que limita drasticamente o exercício pleno do múnus parlamentar que tem na oratória o seu instrumento fundamental.

Deficiências, todavia, há muitas, diversificadas em grau e género, e os seus portadores merecem todo o respeito daqueles que eventualmente se possam orgulhar de não padecer de nenhuma.

Joacine Moreira é a primeira tartamuda a ser eleita deputada da Assembleia da República portuguesa, onde estão em maioria deputados portadores duma outra deficiência eventualmente mais grave: a surdo-mudez, já que nunca ninguém lhes viu abrir a boca para dizer fosse lá o que fosse. Um parlamento de surdos e gagos é inconcebível, por mais democrático que possa ser.

Também não faltarão em São Bento, ao que se diz, deputados portadores dum outro tipo de deficiência, se a homossexualidade for entendida como tal, já que os inibe de procriar, ainda que o sexo não sirva apenas para fazer filhos como em tempos idos ficou provado naquela mesma douta assembleia.

Deficiência essa que de forma alguma deve ser relacionada com uso de saia por homens não machos, porque culturas há no presente e houve no passado, em que as saias ou os culotes, por si só, nunca estabeleceram confusão entre machos e fêmeas.

A entrada triunfal de Joacine Moreira em São Bento acompanhada pelo tal assessor da saia, premeditada por certo, só causou escândalo por ser ridícula tendo em conta o momento e o local. Maior escândalo teria sido, ainda assim, se o dito assessor vestisse minissaia e com os pelos das pernas por barbear. Igual impacto teria, por certo, um deputado escocês que se apresentasse no pátrio parlamento, não de saia mas em cuecas.

Esqueça-se o ridículo e a ironia, porém. Mais importante é saber quantos assessores se acoitam em São Bento, quanto ganham, qual o seu currículo e o que fazem, embora se saiba quem lhes paga.

E já agora quantos deputados usam avental às escondidas.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Henrique Pedro