Livro único do século XVII encontrado na Concatedral de Miranda em processo de estudo

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Ter, 15/03/2022 - 09:53


Depois de em 2015 ter sido descoberto um livro único de composições de missas e música renascentista do século XVII, do compositor espanhol Diego de Bruceña, a obra está agora a ser digitalizada e vai ser estudada numa parceria entre o Museu da Terra de Miranda e a Universidade de Boston

Julgava-se perdido até há sete anos quando foi encontrado um dos livros na Concatedral de Miranda do Douro. Além de estudar as peças do importante compositor dedicado ao estilo de transição do renascimento para o proto-barroco, o propósito deste trabalho de investigação é tornar as músicas acessíveis a todos. “Depois da digitalização, vai poder ser estudado a partir de Boston, serão feitas as transcrições e edições das músicas. Este processo agora é a prioridade, a partir daqui o objectivo é criar uma página onde vão ficar todos os conteúdos referentes a este livro de Diego de Bruceña, a investigação sobre a edição deste livro, que foi a Susana Muñoz. A prioridade aqui é tornar o livro público e acessível a todo o mundo”, sublinhou a directora do Museu da Terra de Miranda, Celina Pinto. O site, em português e inglês, deverá ficar disponível nos próximos meses e em Setembro espera-se que a música de Diego de Bruceña volte a ser ouvida na Concatedral de Miranda. Num ano em que se assinalam precisamente 400 anos da morte deste compositor espanhol, as pautas vão também ser interpretadas em Londres, já no próximo mês. “Falo em Londres especialmente para se perceber a transversalidade da música, que pode ir aos quatro cantos do mundo e é algo que não tem fronteira. Para nós é um orgulho ter na nossa posse um livro que é o único sobrevivente no mundo”, afirmou. Precisamente por se tratar de um exemplar único no mundo é que Michael Noone da Universidade de Boston decidiu viajar até Miranda para digitalizar a obra. “Tínhamos pensado que todas estas obras de Bruceña se tinham perdido, mas não existem precisamente neste livro da Concatedral de Miranda do Douro. A raiz disto não só é interessante para a história da música sacra do século XVII, mas para perceber o intercâmbio entre Miranda e Zamora e Salamanca”, refere. São vários os aspectos inovadores desta publicação à época, entende o investigador. “O papel da mulher na imprensa musical nos princípios do século XVII, a música é maravilhosa é a banda sonora da catedral e tem de voltar a soar, os músicos de hoje precisam é de acesso ao livro para tocar a música e ainda o intercâmbio que havia entre Portugal e Espanha e os Países Baixos, não só da tecnologia da imprensa musical e da música”, referiu. O livro tem cerca de 200 páginas, mas está incompleto, faltando cerca de 80. Um dos trabalhos que será também feito passa pela reconstituição de músicas que faltam. Já em Maio do ano passado a Concatedral de Miranda acolheu um concerto em que foram interpretadas algumas músicas da autoria de Bruceña.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro