Uma vida preenchida pela intervenção cívica em defesa da região

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Ter, 05/01/2021 - 11:47


Faleceu, na madrugada do dia 29 de Dezembro, o director do Jornal Nordeste e da Rádio Brigantia.

Aos 65 anos, foi vítima de enfarte. Teófilo Vaz era natural de Gondesende, uma aldeia do concelho de Bragança. Em pequeno foi para Angola com os pais, onde estudou até ao 5º ano do liceu, o equivalente hoje ao 9º ano. Mas, foi em Lisboa que acabou os estudos e se licenciou em História, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Aos 17 anos, em 1972, começou a manifestar o seu interesse pelo jornalismo e foi no jornal Mensageiro de Bragança que deu os primeiros passos. Tinha a seu cargo uma página destinada aos jovens, que escreveu durante apenas seis meses, acabando por ser dispensado pelo bispo da altura, por considerar a página excessivamente agitadora. Voltou a Angola, mas regressa em Maio de 1974, pouco depois do 25 de Abril. Foi chamado novamente para escrever para o Mensageiro de Bragança, mas a história repetiu-se e deixou o jornal em Fevereiro do ano seguinte. Foi então que Teófilo Vaz e um grupo de jovens, apoiados pelo director do MdB, o padre Manuel dos Anjos Sampaio, resolveram promover um novo jornal e criaram o ÈNIÉ - Uma voz do Nordeste Português. Na semana em que o projecto é editado, é preso com mais três amigos, porque retirou um fusível da sede do Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral MDP/CDE, deixando-a assim às escuras. Esteve uma semana na cadeia de Paços de Ferreira. O semanário foi mantido nove meses, mas, em Novembro de 1975, devido a ameaças e agressões aos redactores, suspenderam a edição e nunca mais foi retomada. Em entrevista à Revista Raízes, em Abril de 2016, Teófilo Vaz recordou os motivos que levaram este grupo de jovens a criar o ÈNIÉ, pela primeira vez concorrente do Mensageiro de Bragança. “O jornal teve um grande impacto porque nós pretendíamos fazer um jornal progressista, mas livre, ou seja, não condicionado. Queríamos um jornal autenticamente livre mas quer do lado da esquerda comunista, quer do lado da direita reaccionária que estava numa fase de retoma da iniciativa contra aquilo que estava acontecer, principalmente a partir do 11 de Março, com a nacionalização de tudo, quando estávamos em risco de uma guerra civil. E o nosso problema no ÈNIÉ foi que nem os comunistas nos estavam a apoiar, quando durante muito tempo nos tinham apoiado, e os da direita estavam a considerar que estávamos ao serviço da tal revolução e esses estavam a reagir de uma forma muito violenta aqui na zona”, contou. A suspensão do “ÈNIÉ - Uma Voz do Nordeste Português” deu-se quando começaram a receber cartas anónimas que ameaçavam queimar a edição na Praça da Sé. Teófilo Vaz passou também por órgãos de comunicação como o Amigos de Bragança, o Noticias do Interior, a Voz do Nordeste e o Jornal Nordeste e a Rádio Brigantia. Destes dois últimos era director de informação, desde Abril de 2015. Na Rádio Brigantia foi também comentador no “A Torto e a Direito”, que inicialmente se chamava “Sem Papas na Língua”, um programa onde a liberdade de expressão não é limitada. O jornalismo não era a sua única paixão. Esteve desde cedo ligado à política. Foi militante do Partido Socialista, tendo sido presidente da concelhia e membro da Assembleia Municipal de Bragança até rescindir a sua militância em 1989 por não concordar com uma candidatura à Câmara Municipal. Em paralelo exercia o cargo de professor de História, na Escola Secundária Emídio Garcia, em Bragança, onde era também presidente do Conselho Geral.

Agradecimento

Nenhumas palavras poderão descrever a terrível madrugada em que o Teófilo nos deixou. A dor da perda é atroz, agonizante, e consome-nos as forças. Foi demasiado cedo, demasiado rápido. Inevitável, disseram-nos - nada havia a fazer. Faríamos tudo para o ter de volta, mas não somos nós quem tece a trama do destino. E, contudo, apesar da nossa fugaz condição humana (não somos nada, vamo- -nos num ápice), o Teófilo foi alguém que, não só aproveitou a sua vida, mas fez dela a sua obra boémia e intelectual. Deixou-nos a sua marca e o seu legado – que continuaremos a recordar vivamente e com muito carinho em 2021 e nos anos que virão. Pessoas assim não se vão. Não há rio Letes que dilua e leve a sua memória para longe nas rápidas correntes. Não – o Teófilo é, talvez, o exemplo do herói grego moderno, a ser lembrado pela sua arete, pelo seu carisma magnético e virtudes. Sabemos as suas lutas pelas suas causas, pelas nossas causas. Família, alunos e amigos não esquecerão as conversas enriquecedoras, os seus ensinamentos, a sua mestria profunda de diversos assuntos. Bom orador e bom ouvinte, com o pensamento aguçado e sempre trazendo questões e temas para nos fazer reflectir sobre o mundo, a vida, a nossa condição, a História que nos precede, o que nos rodeia e aquilo que nos espera. Que a luz que foi em vida nos continue a guiar agora e sempre. Um grande agradecimento a todos: pelas vossas mensagens de carinho e amizade, pelo vosso apoio e pela vossa presença neste momento difícil, mas sobretudo também ao longo da vida do Teófilo. Obrigado por terem feito e quererem continuar a fazer parte de uma vida cheia de bons momentos e de um percurso exemplar. Agradecemos também à equipa médica, que respondeu prontamente à nossa chamada e fez todos os possíveis para salvar o Teófilo. A Família

Jornalista: 
Ângela Pais