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Qual discriminação, qual carapuça!

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Discriminação é uma palavra feia. Por isso os políticos a adjectivam de “positiva” quando tratam as assimetrias regionais que resultam, principalmente, da relapsa subalternização das terras do interior.
Embora outros factores menores haja a considerar e que, por isso mesmo, requerem iniciativas governamentais justas e patrióticas e não a governança irresponsável, tão-somente ao sabor do capital e da demagogia eleitoralista, essa sim a verdadeira causa da concentração massiva de populações no litoral, e o consequente ermamento do interior, a que os políticos também chamam “desertificação”, para iludir o problema, como se a culpa fosse do clima.
É interessante que, nesta matéria, contrariamente ao que acontece com os comuns pobrezinhos, não se ouve falar de regiões “menos favorecidas”, o que é significativo, porque há regiões, como Lisboa e Porto que são escandalosamente privilegiadas, o que descredibiliza os governantes, e porque Trás-os-Montes, por exemplo, não é uma região pobre e antes possui consideráveis recursos naturais, e inexploradas potencialidades agrícolas, turísticas e humanas.
O discurso da discriminação positiva é, portanto, falacioso e racista, apesar dos transmontanos terem a mesma cor de pele que os lisboetas ou os portuenses, embora sejam, regra geral, mais rosados, por causa do ar puro e da superior qualidade das comidas e das bebidas.
Ainda que não sejam portugueses de segunda, os transmontanos são tratados como tal por muitos políticos, particularmente por todos que sistematicamente preconizam a fantasiosa “discriminação positiva”. Porque entendem que os transmontanos devem ser, por isso mesmo, ajudados ou esmolados. E donde resulta que os transmontanos acabam sempre por ser ironicamente amolados.
Trás-os-Montes e os transmontanos, porém, não precisam nem de esmolas nem de favores, de descontos mixurucos em certos impostos, inutilmente para aliciar empresas a instalar-se na região, ou para tornar certos produtos mais competitivos, ou de bónus inócuos a casais para procriarem como coelhos, muito menos de bonitos discursos de circunstancia, entre duas garfadas de alheiras e grelos em paga da legendária hospitalidade transmontana que, hoje em dia, também serve para encobrir muito regabofe custeado pelos municípios.
Trás-os-Montes e os transmontanos precisam, bem pelo contrário, de projectos e investimentos com dimensão, escala e consequência que, em princípio, compete à Administração Central promover e financiar mas cuja ausência nada abona em favor dos poderes locais.
Como é o caso de um abrangente projecto de rega integrado da Terra Quente, destinado a valorizar uma vastíssima e fértil região agrícola, potenciando múltiplos empreendimentos e negócios, designadamente nos domínios do turismo, lazer e cultura. Projecto que, além do mais, não tem que ter o gigantismo do Alqueva.
Ou de um apropriado e consequente programa de recuperação para fins hoteleiros, culturais ou mesmo de administração pública, das centenas de palacetes, com história, que se desfazem em ruínas em todas as aldeias transmontanas.
Descriminação positiva cheira a esmola, portanto. E é um logro.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.
 

Henrique Pedro