As voltas do vira

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Ora viras tu, ora viro eu, ora viras tu mais eu. É assim que costumamos dizer quando nos referimos ao Vira, dança caraterística do Minho, mas conhecida em todo o Portugal. Mas também há as voltas da vida e para isso dizemos as voltas que a vida dá, para justificarmos o que não é muito justificável, mas inesperado. Leva-nos isto a concluir que nem sempre acontece o que se espera e que também nem sempre o que parece é. Previsões, todos as podemos fazer e como dizem os aficionados do futebol, prognósticos só depois do jogo. A este propósito, ou talvez nem por isso, temos vindo a assistir a debates televisivos entre os vários partidos e os seus líderes que se vão alinhando para as eleições de 30 de Janeiro. E o que não temos visto efetivamente, são as voltas que se adivinhavam tornando as refregas mais interessantes. Na verdade, se estivessem todos em palco preparados para dançar um Vira, nada aconteceria, pois ficavam estáticos sem dar um passo sequer em direção ao par seguinte, nem que fosse uma pequena volta rodopiada dando colorido à dança. Não. Nada tem acontecido além da monotonia dos bailados. Não houve introdução de temas novos. De facto, é pena que assim seja pois o monocromático e monolítico discurso com que temos saudado o PCP, a famosa cassete, parece ter-se agora instalado nos outros argumentistas partidários, nomeadamente em António Costa que, brandindo o seu Orçamento reprovado, mas que quer aprovar, continua na senda de mais do mesmo, sem nada alterar como se o Orçamento reprovado tivesse forçosamente de ser aprovado na próxima legislatura. Isto é dramático, já que nada indica que possa ser aprovado e a ser assim, deveria ter alterado o que o levou ao chumbo na Assembleia. Se as premissas são as mesmas, a conclusão dificilmente será diferente da anterior. Inteligente e astuto como é, Costa deveria esgrimir outras armas e objetivos diferenciados em todos os debates sem se tornar repetitivo, cansativo e desmotivador. Já está a ser acusado de ter engolido uma cassete. É óbvio. Agora, em plena rua, pouco mudou. Mas não é o único, infelizmente. Todos os outros acabam por defender as suas ideias primitivas sem lhes introduzir nuances que levem a acreditar ser possível discutir, aprovar e melhorar a economia, educação e saúde deste país. Mas insistem no mesmo. Todos sabemos que há linhas essenciais no programa de todos os partidos e que eles as defendem com toda a força e galhardia, mas há modos diferentes de as apresentar e de as discutir sem cair no ridículo da repetição, mas há quem já peça maioria absoluta. Na verdade, os debates acabaram por não ser interessantes e serem redundantes. Para mudar isto era preciso termos outros políticos. Realmente se queremos mudar os paradigmas políticos, teremos de mudar também e rapidamente, os seus líderes partidários. Renovar será a palavra-chave a ter em conta na cabeça dos portugueses. E se mudarmos, damos a volta necessária na dança do vira. E neste folclore político só haverá uma dança bem executada se todos os pares dançarem bem, certos e com as voltas completas. As caravanas dos partidos arrancaram e espalham-se pelos quatro cantos deste palco num vira fantástico, mais vivo certamente que os discursos apresentados pelos seus presidentes nos debates a que assistimos. Serão quinze dias de euforia partidária em que a deslocação se fará por todos os meios possíveis e mais rápidos, seja por combóio, por estrada ou por avião. Sabemos que as arruadas serão poucas devido à pandemia o que parece salutar. Há que evitar mais problemas de saúde a quem já tem tanto a temer. O Chega é de outra opinião e faz arruadas sem conta e medida. Os parceiros deste Vira são bastantes, mas só um deles poderá no fim, exibir o estandarte da vitória. Vitória que não será absoluta certamente, mas que permitirá conjugar os esforços necessários para arranjar par para acabar de dançar o vira. É que só se dança se houver par, caso contrário não há dança nenhuma. Não quer isto dizer que outros pares não se perfilem, mas nem todos servem para este vira. Antigamente, nos bailes da aldeia as raparigas esperavam que os rapazes as chamassem para dançar e muitos levavam uma tampa pois não lhes agradavam as aparências e o contrário também se verificava. É tudo uma questão de namoro. Sem par não se dança e quem ganhar terá de arranjar par que sirva, Agora, em palco, todos estão perfilados e a dança já começou, no entanto, todos sabem que só PS ou o PSD poderão aguentar até ao fim. O Vira é cansativo, mas quem melhor dançar é que vai conseguir erguer o estandarte do partido, muito embora isso não signifique que vai poder governar. Vai ter de dar mais umas voltas e não levar tampas. São as voltas do vira!

Luís Ferreira