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O triunfo dos ignorantes

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Ter, 18/07/2017 - 10:13


Está a perder-se o respeito pelos exames nacionais, instituição que, com limitações, legitimou a dignidade do sistema educativo, desde a sua reposição no ano lectivo de 1993/94. Já se chegou ao descaramento da divulgação antecipada do conteúdo de provas, o que é indicador de uma degradação impensável.

Mas, ainda mais inquietante é que o sistema educativo tem sido alvo de manipulações que, no futuro, poderão revelar-se fonte de profunda frustração para gerações inteiras, que não terão forma de recuperar o tempo perdido, ficando condenadas à mediocridade.

Em nome de pragmatismos espúrios tem-se vindo a empurrar os “curricula” para as bandas da eficácia e da pretensa produtividade, confundindo a capacidade de pensar com o vomitar de soluções imediatistas, em breve contrariadas pela experiência dolorosa do erro impossível de corrigir.

Nos último anos fez-se a promoção do sucesso sem trabalho, muito menos de reflexão sobre os objectivos de longo prazo, privilegiando as empregabilidades imediatas, como se não se percebesse que a realidade da produção muda ao ritmo dos interesses da especulação ou, na melhor das hipóteses, dos avanços tecnológicos, que nos reconduzem, sem apelo nem agravo, à mesquinhez do “el contado”, enquanto o essencial da condição humana está muito para além do que se consome.

Mas, assim se encontraram justificações para os caminhos ínvios que têm sido impostos às escolas, obrigando-as a abdicar da abordagem à complexidade, reduzindo disciplinas fundamentais para a formação integral dos cidadãos a simplórios instrumentos de uma funcionalidade sem horizonte para além da integração no mecanismo programável da alienação tranquila, do consumismo acéfalo e da resignação melancólica, transformando-nos numa multidão de trôpegos com sorrisos amarelos, enquanto nos dirigimos para os abismos da inexistência.

Provas de exame de História em que os alunos são convocados para ordenar cronologicamente sequências de imperadores romanos, ou datas de acontecimentos comezinhos separadas por meses, constituem lotarias que nada dizem sobre a capacidade de lidar com a complexidade das dinâmicas históricas. Impor, nas provas de Português, a produção de textos que serão corrigidos seguindo critérios que sobrevalorizam o formal, em detrimento obtuso do substancial e da capacidade de relacionar problemas e do abrir de portas à criatividade não está ao serviço da profundidade e do rasgo inovador. Pelo contrário, tem contribuído para trazer à tona a mediocridade e empurrar cruelmente para a asfixia os que poderiam abrir novos horizontes.

De facto, o que tem acontecido com os exames de Português pode conduzir-nos a confundir um vendedor da banha da cobra com um filósofo, um artista de mnemónicas com um historiador e um palerma que rima com um poeta.

Será o nivelamento pelo patamar da ignorância enfatuada, com todas as consequências que determinarão que o mundo se torne na verdadeira Barataria, de que falou Cervantes, em que o triunfo da ignorância nos reconduzirá ao caos.

 

Teófilo Vaz