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A nova indústria do social

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Ter, 13/12/2016 - 10:32


Nas sociedades consideradas exemplos de prosperidade multiplicam-se organismos de promoção de um dos principais desígnios da civilização: a solidariedade, a preocupação com o próximo, na terminologia cristã.
A fraternidade é um dos pilares da grandiosa proclamação de 1789, quando o mundo foi abanado pela revolução francesa, em conjugação com a liberdade e a igualdade, que ainda não lograram consolidar-se no tempo dos homens.
A solidariedade será uma forma ainda mais profunda de fraternidade, um ideal que nos tornaria a todos mais respeitáveis, se a praticássemos tanto quanto a teorizamos repetidamente.
O mundo pode parecer um lugar destinado a tornar-se um lar acolhedor, se tivermos em conta o número crescente de organizações que, todos os dias, dizem dedicar-se a atenuar o sofrimento dos outros, a combater as omissões, a denunciar as injustiças, a defender o futuro.
Não é uma novidade deste tempo. Durante séculos foram surgindo organizações, ligadas, muitas vezes, à religiosidade, cristã ou de outros credos, que se tornaram referências, mas não conseguiram a transformação do mundo. Porque a natureza humana não muda da noite para o dia, por mais que os registos asseverem aumentos das participações solidárias.
Hoje até se pode falar de um novo e, pelos vistos, próspero sector da economia, o chamado empreendedorismo social, traduzido em múltipla associações, centros sociais, fundações e similares, mas também em gabinetes de apoio ou de combate a isto e mais aquilo.
Às vezes sentimos que o mundo é, afinal, um inferno borbulhante onde, a todo o momento, surgem novos problemas, enquanto se eternizam os que já se conheciam. Fica-se com a sensação de que todas as intervenções são inúteis porque, em vez de vermos recuar as tragédias, assistimos a uma torrente de novos dramas, quando se esperava que a solidariedade abrisse as portas de tempos melhores.
Aparentemente, as organizações tendem a perpetuar-se, para continuar a responder a problemas que deveriam resolver, mas que paradoxalmente estão cada vez mais vivazes. Até pode parecer que não se trata de acções solidárias, mas de formas estranhas de garantir empregos, ruminando problemas, em vez de contribuir para os eliminar.
Por exemplo, há vários anos que o banco alimentar vê crescer e celebra o aumento de voluntários e as toneladas de produtos distribuídos, sempre com honras de longas reportagens na comunicação social. Pode colocar-se a questão se vale a pena continuar a promover actividades que mobilizam muitas vontades mas demonstram não resolver os problemas. Provavelmente não serão estas as formas de intervenção eficazes e, de uma vez por todas, será necessário que a comunidade encontre reais soluções.
Pode admitir-se um número residual permanente de famintos, necessitados e deserdados da sorte, mas alguma coisa precisa de mudar na forma como se pratica a solidariedade, para que não pareça que se está a tornar numa verdadeira indústria, que pouco terá a ver com autênticas virtudes.

Por Teófilo Vaz