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Bem-falantes, fala-baratos e vendedores de banha da cobra.

Na política portuguesa pululam os bem-falantes altifalantes. Sobretudo nos estratos mais altos da governação como sejam a Assembleia da República e o Governo.
Bem-falantes porque fluentes nas ideias e nas palavras. Altifalantes porque dado os postos elevados que ocupam lhes é facultado falar alto e bom som sempre que lhes apetece, na certeza de que serão ouvidos. Sobretudo quando se dão ao desfrute de bolsar os milhões, as boas intenções e as presunções com que ateiam o inferno da má governação.
Acresce que muitos dos políticos portugueses de topo a quem estão atribuídas as maiores responsabilidades públicas não se limitam a ser bem-falantes mas primam igualmente por serem fala-baratos e mesmo vendedores de banha da cobra, faculdades que deveriam ser apenas homologadas a certos profissionais animadores de feiras e romarias e nunca a dignatários do Estado que aos feirantes fazem concorrência desleal.
Mesmo assim havemos de reconhecer que é um regalo ouvir certos artistas da palavra exibirem as suas prodigiosas verves e verborreias nos plenários da Assembleia da República. É caso para se dizer que cantam e encantam. Tanto que, mesmo quando se não percebe nada do que dizem, quem os ouve sempre fica com a percepção de que falaram bem. O que nos leva a pensar que falar bem sem nada dizer e mal fazer parece ser apanágio dos políticos portugueses em particular e dos latinos em geral.
A questão é mais séria do que se imagina, porém. Porque, muitos políticos portugueses, quando não falam só por falar, não poucas vezes lançam mão de discursos redondos, isto é, que não têm ponta por onde se lhe pegue, para esconder erros, omissões e mesmo crimes.
Senão, atentemos em três factos relevantes que agitaram a opinião pública a semana passada, começando pelos discursos que douraram a conspiração dos deputados que se mancomunaram para, à sorrelfa, gizar uma nova lei de financiamento dos partidos. Uma barracada sem pés nem cabeça, que prefigura um atentado à democracia, sobretudo grave porque foi cometido por quem foi e da forma como foi.
A que se seguiu a polémica em torno da ministra da Justiça que com despropositado e obscuro propósito publicamente fez saber que o Governo não irá reconduzir no cargo a Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, que tão bom recado tem dado de si e que tem entre mãos processos judiciais da mais alta gravidade envolvendo gradas figuras públicas de Portugal e de Angola.
O burburinho que se gerou na comunicação social e no seio do próprio partido governamental, culminou com a Oposição, tonitruante, a insinuar que o Governo pretende condicionar a Justiça para favorecer criminosos de alto coturno já indiciados pelo Ministério Público. Tudo isto faz com que muitos portugueses andem compreensivelmente desconfiados e suspeitem que o crime governa Portugal.
Entretanto, o PCP e o BE, com a violência oral que os caracteriza, mais uma vez invectivaram o primeiro-ministro acerca dos impostos que, (pasme-se!), a EDP e a GALP se recusam a pagar. E mais uma vez houve quem admitisse que era desta que a Geringonça estourava.
Mas não. O primeiro-ministro, como é seu timbre, mais uma vez falou firme e grosso e prontamente frustrou o ímpeto populista dos seus parceiros esquerdinos que, mais uma vez, meteram o rabo entre as pernas.
Falta saber se, nesta como em tantas outras situações, pese embora a veemência oratória do primeiro-ministro, não irá ficar tudo em águas de bacalhau, com a EDP e a Galp a coçarem a barriga de tanto rir à socapa.
Esta a democracia que diariamente é servida aos portugueses na bandeja da demagogia. Uma permanente peixeirada de bem-falantes, fala-baratos e vendedores de banha da cobra, quais deles os piores.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

QUEM CABRAS NÃO TEM (Evite matar a galinha)

O título desta minha crónica parece ser um nonsense, contudo há uma lógica para o mesmo que a seguir demosntrarei. O provérbio “quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem” ficou famoso como justificação de uma decisão judicial no processo Sócrates, no caso, se a memória não me atraiçoa, para a manutenção da prisão preventiva em Évora. Não havendo naquela data provas sobre a sua culpa, havia, segundo o ministério público, indícios suficientes, que sustentavam a sua tese. Contudo, essa “regra” de tempos idos, começa a perder razão e força, nos tempos modernos. Em crónica recente dei conta que quem mais alojamentos “vende” na internet é a AirBnB que não tem nenhuma casa. E é a Uber, que não tem nenhum carro, quem mais fatura no serviço de transporte individual. Poderia citar outros exemplos mas o que hoje importa referir é o caso da energia em que esta situação é ainda mais evidente e peculiar. Há, inclusivamente um novo termo para caracterizar o novo cliente energético: o prosumer. O vocábulo, de origem britânica junta os dois conceitos de produtor (prodicer) e consumidor (consumer). A atual tecnologia permite inclusivamente que seja possível vender energia, sem a produzir. Vejamos como:
Tomemos para exemplo um cliente de energia igualmente que seja também possuidor de um carro elétrico. Estas viaturas atualmente têm baterias que lhes permitem armazenar energia para viagens de distâncias consideráveis! Ora, como é sabido, a viatura particular é, no dia a dia, usada, essencialmente para ir até ao trabalho e regressar. Seguramente usará muito menos que um quarto da energia acumulada na ida e outro tanto no regresso, deixando assim disponível mais de meio depósito... que o feliz contemplado poder vender à empresa onde trabalha. E o que ganharia ele com isso? Ganha ele e a empresa. E todos nós!
A energia elétrica tem preços diferentes segundo as várias horas do dia. É mais barata à noite, mais cara durante o dia e ainda mais durante o período do meio dia que é quando há mais consumo. É mais cara porque a procura é maior e isso chegaria. Mas não só. A produção de base de energia está ajustada ao consumo médio. Os picos de procura são satisfeitos com importação, por um lado, e, por outro, recorrendo a centrais térmicas que usando hidrocarbonetos, produzem energia com um custo mais elevado e com muito maior poluição, libertando várias toneladas de CO2. Como a carga dos carros elétricos se faz durante a noite, quando a energia é barata, é possível entregá-la na hora de ponta a um valor mais elevado e, mesmo assim, menor que o cobrado pelas operadoras energéticas. Todos ganham e o ambiente também!
Vamos agora à galinha que, obviamente, se refere a outro refrão popular, nomeadamente a dos ovos de ouro. E porquê? Porque este novo negócio (em que já há várias empresas a iniciar a exploração) baseia-se na realidade de que a há uma diferença de preço por causa das exigências de consumo. A exploração desse diferencial vem, precisamente, diminuir essa diferença. Em última análise se este negócio for muito bem sucedido e toda a necessidade de energia adicional for compensada por energia armazenada a baixo custo... deixa de fazer sentido pagá-la mais cara pois a situação passa a ser uniforme. Ou seja, quanto maior for o sucesso deste novo negócio, maior é a ameaça que sobre ele paira!
Mas o caminho é esse. Um caminho estreito, pois necessita de um elevado grau de equilíbrio: tal como a galinha que, enquanto enriquecia o seu dono, tinha de recear pela sua vida por causa da possível ganância do mesmo.

Que vida boa é a de Lisboa

Ter, 23/01/2018 - 09:41


A capital da república, que já foi do reino e do quase império, vive dias de júbilo, com os negócios do imobiliário a alimentar patos bravos, moedas a tilintar por todo o lado, um aeroporto congestionado a conhecer um upgrade na consideração da aviação internacional e o Terreiro do Paço a tornar-