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A FESTA, PÁ!

Foi bonita! No centro geométrico do mundo, na Praça da Sé, com alguma da “gente de bem” e toda a outra gente, no meio da vida de então, entre o Flórida, O Chave d’Ouro e o Cruzeiro, entre a vetusta Sé, a novíssima discoteca e o austero Banco de Portugal, equidistante do Seminário, do S. João de Brito, do Castelo, do Liceu, da preciosa Estação da CP e da atraente Florestal, e, dizia-o a televisão, por todo o país, na madrugada do dia inteiro e limpo, acordando o povo da longa e obscura noite fascista, chegou, a Democracia, vestida com as brilhantes cores da liberdade, para todos, sem quaisquer limitações ou exclusões. E, porque assim foi, hoje, um grupo de cidadãos “de bem” podem, livremente, manifestar ou seu saudosismo pelo tempo em que essa prorrogativa não os incomodaria porque era privilégio do grupo limitado onde se entregam. Mais de sessenta autores, agrupados à volta da associação “Farol”, coordenados por Paulo Jorge Teixeira e Rodrigo Pereira Coutinho, escreveram textos que, sob o título “Abril pelas Direitas”, queixando-se de serem censurados de forma mais opressiva do que a PIDE, por um novo regime totalitário, segundo regras de um jogo para as quais não foram consultados, pretendem manifestar o seu pensamento fora de linhas vermelhas e cercas sanitárias. Se as regras, tendo o sinal oposto, fossem idênticas às do tempo que saudosamente recordam só em silêncio poderiam “manifestar” o seu pensamento. E, mesmo assim, desde que um pidezeco qualquer, ou um abjeto bufo não descortinasse nos gestos e atitudes, indícios de um pensamento “perigoso” e “anti-patriótico”. Além de que, como tendo sido exaustivamente demonstrado, as regras que nos regem contam com a opinião de todos… desde que, em número suficiente para fazerem eleger quem as represente. Alertam ainda para a “ameaça” que paira sobre o português, causada pela “importação de turbas de culturas distantes”. Só pode causar espanto tais dislates vindos da casta que, há meio século atrás reclamava um estado único e uma única nacionalidade para um país unido e uniforme… do Minho a Timor! Com o regime de então a fomentar a expedição, para o continente africano, de turbas de colonos e de lá importar mão-de- -obra barata para alimentar a construção civil dos dormitórios à volta das grandes cidades da “metrópole”. Queixam-se, genérica e generalizadamente os autores de verem ideias e ideais a serem “impostos” por quantos reclamavam contra a imposição que existia no tempo da outra senhora. Afinal os “sagrados” conceitos de pátria e família não têm o devido respeito e veneração que, reclamam, lhes são devidos. E que a opinião pública está colonizada por ideias “adversas” à necessária bondade social que, garantem, é a mais adequada à nação. É provável (e ainda bem) que os seus ideais, ao contrário do que acontecia durante o regime salazarista, estejam secundarizados no seio dos portugueses. Havendo ideologias diferentes e, em vários aspetos antagónicas, não é possível que ambas tenham prevalência sobre a outra. Apenas uma poderá enquadrar a sociedade como um todo. A diferença é que agora (e tal não era possível, antigamente) a primazia é dada aquela que obtiver o apoio maioritário dos interessados e ainda, o que não é de somenos, às minorias não é sonegado o direito de se pronunciar nem de poder influenciar os restantes com a intenção clara e assumida de virar o jogo a seu favor. Foi bonita a festa, pá? Foi. Pena que alguns cravos tenham murchado e que algumas ervas daninhas secas tenham reverdecido.

Serviço Militar Obrigatório tradicional? Não, obrigado.

A questão do Serviço Militar Obrigatório tradicional não é nova. Eu próprio já dela me ocupei, aqui, neste espaço, há cinco anos. O assunto volta agora a marcar a atualidade, com maior premência ainda, o que não é de admirar. Sobretudo porque os exércitos do desapiedado Vladimir Putin, continuam a massacrar a Ucrânia, país independente e democrático, sem respeito pelos consagrados princípios morais e regras do direito internacional. Putin que dá sinais claros de que não pretende quedar-se por lá, tentado que está a marchar até Berlim, Paris e Madrid, para só parar em Lisboa, se o deixarem. Trata-se de um problema de defesa nacional e regional, portanto, que a generalidade dos analistas e comentadores políticos portugueses, lamentavelmente, reduzem ao tema do Serviço Militar Obrigatório. O mesmo acontece com os chefes militares portugueses que só quando se olham ao espelho, se vêm generais sem soldados. Daí que, uns e outros, caiam na tentação de recuperar o velho e ultrapassado serviço militar compulsivo como a forma mais simples e rápida de abastecer as fileiras com a tradicional carne para canhão. É certo que esta fórmula cumpriu a sua função quando o país era predominante rural. Quando os jovens do interior apenas deixavam a terra natal para emigrar, ou cumprir o serviço militar que à maior parte ensinava regras de civismo, higiene, educação física, a aprender a ler e escrever e mesmo uma profissão. Funções que hoje em dia, sem ignorar as famílias, devem recair no Sistema Nacional de Ensino, que é suposto ser mais abrangente, melhor dotado e especializado, embora nem sempre demonstre a eficiência que lhe é requerida. Lamentavelmente, por outro lado, os governantes portugueses têm sistematicamente cometido erros dramáticos de entre os quais ressalta o total abandono das Forças Armadas, das questões de Defesa Nacional, melhor dizendo. Só assim se compreende que Portugal seja, presentemente, um país indefeso, trate-se de ameaças puramente militares ou de catástrofes naturais ou artificiais. Em causa está o utópico Conceito Estratégico de Defesa Nacional em vigor, (do qual decorrem o Conceito Estratégico de Defesa Militar, o Sistema de Forças e suas Missões, bem como o Dispositivo Territorial), que privilegia Forças Armadas convencionais, permanentes, excessivas e enviesadas, ignorando a exiguidade do Território, o histórico virtuosismo militar do povo português e a penúria do País. Todavia, sendo Portugal actualmente um país indefeso, não será indefensável se a sua defesa for atribuída à Nação. Se todos os cidadãos de maior idade, com condições de saúde, independentemente do género, estiverem aptos a usar armas, devendo para tanto receber regularmente, a adequada preparação e treino militares, em tempos livres, e guardando o equipamento básico na própria casa, o que é completamente distinto do tradicional serviço militar obrigatório. Devemos ter presente que as Forças Armadas, seja qual for a modalidade e a circunstância, são fundamentais na defesa militar do país e que, de igual forma, a defesa da Nação é uma obrigação inalienável de todo o cidadão, seja qual for o papel que lhe for atribuído. Tal não implica, forçosamente, o serviço militar compulsivo. Volto a citar, por isso, o exemplo da República Suíça que, quanto a mim, se ajustaria perfeitamente a Portugal, se para tanto os nossos governantes tivessem lucidez, coragem e suficiente patriotismo para o implementar. Ainda que deva ser tido em conta que Portugal, contrariamente à Suíça, possui um largo espaço marítimo e insular, é um país periférico e membro de pleno direito da Nato e da União Europeia. Relevante é que a República Suíça não possui forças armadas regulares, antes baseia a sua defesa terrestre numa milícia composta por todos os cidadãos de sexo masculino (não sei, entretanto, já terá sido alargado às mulheres) com idades compreendidas entre os 20 e os 42 anos, com os militares de carreira reduzidos a um pequeno núcleo de não mais de 1000, aos quais estão atribuídas as missões de treinar os milicianos e de assegurar o comando nos escalões superiores. O que é completamente diferente de alistar, todos os anos, milhares de jovens para os encerrar em quarteis por períodos indesejáveis. De salientar que este modelo possibilita que a República Suíça, que tem uma população de pouco mais de 7 milhões, mobilize em menos de 48 horas, mais de 200 000 mil militares, devidamente equipados, armados e treina- dos, o que é impensável com o modelo português em vigor. Acresce que também os desafios que entre nós se colocam à Proteção Civil, designadamente os incêndios florestais, teriam soluções bem mais económicas, transparentes e eficientes. Para lá de que os custos de implementação deste conceito de defesa de inspiração suíça seriam suportáveis, contrariamente aos requeridos pelo utópico Conceito Es- tratégico de Defesa Nacional português em vigor. Serviço Militar Obrigatório tradicional não, portanto!