Ter, 08/02/2022 - 10:54
Mais de cinco milhões de pessoas, entre portugueses e lusodescendentes, vivem, hoje em dia, fora de Portugal. A maioria partiu em busca de uma vida melhor e de outras oportunidades, sobretudo a nível de emprego, coisa que aqui não havia ou não encontraram. Para trás fica quase sempre parte da família, os amigos, a terra natal e um sem fim de memórias. É por isso, e por muitas outras coisas, que dizem que a vida de emigrante não é fácil, mas quando se ganha coragem para ir tem que se ganhar também a coragem para arregaçar as mangas. Manuela Pinto, natural de Agrobom, no concelho de Alfândega da Fé, emigrou ainda nova. É um exemplo no que toca à coragem para partir e ainda mais no que diz respeito ao ficar e lutar por alguma coisa melhor. A transmontana, de 50 anos, vive, há oito, do amor. Manuela Pinto, que nasceu em Angola e regressou com três anos a Portugal, corria 1974, emigrou aos 12 anos para a Suíça, onde tinha já os pais. Pela Suíça ficou e é ali que fez do cupido um negócio, tendo criado uma agência especializada em encontrar a cara metade para aqueles que, em dado momento, não o conseguem fazer ou precisam do dito “empurrão”.
O negócio do amor
O amor como negócio surgiu por causa das “mentiras” que há pela internet, nos vários sites que existem para conhecer pessoas. Depois de se divorciar de um português, há 25 anos, Manuela Pinto, que agora vive em Friburgo, na parte francesa da Suíça, criou uma agência, a C’mieux à 2, porque ela mesma diz ter conhecido estes sites, após o término do casamento. “Percebi, antes de criar a empresa, que há muitas mentiras, as pessoas colocam fotografias que não correspondem à realidade ou até antigas, atrás dos ecrãs falam muito bem mas, depois, pessoalmente, não são o que mostram”, explicou a empresária, que diz que após a criação da C’ mieux à 2, segundo os inscritos que foram aparecendo ao longo dos anos, ficou “chocada” porque “algumas pessoas levam esses sites como ir às compras”. “Metem-se as coisas no carrinho e consome- -se se se quiser consumir, se apetecer, senão deita-se fora”, vincou.
Um em cada dois suiços não tem alma gémea
Além da fundadora, a empresa, com oito anos, que prevê aconselhar e ajudar pessoas a encontrar alguém, é liderada por profissionais especializados nestas matérias que envolvem o coração e a quem Manuela Pinto chama de conselheiros. “Neste momento, tenho três pessoas a trabalhar comigo”, explicou, dizendo que a C’ mieux à 2, ou seja, a busca pela cara metade, assenta em valores que não podem ser quebrados: verdade, seriedade e compromisso. A C’ mieux à 2, que nasceu após o desanimo de Manuela Pinto e um “estudo de mercado”, que lhe mostrou que uma em duas pessoas, na Suíça, estava sozinha, está ao acesso de qualquer um e compromete-se a encontrar uma pessoa séria a quem a procura.
Dar oportunidade ao que há além da imagem
Estabelecer relações humanas e encontros não está complicado apenas por causa dos tempos de pandemia que ainda vivemos. Já antes era típico que muita gente ficásse sozinha, em frente ao computador, “condenada” aos encontros na internet. Com a agência de Manuela Pinto, para alguns suíços, muito mudou. Quem quiser verdade, segundo a empresária transmontana, é bater a esta porta. E afinal como é que tudo funciona? “As pessoas telefonam, fazendo um pré-inscrição. Depois combinamos um encontro para conhecermos o inscrito, para saber qual o seu percurso de vida, o que é que faz, que hobbies tem, se tem filhos e que tipo de pessoa quer ou precisa ao seu lado”, começou por contar Manuela Pinto. Depois da conversa é assinado um contrato entre o cliente e a empresa e é preenchida uma ficha que completa este dito “banco de dados”. Afinal, combinar almas gémeas não é assim tão fácil. E pronto, é assim que, depois disto e de a pessoa provar que está livre e desimpedida, a empresa tenta perceber quem melhor combina com quem. É sugerido um encontro, que as pessoas podem ou não aceitar. Sem se conhecer e sem nunca terem visto sequer uma fotografia da pessoa que estão para conhecer, os inscritos podem depois decidir com a C’mieux à 2 se querem ou não continuar a ver-se. Refira-se que, até se encontrarem, as pessoas não sabem sequer o nome uma da outra para não poderem pesquisar- -se mutuamente na internet, a fim de ver se o físico e a beleza agradam. “Não trabalho com fotografias. Quando não se gosta da imagem já nem sequer se fala com a pessoa. É preciso dar oportunidade a toda a gente de encontrar o amor. Há coisas mais profundas que uma imagem e tive clientes, que hoje em dia, estão juntos, e me chegaram a dizer que se vissem aquela pessoa por ver, na rua, não teriam olhado para ela”, rematou a empresária.
“Está a correr bem”
A portuguesa, que, depois de vir de Angola, ainda viveu em Agrobom, na cidade de Bragança e em Chacim, no concelho de Macedo de Cavaleiros, admite que a empresa que criou é algo que a orgulha. “Decidi, há oito anos, que me iria lançar como independente porque queria fazer algo que me realizasse, que me fizesse mais feliz. Estou muito contente. Não foi fácil nos primeiros três anos, porque é complicado uma pessoa lançar-se sozinha, mas está tudo a correr bem”, explicou a empresária, assinalando que, naquela altura, e agora ainda mais, o facto de haver muitos sites para conhecer pessoas dificultou o processo, mas “quem procura seriedade sabe as diferenças que há entre uma agência deste género e um site”, por isso, “esse problema já não se coloca da mesma forma”. “Eu nunca desisti. Digo sempre que um dia, mais cedo ou mais tarde, o fruto da árvore vai cair. Foi, na verdade, o que se passou. Não estou nada arrependida daquilo que criei e sinto orgulho por nunca ter desistido”, terminou a transmontana.