Apesar de menos procura com a pandemia, lares continuam a enfrentar grandes listas de espera

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Ter, 15/03/2022 - 10:04


Para quem procura uma vaga num lar de idosos na região, a lista de espera é uma certeza

Maior ou menor, o tempo médio de espera ronda entre 1 a 6 meses. No distrito há 105 Estruturas Residenciais Para Idosos (ERPI), com 3465 vagas. No distrito, segundo os Censos de 2021 34% da população tem mais de 65 anos, mais 10% que a média nacional, ou seja, dos quase 123 mil habitantes, cerca de 42 mil são idosos. Paula Pimentel da União das IPSS do distrito de Bragança adianta que segundo a informação de que dispõe, não existem vagas neste momento em ERPI e em média as pessoas terão de esperar entre 1 a 6 meses, mas em algumas instituições o tempo de espera pode ir até um ano. “As pessoas têm sempre de aguardar algum tempo para serem admitidas nas estruturas residenciais. Acaba por ser uma constante”, afirma. A também directora da Fundação Betânia em Bragança, onde há 70 utentes, diz que o tempo de espera para entrar na instituição ronda seis meses a um ano. Na Santa Casa da Misericórdia de Bragança, a lista de espera é de 172 pessoas para os três lares da Santa Casa. O provedor não concretiza quanto tempo é que Olga Telo Cordeiro as pessoas podem ter de esperar para ter uma vaga. Os três ERPI têm capacidade para 180 utentes, mas visto que dois deles estão em obras há um ano, há agora 130 camas disponíveis. Uma segunda razão é que têm a reserva de alguns quartos livres por causa do covid-19, por isolamento. “Depois das obras concluídas, o que deve acontecer ainda este ano esperamos dar início à recuperação da lista de espera”, afirma o provedor, Eleutério Alves. Segundo o responsável, a lista de espera inclui pessoas que estarão também inscritas noutras instituições. Quanto a vagas sociais, que são totalmente suportadas pela segurança social, na SCMB há actualmente 13, já que dizem respeito a 10% do número de acordos com a segurança social. As restantes vagas com acordos são suportadas pela segurança social e pelo utente, sendo que a parte do utente corresponde a 2/3 do valor da reforma. O restante deverá ser assegurado pela família quando a tem. No caso da SCMB as comparticipações variam entre os 0 e os 700 euros por mês. Na SCM Vila Flor, que tem 6 lares, três na sede de concelho e os restantes em meio rural, existem 200 vagas e a lista de espera está, segundo o provedor Quintino Gonçalves, “controlada”, demorando entre 1 a 3 meses até se conseguir lugar e actualmente há cerca de 20 pessoas à espera. Neste caso, os números não têm vindo a crescer. “Para ser muito sincero, é uma coisa que veja todos os dias e está estável. Estamos a atravessar uma fase bastante complicada e a verdade é que não há grandes rendimentos, há pessoas mais necessitadas, as pensões infelizmente são muito baixas e há famílias que preferem tratar dos seus familiares, quando não há empregos”, refere. No Centro Social dos Mogos em Carrazeda de Ansiães a dimensão é menor, mas a situação é semelhante. A directora técnica Alexandra Rodrigues explica que têm 24 utentes na ERPI, 19 com acordos com a segurança social, e há actualmente 48 pessoas em lista de espera. “Já tivemos muito mais, mas por causa da comparticipação que se paga na instituição, porque em vez de deixarem a cargo as pessoas na instituição preferem ficar com elas em casa por questões económicas e porque encontram outras soluções”, explica a responsável da instituição em Mogo de Malta.

Covid-19 baixa temporariamente a procura

A excepção foi o período mais grave da pandemia, em que a situação de procura acima da oferta foi contrariada. “Apercebi-me que o ano passado entre Abril e Junho quase todas as instituições tinham vagas disponíveis”, afirmou Paula Pimentel. “Por norma não havia sequer admissões ou eram muito residuais, depois foi havendo, mas mantiveram-se sempre muitas vagas em reserva porque era necessário mudar utentes de uns quartos para os outros para ficar em isolamento”, afirma Eleutério Alves. Quando chegavam ao lar, os utentes tinham de ficar em isolamento por 15 dias, durante muito tempo as visitas estiveram proibidas e não eram permitidas saídas da instituição, por isso, houve poucas admissões.

Como fazer face às listas de espera?

A solução para ultrapassar estas dificuldades não é simples, mas uma aposta reforçada no apoio domiciliário é uma das vias apontadas. Eleutério Alves acredita que “cada vez mais a procura pela institucionalização vai acontecer, porque a população idosa está a aumentar, apesar de ter levado agora um decréscimo grande com a covid”. Enquanto não há capacidade para admitir mais gente nos lares da SCMB, os candidatos a utentes são encaminhados para apoio domiciliário, um serviço que chega agora a 80 utentes. “O apoio domiciliário deveria ser a primeira escolha da parte do utente, porque fica em casa, no seu meio e vizinhança, pode não ter capacidade para ter uma vida activa, mas com o apoio da instituição ele consegue estar no seu meio. Defendemos que o primeiro apoio social deve ser o domiciliário”, afirma. Em apoio domiciliário há 125 utentes em Vila Flor. “Sempre tive a opinião que as pessoas, quando podem e dando-lhes condições, se devem manter nas suas casas até não poderem mais. Claro que hoje em dia as pessoas vivem mais, mas acho que a solução passará pelo apoio directo às famílias e estas instituições prestar serviços de apoio domiciliário e estar próximo das pessoas”, afirma Quintino Gonçalves. Para o provedor da SCMVF, há a possibilidade de “daqui a uma dúzia de anos até haver vagas a mais nos lares do concelho”. O responsável afirma ainda que não há apoio suficiente para as instituições. “Estamos a passar uma fase complicada, as despesas são muitas, as pensões em média baixas e a comparticipação do Estado não compensa, porque o valor destes acordos não dá para os impostos, para pagar o IVA e Segurança Social”, afirma o provedor.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro