Mudar de vida em plena quarentena

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Ter, 21/07/2020 - 11:13


Jovem aproveitou o confinamento para seguir outro caminho: começou a restaurar móveis velhos e encontrou serenidade

O confinamento obrigatório, que deixou milhares de portugueses em casa, durante dois meses, foi a desculpa perfeita para Filipe Veiga, natural de Izeda, “pôr os pontos nos i's” e repensar a vida que levava. O jovem, de 28 anos, chefe de cozinha em Bragança, há cerca de sete, não perdeu o emprego por causa da pandemia, até porque o havia deixado dias antes, mas, quando se viu confinado às quatro paredes de casa, escolheu aproveitar o tempo para perceber o que fazer dali em diante.

 
Velho que se transforma em novo
Além de reorganizar ideias era preciso manter o sustento e foi assim que pensou em fazer algo que já se apresentava inevitável. Filipe Veiga arregaçou as mangas e começou a transformar móveis antigos em autênticas peças modernas. A paixão pela renovação dos móveis surgiu ao acaso, há cerca de ano e meio. “Quando comprei o apartamento deparei-me com algumas dificuldades em pôr a casa de pé. Hoje em dia temos possibilidade de comprar móveis, caríssimos, que se fazem em massa, mas depois de dois ou três anos não temos nada. É dinheiro deitado ao lixo”, foi assim que o jovem percebeu que podia transformar os móveis que herdara da estalagem dos avós e ficar com peças mais duradouras e valiosas.
 
Quarentena de trabalho
O trabalho que fez em casa afirmou-se, durante a quarentena, pelo feedback que recebeu de amigos e familiares. “Comecei a aprender, por mim próprio, na internet, em vídeos e revistas, como se podia reutilizar o que era antigo, dar-lhe uma nova vida. Foi ai que cresceu esse bichinho”, explicou. A motivação para aprender mais e o apoio dos mais próximos motivaram-no a criar uma página no instagram (renovacoescasa_ filipeveiga) e assim começou a “chover” trabalho. “Muitas das pessoas que me começaram a procurar foi porque tinham móveis a que estavam ligados por razões sentimentais, que eram de algum familiar próximo ou tinham comprado apartamento com mobília antiga e não a queriam vender, porque geralmente é mal paga, não sabiam o que fazer”, assinalou o jovem. A transformação depende do estado e dimensões do móvel mas, para se ter uma ideia, é preciso cerca de uma semana para transformar um objecto. “Se for um móvel grande, como os de sala, com várias portas e vitrines, demora alguns dias”, referiu Filipe Veiga, que explicou que “primeiro é preciso analisar e tratar todas as anomalias”, nomeadamente humidade, só depois é que se lixa e se aplicam as tintas e vernizes, conforme o cliente desejar. Quando as peças lhe chegam às mãos, Filipe Veiga pensa em reinventar ambientes, acrescentando-lhes valor, consoante os pedidos dos proprietários. “Este trabalho é uma alegria muito grande porque, depois do trabalho feito, as pessoas têm perguntado, frequentemente, se o móvel que me deixaram é mesmo aquele que agora têm à sua frente”, acrescentou o jovem.
 
Futuro de possibilidades
A renovação de móveis não será um futuro certo, ou pelo menos único. O jovem, que admite que, ao longo destes últimos tempos, se tem munido das “ferramentas” que pode, para que nunca lhe falte motivação e trabalho, considera que, para já, este trabalho é temporário, tendo servido para pagar contas e para se testar a si mesmo. “Pode dizer-se que se consegue viver disto mas como não é a minha área de estudos, que é algo que não quero deixar para trás, apenas aproveitei a altura de quarentena para experimentar”, reforçou Filipe Veiga, que assegura que, caso quisesse tornar esta nova paixão em algo mais sério, seria necessário “aprofundar estudos” e abrir um “espaço” em nome próprio. Neste momento, o jovem está a “expandir” outras áreas de trabalho, ferramentas e profissões, além da formação de origem. “Para breve estou a pensar, seriamente, em abrir um negócio. Depois deste capricho que tenho, talvez abra um restaurante próprio e aí volte à hotelaria de novo”, confessou, deixando para breve novidades e mostrando que “não é opção ficar-se parado”.
 
Jornalista: 
Carina Alves