“Uma coisa de que nos estamos a aperceber é do factor PAN”

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Ter, 06/08/2019 - 17:21


Paul Summers, de 51 anos, é o candidato do PAN pelo distrito de Bragança. Apesar de residir no Porto, tem antepassados e familiares na região, nomeadamente em Moredo, Faílde e Bornes. O combate à desertificação na região, as acessibilidades e a produção mais amiga do ambiente são prioridades do partido.

O que é que o motivou a aceitar este desafio de se candidatar por Bragança?

O desafio foi aceite, porque me foi lançado pelo partido e foi um acreditar na minha pessoa, na minha capacidade e no meu contributo. Por outro lado, por ter ligações familiares ao distrito de Bragança, para mim é um orgulho honrar a memória dos meus antepassados, que tinham, parte deles, origem aqui em Bragança.

Ainda assim, não é de cá, é do Porto. Como acha que vai ser aceite a sua candidatura?

Embora o meu percurso não seja similar ao de muitas pessoas que saíram de Bragança, ainda hoje vinha no autocarro a pensar no filho pródigo, “o bom filho a casa torna”. Eu também tive uma experiência de emigração, portanto eu também segui o percurso que seguiram muitas pessoas aqui de Trás-os- -Montes, que foi viverem no estrangeiro.

Mas o PAN tem ainda pouca expressão, para já, no distrito de Bragança. Não há militantes e apoiantes do PAN no distrito que pudessem ser o cabeça-de-lista?

Temos ainda muito pouca representação. O nosso mandatário, Octávio Pires, durante esta campanha vai tentar estruturar e solidificar o PAN em todo o distrito e isso é parte do desafio. Com o incremento da votação que temos tido ao longo dos últimos anos, mesmo aqui em Bragança, com o interesse que mostraram alguns filiados e com o resultado das últimas eleições europeias, há um novo alento e penso que poderá ser o momento para lançar não só a campanha eleitoral como enraizar o PAN no distrito.

Têm o objectivo de ter um representante parlamentar por Bragança?

Uma coisa de que nos estamos a aperceber que é o “factor PAN”. Nós temos tido surpresas, durante as últimas eleições. Em 2014, tivemos à volta de 1% em Bragança, agora, em 2019, duplicámos. A nível nacional isso até tem sido mais visível, por exemplo, a votação que tivemos em 2014 nas europeias, triplicou nas europeias de 2019. Portanto, há um claro interesse e aumento de expressão e votação no PAN, tanto assim, que as últimas sondagens nos dão perto de 8% e a possibilidade de eleger 5 a 7 deputados. Não podemos menosprezar, até pela alteração que houve aqui no distrito, relativamente à votação, passou do PSD para o PS, e a subida de partidos como o Bloco de Esquerda, faz com que possamos pensar que o futuro está muito em aberto.

O que seria um bom resultado para o PAN em Bragança?

O melhor resultado é ter a aceitação e o voto da população e, claro, incrementar esse voto. Gostaríamos muito que o voto de Bragança acompanhasse a tendência geral do país. É certo que nós aqui no Norte não temos tido uma representação tão forte como temos tido noutros distritos.

Quais são as principais propostas do PAN para Bragança?

A grande proposta é sempre a questão da interioridade, da desertificação da população e do território, por exemplo da área coberta vegetal, porque estamos a ver um processo de erosão e degradação dos solos, de perda de biodiversidade, que pode ser um dos grandes atractivos do distrito de Bragança. Preocupa-nos também o envelhecimento da população, as acessibilidades e a economia local. Essas são as grandes metas: um desenvolvimento regional equilibrado, sustentável que seja atractivo para as nossas gerações e que combata a desertificação.

Como é que se combatem esses problemas, como a desertificação?

A desertificação da população pode ser combatida através de incentivos económicos ou incentivos de famílias à natalidade, na procura de oportunidades para os jovens que se deslocam para o território para estudar, de modo a que possam estabelecer aqui a sua família e o seu negócio. As acessibilidades são também uma das grandes questões da interioridade. O investimento na ferrovia terá de ser uma das grandes apostas para toda a região norte, associando também a acessibilidade ao exterior. Nós temos perto das nossas fronteiras o caminho-de-ferro de alta velocidade espanhol. Temo-lo perto do Douro, vamos tê-lo também às portas de Bragança, na Sanabria, embora não tenhamos as acessibilidades necessárias para usufruir dessas comunicações. Mas penso que isso pode criar uma atractividade e centralidade a Bragança. Depois, todo o desenvolvimento da economia local, Bragança tem uma grande tradição florestal e agrícola. Se incentivarmos a agricultura e o comércio de proximidade, penso que Bragança tem grandes opções.

O que propõe o PAN que possa ser feito no sector agrícola para melhorar as condições e a rentabilidade dos produtores?

Através de benefícios fiscais, incentivar a produção local e a produção de baixa ou média escala. Nós somos muito a favor da agricultura biológica, dos pequenos produtores, do comércio de proximidade e isso penso que podeser incentivado, a nível local e regional. Acreditamos que mesmo as grandes cidades e os grandes centros deviam ser cada vez mais abastecidos pela produção local e regional, e vamos trabalhar nesse sentido. O território de Bragança tem grande tradição em certas culturas e nós queremos incentivá-las, através da formação, certificação, apoio às empresas e pensamos que isso possa ser um grande potencial para esta região, como também o desenvolvimento de novas culturas.

Acha que a PAC tem sido mais ou menos benéfica para região Trás-os-Montes?

A grande questão da PAC é que tem proporcionado um grande incentivo à agro-indústria e à agro-pecuária, a produções de grande escala, altamente mecanizadas e industrializadas, com muita incidência na utilização dos fitofármacos e agro-químicos. Nós acreditamos que a solução não seja essa e pensamos que a PAC tem que se orientar para produções de pequena e média escala, produções locais, biológicas e baseadas nos produtos autóctones. No caso da pecuária, que é também um sector importante aqui na região, qual é a posição do PAN? O PAN pugna pelo bem- -estar e protecção animal. Nós queremos garantir as boas condições para os animais de produção, esse é um ponto-chave, não só na produção como em toda a fileira animal, que inclui o transporte, o abate e o consumo. Por outro lado, achamos também, que dadas as condições, relativamente às alterações climáticas, à libertação de CO2, e sendo os transportes e a produção de animais dos grandes contribuintes para essa pegada ecológica e ambiental, achamos que devíamos olhar para a produção animal com muita atenção e incentivar, cada vez mais, dietas de base vegetal e não com tanta preponderância na alimentação à base de produtos animais.

Mas como é que depois tencionam ultrapassar a sobrelotação de animais no planeta?

Acreditamos que estamos num momento chave da civilização. Temos as emissões de dióxido de carbono, que são fruto de uma sociedade industrial e de consumo, e que estão a levar o planeta à beira do colapso. Verificamos isso na extensão de território que está a ser utilizado para a civilização humana, que está a levar a uma grande extinção de espécies. Acreditamos sim que há uma grande sobrelotação de animais e mamíferos de produção animal no planeta, porque quando contamos todos os mamíferos incluído a espécie humana e os animais de produção associados, nós somos à volta de 97%, levando a que exista apenas 3% de mamíferos selvagens. Parte dos nossos valores são ecológicos e acreditamos que no ecossistema tudo está interligado. Vivemos numa teia da vida, da qual fazem parte os animais selvagens e a biodiversidade. Se nós aniquilarmos a vida selvagem, pensamos que não vamos ter uma rede de suporte para a nossa civilização. As alterações climática são o aviso que temos de repensar a forma como nos relacionamos com a natureza, a biodiversidade, o meio selvagem e que implicações isso pode ter para o planeta e para a saúde humana.

O sector da pecuária na região acabaria por ser influenciado?

Nós acreditamos que deve haver uma reorientação da produção para modelos que sejam mais sustentáveis, ecológica e ambientalmente, portanto temos que reequacionar a pecuária e isso pode ser feito através do incentivo da produção mais amiga do ambiente. Assim, seria o desincentivar de formas de produção que achamos que não contribuem tanto para o bem-estar, como para a pegada ecológica.

Por proposta do PAN foi aprovado o fim da eutanásia de animais nos canis, o que levou a problemas como a sobrelotação e também  questões de saúde pública e aumento de cães vadios. Como é que se ultrapassa este problema?

O que propomos são as campanhas de esterilização. Antes do início da nova legislação, que proíbe o abate em canis, os municípios puderam beneficiar de fundos para campanhas de esterilização. Acontece que uma grande parte dos municípios, antes da introdução da lei, não fez pedidos dos fundos, portanto agora que a lei está em operação é quando os municípios se defrontam com este problema, que já deviam ter resolvido antes da aplicação da lei.

Considera que ainda é possível controlar este problema?

Sim, nós acreditamos que deve ser possibilitado aos municípios usufruírem, ainda, destes fundos para campanhas de esterilização. Estamos a incentivar os municípios a trabalharem com associações amigas dos animais, nas campanhas de esterilização e que reequacionem o seu modelo. No distrito de Bragança há dois parques naturais.

Qual é o posicionamento do PAN em relação à tipologia de gestão destas áreas protegidas, que é criticada pelas populações?

Esta questão tem de ser muito muito ponderada, se por um lado acreditamos numa maior descentralização de competências do Estado central para o nível regional, sabemos também que os parques são altamente humanizados. Com a devolução e transferência de competências e responsabilidades do Estado central para os municípios poderá ser que eventualmente estes venham a ter mais responsabilidade na gestão dos espaços naturais, ficando o Estado central apenas como entidade mais fiscalizadora. Nós acreditamos sempre na proximidade e numa democracia participativa, em que haja maior participação da cidadania, e que a sua razão, o seu parecer, os seus interesses sejam tidos em conta e que a gestão seja comparticipada. Acreditamos que isso é possível, mas não menosprezamos também um papel fiscalizador do Estado, porque receamos que alguns interesses gerais sejam subvertidos por interesses que não contribuem para o melhor desempenho destas áreas, que são muito importantes em termos ambientais, por causa da captura de CO2, do número de espécies selvagens, da biodiversidade e são um recurso também para as populações locais, quando bem geridas, e podem ser também um recurso económico para as regiões a nível do turismo e actividades de natureza.

Algumas sondagens apontam que o PAN possa ficar em quarto lugar, com quase 8% dos votos. Acha que isso mostra que não é uma moda votar no PAN?

Pensou-se inicialmente, que um deputado do PAN seria apenas um fenómeno passageiro. Mas temos observado ao longo das últimas eleições um crescimento constante, com o duplicar e triplicar de votos e percentagens, que demonstram que o PAN é um partido que veio para ficar, com uma voz diferente, que representa uma sensibilidade e em que as pessoas cada vez acreditam mais. Penso que isso será demonstrado nas legislativas e veremos  também este crescimento depois nas próximas autárquicas, essa é uma razão também por que estamos a apresentar candidatos em todos os distritos, acreditamos que o PAN está agora  com capacidade de se afirmar como um partido nacional, para representar a população, não só certas zonas.

Mas há também quem critique o PAN dizendo que há uma incerteza em relação ao que defende. Como vê essas críticas?

Acho que não há ambiguidade, o PAN vem com uma força e uma vontade de trabalhar, de contribuir, de oferecer soluções, mas a nossa ideologia é a ecologia. Penso que não somos nada ambíguos, aliás penso que somos bastante afirmativos e coerentes e quando dizemos que questionamos o modelo de desenvolvimento que está a levar o ecossistema, o planeta e a nossa sociedade a um provável colapso climático e ambiental e que realmente precisamos de parar um pouco e pensar em que modelo da sociedade queremos basear a nossa evolução. Nós baseamo-nos muito nos princípios da ecologia, do ambientalismo que penso que são bem claros quanto àquilo que devem ser as opções da nossa sociedade, penso que, pelo contrário, não há ambiguidade, há sim bastante clareza e afirmação.

 

Candidatos PAN:

Paul Fernandes Summers Octávio Pires (Mandatário) Ana Maria Pires

Suplentes:

Maria de Fátima Teixeira Sérgio Filipe Anes Anabela Gomes Araújo

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro/Ângela Pais