Utentes desesperam a tentar telefonar para os centros de saúde de Mirandela e de Bragança

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Ter, 18/01/2022 - 09:14


Os centros de saúde de Mirandela e os dois centros de saúde de Bragança, o da Sé e o de Santa Maria, estão incontactáveis

Ao se tentarem contactar, os de Mirandela e o de Santa Maria, a chamada é estabelecida mas, na maioria das vezes, ninguém atende o telefone. Já no que respeita ao centro de saúde de Sé, o telefone não chega a tocar, apenas se houve uma mensagem dizendo que não há possibilidade de estabelecer a ligação. Em tempos de pandemia, a situação está a gerar alguma revolta, uma vez que os doentes com covid-19 precisam estabelecer contacto com os médicos de família por causa das baixas e, até há poucos dias, também pela alta médica. Na semana passada determinou-se que se as pessoas infectadas, após sete dias de isolamento, não tiverem qualquer sintoma ou se forem muito ligeiros, podem sair de casa sem realizar qualquer teste e sem precisar de autorização, ainda assim, mesmo que a alta médica já não seja necessária, as baixas continuam a ser precisas. Cristina Brochado, natural de Mirandela, é uma das, aparentemente, inúmeras pessoas que não consegue chegar à fala com o centro de saúde daquela cidade. Fez dois auto testes à covid-19, que deram positivo, e, após entrar em contacto com o SNS 24, fez um teste PCR, que confirmou o resultado. A jovem de 24 anos conseguiu sair de casa e voltar à vida normal porque as normas mudaram, mas, antes deste anúncio, quando falou ao Nordeste, viu a situação mal parada. “Como é que vou sair de casa se ninguém atende? Se não consigo falar com a minha médica, vou ter alta como?”, questionou. A situação da alta pode estar resolvida mas o resto é mais complicado. “Do SNS 24 disseram-me que a minha médica iria entrar em contacto comigo mas ninguém telefonou, fui eu que tive que o fazer, sobretudo pela baixa. Não posso faltar estes dias todos ao trabalho e não receber nada”, afirmou, dizendo ter telefonado “mil e uma vezes” mas nunca teve sucesso. “Isto é vergonhoso”, vincou. Cristiana Baptista, também é de Mirandela e também tem queixas. O pai da mirandelense foi diagnsoticado com cancro, em França, quando lá estava em trabalhos sazonais, em Abril de 2021. Como quis ser tratado em Portugal, a filha tentou tratar do processo, ligando para o centro de saúde, a fim deste ser reencaminhado para os devidos tratamentos, mas também teve pouca sorte. “Tentei ligar várias vezes e ninguém atendia. Tive que ir lá e disseram-me que o médico de família estava de férias, que não podiam fazer nada, que teria que aguardar”, afirmou, dizendo que só conseguiu que o pai fosse encaminhado para o IPO, no Porto, porque um amigo, que trabalhava no centro, a ajudou a que lhe passassem o P1 necessário. A denúncia vai mais longe. Cristiana Baptista queixou-se ainda de, por não conseguir ligar para o centro, ter que recorrer ao privado, por causa do cateter que o pai trazia do Porto, cada vez que lá ia fazer tratamentos. “Trazia uma bomba ligada a um catéter, que ao fim de cinco dias tinha que ser retirado. Da primeira vez, liguei para o centro, para o irmos lá retirar, mas não atenderam. Tive que ir lá presencialmente, mas como nos obrigaram a esperar na rua, porque a enfermeira não estava, vi-me obrigada a ir a uma clínica privada porque o meu pai não podia esperar já que mal se segurava em pé”, esclareceu, afirmando que outras vezes tentou marcar mas nunca conseguiu. O pai de Cristiana Baptista, que não mais conseguia trabalhar, precisou de um relatório, passado pelo médico de família, que atestasse isso mesmo e que lhe possibilitasse ter alguma ajuda financeira enquanto a situação durasse. “Mais uma vez, passei semanas a telefonar e nada”, esclareceu a filha do homem, assumindo que, presencialmente, lhe disseram que tinha que marcar consulta. A consulta foi então marcada, mas aconteceu apenas seis meses depois. Uma data já tardia, uma vez que o homem morreu dali a alguns dias. A Unidade Local de Saúde do Nordeste ainda não prestou qualquer esclarecimento às questões que lhe foram enviadas, por parte deste jornal, no sentido de compreender o porquê de os centros de saúde estarem incontactáveis.

Jornalista: 
Carina Alves