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Venda de cordeiro e cabrito na Páscoa não correu como esperado para os criadores

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Ter, 02/04/2024 - 13:02


Preço da carne, aumentos dos custos de produção e quebra na produção afectaram negócio

Páscoa é sinónimo de venda de cordeiros e cabritos na região. No entanto, o negócio não correu como era esperado. Além de alguns criadores terem vendido menos do que nos anos anteriores, consequência do aumento dos custos de produção, o preço a que os animais são vendidos fica aquém daquilo que é desejado. O criador Domingos Afonso, de Carragosa, Bragança, vendeu 150 cordeiros, antes da Páscoa e ainda iria vender outros 150 uns dias depois. No entanto, queixa-se que ao preço a que os vende não dá para cobrir os gastos que tem. “Os cordeiros vão indo, baratos. 60 euros cada cordeiro, isso não é nada, porque já o comeu. O ideal era 80 a 100 euros. A alimentação dá trabalho, fica cara, e o que mais caro fica é a palha para os estrumar. A palha triplicou o preço nos últimos dois anos”, contou. Admite que, além do Natal, é nesta época que mais cordeiros vende, mas aquilo que ganha é rapidamente gasto em adubo, tendo em conta o preço a que este produto está. Já em Vilar Seco, concelho de Vimioso, Maria da Glória Fonseca vendeu menos cordeiros nesta Páscoa. “Despachou” 75, mas na mesma altura o ano passado “despachou” 100. Esta quebra deve- -se a ter menos gado. A criadora foi obrigada a reduzir o efectivo. “Tenho menos gado porque tudo aumentou muito, não há combustível que aguente. Pago um camião de palha a 3300 euros. Uma pessoa andar a trabalhar sem ver lucro e para dar aos outros, não posso”, afirmou.A sorte, disse a agricultura, de 65 anos, é que já não tem filhos para sustentar. Caso contrário, não tem dúvidas de que não valeria a pena andar com a criar ovelhas. “Eu estou sozinha, já não tenho os meus filhos comigo e já não tenho empréstimos a pagar. Se eu tivesse uma família a manter e um crédito a pagar isto não era rentável”, vincou. Além do preço e dos custos de produção terem afectado a venda do cordeiro, a doença também veio estragar o negócio aos criadores. Antónia Pires, de Rio Frio, Bragança, vendeu apenas 40 cordeiros este ano, porque outros tantos lhe morreram. “São poucos até, tivemos muita quebra. Morreram de Uma pessoa andar a trabalhar sem ver lucro e para dar aos outros, não posso.” Maria da Glória diarreia. Morreram para aí 30 ou mais”, contou, reconhecendo que é um grande prejuízo. Os cordeiros pequenos, de 10 quilos, vende-os a 50 euros, e os maiores, de 15 quilos, vendeu-os a 65 euros. A criadora considera que o ideal seria 60 euros o pequeno e 70 o grande. “Não compensa nada andar com o gado. Compensava se nos pagassem o subsídio, ainda dava alguma ajuda. Isto não dá quase nada. É o comido pelo servido”, disse. No que toca ao cabrito, segundo António Neves, presidente da ANCRAS, Associação Nacional de Caprinicultores da Raça Serrana e da Cooperativa do Cabrito Transmontano, as vendas foram boas, visto que esta é uma das alturas do ano mais se vende este produto. Já no que ao preço diz respeito, o cenário é outro. “O preço do cabrito não tem sofrido muitas oscilações. Nesta altura é um bocadinho mais alto, na casa dos 16 euros. Eu já vi cabrito à venda esta Páscoa a 26 euros numa grande superfície, de um cabrito que saiu da cooperativa a 14 euros”, lamentou. Devido aos baixos preços, António Neves adiantou que há cada vez menos produtores em toda a região transmontana. “Na cabra serrana transmontana perdemos no último ano 20 produtores, cerca de 700 animais. Isto é sinónimo de que as coisas não estão bem, que a actividade não gera riqueza. As pessoas abandonam a actividade porque ela não é rentável”, vincou. A continuar assim, o responsável teme que deixe de haver pecuária. “Continua a haver ausência de medidas específicas para este sector. É preciso que os governos e as entidades olhem para este sector com outra importância e outra dinâmica. Na última década perdemos mais de 6 mil animais, isto a caminhar assim, sem medidas de apoio, daqui a uma dúzia de anos não vamos ter criadores de cabras, ovelhas e vacas”, disse, acrescentando que é também preciso que as cooperativas da região se unam para ter mais força no que toca à definição de preços. A ANCRAS tem 200 produtores associados a nível nacional, que se traduz em 15 mil animais. Já a Cooperativa do Cabrito Transmontano tem 50 produtores dos distritos de Vila Real e Bragança.

Festival do Cabrito

Para promover o cabrito, a ANCRAS e a Cooperativa do Cabrito Transmontano, em parceria com o Município de Mirandela e a Associação Comercial, criou o Festival Gastronómico do Cabrito Transmontano DOP. “Teve dois objectivos, o principal é promover esta iguaria, um produto com Denominação de Origem Protegida e também quebrar estar sazonalidade de procura do cabrito, sensibilizando os restaurantes para a venda deste produto durante todo o ano”, explicou António Neves. A iniciativa decorreu entre 22 e 31 de Março, com a participação de 13 restaurantes do concelho de Mirandela. Foram vendidos cerca de 100 cabritos.

 

Jornalista: 
Ângela Pais