Morrer de amor (?)

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Acho que é seguro afirmar que todos já tivemos o coração partido. Todos pensámos, em algum momento, que íamos morrer, literalmente, de amor. Ou melhor, pela ausência de um amor em específico, materializada numa pessoa. Pensámos que nenhuma alma seria capaz de suplantar o que estávamos a sentir, tamanha a dor. E pensámos no que iríamos nós fazer nesta mísera vida sem o nosso amor, que nunca o mundo viu outro igual. É uma espécie de dor fininha, que parece que faz doer até os ossos. Alguns choram. Outros bebem. Outros procuram conforto imediato noutros braços. Depende também em que época da nossa vida é que o desgosto amoroso nos apanha, e, obviamente, da disponibilidade de terceiros, se considerarmos a última opção. Há quem goste de aturar as desgraças alheias nesses termos, e fazer de ama seca, porque ali não há um amor igual ao que, infortunadamente, perdemos para sempre. A verdade é que, não descurando que, se calhar, alguns morreram mesmo com o coração partido, a esmagadora maioria consegue, surpreendentemente, sobreviver. Só que é mais inato ao ser humano querer sofrer do que querer ser feliz. Ver o copo meio vazio, ser um mártir. Temos uma atracção natural para o fundo do poço. E parece que nunca estamos suficientemente no fundo. É isso que os corações partidos fazem (nesta parte, ainda não sabemos que vamos, de facto, sobreviver). Somos feios, maus, pouco interessantes, nem tomamos banho, se for preciso. Nunca fizemos nada de jeito na vida. E todos à nossa volta passam a parecer fadas encantadas, cheiinhos de virtudes. Mas, nenhuma dessas pessoas nos interessa, só nos deprimem. Primeiro, porque temos a nossa candeia apagada, e o escuro nem nos deixa ver. E depois porque estamos muito ocupados a sofrer, a rever tudo o que correu mal na relação que terminou, ao ínfimo detalhe, como se estivéssemos a estudar para um teste. É difícil perceber quando é que o coração partido sara. É quando já não pensamos nos ex? É quando passamos a ter outra pessoa? É quando vemos os ex e conseguimos dizer “olá, tudo bem?” com um tom indiferente, sem espumar da boca ou desatar em prantos? Simplesmente, deve ser quando já nem nos lembramos da dor fininha, até aos ossos. Quando, feitos malucos, começamos a olhar para alguém, que novamente traz a sensação de borboletas no estômago. É quando passamos a ser, outra vez, fadas pimpilantes, a espalhar charme por tudo quanto é lado, todos namoradeiros. E vamos ao ginásio, fazemos uma coisa diferente ao cabelo, vamos comprar umas farpelas novas, vamos a sítios novos. Há sempre aquele amigo que, farto de nos ver na depressão, até é capaz de arranjar um date a quatro, que, regra geral, corre mal, mas que não deixa de ser engraçado, porque é uma experiência diferente. E, quando vamos a dar por nós, já trepámos o poço. Estamos cá acima, qual Samara, que se recusa a ficar dentro de água. Cá estamos nós, prontinhos para outra! O mais inacreditável não é como superamos o fim de um amor, que achámos eterno. O mais inacreditável é como podemos voltar a cair na esparrela, mesmo sabendo que, muito provavelmente, dali a algum tempo estaremos outra vez na fase em que é mais certo morrer de amor do que outra coisa.

Tânia Rei