OS TRÊS “R” E OUTROS TRIOS 2 - OS TRÊS JOSÉS II – SILVANO E SÓCRATES

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J osé Silvano tinha um conhecimento da região, muito mais real do que José Gama. Acrescia que, naquela altura, a sua dedicação a Mirandela era maior e mais genuína que a do seu predecessor. A resolução do problema ambiental representava efetivamente uma maior valia para a cidade, a cujos destinos se preparava para presidir, e não uma escada para qualquer outro lugar, no curto prazo. A primeira reunião da Associação de Municípios, pós-Gama, deixou tudo isso muito claro, para descanso de todos quantos receavam pelo que a convivência entre o novo autarca e o recente deputado tivesse, de alguma forma, influenciado, negativamente, o novo ocupante do Palácio dos Távoras. Este, percebera a importância do projeto, não só para a região mas, sobretudo para o desenvolvimento da zona leste da sede concelhia. José Silvano era muito mais acessível que o Gama e tinha, já, uma maior proximidade aos Presidentes de Junta, nomeadamente os eleitos pelo PSD, todos escolha sua. O seu trabalho a esse nível foi fulcral pois o incidente na Freixeda, com a primeira apresentação pública do projeto, não aconteceria se já fosse este o Presidente da Câmara. A demonstrá-lo o cuidado, talvez exagerado, da Junta de Freguesia de Frechas que, estou certo, instruída por Silvano, ao primeiro indício de possível risco para mim e para o eng.º Carlos Aguiar do IPB e representante da Quercus, chamou a GNR para nos proteger no final de uma sessão de esclarecimento no Cachão onde recebemos várias ameaças que, parecendo graves, não era, estou certo, para levar à letra. José Sócrates era Secretário de Estado do Ambiente, havia ainda pouco tempo, quando lhe solicitámos uma reunião. Deslocámo-nos a Lisboa, eu, o João Sampaio, que presidia à Associação e Artur Pimentel que o conhecia pessoalmente. Recebeu-nos no seu gabinete, na rua do Século, simpático, sobretudo por rever o Presidente da Câmara de Vila Flor, mas com uma indisfarçável irritação. Obviamente que estava empenhadíssimo em resolver os graves problemas ambientais que atormentavam o país, recebido no seio da União Europeia, também para resolver essa questão, porém não tinha meios para resolver tão grande e delicada tarefa. As CCR (como se chamavam na altura) tinham aprovado projetos e mais projetos, em todas as áreas gastando em rotundas e quejandos, os fundos destinados ao ambiente. “Meus senhores, assim, é impossível!”. “Senhor Secretário de Estado, nós, na Terra Quente, reservámos na fatia que nos coube no Pronorte, uma verba considerável para financiar o encerramento das quatro lixeiras e a construção de um aterro sanitário!” Não foi fácil convencê-lo. Pediu-nos para confirmar, com tal insistência que eu receei estar a dizer algo que não fosse totalmente verdade, mas quer o João Sampaio, quer o Artur Pimentel, confirmaram pois assim o haviam verificado na última reunião do GAT que coordenava, localmente, a distribuição dos fundos europeus destinados às diferentes regiões. Tudo mudou, num ápice! A Terra Quente passou a ter, na Secretaria de Estado, um poderoso e empenhado aliado. Aos fundos existentes foram acrescentados mais alguns, para ir mais além do projeto inicial, nomeadamente na separação e reciclagem com o apoio enorme e decisivo do recém-criado Instituto dos Resíduos.

José Mário Leite