A política portuguesa foi sempre demasiado opaca e debaixo desse obscurantismo atroz, desenvolveram-se os mais escabrosos projetos, completamente à margem dos portugueses e cujos interesses revertiam sempre para quem se movimentava na esfera política, fosse no governo, na Assembleia ou nos ministérios. Se fizermos um pequeno esforço de memória lembrar-nos-emos certamente de que os governos do PS nuca terminaram as legislaturas e deixaram o país à beira da bancarrota. Exemplo disso foi a intervenção do FMI no governo de Mário Soares e depois mais recentemente no de Sócrates. O país sofreu convulsões terríveis, submergindo em crises consecutivas que arrastaram o povo português para um lamaçal de onde sair parecia quase impossível. Foi assim, deixado o país aos governos que se seguiram e que tiveram de enfrentar problemas económicos impensáveis, socorrendo-se dos impostos para equilibrar uma economia em falência. A culpa, foi sempre atribuída aos governos que se seguiram aos do PS e tentaram remendar as asneiras que os anteriores tinham feito. E se o remendar não foi totalmente eficaz, foi pelo menos, o mínimo possível, para não hipotecar completamente o país. Viveram-se tempos muito difíceis. Mas se pensamos que esses tempos já passaram, o melhor é desenganarmo-nos. Não passaram. A crise que atualmente se vive no mundo, devida em parte às guerras da Ucrânia e do Médio Oriente, mas não só, não está para acabar, tal como as guerras que seguem o ritmo que os governos cobardes lhes impõem. Tudo isto em conjunto, acelera a crise económica que grassa pelos países europeus e não só, dificultando qualquer recuperação bem intencionada. Portugal, que vivia de perto essa crise, vê-a agora agrava- da pelas asneiras que alguns governantes fizeram, envolvendo interesses indevidos e nomes que deveriam estar bem longe desta amálgama de despautérios. Referenciada que tem sido a corrupção em Portugal e igualmente nomes a ela ligada, não admiraria que mais tarde ou mais cedo viesse a rebentar uma bomba mais forte que arrasasse a governação por inteiro. Foi o que aconteceu. Como se não bastasse a crise em que vivíamos, eia que agora o primeiro ministro se demite e o governo cai, deixando o país num vazio perigoso e cujo rumo é demasiado incerto. Costa não quis demitir em tempo próprio o Ministro Galamba. A amizade, a confiança que nele depositava, veio a arrastá-lo para o pântano em que outros já estavam. Os interesses económicos, os favores, as falcatruas e a corrupção, juntaram-se à volta do Lítio e do Hidrogénio e de uma Central de Dados, que só eles conhecem e mais oito milhões à mistura, mas que terão agora de justificar. É uma vergonha! Um governo perseguido pelo Ministério Público, suspeito de corrupção e de ilegalidades que expõe o Primeiro Ministro perante uma Europa incrédula, é simplesmente vergonhoso. Uma ação desta natureza é deveras inqualificável. Não está aqui em causa que tipo de governo é. O que se deve referenciar é que coisas deste género não se devem permitir, seja em que governo for. Afinal, em quem vamos confiar? Se todos forem deste calibre, não haverá governo credível que valha a pena. Longe vai o tempo em que a honestidade era cartão de visita. Como dizia a minha avó, mais vale ser pobre e honesto, do que rico e ladrão. Chego a ter pena de Marcelo! Mas ele tinha avisado. Agora segue-se a segunda etapa. Quem vai governar? Um governo de gestão, sem poder de decisão, sem primeiro ministro já que o atual é exonerado a um de dezembro e um orçamento que terá de ser aprovado para que se possa seguir até março, altura em que, uma vez mais, vamos a eleições. Uma etapa do pantanal político em que nos meteram. E depois? Bem, depois vamos ver quem ganha as elei- ções e que governo vai sair daí. Se ganhar o PSD, o mais provável, não será com maioria, o que acarreta outro tipo de problemas. Com quem se coligar? O CHEGA está à espe- ra de ter razão e chegar ao governo. Montenegro já negou esse tipo de coligação. Resta saber se outros partidos em coligação, farão a maioria necessária, mas para isso terá de crescer muito o IL, o PAN e talvez o CDS que tem estado arredado destas lides. E se nada disto se verificar? Um acordo de incidência parlamentar não será fácil com o CHEGA, mas pode surgir outra geringonça, mesmo com o PS. Não seria a primeira vez. Nada fácil o tempo que se aproxima. A vontade enorme de apre- sentar trabalho, ainda que com falcatruas e ilegalidades, levou o governo a uma situação vergonhosa e o povo português a ter de decidir quem quer que governe o que está completamente desgovernado. Será que alguém quer conduzir este barco sem rumo? Melhor: será que alguém consegue conduzir o barco? Chega de corruptos e aldrabões. Haja dignidade.