Tanto com tão pouco. Tanto para tão pouco

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No encerramento do Conselho Raiano, dedicado ao Ensino e ao Futuro dos Territórios Raianos levado a cabo pela Rionor, a Presidente da Câmara de Mirandela, Júlia Rodrigues, enquanto anfitriã da última jornada, ao agradecer a presenças das entidades presentes (o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues e o Consejero de Educación de la Junta de Castilla León, Fernando Rey, entre outras individualidades dos lados de cá e de lá da raia nordestina) reconheceu e elogiou o muito que a Rionor faz, com os poucos meios que tem. Não sendo grande novidade para todos os que, de alguma forma, acompanham as actividades da Associação com sede em Rio de Onor, não deixa de ser relevante e é, de alguma forma, reconfortante ver reconhecido o esforço, empenho e resultado que a equipa liderada por Francisco Alves está a levar a cabo de ambos os lados da fronteira que o nordeste partilha com Castilla León. E é bom acrescentar que muitas das actividades que a este nível são concretizadas implicam um trabalho imenso de bastidores que sendo invisível para o público em geral, raramente é conhecido e, logicamente, ainda menos reconhecido. Curiosamente, num dos intervalos das jornadas rionorenses comentava exactamente este tema com o Norberto Veiga, a propósito do trabalho intelectual que implica, para a maioria de nós, muito suor, esforço e dedicação. Por coincidência, nesse mesmo fim de semana, remexendo em papéis velhos encontrei, por acaso, vários textos meus, com mais de trinta anos. Manuscritos, obviamente, e muito rasurados com leitura difícil a que, quando tiver tempo, me hei-de dedicar. Contudo saltou-me à vista e reconheci, de imediato, o primeiro esboço de uma descrição em que comecei a trabalhar no princípio dos anos oitenta e que apenas foi publicada integrada no meu romance, A Morte de Germano Trancoso, com mais de três dezenas de anos passados. Teve, obviamente, incontáveis versões, sendo que de muitas delas, por causa da facilidade de escrever, modificar e copiar, em computador, não ficou qualquer registo. Não se perdeu nada! 
Disto o que é importante relevar é que ao constatar que com poucos recursos se fez muito, é bom não esquecer que é necessário acrescentar ao visível a imensidão do que fica escondido e, muitas vezes perdido, para que se consiga algum valor ao produto final.
Das jornadas em si, a douta comissão designada para tal, trará a público as respectivas conclusões. Sem me querer antecipar não ignorando a qualidade dos respectivos membros não quero deixar de trazer aqui uma pequena provocação que a escassez de tempo impediu de levantar na altura. Um dos temas mais falados e defendidos por todos os intervenientes foi o da cooperação. É uma realidade inelutável. Cada vez mais o que se faz de bem feito e com valor, resulta de trabalho cooperativo e coordenado. É assim no trabalho mas também na investigação e inovação, onde residem, cada vez mais, as mais-valias importantes para o desenvolvimento futuro. Sendo assim, porque é que os exames continuam a ser individuais e não se valorizam adequadamente os trabalhos de grupo? Já agora, numa altura em que os diplomas deixaram de ser a garantia de uma ocupação futura, porque é que o ensino continua virado e focado na obtenção do certificado final de aprovação?
BOAS FESTAS!

José Mário Leite