Um vergonhoso jogo de batalha naval

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A propósito da nomeação do novo chefe do Estado-Maior da Armada o senhor Marcelo de Sousa, enquanto presidente da república, o senhor António Costa enquanto primeiro-ministro em exercício, o senhor Rui Rio, enquanto putativo primeiro – ministro e o senhor Gouveia e Melo, enquanto marinheiro afamado, travaram publicamente, no mar da insídia política, uma batalha naval política, a todos os títulos lamentável. Batalha que poderá não ter ainda terminado embora haja quem diga que os senhores António Costa e Gouveia e Melo venceram o primeiro round. Batalha de que faz gáudio o jornal semanal “Tal e qual” sem que tenha sido, até ver, desmentido ou contestado pelos directamente visados. Titula, de facto, o referido jornal em toda a largura da primeira página do dia 29 de Dezembro de 2021: “ Gouveia e Melo esteve á beira de alinhar pelo PSD”. A que acrescenta o subtítulo “A manobra” do almirante” e, ainda na primeira página, explica: Rui Rio tinha o sonho de ver o “homem das vacinas” ao seu lado na próxima campanha eleitoral. E isso esteve por um fio. Mas António Costa trocou-lhe as voltas e ao mesmo tempo que “ destrunfou” o líder do PSD, fez a vontade a Gouveia e Melo, nomeando-chefe do Estado-Maior da Armada. Matéria que o jornal semanal “Tal e qual”, que cito com a devida vénia (agradecendo ao jornal Nordeste permitir- -me tão longa citação), desenvolve mais detalhadamente em páginas interiores. Trata-se de uma insidiosa batalha naval, portanto, entendida enquanto jogo político, que irá ficar inevitavelmente registada nos anais da Marinha e na história da triste democracia portuguesa. Não está em causa a categoria profissional e muito menos a eficiência com que a task force liderada pelo agora almirante executou o processo de vacinação na fase eventualmente mais crítica. Não se fique com a ideia, porém, que não há centenas de militares e civis, com competência bastante para desempenhar com igual ou superior brilhantismo a missão que muito justamente prestigiou Gouveia e Melo. Competências que, é por demais evidente, escasseiam, isso sim, na alargada manada de boys partidários que pululam na Administração Pública como se vem provando à saciedade. Por isso, o que verdadeiramente choca a qualquer democrata e português do povo é que, para começar, um emergente líder partidário com ambições de vir a ser primeiro-ministro se atreva, indecorosamente, a tentar arregimentar um almirante no activo para a sua causa pessoal e partidária. Depois, que um brioso militar tenha dado mostras de se predispor para despir a farda que garbosamente ostentou e alinhar em tal projecto. Ou será que se vestia de camuflado por congeminações estratégicas e não por louváveis razões tacticas? Depois, que tal almirante tenha imposto, ainda que sorrateiramente, ao primeiro-ministro em exercício a sua vontade e que este se tenha subordinado aos desígnios do tropa finório, tratando as Forças Armadas como uma coutada pessoal e partidária. Por fim, o que é mais grave ainda, que o mais alto magistrado da Nação e comandante supremo tenha sancionado e alinhado em tão indigna tramoia. A Corporação Militar foi, em última análise, mais uma vez usada, abusada desprestigiada e os seus mais dignos servidores tratados com mentecaptos, por personalidades que mostraram não ter o requerido perfil político e deontológico para da melhor forma governar Portugal. Personalidades que mais parecem apostadas em destruir o passado, o presente e o futuro do velhinho Portugal, sacrificando a Pátria, o Estado, a Nação e o Povo, a deuses que nem eles saberão quem são. Tudo só porque em causa estão as próximas eleições de 30 de Janeiro e o que verdadeiramente lhes interessa é o poleiro. Políticos que o próprio Regime gera para se auto desgovernar. É triste mas é verdade.

Henrique Pedro