Ter, 17/04/2007 - 10:58
Na realidade a democracia jamais poderia ser tão abrangente como os gregos a queriam fazer, muito embora o seu objectivo fosse, de facto, grandioso. Funcionou na proporção da sua exigência durante séculos e os gregos podem orgulhar-se de terem sido os introdutores dessa funcionalidade organizativa do estado.
Hoje, passados séculos, ainda a democracia não é acessível a todos os povos e muitos ainda desconfiam da sua funcionalidade, continuando a exercer um poder quase absoluto do estado, não permitindo outras alternativas de governo.
Seja como for, aquilo que entendemos por democracia e tal como a queremos para nós, ela é sinónimo de escolha, de liberdade, de vontade, de esperança e poder popular. No entanto, onde começa e acaba esta democracia que para nós tem efectivamente este significado? Sendo a liberdade o maior direito de todos os povos, temos de ter consciência de que ela acaba precisamente onde começa a liberdade dos outros. Ou seja ela tem princípio e fim. O mesmo se aplica à democracia. Isto leva-nos a concluir, de algum modo, que todos os exageros são prejudiciais e dispensáveis.
A RTP1 levou a efeito um concurso sobre as personagens da História de Portugal, numa tentativa de eleger por votação, aquela personalidade que ficaria em primeiro lugar. De toda uma panóplia de homens célebres da nossa História e foram muitos, logo acabaria por ganhar o Dr. Oliveira Salazar. Não que isso interessasse à própria televisão que, por ventura terá tentado manipular de algum modo o interesse dos votantes, nem aos portugueses em geral, particularmente os de esquerda, que quase se insurgiram com a votação, mas o certo é que ganhou. Porquê? E porque razão a esquerda, especialmente o PCP, se indignou tanto com esta votação? Não foi democrática? Será que o PCP já não aceita a democracia? Ou só a aceita quando lhe interessa? Complicada a democracia, não?!
Mas sendo os portugueses um povo conservador, romântico, pacífico e de boas maneiras, não será de admirar que este resultado surgisse, especialmente numa conjuntura igual à que se vive actualmente em Portugal. Na realidade, perante promessas de melhor vida, de melhor salário, de mais emprego, de menor inflação, de melhor economia, de mais e melhor educação, de menos burocracia, de melhor futuro, e constatando a incapacidade do cumprimento de tais objectivos e a falsidade dessas promessas, não admira que o povo português quisesse mostrar um cartão vermelho ao governo actual e foi isso que aconteceu.
No entanto, a complexidade da democracia está aqui bem visível. Quando o povo português é confrontado com tantas oportunidades de escolha e perante tantas personalidades e onde a decisão é efectivamente difícil, deparamos com um resultado tão impensável como real, acabando Salazar em primeiro lugar e Cunhal em segundo. Até poderíamos dizer, erradamente, que o povo português é de extremos. Mas não é efectivamente. Mas afinal a votação sendo livre, foi democrática e sendo assim, a escolha do povo é legítima. Parece um paradoxo, mas não é!
A crítica feita a Salazar e ao tempo do seu governo como sendo fascista, (termo errado historicamente), leva-nos agora a questionar o seguinte: se Salazar governou de acordo com o seu pensamento e o seu sentido político e pensou que estava a governar bem o país, ele não seria tão democrático como os que agora não querem aceitar a votação legítima dos portugueses que acabaram por elegê-lo como a figura principal da nossa História?
É bom que pensemos nisto! Afinal a democracia tem destas coisas!