Costa em Bragança entre as brumas da memória

PUB.

Ter, 04/02/2020 - 01:01


Brumosa chegou a manhã, neste Fevereiro quente e vaporoso, ilusória Primavera a meio do Inverno natural, nesta terra semeada de cabeças encanecidas, rostos sulcados por rugas profundas, olhares indiferentes e sorrisos indefinidos.
Quando a semana anterior chegava ao fim circulou murmúrio sobre uma visita do Primeiro Ministro, tornado sussurro até à comunicação oficial, a dar conta de reunião com dois ministros e outros tantos secretários de Estado, nas instalações da desconcentrada Secretaria de Estado da Valorização do Interior, onde seriam apresentados novos programas governamentais, voltados para a aplicação de medidas que hão-de contribuir, quando e se os deuses quiserem, para reconduzir o território às delícias do desenvolvimento tão festejado pelas avenidas, praças e ruelas da capital.
O sol já dissipara as últimas névoas sobre a cidade quando o Primeiro Ministro percorreu as instalações do Ecopark, o que lhe repôs uma aura luminosa que o tem acompanhado nas breves visitas a este torrão. Mas, a aura não desbancou a bruma donde surgira, o que dificulta o entendimento claro, mantendo-o vago, incerto, obscuro, em resultado dos seus discursos, desde 2016, quando passa por cá, a caminho de outras glórias.
Que as coisas não ficaram claras desde então sente-se quando se comparam as expectativas criadas com a crueza da realidade das vidas dos mais de cem mil cidadãos do distrito, ofegantes sobre os penhascos da iniquidade. Depois das 160 medidas anunciadas, em 2017, num hotel da capital de distrito, com resultados irreconhecíveis, foram ontem apresentadas novas prendas, envoltas em celofane rosa choque, com fita de nastro vermelhão, num nó intrincado que, se chegarmos a desfazê-lo, revelará pozinhos de perlimpimpim, fonte de espirros até que as estevas nos acolham, como fazem com a restante bicharada que tomba nos seus domínios.
Agora até vai haver dinheiro para quem quiser deslocar-se do litoral e trabalhar no interior. Mas não é com subsídios dúbios que se criam condições para recuperar os territórios. Apesar da sua proliferação na agricultura, não foi assim que se fixaram as gerações mais novas, que continuam a procurar vida no litoral e por esse mundo, para mal das tristezas que não pagam dívidas.
Valia a pena experimentar, com a coragem política necessária, o caminho do investimento a sério nas comunicações, nas estradas e vias férreas, complementado pelo apoio real à instalação de empresas que mobilizem mão de obra qualificada e garantam valor acrescentado aos recursos da região, sem tergiversar perante manobras de políticos versados no imediatismo ou de oportunistas da manipulação financeira, mergulhados até às goelas no pântano da indignidade que os há-de engolir.
Anuncia-se, entretanto, que lá para o fim do mês, aqui se reunirá o Conselho de Ministros e cá estarão todos os membros do Governo. Pode ser que haja novidades, embora nos venham à brumosa memória os resultados nenhuns das presidências abertas de Soares e Sampaio e do Conselho de Ministros com que Santana Lopes nos brindou há década e meia.