Os CTT e a imprensa regional

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Qua, 03/01/2018 - 10:19


Todos os dias se faz festa a propósito de novidades que nos vão desactualizando, isolando e excluindo dos amanhãs, se não entrarmos no frenesim dos bytes na ponta dos dedos. Festa é festa e quem não entra no ritmo que se amanhe, porque não há tempo a perder.
Mas as festas não duram sempre. Por mais ilusões que nos toldem o discernimento, chegará o tempo em que se voltarão a sentir as agruras da realidade, que continuará a condicionar-nos, sem contemplações com a leviandade que ameaça fazer-nos perder o norte.
Na realidade, o mundo pouco tem mudado. A miséria, a violência e o primitivismo continuam aqui ao lado, por todos os continentes, mesmo nas ruas luminosas das grandes metrópoles, que tendem a tornar-se monstros incontroláveis.
A vertigem atingiu tal intensidade que parece natural ouvir afirmações de opinadores encartados, que se dizem tranquilos com a concentração urbana e o esvaziamento do território, alegando que são dinâmicas irreversíveis.
Até agora ainda tem havido quem contribua para temperar a entusiástica tontaria, lembrando que o futuro pode trazer grandes desilusões. Entre os que não se rendem a tal destino estão alguns órgãos de comunicação social regional, rádios e jornais, cumprindo uma missão de participação cívica.
Mas, desde há algum tempo confrontam-se com novos problemas que ameaçam a sua manutenção, porque o serviço da distribuição, em tempo, dos jornais impressos aos assinantes não é garantido, aos que estão espalhados pela diáspora, mas também aos que os recebem no país e na região. Assim se contribui para os distanciar das questões importantes destas terras e destas gentes.
Os assinantes são um dos suportes fundamentais da continuidade dos jornais. Quando não os encontram nas caixas do correio no dia aprazado são levados a reclamar junto de quem não tem culpa e semanalmente se esforça para lhes levar informação contextualizada, opinião diversificada e propostas de reflexão sobre temas da cultura, da economia e da sociedade.
Facilmente se ouvirá a displicente proclamação de que este tipo de órgãos têm os dias contados e nada haverá a fazer. Já é raro encontrar jornais que ainda não estejam presentes no mundo digital, onde surgem oportunidades de expansão, apesar dos riscos de superficialidade que se vão sentindo. Mas isso não pode pôr em causa direitos dos cidadãos, nem de actividades empresariais que com eles mantêm uma relação que deve realizar-se sem percalços inadmissíveis.
Os serviços de correios estão em acelerada degradação desde que foi decidida a privatização. Já se chegou ao ponto de não haver garantias de recepção de cartas registadas, perdidas nos meandros de lojas exteriores aos CTT, contratadas para prestar serviços para os quais não têm, notoriamente, condições.
Perder-se uma carta de condução acabada de renovar e encontrar os jornais de duas semanas ao mesmo tempo na caixa do correio, são sinais de que é preciso voltar a pôr ordem na distribuição postal, um serviço que foi exemplo de idoneidade durante longos anos e se constituiu num direito substancial do nosso quotidiano.

Teófilo Vaz