Ter, 24/08/2021 - 11:36
Uma semana depois de terminada a 82ª Volta a Portugal em bicicleta, Ricardo Vilela, ciclista brigantino da W52-F.C. Porto, fez o balanço da competição. Visivelmente desgastado depois de um trabalho árduo, físico e psicológico, em prol da equipa, Vilela fala de um dever cumprido e do contributo para a vitória do colega, Amaro Antunes. O brigantino prepara agora a participação no Grande Prémio Jornal de Notícias.
- Ricardo, este ano tivemos emoção até à última etapa, até ao contrarrelógio, em Viseu. Foi uma prova bastante renhida?
Sim. Foi uma volta muito dura, não dura fisicamente mas mais psicologicamente por tudo o que se passou ao longo das etapas. Ao ter um clube de futebol ligado ao ciclismo os adeptos são muito mais exigentes. Para o adepto nunca nada está bem. Só interessa ganhar. O nosso objectivo era ganhar a Volta a Portugal e conseguimos.
- Aliás desgaste psicológico também foi referido pelo teu colega, o Amaro Antunes ….
Sim. O nosso objectivo principal era ganhar a volta. Tínhamos três ou quatro ciclistas que podiam estar na disputa da volta. Demos tudo. A volta foi decidida no contrarrelógio. Podia ter ficado decidida na Senhora da Graça, mas a sorte de uns e o azar de outros levou a decisão para o contrarrelógio. Foi uma volta bastante dura.
- Ficou a ideia de que este ano a W52-F.C. Porto foi menos dominadora em relação às voltas anteriores. Foi uma questão de estratégia?
Não foi uma questão de estratégia. Continuamos a ser uma equipa dominadora. A W52-F.C. Porto tinha o objectivo de ganhar a volta e as restantes equipas basearam-se muito nas nossas estratégias. Tentámos ao máximo fintar, digamos assim, os adversários, e depois apareceu uma Efapel muito forte.
- Referiste que quatro ciclistas podiam vencer a volta mas ficou a ideia, numa fase inicial, que não havia um líder da equipa definido ….
Estávamos muito marcados homem a homem por parte da Efapel e quando assim é torna-se complicado atacar. Não sabemos se o adversário está melhor. A Efapel tinha um ciclista muito forte, o Maurício Moreira, e se calhar a sua equipa não o soube aproveitar …
- O António Carvalho era à partida apontado como o líder da Efapel …
Quando na partida de Lisboa uma equipa diz que não vai para ganhar a volta penso que fizeram uma excelente volta, pois ganharam etapas. Penso que não aproveitaram o ciclista mais forte da equipa, o Maurício. Para nós foi difícil, o Maurício foi um obstáculo bastante duro, mas no final ganhámos.
- Na subida à Torre esperava-se uma vitória da W52-F.C. Porto pelo seu poderio e pelos ciclistas que tem. Isso acabou por não acontecer. Porquê?
Tudo correu bem até às Penhas da Saúde. Dava a impressão que só nós é que queríamos vencer a volta. Fizemos o trabalho de endurecer a corrida até às Penhas da Saúde. Eu fui o último ciclista da minha equipa a abrir e ficaram três ciclistas na frente. A parir daí atacávamos e tínhamos resposta da Efapel. A subida foi sempre assim até que saiu o Marque. A Efapel não reagiu, nós não reagimos e o Marque venceu.
- Na sétima etapa, que começou em Felgueiras, a mais longa da volta, antevia-se uma chegada a Bragança ao sprint, mas isso não aconteceu. O Rafael Reis chegou isolado, depois de uma etapa em que andaste grande parte do percurso na frente da corrida. Fez parte da estratégia parab aquele dia?
Para essa etapa tínhamos planeado, no dia anterior, atacar comigo para eu também poder subir na classificação geral e estar próximo do pódio, de forma a termos mais um ciclista na luta pela volta e nas duas últimas etapas até podermos desviar as atenções dos adversários. Em Bragança, dificilmente eu ganhava na chega se fosse ao sprint. Ganhou o Rafael e ganhou bem.
- Terminas esta volta com a mesma classificação com do ano passado, no 14º lugar. Esperavas outro resultado individual?
O ano passado não tive tanto desgaste e não estava tão bem fisicamente. Este ano, tive um grande desgaste físico e psicológico na etapa da Guarda, Bragança e outras etapas em que tinha que estar dependente dos meus colegas. Se não tivesse trabalhado tanto, se tivesse andado mais escondido ou mais na roda podia ter feito melhor classificação. Mas, o objectivo não era eu estar na frente da equipa. Claro que gostava de ganhar, mas fiz o meu trabalho.
- Esta volta ficou marcada pela Covid-19, que afastou três equipas (Rádio Popular - Boavista, Caja Rural e Euskatel-Euskadi). Receaste seres obrigado a deixar a competição por causa disso? Como é que lidaste com a situação?
Foi complicado. Os ciclistas que ficaram infectados não tiveram culpa, todos fizemos testes PCR 72 horas antes e outro 48 antes do início da volta. Todos testaram negativo. Se calhar houve algum relaxamento nos primeiros dias. Tínhamos a zona zero onde estavam as equipas e a zona 1 onde entravam convidados. Os ciclistas também tinham acesso à zona 1 e pode ter sido por aí. Quando começaram a aparecer os casos entre os ciclistas também apreçaram na organização. As equipas fizeram tudo para nos ciclistas não ficarem infectados. Foi complicado. Depois de Castelo Branco, a equipa que saiu foi a Caja Rural que estava connosco no hotel e tivemos que ser testados.
- Ricardo segue-se o Grande Prémio Jornal de Notícias, de 30 de Agosto a 5 de Setembro. É uma prova mais tranquila com certeza …
Para nós é uma prova exigente, pois é uma prova que patrocinador gosta de ganhar. A W52- F.C. Porto venceu as últimas edições e quer continuar a subir ao pódio.
Foto de W52/F.C. Porto