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Conselhos para grelhados saudáveis

Um dos grandes prazeres nos dias de verão é cozinhar ao ar livre, juntando a família e os amigos em torno de um prato de peixe ou carne grelhados no carvão. No entanto, são necessários alguns cuidados básicos, de modo a impedir riscos para a saúde, como o consumo de partes carbonizadas, potencialmente tóxicas, e contaminações alimentares.
 
 
25 Cuidados básicos: 
 
1. Evite sair para as compras com o carro já quente. Nos dias de compras planeie a viagem. E estacione em lugar fresco.

As plantas no quotidiano das gentes (etnobotânica no Parque Natural de Montesinho)

Desenvolvimento de um estudo que permita compreender a relação entre a diversidade de conhecimento botânico local dos habitantes com a diversidade de plantas do Parque de Montesinho, em duas freguesias (União de Freguesias de Fresulfe, Dine, Mofreita e Soeria, e a União de Freguesias Gondesende, Oleiros e Portela). 
 
Etnobotânica
 
A etnobotânica é a área que estuda a relação existente entre as pessoas e as plantas. Essa relação pode envolver fins terapêuticos (i.e. medicinais, como a aplicação externa ou interna para tratamento de feridas, picadas ou mordeduras, inflamações, dores, espasmos. Consiste na prevenção e controlo de doenças) e outros fins não terapêuticos, tais como os usos simbólicos/rituais (associadas a práticas religiosas, culto, tradição, superstição e protecção),  ornamentais (jardinagem e hortas), artesanais e industriais (p.ex. madeiras, têxteis, resinas, cestaria, corantes), alimentação (humana e/ou animal), tóxicos (insecticidas e repelentes), cosméticos/aromáticas (preparados dérmicos e capilares, aromas e essências, cuidados da boca e dentes) e outros usos (jogos e fabrico de brinquedos, caça e pesca, uso para armadilhas). A etnobotânica permite, portanto, obter conhecimento holístico relativamente ao uso das plantas em determinadas comunidades. 
 
Da relação com as plantas
 
Foi possível verificar que nas aldeias incluídas no estudo há pessoas com um grande conhecimento de plantas e que, muitas vezes, têm o papel de conselheiros ou herbalistas nas suas comunidades, aconselhando diferentes maneiras de uso desses recursos em função do tipo de aplicação, tais como a decocção (colocar a planta juntamente com água até que ferva), a infusão (colocar a planta na água quando já está a ferver). 
Estas pessoas recorrem tanto a plantas selvagens que ‘domesticam’ como, nalguns casos, se  deslocam ao campo para apanhar plantas selvagens, tais como o fiolho bravo, funcho ou foeniculum vulgare, muito usado em ambas as freguesias para a má disposição, para o estômago, fígado e vesicula.
Pode-se dizer que estes utilizadores têm o papel de ‘guardas florestais’ na medida em que estão atentos aos ciclos naturais das espécies circundantes e, por vezes, notando deficiências ou problemas que surgem no habitat. Assim, constatou-se que existe uma percepção partilhada de que nos últimos anos se tem dado o desaparecimento de determinadas espécies. Este é o caso do negrilho (ulmus minor), aparentemente devido a doença e/ou alteração do clima, e da alcária (tuberaria lignosa (sweet) samp), como resultado da colheita excessiva e/ou inadequada, quando, por exemplo, pessoas menos conhecedoras arrancam a planta do solo em casos em que isso não é necessário. 
 
As mulheres conhecem mais plantas medicinais
 
Considerando parâmetros sociodemográficos, constatou-se que há diferenças entre homens e mulheres relativamente ao conhecimento que têm das plantas e ao tipo de utilização que lhes dão. Por exemplo, os homens usam certas plantas para a pesca (o cássimo, verbascum thapsus), pois a sua toxicidade atordoa os peixes, e referem frequentemente várias árvores, como o freixo, castanheiro, caneleiro e oliveira. As mulheres parecem ter um conhecimento mais profundo sobre plantas medicinais, simbólicas e recreativas. Por exemplo, o uso de plantas como a seruda (chelidonium majus), conhecida como ‘betadine’ vegetal, para verrugas e feridas, a cidreira (melissa officinalis) para chás ou o bacelo (umbilicus rupestris) que apresenta, na parte de trás da folha, uma película fina transparente, que serve como penso para feridas. 
Com fins recreativos, as mulheres recuam à sua infância e recordam como usavam a erva-saboeira ou sabão (Saponaria officinalis) para, tirando partido de um dos seus compostos (a saponina), envolverem os panos numa espuminha similar à de um verdadeiro sabonete. 
Em cada freguesia, foi deixado um herbário com as plantas mencionadas que pode ser consultado, em Dine, com a Dona Judite no museu de arqueologia e, em Portela, na Associação Azimute. 
Agradecimentos:
Este trabalho não teria sido possível sem a gentileza de todos os aldeões das freguesias. Na realização dos herbários um agradecimento especial à Dona Judite, de Dine e ao Sr. Evangelista Sebastião Gonçalves, de Portela. 
No futuro pretende-se aumentar o número de inquiridos – realizar 50 inquéritos por freguesia e adicionar a área de ecologia ao estudo (especificamente a introdução de índices de diversidade ecológica, nomeadamente o Índice de Shannon, através do métodos dos quadrantes), que permitirá analisar a eventual relação entre o conhecimento de determinadas espécies e a dominância e abundância das mesmas nas diversas freguesias.
E ainda validar cientificamente as propriedades curativas de algumas plantas, em especial daquelas que são frequentemente referidas como tendo ‘muito bom efeito’ em termos terapêuticos.
 
 
PLANTAS E DITOS POPULARES
 
Os ditados são uma forma prática de memorizar os usos.
Planta: Madressilva (lonicera periclymenum): Madressilva cheirosa, amargosa na raiz, gabaste-te que me deixaste, mas fui eu que não te quis! (Fresulfe) [planta ornamental];
Planta: Esteva (cistus ladanifer): Pão de esteva, pão de estrelas! (Portela) [a esteva é usada como lenha para lume de fazer o pão];
Planta: Malvela (glechoma hederacea): Oh! homem tens a mulher morta e a malvela na horta! (Dine) [planta utilizada para as dores mentruais];
Importante referir o apoio do “Parque de Campismo Cepo Verde” a este estudo. Sem esse apoio seria muito mais complicado realizá-lo. É um local impecável onde me senti em casa. Muito obrigada ao Telmo e à equipa que o acompanha.

 

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos - Beatriz Pereira Anjel (n. Granada, 1652)

Beatriz Pereira Anjel terá nascido em Granada, Espanha, por 1653, sendo filha de Francisco Lopes Pereira e Maria Dias, um casal de cristãos-novos de Mogadouro que naquela cidade e respetiva circunscrição alcançou o monopólio da venda do tabaco. Significa isto que a família ocupava um lugar social de destaque e era servida por quantidade de familiares e amigos empregados na fábrica do tabaco e na sua venda pelos estancos da cidade e mais terras do reino de Granada. De parceria com Manuel da Costa, de Torre de Moncorvo, alcançou também o monopólio da venda do sal em Málaga e ainda a administração dos “millones” de Granada, um imposto que se pagava sobre o vinho, o pão e vários outros géneros alimentícios vendidos em público.(1)
Para o rápido êxito empresarial de Francisco Lopes Pereira, muito contribuiria o seu irmão Diogo Lopes Pereira, casado com Clara Lopes e sem geração, o qual o precedeu na emigração para Castela e para Granada, em cuja casa foi recebido  e passou a morar Francisco e a família. Aliás, a fábrica e a renda do tabaco eram dele.
Quando tudo corria de feição, Francisco Lopes Pereira foi preso em Madrid e metido nas celas da inquisição de Toledo em 1658 e D. Maria del Angel, aliás, D. Maria de Aguilar, (como então já era respeitosamente chamada a Maria Dias), foi também presa pela inquisição de Granada. Com os pais presos e contando Beatriz uns 5 anos, foi retirada do contacto dos irmãos e outros familiares e entregue aos cuidados de D. Bartolomeu Galiano, agente de negócios em Madrid, juntamente com um escravo e uma escrava de seus pais que a serviam. Nesta situação permaneceu por 4 anos.
Seus pais retomaram a liberdade, a tempo de casarem a Beatriz que andava pelos 15 anos, com D. Pedro Maldonado de Medina, nascido em Miranda do Douro, por 1645 e levado pelos pais para Madrid com 2 anos de idade.(2) Contando uns 23 anos, D. Pedro era já um homem de respeito e consideração, integrando a classe dos rendeiros.
O casal fixou residência em Granada, transferindo-se para a cidade de Málaga, pelo ano de 1683, certamente para ali tomar conta da distribuição do tabaco, seguindo certamente os planos da rede familiar do negócio que, com a morte de Francisco Lopes Pereira, nesse mesmo ano de 83 e sua mulher, antes ainda, passaria a ser liderado por Manuel de Aguilar, irmão de Beatriz.
A inquisição seguia atentamente o percurso da gente da nação, muito especialmente os portugueses que se destacavam nos circuitos do comércio, dos assentos e das rendas. E assim, ao início do ano de 1687, D. Beatriz Pereira Angel e o marido foram metidos nas cadeias da inquisição de Granada, saindo penitenciados em cárcere e hábito em 1689. Por 3 anos andaria a aristocrática senhora vestida com o horroroso sambenito, enquanto o marido saiu cego da prisão.
Obviamente que a vida em Granada não era nada fácil para esta família. Imagine-se: uma senhora da condição de D. Beatriz Angel obrigada a andar pelas ruas da cidade e assim ir à missa vestindo um horroroso sambenito, exposta à irrisão pública! Menos interessante ainda para o marido, outrora rico e poderoso e agora cego. Assim se explica que a família tenha então decidido abandonar Granada e tentar a vida em Antequera. Inútil, a fama de judeus tê-los-á precedido e, ao cabo de 6 meses, rumaram a Portugal, seguindo o irmão Manuel de Aguilar que, estabelecido na cidade do Porto,(3) obtivera já a renda do tabaco, em cujos estancos se empregava muita da larga parentela. Além de que, em Lisboa estariam já contratados os casamentos dos filhos. Vamos apresenta-los:
1 – Francisco de Medina, nascido por 1675 em Sevilha, casado em primeiras núpcias com Isabel Pinheiro.
2 – Isabel Pereira de Medina, nascida por 1678 em Granada, veio a casar com Manuel Lopes Pinheiro.
3 – Joana Pereira de Medina, casou com Gabriel Lopes Pinheiro.
4 – Gaspar de Medina, que, estando solteiro, logo deixou Lisboa e se foi para Londres.
Como se vê, os três filhos casaram na família Pinheiro, originária de Freixo de Numão. E pelo menos o casamento da filha mais nova, Joana de Medina, não seria nada da vontade dos pais. Tanto que, depois que casaram, Beatriz não voltaria a falar com a filha e o genro, conforme ela própria testemunhou.
A vinda para Lisboa de D. Beatriz e D. Pedro teria sido acertada com Francisco Lopes Laguna, cunhado daquele, casado com sua irmã Feliciana Henriques,(4) também ele originário de Mogadouro e líder também de um poderoso grupo empresarial. Este lhe arranjaria casa, na rua das Mudas,(5) então uma das mais comerciais de Lisboa e, inclusivamente, lhe deu esperanças de que em Lisboa conseguiria um médico competente para tratar a sua cegueira. Acresce que Francisco Laguna estivera também em Castela e fora sócio comercial do cunhado.
Por esse tempo, a comunidade judaica de Londres florescia e os ingleses afirmavam-se como os grandes parceiros de Portugal, no que respeita ao comércio internacional, com os seus barcos a encher os portos de Lisboa e Porto. E esses barcos apresentavam-se como o mais simples e seguro caminho de fuga para os cristãos-novos portugueses perseguidos pela inquisição. E esta acentuou então o seu trabalho, num extraordinário movimento de prisões. 
E, vendo prender os Laguna, dois dos filhos de Brites Angel, o Gaspar e a Isabel puseram-se em fuga num desses barcos, saindo em um sábado de manhã, ao princípio de novembro de 1702. O mesmo caminho tentou seguir D. Brites com o marido e as restantes filhas e genros. E estando no barco há 20 dias, quando este se preparava para zarpar, foram entregues pelos ingleses à inquisição de Lisboa, certamente na sequência de contactos e muitas pressões sobre os representantes da diplomacia inglesa em Lisboa.(6)
Era uma nova descida aos “infernos” da inquisição que Betriz Angel iniciava nesse dia 2 de dezembro de 1702.(7) Por 3 anos ali penaria, sendo inclusivamente posta a tormento. Acabou condenada em cárcere e hábito perpétuo e degredada por 3 anos para o Brasil, no auto da fé de 1 de setembro de 1705.
Do seu processo, que correu com relativa normalidade, comentamos apenas duas situações. A primeira justificando os desentendimentos com os Laguna. Vejam o depoimento prestado por seu marido:
— Em razão de ser ele testemunha pessoa de toda a conta e satisfação no reino de Castela, sentia que vindo, o buscasse e fizesse zombar dele Francisco Lopes Laguna, falando-lhe por Tu, como se fosse um carcereiro, tratando ele em Castela com o duque de Alba, Desembargadores e mais Senhores com muita satisfação, tratando-o estes por Senhor, do que ele e sua mulher se deram por muito sentidos e se não falaram mais.
A outra situação respeita aos vizinhos Domingos Lopes e Francisca Lopes, que tinham uma filha chamada Grácia. E esta e Gaspar de Medina, filho de Beatriz, começariam a namorar. Os pais da menina é que não encontraram graça e mandaram tapar as janelas da casa que davam para a deles, a fim de impedir qualquer conversação entre os jovens.
 
 
Notas e Bibliografia:
 
1 - BAROJA, Julio Caro – Los Judíos en la España Moderna y Contemporánea, pp. 91-92, ediiones ISTMO, Madrid, 1978.
2 - ANDRADE e GUIMARÃES – Judeus em Trás-os-Montes, A Rua da Costanilha, pp. 177 e seguintes, ed. Âncora, Lisboa, 2015.
3 - Manuel de Aguilar transferiu depois a residência para Lisboa, onde veio a falecer – ANTT, inq. Lisboa, pº 9924, de Brites Pereira.
4 - A esta altura Feliciana já era defunta e Francisco L. Laguna estava casado em segundas núpcias com Leonor da Fonseca.
5 - Na rua das Mudas, algumas décadas atrás, era também a sede das empresas da família “Mogadouro” e a importância da família de Francisco Lopes ficaria assinalada na toponímia da cidade, com o designado “Beco dos Lagunas”. ANDRADE e GUIMARÃES – A casa comercial de Diogo Álvares na Rua das Mudas em Lisboa, em 1655, in: jornal Terra Quente de 1.12.2011.
6 - A descrição desta tentativa de fuga foi pormenorizadamente feita pelo seu genro Manuel Lopes Pinheiro – ANTT, inq. Lisboa, pº 2378.
7 - ANTT, inq. Lisboa, pº 8338, de Beatriz Pereira Anjo.

 

O manso e o guerreiro VI – Qual é a tua, ó meu?

Tomé Guerreiro esperou o seu velho amigo Júlio Manso à entrada da adega. Quando o viu ao fundo da rua a dobrar a esquina tratou de cortar duas lascas de presunto e encheu os dois copos com tinto da sua colheita. 
— Veja lá se ainda se bebe pois o calor já aperta e a pipa já está quase a chegar às borras.
— Já pica um pouquito! Era bem engarrafá-lo entes que se estrague... 
— Ele não! Já não compensa. Não tarda nada está aí o novo e quando azedar de vez, fica para vinagre e também se gasta.  
— Pois isso é verdade. Este ano até há-de vir primeiro que as uvas amaduraram cedo. Já há quem queira vindimar!
— Pois eu só vou cortar as uvas em setembro. Dê por onde der...
Júlio Manso deu uma espreitadela no Jornal Nordeste que ostentava na capa a fotografia de uma brilhante locomotiva, propriedade da empresa que vai esplorar turisticamente o que resta da antiga linha de caminho de ferro parcialmente submersa pela última barragem da EDP, num dos afluentes do Douro.
— Então,lá vamos ter de novo o comboio a apitar, da Brunheda a Mirandela.
— Vamos de certeza, que a Douro Azul não brinca em serviço.
— Pena é que não estenda as suas atividades a outros locais que neste tempo de crescimento turístico por todo o país é que é de aproveitar quem faz e sabe fazer bem! 
— Muito Deus ajuda a quem madruga! 
— É bem verdade ti’ Tomé! Não basta esperar pelas oportunidades. É necessário fazer por elas. Nisso, honra lhes seja feita: os autarcas das margens do Tua não deixam os seus créditos por mãos alheias. 
— Fazem eles muito bem. Ao contrário de outros que o trataram com desdém eles resolveram acarinhar o empresário duriense. E o resto veio por acréscimo! 
— E não se esqueceram de pressionar e insistir com a EDP 
— Assim é que é! A cara feia é para quem nos tira, as gentilezas são para quem nos dá! 
— Veja só que no Tua até o que nos outros é problema, aqui é solução! 
— Está a falar dos morcegos? 
— Isso mesmo. No Tua combatem pragas e são bem vindos 
— Por falar nisso, afinal os ditos cujos hibernam ou invernam? 
— E há diferença? 
— Claro que há. Ou vossemcê acha que é apenas uma questão de grafia? 
— E não é? 
— Claro que não. Como também, parecendo, não é, apenas uma questão gráfica a diferença entre ficar calado e assim evitar ficar colado a tão grossa asneira! 
— Pois será! Mas isso de uma coisa ser boa num lugar e a mesma coisa ser problema noutro sítio e vice-versa, quase parece mau olhado! Ou feitiço. 
— Não é não, que eu não acredito nisso. Quando muito é o fator Sadim! 
— E isso é o quê? 
— Ora isso... são já outros quinhentos! Hoje já vamos muito avançados e não sobra tempo para lhe explicar. Fica para a próxima. 

O pai, a mãe e o avozinho das assimetrias regionais

As tão propaladas “assimetrias regionais”, metáfora para a injustiça e a incompetência governativas, distribuem-se por todos os domínios do foro público, apesar da pequena dimensão de Portugal.
A maior de todas, porém, reside em Lisboa, nas sedes do Governo, da Assembleia e da Presidência da República que são o pai, a mãe e o avozinho de todas elas. É lá que se gera o centralismo e a macrocefalia lisboeta e se concretiza a subalternização do poder local pelo poder central que a Lei Fundamental da República não estabelece, mas que os partidos políticos subvertem.
Donde advém, entre outros males, a subserviência das câmaras municipais provincianas ao governo central e das juntas de freguesia às câmaras municipais.
Assimetrias que teimam em persistir e a agravar-se apesar dos muitos milhões de euros que foram destinados a combate-las desde que Portugal aderiu à Comunidade Europeia.
É certo que novas e modernas vias, jardins e rotundas foram rasgadas e as condições de vida medievais banidas, sobretudo no mundo rural, mas Trás-os-Montes, por exemplo, continua a ser uma região socialmente depauperada, em contínuo processo de despovoamento, sem expressão cultural visível e de economia restringida à pouco rentável agricultura subsidiada.
Também as cidades e vilas transmontanas foram dotadas de vistosos centros culturais, museus e bibliotecas, menos frequentados que os campos da bola, mas a cultura regional praticamente se confina a espectáculos de música dita pimba que as Câmaras Municipais oferecem aos seus munícipes, em dias festivos, com o intuito de induzir nos espíritos uma ilusória sensação de dinamismo.
 Acresce que a iliteracia crónica continua a esmagar todas as ideias de modernização e desenvolvimento e apenas serve os mais esconsos propósitos de sujeição social e partidária.
Já a dinamização económica propriamente dita não vai além das feiras de produtos tradicionais, com destaque para os enchidos, que as mesmas Câmaras Municipais promovem e custeiam, e que são claramente insuficientes para sustentar, sequer, uma significativa indústria artesanal. 
Sendo Trás-os-Montes uma região eminentemente agrícola o sector continua a não dispor das necessárias e suficientes plataformas transformadoras e comerciais, dos vitais sistemas integrados de regadio e dramaticamente dependente de meia dúzia de prestimosas cooperativas, insuficientes para alavancarem as suas reais potencialidades.
Como se vê, a questão é iminentemente política e radica-se na asfixia e subalternização das autarquias provincianas pelos partidos cuja ambição maior é a governança nacional. Partidos e governos que tratam as assimetrias regionais como tratam os incêndios florestais: protelar e iludir, até o escândalo ou a tragédia acontecer.
 Agora que novas eleições autárquicas se avizinham já os partidos políticos mais uma vez se preparam para, desprezando o poder local, as reduzir a mero escrutínio intercalar do governo da Nação. Quando não em instrumento das suas guerras intestinas.
É por tudo isto que eu, e julgo que serei secundado por muitos mais eleitores, desde já declaro que não reconheço a nenhum partido o direito de gritar vitória nas autárquicas contando com o meu voto. 
Porque não é a pensar nas políticas partidárias, de esquerda ou de direita, que eu irei votar, mas tendo em conta, isso sim, o progresso da minha terra e os candidatos mais aptos para o promover.
Ao líder partidário que não respeitar este princípio lanço, desde já, o meu olímpico desprezo.
 
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.
 
 
 
Errata: Na minha crónica intitulada O Estado da Nação é crónico e continua crítico, anteriormente publicada, onde se lê Aljubarrota deve ler-se Alcácer Quibir este sim o nome do maior desastre militar da História de Portugal. 

Caramba!

Depois de ter passado mais de um mês sobre o desastre de Pedrógão fomos ver o que de substantivo foi feito para que calamidades deste calibre não tornem a acontecer. E o que vimos é pouco menos que deprimente. Assim:
o jornalismo, no seu jeito vampiresco de só estar confortável se houver “sangue”, pergunta insistentemente se “não rolam cabeças”, se a culpa vai morrer solteira, se não se extraem responsabilidades políticas, de quem é a culpa do SIRESP funcionar mal, etc;
por outro lado a oposição inventa suicídios e faz ultimatos com base numa contabilidade macabra que francamente não deu para entender.
É demasiado despudorado envolver vidas humanas numa análise fria dos números. Mas serem 64 ou 65 o número das vítimas de Pedrógão parecia ser, para a oposição, o único tema político, possivelmente esperançada em que o renascer das cinzas talvez não fosse um exclusivo da Fénix. (Não fora a parte trágica deste episódio anedótico e poderíamos colocá-lo ao lado daquele discurso de Américo Thomas onde dizia “... as barragens que sendo 13 passaram a ser 12 e por isso peço desculpa de ter pedido desculpa ao Eng. Machado Vaz...”);
mesmo o Governo que apesar de ter legislado sobre matérias interessantes, naquilo que chamou de Reforma Florestal, fê-lo de forma inócua e não tendo por preocupação principal o incêndio. Parece que se orientou por Lampedusa e optou por “mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma”. Isto porque o Cadastro, uma das peças da Reforma Florestal, sendo instrumento imprescindível num Estado moderno e que anda para ser feito já não sei há quanto tempo, não tem, no entanto, muito a ver com incêndios. As matas ardem com cadastro ou sem ele. Também a legislação para a redução da área de eucalipto foi feita para calar incautos. Porque o eucalipto não é pinheiro. O pinhal depois do corte ou se torna a plantar ou o pinhal desaparece. O eucalipto tem regeneração vegetativa, isto é, depois do corte crescem novas árvores a partir das raízes como o castanheiro ou o carvalho. Quer isto dizer que a área de eucalipto é sempre a mesma a não ser que arranquem as raízes. E quem o faz?
Resumindo: depois do incêndio cada um derivou para a sua “sardinha” sem a mínima preocupação com as consequências ou com a reincidência. E a Mata? A resposta vem-nos numa deixa dum filme de António Pedro Vasconcelos que trata matéria similar: “a mata que se foda”. Também a mim me apetece vociferar o titulo do artigo mas na sua versão mais hard.
Pelo que vemos o incêndio foi o pretexto, o expediente tactico de que se socorreram uns para acusar, outros para reivindicar, outros para legislar, outros para protagonizar, etc. E dou por mim a pensar que se calhar o incêndio faz falta. Uma espécie de abono de família de alguns sectores sócio-profissionais e de singulares ávidos de notoriedade. Por estas razões, aliadas a uma mata que se põe a jeito, tenho por adquirido que o incêndio faz parte do nosso quotidiano. Temos, pois, que saber viver com ele. E isso pressupõe criar mecanismos de controlo de forma a que só arda aquilo que deixarmos arder. São esses mecanismos que urge criar. Sem eles só nos resta rezar.

Pais e avós a tempo inteiro

Qui, 24/08/2017 - 10:23


Olá familiazinha! Esta edição é abençoada pela padroeira da cidade de Bragança, que se celebra aos 22 de Agosto, dia de Nossa Senhora Rainha, o auge das festas da cidade.
No meio agrícola todos esperam melhores dias, as previsões não permitem uma luz ao fundo do túnel pois não chove e a água já é muito escassa para as regas. Será que com a aproximação das novenas da Nossa Senhora da Serra, que se iniciam no final do mês iremos ter chuva, ou terá que vir o circo?