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A efeméride do Primeiro Ministro

É prática corrente e antiga entre os portugueses de boa cepa comemorar as efemérides!
A gente comum, como o modesto autor destas mal alinhavadas linhas oferece aos seus amigos leitores, comemora a data do nascimento, do casamento, dos filhos que vão surgindo e de muitas outras datas que marcam o nosso curto percurso de vida.
Para os mais notáveis comemora-se a data do trespasse, exaltando-se os seus feitos e o bom exemplo que nos deixaram.
Mais recentemente, com a estabilização dos regimes democráticos onde os governos por declarada necessidade de cumprir os seus objectivos e de a todo o custo se manterem no poder, passou também a comemorar-se os primeiros cem dias de exercício de funções ou então como é exemplo recente da "Geringonça" que desde há dois anos conduz os nossos destinos, comemora-se tal data com o aparato possível e com a intenção que nem sempre é tão clara e percetível como mandam as boas regras da transparência.
Para o efeito, escolheram a bonita cidade de Aveiro com bons acessos e requintada gastronomia, olvidando como é costume, o interior abandonado onde é urgente reflectir e investir. Como testemunho da sua lhaneza e abertura, convidaram uns tantos com o sermão encomendado e a quem adoçaram a boca com um aparentemente discreto apoio para o s gastos da viagem e consumos afins.
Assim construído o projecto, só faltava dar a comer o objecto!
Com o aparato a que o bom povo pode assistir nos meios televisivos, foi isso que o bem disposto e sempre risonho Primeiro Ministro António Costa fez, dando a impressão que o barco navega  em águas ricas, férteis, calmas e que o futuro que nos espera trará bons empregos e segurança.
Sabendo bem que tais perspectivas tão promissoras poderão não ser assim, resta-nos agradecer a abençoada liberdade de imprensa que ainda permite ao mais humilde cidadão manifestar a sua opinião conferindo-lhe igual dignidade ao mais poderoso dos seus compatriotas.
De facto, poder informar os distraídos, denunciar os atrevidos, atemorizar os figurões e trazer à verdade  moral os profissionais da verdade politica, é um dever de quantos exercem funções nesse espaço  cheio também de poder que é a comunicação social.
Levantado o véu da verdade e dado a conhecer o deplorável engenho que esteve por de trás da comemoração em Aveiro dos dois anos de governação de miscelânea partidária, resta aos portugueses lamentar tais procedimentos que já não cabem na rota da verdade e eficácia que o simpático governante tanto gosta de proclamar.
Episódios desta natureza não deviam ter lugar em quarenta anos de democracia.

Porto, 3 de Dezembro de 2017
 

N’América

Ora viva minha gente. Essa saúde anda valente? Assim espero! Passico de pardal e já cá estamos, mais um ano quase passado. “Caindo o Natal à segunda-feira, tem o lavrador que alugar a eira”. Andava à procura de um ditado sobre o advento para fazer mesa e surgiu-me este pelo caminho. É nestas alturas que dava jeito um tradutor de provérbios para quem meia palavra nem sempre basta. Ainda por cima umas vezes aparece “alugar a eira”, outras “alargar a eira”. Natal, segunda-feira, muitos dias de gazeta para o lavrador, será? Não sei. Outro, “Bom alhal, semeia-o pelo Natal”, mas também “planta-o pelo Natal”. Planta-o, semeia-o, mas afinal... Estou a ficar confuso, alguém me passe com urgência um Borda d’ Água para as mãos. Para mais o agricultor tem sempre aquela coisa de treinador de futebol, às vezes mais de treinador de bancada. Para o mesmo efeito cada um tem sempre a sua tática, o seu modelo de jogo. Uns que é melhor plantar antes, outros depois, uns que é melhor podá-lo e outros deixá-lo crescer. É assim uma coisa meio avulsa mas que faz parte da gíria. A natureza são os jogadores, quando querem correr correm, quando não querem não puxam pelo cabedal e consoante a prestação destes o treinador leva por tabela, umas vezes recolhe os louros, outras a chicotada. Não é fácil a vida de agricultores, de treinadores e restantes comuns mortais. E se forem comuns mortais portugueses então, mais difícil ainda, basta o presente ano para prová-lo. Já nem nos lembrávamos da nossa esquizofrenia, depois de ganharmos o Euro atirámos a medicação fora, mandámos à fava os conselhos do médico, pensámos que seria sempre a subir, o céu o limite. E num ápice o céu ficou também ele à mão de semear, tocámo-lo com a benção do Papa a “amar pelos dois” e pelos demais, para cada turista seu carteirista, a olho nu pusemos um director na ONU. Mas o céu encolerizado de tamanha ousadia, qual gigante Adamastor fora de água, encheu-se de chamas para nos chamar à nossa condição e fazer voltar a cair no triste fado, na noite fria, no pijama cheio de cotão, na chaleira a ferver água para encher a botija e aquecer a cama. Quem vos julgais vós, pobre povo? E este mesmo nosso céu, azul-celeste por fora e impudico por dentro, tanto colocou um ministro no Olimpo duma cidade que todos dizem ser suja, como não deixou findar o ano sem vir buscar alguns dos nossos mais famigerados para a sua perene morada. Cruel, jocoso, uma no cravo, outra na ferradura. – Estou sim, boa tarde, podia dizer-me se tem vaga para uma consulta esta quinta-feira da parte da tarde para o Doutor Marcelo? – Olhe, infelizmente já está tudo preenchido. Consultas de afecto e miminhos agora só para o ano. – ‘Tá bom obrigado, pode ser que até lá com uns benurons e uns vídeo-árbitros isto passe. Realmente, meus caros, falta cumprir-se Portugal. Um Portugal que não seja feito de borracheiras e ressacas. Um Portugal que não acorde a jurar que nunca mais volta a beber até o chamarem para uma festa no fim de semana seguinte. Um Portugal que fosse um cidadão exemplar, contido, equilibrado, zeloso. Um Portugal em que se fale menos e se faça mais.  Um Portugal... que certamente não teria a mesma piada, um Portugal que não seria Portugal, porque afinal “pode alguém ser quem, não é?”.
Deixem-me aproveitar ainda para falar do Zé Pedro, um gajo porreiro. Duas coisas. Primeiro, era aquela pessoa que ninguém conhecia pessoalmente, mas toda agente juraria que sim. Um dos raríssimos gajos porreiros que antes de o ser já o era. Isto é, antes de “adeus aos meus amores” e ir “p’ra outro mundo” já era alguém genuína, verdadeira e unanimemente porreiro. Não aquela pessoa que passou súbita e automaticamente à condição de boa pessoa só porque bateu a bota. E isso não é assim tão comum como se possa pensar, principalmente, de alguém com tanta fama, parte da nossa cultura contemporânea. O segundo aspecto, de especial gozo e ironia, é ver o que foi um jovem punk, marginal, que experimentou tudo o que acabava em “inas” (a frase por acaso é do Jorge Palma, mas podia ser dele) a quem tiraram um fígado que nem para um patêzinho dava (segundo as suas próprias palavras) tornar-se um homem com rumo e chegar ao fim do seu alinhamento a ser saudado e reconhecido por todos os portugueses, mais altas figuras do Estado incluídas. De facto a vida dá muitas voltas. Forte abraço!

BLOCO, PORQUE NÃO?

Sempre me causou alguma estranheza os mecanismos das sondagens e a extrapolação científica dos dados recolhidos numa pequena amostra para o universo dos votantes. Que estranho elo agarra um cidadão escolhido aleatoriamente a milhares de outros tantos que o mimetizam e seguem, magicamente, por uma regra sobrenatural. Era coisa de defícil compreensão. Em 1999 tive oportunidade de pôr à prova as minhas reticências. Na semana das eleições europeias desse ano fui selecionado para fazer parte da amostra de uma das empresas de sondagens. Pediram-me que antecipasse, numa urna, o meu voto desse domingo. Eu, que em regra votava PSD, o meu partido de sempre e que seria a minha escolha óbvia, se nada de estranho acontecesse, resolvi colocar a cruz no recentemente criado Bloco de Esquerda, no boletim de voto da pesquisa. Resultado, as sondagens da empresa que me escolhera apontava como possível a eleição de Miguel Portas para o Parlamento Europeu. Pude então confirmar as minhas suspeições sobre o mecanismo exploratório pois, contrariamente ao que aconteceria de outra forma, no dia 13 de junho de 1999, na secção de voto do Liceu Carolina Michaelis eu votei efetivamente, pela primeira vez no BE. Mas, tal como suspeitava, não houve nenhuma mão invisível que levasse dezenas de milhar de eleitores a seguirem o meu exemplo e o Miguel Portas não seguiu, nesse ano, para Bruxelas.
Votei no Bloco e nada de mal aconteceu! Pelo contrário fiquei com pena que a minha hipótese acabasse confirmada. O mais velho dos irmãos Portas veio provar, na eleição seguinte que o seu talento, valor, dedicação e competência só prestigiariam o país com a sua eleição logo naquele ano. O BE, não só por influência sua, mas também pela ação de outros dirigentes carismáticos como Francisco Louçã, Fernando Rosas e João Semedo afastou-se do radicalismo esquerdista que caracterizou alguns dos partidos fundadores, conservando, contudo, algumas das bandeiras originais como a denúncia e combate à corrupção, à injustiça social e adotou novos desígnios interpretando corretamente o pulsar da sociedade e, sobretudo, de grupos emergentes. Várias vezes, em família, foi assumido que o voto nos bloquistas era uma séria, correta e útil opção porque, não sendo crível que ganhassem as eleições em causa, era muito bom elegê-los para desempenharem o excelente e utilíssimo papel fiscalizador dos mais diversos agentes do poder vindos dos partidos tradicionais.
Em conversa recente veio de novo à baila, exatamente a mesma conversa, a mesma motivação e a mesma justificação. Só que desta vez eu já não concordei como fazia antes. O voto no Bloco pode ser útil sim, para eleger vereadores e deputados mas não só. É igualmente útil fazer dos dirigentes bloquistas Presidentes de Câmara, de Assembleia e Ministros. Esta análise evoluiu durante os últimos anos ao observar a forma responsável e com enorme sentido de estado que o partido liderado pela Catarina Martins tem apoiado a atual fórmula governativa. O ponto de viragem aconteceu quando a candidatura de Albano Mesquita à Assembleia Municipal de Vila Flor me veio acordar para a forma natural como a prática bloquista pode ser facilmente interpretada por pessoas moderadas desde que com fortes motivações de justiça social e defensoras da verdade e transparência na administração da coisa pública.
Quer isto dizer que me converti ao marxismo? Não. Durante décadas revi-me na ideologia do PSD mas, com o tempo, fui-me sentindo cada vez mais afastado da sua prática. Agora, pelo contrário, não aderindo às teses programáticas do Bloco de Esquerda, cada vez mais me identifico com a  sua atuação prática. O extremismo de alguns dos seus membros está perfeitamente moderado pelo pensamento e atuação da maioria dos simpatizantes e apoiantes e, sobretudo pela sua liderança inteligente e responsável. O governo recente do Siriza veio provar que os devaneios coletivistas e a ditadura do proletariado, fazendo ou não parte do ideário fundador, não têm cabimento no atual exercício do poder.
Ora, no tempo em que vivemos e em que o arco governativo se divorcia consistentemente do centrão e se alcandora nos extremos, olhando para o panorama atual, se o futuro passa por alguma “radicalismo” então que venha da esquerda. Da direita radical é que, definitivamente, NÃO!