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NÓS, TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - Diogo Henriques Cardoso (Porto, 1582 – Anvers 1641)

Domingos Henriques, mercador e rendeiro de Torre de Moncorvo, foi casar ao Porto com Isabel Cardoso Baeça (1) e tiveram 3 filhas e 2 filhos, um deles batizado com o nome de Diogo Henriques Cardoso, que nasceu por 1582.
Em Julho de 1604, Diogo embarcou na caravela Nª Sª da Boa Viagem para o Brasil, com o objetivo principal de negociar açúcar, um dos produtos que então animavam a economia europeia. Por 11 anos ali permaneceu, na região de Pernambuco, regressando ao Porto em Julho de 1615, na nau Nª Sª da Ajuda. Com ele, no Brasil, fez “estágio profissional” o seu irmão António Henriques Cardoso.
Chegou ao Porto doente e a doença agravar-se-ia no ano seguinte, a ponto que, durante 4 meses “esteve de cama sem se levantar, sangrando muitas vezes, sacramentado e ungido e já em artigo de morte, desconfiado dos médicos”. Curou-se por milagre – diria ele – milagre feito por uma toalha de Jesus que lhe trouxeram do mosteiro de S. Domingos, a seu pedido, feito com muita “devoção e fé”.
Antes, porém, soube que a irmã Branca Cardoso estava de casamento contratado com um Pero Henriques, de Viana do Castelo. Para acertar os pormenores dirigiu-se àquela cidade do Minho, acompanhado de Gaspar Cardoso de Pena, (2) seu cunhado, marido da irmã Beatriz Henriques. Aí, Pero Henriques apresentou-lhe a irmã Filipa da Costa e propôs que Diogo casasse com ela. Este recusou e Pero Henriques rompeu o acordo de casamento com Branca. Esta viria depois a casar com Álvaro Vaz Nogueira, mercador no Porto, avô materno de sua futura mulher.
E não era apenas o casamento de sua irmã Branca que esperava o regresso de Diogo do Brasil. Também a outra irmã, Catarina Cardoso, estava de casamento contratado com João Luís Gomes, mercador, emigrado em Sevilha. (3) E coube a Diogo levar a irmã para ser “recebida” pelo marido. Demorou-se nesta diligência uns dois meses, regressando em Janeiro de 1618.
Neste mesmo ano, Diogo Henriques viu-se metido em um terceiro contrato nupcial, desta vez em Torre de Moncorvo, onde ele próprio foi casar com Catarina Henriques, filha de Vasco Pires Isidro, um grande mercador com trato e casa comercial repartida entre a Torre de Moncorvo, o Porto e Madrid. (4)
O casal fixou residência no Porto (5) e, em setembro desse mesmo ano, estando casados há 4 meses, Diogo Henriques foi preso pela inquisição de Coimbra. No seu processo não consta o mandato de prisão, mas uma nota dizendo: (6)
- Este réu foi preso por uma lista geral, como consta de uma certidão (…) acostada ao processo de Miguel Pais, de Coimbra.
Imagine-se: o trabalho dos escrivães da inquisição era tanto que nem transcreviam o mandado de prisão para o processo! E nem sequer algumas culpas, conforme o registo seguinte:
- As testemunhas abaixo nomeadas disseram deste réu (…) e não se trasladaram aqui: Filipa da Costa, Pantaleão da Silva, João de Leão e Lourenço Gomes.
Mais ainda, uma terceira prova de que as prisões inquisitoriais se encontravam atulhadas: Diogo foi metido numa cela em companhia de Manuel Rodrigues Isidro, tio de sua mulher, assim contrariando todas as regras do regimento da inquisição.
Um companheiro de cela foi “bufar” aos inquisidores a familiaridade e as conversas deles, pelo que logo os separaram e “despacharam” Diogo Henriques Cardoso para a inquisição de Lisboa onde começou por negar todas as acusações de judaísmo e tentar provar que era muito bom cristão, posição que manteve durante quase 3 anos. Para isso apresentou uma infinidade de contraditas, as quais constituem um colorido retrato da sociedade mercantil do Porto naquela época. Vejamos apenas uma delas, referente ao médico Lopo Dias da Cunha e seus filhos.
Estes tinham arrendado o contrato dos 3%, ou seja o imposto pago pelas mercadorias transportadas nos barcos que atracassem no Porto. Era uma fantástica fonte de receita, pagando eles 9 contos e 600 mil réis cada ano, com um lucro estimado de 6 contos/ano. Preterido no negócio e considerando-se “homem muito poderoso”, Diogo Henriques formou uma companhia com dois sócios e arrendou contrato semelhante no porto de Vila do Conde, para onde fazia desviar muitos barcos que, de outro modo, aportariam em Matosinhos. Obviamente que isso provocou inimizades com Lopo da Cunha, filhos e outros familiares, os quais, vendo-se presos na inquisição, o denunciariam por ódio e não por amor à verdade.
Claro que não era fácil enganar a “justiça divina” e, ao fim de quase 3 anos, Diogo Henriques acabou por confessar que fora judeu e estava arrependido, pedindo misericórdia. Contou que fora catequizado uns 14 anos atrás, no Brasil, por um Pero Henriques, irmão de seu pai. De seguida denunciou umas 50 pessoas que com ele se tinham declarado seguidores da lei de Moisés e feito cerimónias judaicas. Vejamos apenas uma dessas denúncias:
Disse que, haverá 6 anos e meio, em casa de Francisco de Cáceres se juntaram com eles António da Fonseca, Marco de Góis de Morais, Simão Rodrigues Lima, Fernão Gomes Mendes, Gaspar Mendes, Rodrigo Fróis e Rodrigo Fernandes “para fazerem uma companhia para assegurarem mercadorias para o Brasil e assentando-a, disse um deles que se ganhassem se desse no fim do ano 10% para o casamento de uma órfã da nação (…) e que esta fosse mulher que tivesse conhecimento de Deus, querendo dizer que fosse judia (…) pois a Misericórdia não entendia com elas, nem lhe dava nada”.
Impressionante esta iniciativa de mercadores portuenses: criar uma companhia de comércio e destinar 10% dos lucros para financiar o casamento de uma rapariga pobre, órfã, reconhecida pela sua crença judaica! Cruel para a Misericórdia do Porto a justificação! A iniciativa não resultou porque a companhia não deu lucros e se desfez ao cabo de um ano, com a vaga de prisões lançada pela inquisição.
Resta dizer que Diogo Henriques Cardoso foi penitenciado no auto de fé de 8.11.1621, contando 39 anos. Terá regressado ao Porto, certamente menos “poderoso” mas com indómita vontade de viver e trabalhar. E sentindo-se socialmente enxovalhado, obrigado a vestir o malfadado sambenito, pôs-se em fuga para a França. Vamos encontrá-lo a viver na cidade de Ruão em 1633, na lista de 36 mercadores denunciados às autoridades pelo padre Cisneros como judeus e residentes ilegais, juntamente com o seu cunhado, irmão de sua mulher, Francisco Lopes. Veja-se como ele foi apresentado por Cecil Roth:
- Diogo Henriques Cardoso était un marchand de haut rang dont les affaires furent considérables dans le commerce de Rouen à cette époque. (7)
Não vamos falar do processo desencadeado por Cisneros e que subiu às mais altas instâncias de França. Diremos tão só que Diogo Henriques abandonou a cidade e foi para a Flandres, estabelecendo-se em Anvers. Mas não deixaria de negociar açúcares em França, a partir de Ruão, açúcares enviados do Porto por seu tio André Rodrigues Isidro e outros mercadores Portuenses, que os recebiam do Brasil. Prova disso é a denúncia feita por Simão Lopes Manuel, um “traidor” de Ruão, comparsa de Cisneros, que em 26.11.1637 se apresentou na inquisição de Coimbra, dizendo:
- Ora veio a sua notícia que na cidade do Porto se estava carregando um navio para fazer viagem em direitura para a dita cidade de Ruão e que tem por certo ele denunciante que toda a fazenda que for no dito navio é para alguma das ditas pessoas acima nomeadas, que no Porto lhe carregam seus correspondentes, os quais são Manuel Fernandes de Morais, preso que foi nesta inquisição e reconciliado; André Rodrigues Isidro, cristão-novo e poderá também ser…
Era a “rede familiar de negócios” em pleno funcionamento. E certamente haveria de continuar depois da morte de Diogo Henriques Cardoso, acontecia em 1641, segundo informação de Cecil Roth.

Notas e Bibliografia:
1-Ambos foram prisioneiros da inquisição: ANTT, inq. Coimbra, pº 8658 e 4374, de Domingos Henriques; pº 2521, de Isabel Cardosa.
2-ANTT, inq. Coimbra, pº 8461, de Gaspar Cardoso de Pena, rendeiro, natural de Vila Franca, termo de Bragança. Sua mulher, Brites Henriques, faleceu em setembro de 1618, quando a inquisição prendeu o marido.
3-Porventura as funções de “chefe de família” eram assumidas por Diogo Cardoso, em razão de seu pai, ter sido antes processado pela inquisição.
4-Por essa altura Vasco Pires Isidro mudou a sua residência para Madrid, onde “tratava em muitos negócios de especiarias e roupas” e “arrecadava os juros de D. Francisca de Aragão e de seus filhos (…) de que lhe faz pagamento nessa Corte” – ANDRADE e GUIMARÃES, Os Isidros a epopeia de uma família de cristãos-novos de Torre de Moncorvo, ed. Lema d´Origem, Porto, 2012.
5-A casa de morada, sita ao Padrão de Belmonte seria propriedade do sogro, Vasco Isidro, e estava alugada a Álvaro Gomes Bravo, que dela foi então despejado, conforme contradita apresentada por Diogo.
6-ANTT, inq. Lisboa, pº 3080, de Diogo Henriques Cardoso.
7-ROTH, Cecil, Les Marranes à Rouen: un chapitre ignore de l´histoire des Juifs de France; ANDRADE e GUIMARÃES, A Traição de Ruão, in: Jornal Terra Quente, nº 212, de 2002-05-15 e 213, de 2002-06-01.
 

Manteiga de Travanca

Reina grossa tormenta no território gaulês. A falta de manteiga é a causa, o seu preço triplicou, quase desapareceu nas prateleiras dos supermercados, a escassez provoca dores de cabeça e azia nos estômagos dos cozinheiros e pasteleiros, pis a gordura láctea é fundamental nos restaurantes e pastelarias, assim como nos lares dos franceses.
Ao contrário dos países sulistas afeiçoados ao azeite, a cozinha gala atingiu a qualificação de alta cozinha escudada na gordura amarelo-dourada, o mesmo acontece no tocante à sua prestigiada pastelaria. A privação de manteiga já obrigou o governo a discutir as causas e as formas de atenuar o jejum também extensível a outro símbolo do requinte culinário da Nação que conseguiu criar um nacionalismo gastronómico, mantê-lo e irradia-lo para todo o Mundo pelo menos desde a Revolução Francesa. A sublevação que acabou com o Antigo Regime é a causa da afirmação do conceito de Restaurante tal como o conhecemos.
Em face da penúria de manteiga lembrei-me da outrora apreciada pelos burgueses de Bragança da manteiga de Travanca (Vinhais) chegada à mesa dos bragançanos em biquinhas. Eu não sei as vacas criadas na aldeia postada aos pés da serra da Coroa detinham carnes tão qualificadas como as de Kobe, Hida-gyu ou Matsuzaka, as quais atingem preços altíssimos por serem tenras, tanto a tenra carne de porco, desfaz-se n boca e é excelente para a elaboração do sushi e o carpaccio especialidades servidas cruas.
Eu não sei quão grato seria ao palato deliciar-se a comer um troço de vitela mamona de Travanca apenas temperado com uns grãos de sal e poisado por breves momentos em brasas vivas quanto baste, mas sei do bom nome da manteiga proveniente das ditas cujas vacas.
Discutir a razão de ter sido interrompida (digo interrompida) a produção de manteiga naquelas paragens de lameiros verdejantes não adianta, nem atrasa, saber que são necessários 22 quilos de leite para se obter um quilo de manteiga é um pormenor técnico (e económico), interessa-me acicatar a minha amiga Carla Alves, de modo a pensar na possibilidade de reatar-se a produção da cobiçada e macia gordura transformando-a noutra marca marcante do terrunho vinhaense, a pardos enchidos e do presunto.
Reclamo a atenção de Carla Alves na justa medida de desde há longos anos, principiou numa noite friorenta em Montalegre durante a Feira do Fumeiro a que estava ligado, ter acompanhado o seu entusiástico labor na requalificação das carnes fumadas produzidas no concelho de modo a constituírem (já assim acontece) um pomo de concórdia entre as aldeias independentemente da sua diversidade, prevalecendo a unidade nos propósitos de aprimoramento dos chouriços agres e doces, das chouriças, dos palaios, dos salpicões e presuntos provindos dos porcos e porcas criados ao longo dos meses.
Sim, existem rivalidades no tocante a gosto, é natural, sim existem interesses e interesseiros, já diziam os almocreves – onde há lúcaros, não há esccrúpa-los –, embora tenham de ser escrupulosamente salvaguardados, por assim ser o papel determinante das Autarquias, no caso em apreço – manteiga de Travanca – a Câmara de Vinhais.
Há tempos estanciei em Santander, a cidade do Banco da família Botin, no Hotel do temporário alojamento, ao pequeno-almoço aparecia a manteiga em biquinhas de barro vidrado, a memória avivou-me o terrunho onde frui a felicidade, a lembrança acirrou-se no barrar a deleitosa manteiga em torradas de centeio.
Os orçamentistas peritos no cálculo dos prejuízos dos toques e amolgadelas nos automóveis também farão o mesmo se lerem este artigo, só que a revalidação da marca Manteiga de Travanca seria (será) um ousado acto publicitário capaz de ser acarinhado no Comité das Regiões da União Europeia, a exemplo de outros no passado. Lembro, um pão de Feira produzido na Croácia foi considerado património da Humanidade pela UNESCO, a par das pimentas do México e da culinária dos agora carentes de manteiga.
Nós temos sido preguiçosos na competente defesa dos nossos produtos, gostamos de copiar, estudar e inovar dá imenso trabalho, porém se queremos conservar a nossa identidade é imperioso apressar-nos a preservar a Herança cultural ainda incólume às apropriações globais, à voracidade das tecnologias de ponta e registo de inventivas transmutações escoradas nas nossas ancestralidades.
A mundialização está na ordem do dia, o incremento do turismo também tem duas faces, por vezes esquecemo-nos, os desafios tocam todos, os atrasados mais atrasados ficam, repare-se no fenomenal progresso português na área da medicina, pense-se em cientistas do calibre de Maria de Sousa, não esqueçamos o facto de Ronaldo ser quem é no estrelato do futebol devido a exaustivo trabalho de treino. O anexim exalta – querer é poder – dá-se o facto de querermos pouco. Espero nova e mandados de Carla Alves. A antiquíssima Póvoa Rica merece aproveitarmos o ser Rica, pelo menos de nome!

Água mole... O meu jardim (2)

Não me tendo sido possível concluir a última crónica dentro do limite dos três mil e quinhentos carateres da norma, peço ao vereador a quem me dirigi um pouco mais paciência de modo a poder acrescentar alguns itens ao que lá propus.
Entendo que a autarquia veja vantagens em contratar empresas privadas tendo em conta que, nos tempos que correm, sempre é melhor entregar as coisas a profissionais. A chatice é que, lamentavelmente, no meio destes há muitos amadores. Se o fossem no sentido original do termo, que aponta no fundo para a ideia de amar, cuidar, zelar, acarinhar, seria ótimo, tal como o seria a utopia de ver um país inteiro entregue a esta classe de pessoas. Mas em muito do que tenho visto por aí trata-se de amadorismo na aceção mais vulgar, isto é, de inépcia, desleixo, falta de zelo, estar-se-nas-tintas que por vezes, para piorar a coisa, se misturam com estupidez.
Deixe-me só concretizar com alguns exemplos. Na braguinha, de que já falei, tenho reparado que em todas as primaveras se replantam os exemplares que por alguma razão não vingaram, o que é excelente. Entretanto, sempre que aparam o relvado passam também com motorroçadoras para cortar as ervas que crescem junto ao tronco das árvores, onde os corta-relvas não chegam. Acontece que, como esse trabalho é geralmente feito de forma descuidada, o fio daquelas máquinas (que como sabe roda a alta velocidade) desfaz-lhes a casca no fundo, a toda a volta, de forma que quem devia cuidar delas as assassina sem apelo, sobretudo as mais jovens. Entretanto, e sem que ninguém pareça dar-se conta daquele pormenor, voltam a ser replantadas, como disse, repetindo-se o processo ciclicamente pelo menos há uma boa dúzia de anos.
Um dia dei-me ao trabalho de descer e tentar explicar o processo, in loco, a uma senhora engenheira que supervisionava. Olhou para mim como olharia para um homúnculo verde com antenas, tendo eu tido o agudo pressentimento de que a técnica dizia para os seus botões: “E este cromo agora!?… De onde é que me saiu!?...” Nisto, como em tudo, ou se fazem as coisas por gosto, existem princípios, fios condutores, finalidades que nos orientam, ou então anda-se à deriva e tudo é possível. Se não, faça o favor de me dizer: qual é a lógica, por exemplo, de arrancar agreiras já com uns anitos de idade para, exatamente no mesmo sítio, plantar outras agreiras? Pois garanto-lhe que isso já aconteceu no dito jardim. Ou então, de se fazerem podas apenas porque se está no tempo delas e há que cortar qualquer coisa, apesar de os cortes serem mais do que discutíveis? Pela minha parte, enviei várias vezes estas e outras questões para um endereço de correio eletrónico onde parece que os munícipes podem dar opiniões, colocar dúvidas, fazer sugestões. Mas como nunca obtive resposta repito aqui algumas, não leve a mal.
Sei bem que existem pessoas para quem tudo isto são bagatelas, pantominas, coisas de quem tem pouco com que se preocupar. Mas não. Com efeito, a maneira como lidamos com as partes espelha a nossa postura perante o todo, se é que tal separação é sequer pertinente: os pequenos descuidos, incompetências e erros revelam como cada um se posiciona na vida e no final, somados, fazem com que na globalidade esta venha a ser de facto descuidada, incompetente, errática. 
Está ciente, sem dúvida, de que nos últimos anos as tradicionais estações do ano estão desreguladas, que quando o outono já vai avançado temos temperaturas de verão, que quase não há invernos, que a chuva se faz mais rara, que as ondas de calor aumentam de frequência, que os fogos passaram a ser calamitosos. Pois as perturbações climáticas, e é afinal disso que se trata, resultam de pequenos gestos banais e rotineiros, de rituais quotidianos e inconscientes nascidos da nossa relação desajustada com o meio ambiente e que, multiplicados por vários milhares de milhões, acabaram por redundar numa realidade para lá de preocupante.
Talvez já ontem fosse tarde para acordarmos. Mas ainda assim gostaria de concluir fazendo votos para que os espaços verdes, sem deixarem de ser símbolo do que sempre foram, carreguem agora uma nova simbologia, a da união entre o carinho pelo que é nosso e o respeito pela biosfera em geral. O futuro, a sobrevivência, podem depender disso.

Vendavais - Pau para toda a colher

Quando nos referimos a tempo de crise, falamos sempre de situações aflitivas quer económicas como sociais. Ao longo da História, já podemos contabilizar muitas crises e algumas delas, demasiado graves e que se espalharam pelo mundo inteiro. A que mais recentemente vivemos, apanhou-nos de surpresa e levou a Europa a repensar a sua posição no mundo moderno em termos económicos e, equacionar a sua dependência, essencialmente face aos EUA, até porque foi lá que ela surgiu e rapidamente se espalhou pelo mundo inteiro. Resta saber se foi intencional ou não. Há quem afirme que foi propositada e bem estudada.
Seja qual for a resposta, é certo que a Europa foi apanhada desprevenida e todos os países viveram desde 2008 situações terríveis que levaram os diferentes governos a tomar decisões drásticas em termos económicos. Austeridade era e foi o mote de toda a governação. Portugal não foi exceção. Durante anos os governos eleitos levaram ao extremo a austeridade e com ela arrastaram a sociedade para extremos nunca vividos. Era necessário dinheiro para pagar a crise e por isso foi preciso arranjá-lo. Lembramo-nos que o FMI, mas não só, logo emprestou o que precisávamos, mas como era insuficiente, exigiu que o governo cortasse, sem dó nem piedade, nos salários, nas carreiras dos funcionários, nas reformas, nas pensões e impedisse a progressão de funcionários públicos. Foi o fim do mundo! Uma revolta silenciosa invadiu os lares portugueses ao verem-se despojados de parte dos seus salários ou das pensões e muitos ficarem desempregados quando as fábricas ou empresas onde trabalhavam fecharam.
Perante tanto desnorte, previa-se que a solução passasse por tomadas de posição restritivas, especialmente onde o governo tinha acesso direto. Claro que os funcionários foram os primeiros a serem expropriados do seu dinheiro. Era preciso pagar a crise e alguém tinha de o fazer. Não bastou subir os impostos e cortar salários e pensões. Tinham que travar a possibilidade de progredir nas carreiras para que não se gastasse mais dinheiro do Estado. Os Orçamentos foram espremidos e os vários ministérios viram-se em palpos de aranha para sobreviver nas teias da crise. Tudo foi controlado ao pormenor.
Agora que vamos saindo da crise e, de algum modo, vamos sentindo algum alívio em termos económicos nacionais, o governo já anuncia mudanças previsíveis para todos os portugueses, já concedidas no orçamento que vai ser aprovado. Mas não nos iludamos. Se algumas mudanças mais acentuadas se vão sentir, vão dever-se aos partidos que com o PS formam a geringonça, pois eles é que obrigam a que elas sejam uma realidade a curto prazo.
De todas as medidas em apresentadas, se umas foram bem recebidas, outras foram contestadas e ainda estão a ser objeto de discussão entre os partidos da coligação e os atingidos. É o caso dos professores. Vimos esta semana uma enorme greve nacional de milhares de professores que juntou as duas sindicais e fez repensar o governo quanto ao posicionamento dos professores nas carreiras que estão congeladas desde 2005. Alguém tinha que pagar a crise!
O governo já tinha dito que iria proceder ao descongelamento das carreiras, mas ninguém sabia exatamente como seria feito e o ministro da educação também não adiantou nada de concreto a esse respeito. Face à exigência dos sindicatos, o governo lá se abriu um pouco, o suficiente para se perceber que o tal descongelamento de carreiras não contaria com o tempo de serviço prestado ao longo de mais de 9 anos. Isto foi o suficiente para alertar os professores e os sindicatos para a possibilidade de uma greve nacional se o mesmo tempo não fosse contado e se as carreiras a descongelar não tivessem um limite temporário curto de execução. Com uma ameaça de greve por um lado e uma negociação difícil por outro, o governo teve de ceder em alguns pontos, mas a greve foi uma realidade e teve o condão de alterar muita coisa e adiar outras, mas também de manter a possibilidade de outra greve se nada mais for conseguido.
Não é despiciendo dizer que os professores pagaram uma parte considerável da crise. Pagaram efetivamente. A carreira que estagnou durante 12 anos e o que deixaram de receber durante todo esse tempo representaram muitos milhões para o cofre do Estado. Agora, no mínimo, o que o governo deve fazer é repor alguma justiça em toda esta injustiça. Os professores não podem continuar a ser pau para toda a colher. São sempre eles a pagar as crises! Quando não há dinheiro, corta-se no orçamento da Educação e lá estão os professores a apanhar por tabela. Isto tem de acabar.
É tempo de repor a justiça e contar todo o tempo de serviço prestado para poder progredir na carreira. Não contar esse tempo é simplesmente roubar. É crime e o crime deve ser sancionado, mas o Estado nunca é julgado nem condenado. Talvez seja por isso que os governos e alguns governantes fazem o que lhes apetece, inclusive servirem-se de dinheiros públicos que possivelmente chegariam para pagar aos professores o que se lhes deve. Basta. Penso que os professores irão ter a sorte do seu lado devido à proximidade de eleições e também porque os partidos da geringonça exigem e querem tirar frutos deste seu pressing. Pode ser que sim!

O tempo traz a agricultura baralhada

Ter, 21/11/2017 - 10:40


Olá familiazinha!
A nossa família não pára de crescer. Até à data já tivemos mais de 40 apresentações, só este mês. É que uns vão puxando pelos outros e o tio João puxa por todos.
A meteorologia tem a agricultura toda baralhada, mas os homens do tempo já têm uma luzinha ao fundo do túnel para a possibilidade de chover nos próximos dias. Já está findo o desporto da época na região, o “lombo de gato e férias nos picos”, na apanha da castanha, mas os quadris vão funcionar novamente e em força na apanha da azeitona.
Na última semana estiveram de parabéns a tia Aldina, de Lampaça (Valpaços), que chegou aos 83 como nova e o tio Romão, de S. Julião (Bragança), que fez 72 anos, além de muitos filhos e netos dos nossos participantes.
Já uma vez fui convidado a intervir num colóquio sobre rádio-família na Universidade de Talavera La Reina (Toledo), comunidade de Castilla-La Mancha, Espanha. Desta vez voltei a ser convidado pelos estudantes do 3.º ano de Ciências da Comunicação do Instituto Universitário da Maia, na pessoa do neto do tio Pinela, de Sacoias (Bragança), Ricardo Gonçalves, que nos vai apresentar nesta edição a Radioversidade.
Durante os últimos dias o grande motivo de conversa dos nossos tios têm sido os fenómenos que estão a acontecer na agricultura, um pouco por todo o lado, com árvores a florirem, pela segunda vez, nesta altura do ano.