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Entrega da declaração do IRS

É já no dia 1 de abril que se inicia o prazo para a entrega da declaração do IRS (Imposto sobre o Rendimento de pessoas Singulares) relativamente aos rendimentos de 2023. Atendendo a isso, hoje vou falar-lhe de alguns aspetos que deve ter em conta na hora de entregar a sua declaração, para ajudá- lo a evitar algum tipo de ansiedade ou contratempo, que muitas vezes surgem nesta altura.

Sobre o seu acesso ao portal das finanças – Entre na sua conta pessoal no portal das finanças para confirmar que o seu acesso se encontra ativo, o que é essencial para entregar a declaração. Se tiver algum problema, e depois de garantir que está a introduzir os dados corretos, o melhor será solicitar uma nova senha de acesso. Para isso siga o link “Recuperar Senha” existente na página do login. Se, por outro lado, ainda não fez o seu registo no portal das finanças, então é altura de o fazer. Carregue no botão “Registar-se” no topo da página principal e siga as instruções.

Sobre o simulador que está disponível no site – O simulador do IRS disponível no site das finanças, é uma ferramenta poderosa, nem sempre explorada pelos contribuintes. Existem decisões que nem sempre são óbvias, como optar por uma declaração conjunta de rendimentos - caso seja casado ou viva em união de facto – ou optar pelo englobamento dos rendimentos, por exemplo. O simulador é uma ótima ferramenta para o ajudar na decisão. Use e abuse dele até ficar esclarecido.

Sobre o preenchimento automático da declaração – Este automatismo é muito prático e, na maioria dos casos, assegura quase 100% do trabalho. No entanto, não confie inteiramente neste preenchimento e confira sempre os valores pré-preenchidos (os rendimentos e as deduções) para ter a certeza que estão todos contemplados. Tenha presente que, se verificar alguma incorreção, e introduzir alterações aos dados pré-preenchidos, deve ter consigo e guardar bem os comprovativos que justificam essas alterações, para o caso de a AT os solicitar no futuro.

Sobre os anexos à declaração do IRS – Os documentos entregues pela maioria dos contribuintes são o modelo 3 (que é o documento que contém os dados de identificação do contribuinte), mais o anexo A - referente aos rendimentos obtidos pelo trabalho dependente, e pensões, e mais o anexo H – referente às deduções fiscais. No entanto, para muitos contribuintes não é óbvio saber quais os anexos que devem ser adicionados à sua declaração do IRS. Para além dos anexos A e H (para aqueles que são trabalhadores dependentes ou pensionistas), podem existir outros que devam fazer parte da declaração. Por exemplo, deve juntar o anexo B, se tiver realizado algum trabalho como independente, ou o anexo E, se tiver rendi- mentos de capitais. Procure ter a certeza que entrega todos os anexos que lhe são devidos, para evitar proble- mas futuros.

Sobre as dúvidas que possa ter - O mais normal nesta altura, é que possam subsistir dúvidas sobre al- gumas questões relaciona- das com o seu caso específico. Sei que o esclarecimento dessas dúvidas por vezes é complicado, ou porque a informação não é fácil de encontrar, ou porque a in- formação disponível não é clara. A minha sugestão para si nestas situações é que use a funcionalidade e-balcão que está disponí- vel no site das finanças. É uma opção fácil de utilizar, onde pode colocar as suas dúvidas, e habitualmente tem um nível de resposta rápido e de qualidade. Isto pode poupar-lhe horas de pesquisa ou de deslocações, e ainda tem a vantagem de ser uma informação segura e fidedigna, porque, afinal, é prestada pela própria AT.

Luís Lourenço

Your Money Whatcher

LIMÃOS – A Serra da Velha

No passado, o ritual da Serra da Velha celebrava-se em Limãos (tal como em muitas aldeias do distrito) na noite da quarta-feira a meio da Quaresma. O despovoamento que atinge o mundo rural contribuiu para a perda desta tradição. Contudo, o fenómeno associativo está dando os seus frutos, no que respeita a este e a muitos outros eventos da nossa cultura popular. Assim é que o Centro Cultural e Recreativo de Limãos, em parceria com a Junta de Freguesia, fez sentir à comunidade a necessidade e as vantagens em recuperar a tradição da Serra da Velha, um facto que tem vindo a acontecer desde há meia dúzia de anos. A decisão da mudança da data para o Sábado de Aleluia, segundo Abrandino Ledesma, presidente da Direção do Centro Cultural, justifica-se pela maior afluência de moradores a viver fota da terra e visitantes que, por altura da Páscoa, acodem à terra. Especula-se a origem e razão de ser desta tradição que, no passado, teria como finalidade achincalhar as mulheres que naquele ano tinham ascendido ao estatuto de avós. Porém, ou- tros etnólogos defendem precisamente o contrário: uma homenagem a estas mulheres que, com a vinda ao mundo de mais crian- ças, seus “netinhos”, contribuem para a manutenção da espécie humana e para o futuro da sua comunidade. Um olhar atento do ritual que hoje se celebra permite-nos constatar ser este o seu significado mais profundo. Aliás, também pela baixíssima natalidade (ou mesmo nula, em alguns anos), hoje homenageiam-se todas as avós da terra, independentemente da sua idade e do ano em que ascenderam a esse estatuto. Tudo num ambiente de compreensão e de alegria, chegando ao ponto de as ditas “velhas” saírem à janela ou à varanda para agradecer e aplaudir o pregão que os celebrantes lhes dedicaram, assim como o “choro” dos autoproclamados “netinhos”. A fórmula do ritual do pre- gão aprovada pela organização para os tempos que correm, em Limãos, acaba por contemplar humor, ironia e poesia popular sobre a temática do amor sem idade:

“Venho da Senhora da Serra

De enterrar o meu marido.

Pelo caminho me disseram:

Ó velha, casa comigo.

Eu casar bem casava

Se não fosse a minha gente.

Olha o diabo da velha Qu’inda tem o forno quente”.

Ato contínuo, o grupo dos serradores, com recurso a alfaias próprias, simula a serração em paus, latas ou cortiços e os “netinhos” gritam, num choro misturado com risos que a toda a assistência contagia. Na continuação, os celebrantes atribuem às “velhas” os dotes mais apropriados à sua condição, atividade que exercem, gos- tos ou preferências de todos conhecidas. De certa forma, também os dotes acabam por configurar a homenagem que todos lhes querem atribuir. E elas reconhecem e aplaudem, num gesto de simpatia vindo da janela ou da varanda de onde assistem agradecidas. Já próximo da meia-noite, o ritual da confissão apresenta-se sob a forma de uma peça de teatro popular, representada pelos respetivos atores: o padre confessor e a velha confessada, num diálogo carregado de humor, sarcasmo e crítica social. São os pecados de toda a comunidade ali tornados públicos, pecados (da velha e do próprio confessor) que, no final, serão extintos pelo fogo.

António Pinelo Tiza

Uma esmolinha, por favor

Nos tempos que correm e nas voltas que a vida dá, muitos, infelizmente, recorrem à beneficência de quem os pode ajudar e não se intimidam em estender a mão, na esperança que alguma moeda aí caia ajudando a minimizar as agruras do dia a dia. São tantas as infelicidades da vida que alguns são atirados sem dó nem piedade para as esquinas ou parques, ruas e ruelas de algumas cidades, na esperança de assim sobreviverem. No fundo trata-se simplesmente de sobrevivência. Mas há várias formas de sobreviver. O dia 10 de março trouxe à luz a necessidade de uma mudança pedida pelos portugueses, muito embora essa mudança não fosse suficientemente explicita, já que os votos, apesar de significarem mudança, o que trouxeram foi, à partida, uma complicação enorme, lançando o país para uma situação nunca antes vivida. Sabemos o que aconteceu. A AD venceu com maioria relativa, mas uma terceira força política também se afirmou, desequilibrando o embate político a que já estávamos habituados. Perante isto, uns deitaram foguetes, outros andaram a apanhar as canas. O partido de extrema direita içou bandeiras e fez a festa como se fosse o ganhador das eleições. Por acaso não foi e não ganhou nada, a não ser 50 deputados o que não é coi- sa pouca. Foi o suficiente para começar a exigir negociações, a ameaçar a formação do governo e a aprovação do Orçamento de Estado, ou seja, impor-se a tudo e todos como se fosse a peça chave para que tudo pudesse funcionar. Funcionar como ele queria e com queria. Mas não. Contudo, todos os portugueses temeram o pior e começaram a lançar hipóteses sobre como poderia funcionar o futuro governo. Enquanto isso, Ventura continuou a pavonear-se e a impor-se a tudo e todos, até na comunicação social, esperando o contacto do PSD pedindo ajuda e apoio. Nunca aconteceu. As intervenções continuaram e o trunfo de ter tido um milhão e duzentos mil votos, servia de argumento para tentar Montenegro e levá-lo a uma conversa onde desdissesse o Não é Não. Como se os outros partidos não tivessem muitos mais milhões de votantes! O dia 25 de março chegou e com ele a eleição do Presidente da Assembleia da República. Depois dos argumentos do diz que disse, Montenegro sempre calado, apresentou o candidato que falhou a eleição. Aguiar Branco não foi eleito. O PS votou em branco e o CHEGA também. Uma confusão total que requereu uma segunda votação e a mudança de candidatos. Acusações de lado a lado e a afirmação de supostos acordos com Ventura, levaram a novo desenten- dimento e novo chumbo dos candidatos propostos. Uma vergonha na casa da democracia! Três eleições sem maioria e sem Presidente. Nenhum governo pode funcionar sem haver um Presidente da Assembleia da República e sem que esta funcione devidamente. Era necessário arranjar uma solução. Adiado o processo para o dia seguinte, era neces- sário ter uma solução credível para um problema tão grave e ridículo como este. A democracia portuguesa estava a ser seguida e criticada pelo mundo inteiro. Uma imagem inimaginável e desnecessária. Durante o resto do dia 25, a noite e a manhã de 26, houve um esforço tremendo para ultrapassar o imbróglio causado pela insensatez de um partido que queria a todo o custo fazer parte da solução, mas que só piorou o problema. Se lhe dessem atenção e falassem com ele, ele resolveria tudo, mas tinha de ter a última palavra para poder vangloriar-se do seu feito. Andava nos corredores da Assembleia insinuando-se, de mão estendida, pedindo que lhe dessem atenção. Falou com a comunicação social e reiterou o seu pedido. Ele só queria um pouco de atenção por parte do PSD. Depois tudo ficava resolvido, incluindo acabar com a influência do PS. Resolvia tudo. Só queria uma palavra com Montenegro. Nada. Ventura só queria uma esmolinha! O dia 26 de março trouxe uma solução repartida entre o PS e o PSD. A presidência da Assembleia da República seria repartida pelos dois partidos. Dois anos cada um. Os primeiros dois anos serão do PSD, com Aguiar Branco. Esta solução foi o entornar do copo. Ventura perdeu a compostura, pouca, que tinha e atirou-se a Montenegro e ao PS e ao acordo que tinham acabado de fazer. Acusou-os de tudo e mais alguma coisa, não se conformando ter sido posto de lado e ninguém lhe ter estendido a mão. A extrema direita continuaria solteira, tal como a culpa. O que é certo é que se Ventura fosse mais comedido e mais político em vez de ser tão impulsivo e quase arruaceiro politicamente, claro, ganhava muito mais e até teria sido ouvido como queria, mas não. Não conseguiu ser sábio e quis-se impor pela arrogância. Não conseguiu. Não se pode queixar. No final até teve sorte, pois foi do PSD que recebeu os votos para eleger o vice-presidente da Assembleia da República. Acabou por receber a tal esmolinha que andou a mendigar durante tanto tempo. Mas não nos iludamos. Montenegro e este governo que já conhecemos, vão ter um osso muito duro de roer pela frente. Durante seis me- ses, as coisas serão mais pacíficas, pois governarão com um Orçamento que o PS fez e aprovou. Depois, vem o novo Orçamento e aqui, Ventura quer vingar-se. Ou Montenegro e Nuno se entendem e os ministros são muito hábeis a negociar ou Ventura continuará a ser o trunfo que sempre foi. E aqui, talvez queira mais do que uma esmolinha.

O terramoto eleitoral de 10 de Março

Partindo de princípio que o PS é de esquerda, o que é altamente controverso e que o PSD é de direita, o que muitos contestam, havemos de concluir que a direita alcançou uma vitória estrondosa nas últimas eleições legislativas, ainda que esquerda e direita não devam ser tomados como grupos coesos, como simplistamente vem acontecendo. Assim é que, tudo somado, já a contar com os 4 deputados da emigração, a direita elegeu 138 deputados, enquanto a esquerda se ficou pelos 92. Melhor, ou pior, um tanto: enquanto a direita, relativamente às eleições de 2022, ganhou 39 deputados a esquerda perdeu 43. No centro deste verdadeiro terramoto eleitoral, está um partido do qual os seus muitos opositores disseram o que Maomé não disse do toucinho, mas que mereceu a simpatia de mais de um milhão de eleitores, o que equivale a mais de 18% de votos válidos. Certo é que, diga-se o que se disser sobre as políticas defendidas pelo partido em causa e as reais motivações dos seus eleitores, o Regime político vigente entrou em choque. Desde logo porque o bipartidarismo crónico, base da alternância viciosa protagonizada pelo PS e pelo PSD, poderá ter os dias contados, abrindo-se finalmente portas às reformas regimentais que, entre outras benfeitorias democráticas, poderão melhorar o permissivo sistema de justiça, promover a luta eficaz contra a corrupção, reformar a enviesada lei eleitoral e dinamizar o desenvolvimento equitativo do todo nacional. Se assim for a democracia muito terá a ganhar. Não há motivos, portanto, para que Pedro Nuno Santos emigre para a Alemanha e refunde o Partido Socialista, o PCP entre na clandestinidade, o BE passe à luta armada, ou que Luís Montenegro expulse André Ventura de Portugal. Surpreendentemente, Pedro Nuno Santos, agora já em claro processo de expiação da governança de que foi destacado protagonista, entendeu recusar liminarmente a responsabilidade de governar democraticamente, sabe-se lá porque motivos, quando ainda tinha hipótese de ganhar as eleições, o que em nada abona o seu carácter de governante. Talvez esteja à espera que seja Luís Montenegro a fazer o trabalho sujo, como aconteceu com Passos Coelho, que abriu as portas a António Costa, para depois ele, então sim, aparecer como herói. Acontece, porém, que a sua eventual colagem à extrema esquerda, por via da oposição sistemática ao novo governo e do tacticismo que diz rejeitar, colocará Portugal no caminho de Cuba ou da Venezuela. Os portugueses, mesmo os menos letrados politicamente, terão isso em conta, por certo. Preferível será, outrossim, que quer o PS quer o PSD, partidos que são basicamente iguais na ideologia e na prática, embora no PSD pontifiquem barões e baronetes e no PS mais gangues e clãs, promovam as indispensáveis reformas internas, se pretenderem manter a importância que até hoje tiveram. PS e PSD que, embora nunca tenham governado juntos, sempre se mancomunaram na partilha de cargos, mordomias, dinheiros públicos, influencias políticas e por aí fora. Os muitos escândalos, grandes e pequenos, envolvendo personalidades dos partidos em apreço, aí estão para o testemunhar. É isto que, no essencial, tem caracterizado o bipartidarismo reinante e que agora está posto em causa. Certo é que Portugal evoluiu, fruto da prestimosa integração na agora designada União Europeia, mas a verdade é que nunca até hoje conseguiu evoluir o suficiente para deixar de ser um dos países mais pobres e tristes desse clube de ricos. Fica o consolo, porém, de que Portugal é hoje uma democracia consolidada, plenamente integrada na NATO e na UE, que não poderá ser facilmente derrubada por uma qualquer ameaça totalitária, vinda da extrema esquerda ou da extrema direita e muito menos por um qualquer golpe militar, revolucionário ou reacionário, ao melhor estilo sul americano. Ainda que o Regime político instalado, como atrás se viu, enferme de vícios graves que favorecem a corrupção, o devorismo, o compadrio, a incompetência, as desigualdades sociais, o empobrecimento e as assimetrias regionais. Assim se compreende que o eleitorado tenha vindo, sistematicamente, a refugiar-se no desinteresse pela vida política e na abstenção. O mais estranho e grave é que nenhuma força partidária de esquerda tenha, até hoje, denunciado e lutado contra este triste status quo político. E que tenha sido uma força vinda da direita mais descentrada a lançar a pedrada no charco, como acaba de se constatar. Força que cresceu por força do descontentamento generalizado que se alargou com a governança desastrada de António Costa, com a futilidade institucional do presidente Marcelo e a debilidade e desacerto da Oposição. Assim sendo, o terramoto eleitoral de 10 de Março, mais do que fazer estalar o verniz democrático do Regime, poderá fazer que todo o edifício se desconchave. Para bem, se possível.