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Luís Ferreira

O que se serve ao jantar quando os loucos se sentam à mesma mesa?

É difícil escolher e decidir uma ementa que agrade a todos. Mais difícil é engolir o prato que se serve. Ainda mais custoso é se os loucos são mesmo loucos e não estão dispostos a comer seja o que for.

A segunda ronda de negociações entre emissários russos e ucranianos que teve lugar na Turquia, sentou à mesma mesa, pessoas que não se suportam e que á partida, deveriam tentar engolir o prato demasiado temperado que colocaram em cima da mesa. Não passaram das entradas. Não engoliram mais nada e deixaram na mesa a sobremesa, pouco apetitosa, que certamente se estragará até ao próximo jantar.

Talvez por ser demasiado agreste para engolir as sobras deixadas na mesa pelos loucos russos, os ucranianos resolveram mostrar que não deveriam ser ignorados e serviram uma sobremesa surpresa aos russos, deixando-os de boca aberta. Engoliram em seco.

A verdade é que ninguém esperava que tal sucedesse. Foi uma vitória extraordinária e bem estruturada. Dias antes, os loucos russos que não se serviram dos aperitivos que lhes foram servidos, devem ter pensado que mal fizeram não o terem feito.

Longe, do outro lado do Atlântico, o senhor americano também ficou surpreendido e sem palavras. A verdade é que foi ultrapassado e bem. Quem quer fazer, faz, não leva nem trás. Mas este louco nunca se sentou à mesa com os outros. Ainda anda em busca de apetite.

A Putin custou-lhe engolir o prato venenoso que a Ucrânia lhe serviu e por isso resolveu retaliar com o que tinha mais à mão. Sem estratégias estudadas, mandou enviar mísseis e drones sobre o território ucraniano.

Uma dinâmica de guerra em que Putin aposta, bem distante do cessar-fogo ou da paz que tanto apregoa, numa ladainha de entretenimento infantil, que faz lembra os jogos de PlayStation. Mas a realidade é diferente e morrem muitas pessoas. Muitas crianças.

Incapazes de qualquer sentimento, tanto Putin como Trump, continuam a jogar com a vida dos outros, esperando que os contendores se cansem e cheguem a um ponto em que tenham de negociar a paz. Não será fácil. A Europa não pode deixar que a Ucrânia perca a guerra. A América é da mesma opinião, mas Trump está demasiado longe e como não lhe toca na pele diretamente, também não lhe dói.

Está a nascer uma economia de guerra na Europa o que não agrada nada à Rússia. Esta está a ficar com os seus efetivos militares, tanto exército como armamento, muito desgastados. Quase sem aviação de guerra, sem tanques e com soldados inexperientes, vê-se cada vez mais sem tempo e sem possibilidades de ganhar a guerra. Assim, vai tentando adiar o cessar-fogo e a paz, com a apresentação de Memorandos inaceitáveis e com reuniões de loucos à volta de uma mesa onde nada é servido que interesse à Ucrânia ou lhe abra o apetite.

Mas a Rússia sabe que nada disso seria aceite pela Ucrânia. É tudo uma perda de tempo que só interessa a Putin. Ao mesmo tempo engana os ucranianos e Trump que ainda acredita que consegue obrigar Putin a engolir um dos pratos que são servidos à mesa na Turquia. Eles nem devem gostar dos pratos turcos!

Mas a curiosidade é que o Presidente americano está agora a ser atacado pelo seu grande amigo sul-africano Elon Musk. Fora da administração Trump, Musk ficou muito aborrecido e resolveu atirar-se contra o Presidente, dizendo que foi à sua custa que foi eleito, pondo a descoberto mais umas quantas realidades que, a serem verdade, podem pôr Trump em maus lençóis. E por falar em lençóis, uma das setas apontadas por Musk, revela algo relacionado com abusos sexuais e pedofilia. Será?

Parece mais uma zanga de garotos num jardim infantil do que outra coisa. Bem, também Musk é acusado do consumo de drogas durante a campanha a par deoutras asneiras graves. Como diz o povo, zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades. A realidade é que eles se zangaram e não se falam. Trump ameaça retirar os subsídios às empresas de Musk e este diz que o projeto do presidente é uma aberração.

A Rússia, sempre atenta a estas desavenças e, mesmo em jeito de brincadeira, tenta retirar dividendos e, nesse sentido, não se importa de dar asilo a Musk em troca de ações da Starlink.

Os loucos nem sempre se entendem, mas... nunca se sabe. Isto está a servir para desviar as atenções americanas da guerra da Ucrânia, o que até convém a Trump e a Putin. Não há notícias, não há interesse, não há decisões, nem mais jantares de loucos, pelo menos para já. Mas como esta rixa de garotos pouco interessa à Europa, esta continua a viver momentos de incerteza, já que Trump não toma decisões, sejam a favor ou contra. Aliás, estamos habituados a que ele diga uma coisa hoje e amanhã o seu contrário.

Na União Europeia continuam a sentar-se à mesa, não os loucos, mas os interessados na obtenção de um plano de paz para a Ucrânia. É o único prato que se serve e que quase todos apreciam. Continua a faltar servir a sobremesa. Esta, só será boa se for uma cereja no cimo de um bolo que se chame paz. Quem o irá cozinhar?

A noite das facas longas

As últimas eleições nacionais, que ninguém desejava, mas onde todos queriam tirar dividendos, foi tudo menos o que se esperava. Revelaram-se uma enorme surpresa, até mesmo para a AD. A campanha foi, como todos se aperceberam, uma triste rapsódia em sol menor onde a música se repetiu eternamente pelas ruas e ruelas das cidades portuguesas. A mensagem era sempre a mesma, desprovida de ideias e de objetivos. Uma repetição constante que enervou os portugueses de tão repetitiva que foi. O dia das eleições trouxe uma noite repleta de ansiedade, de incertezas, de espectativas. O resultado foi inesperado. As sondagens a desfilarem em todas as televisões aumentavam a ansiedade de cada um e de todos os partidos. Na sede do PS faltava a habitual animação. Nas outras a mesma coisa. As horas foram passando e as certezas esbatiam-se quanto à formação do Parlamento. No final da noite, uma faca longa ficava suspensa sobre todos os partidos. O Chega igualava o PS e poderia mesmo ficar em segundo lugar com os votos da Europa e fora da Europa, ainda por contabilizar. A direita tinha a maioria no Parlamento. Durante toda a campanha o mesmo slogan, as mesmas críticas, o mesmo vazio. Isso irritou os portugueses ao ponto de alterar o seu voto. Foi um voto de protesto, especialmente contra o PS que fez muito pouco para alargar o seu eleitorado. Conseguiu precisamente o contrário. Foi uma derrota enorme de um dos mais carismáticos partidos do espetro nacional. O mesmo vazio se verificou no BE que, sem ideias novas e sem mudanças de mensagens, quase desapareceu do Parlamento, reduzindo-se a uma só representação. Mariana Mortágua não fez uma campanha aceitável e bateu sempre na mesma tecla, acabando por afastar os mais próximos. O povo português cansou-se de tanta falta de ideias na campanha. Os partidos limitaram-se a criticar Montenegro e nada mais disseram do que isso. Faltaram compromissos com ideias novas e novos objetivos estruturais de governação. O povo português esperava por isso. A CDU repetiu a cassete habitual e, não tendo capacidade para mudar o teor da mensagem, afastou os que habitualmente depunham o voto em quem poderia lutar pelos seus direitos mais prementes. Reduziu a três os deputados da Assembleia. Dos partidos da esquerda só o Livre subiu a sua representação parlamentar. Contudo, insuficiente para formar qualquer tipo de maioria à esquerda. A JPP da Madeira conseguiu eleger um deputado e pela primeira vez um partido regional vê-se representado no Parlamento. A grande vencedora, apesar de tudo, foi a AD, que não tendo feito uma boa campanha, conseguiu passar uma ideia de modernidade e promessa de transformação económica, social e política do país, através de um governo mais consistente, mesmo não conseguindo mais do que uma maioria relativa. Atacada por outros partidos, como o PS, acabou por superar a aparente crise e afirmar-se no meio de tanta incerteza. O Chega conseguiu alargar a sua representação parlamentar e foi um dos vencedores. Poucos acreditavam nisso, mas aconteceu e, se for líder da oposição no Parlamento, muito há que esperar dele. As pretensões de Ventura não ficam por aqui. Disse-o na noite das eleições após a contagem final dos votos. E até fez ameaças, coisa normal neste partido. A AD sabe que tem de contar com o Chega ou contar com o apoio do PS para levar a estabilidade governativa avante. Inicialmente esperava-se que a Iniciativa Liberal conseguisse fazer maioria com a AD, mas não chegou lá. Subiu, mas não o suficiente. Rocha foi um vencedor, mas o sonho de entrar para o governo gorou-se. Terá de fazer o seu caminho sozinho. Agora, no meio da euforia das pequenas vitórias, levantou-se mais uma enorme faca pronta a cortar a direito a Constituição portuguesa. Ventura embandeirou em arco e até fala em castração química e pena perpétua para alguns criminosos. Ao que chegámos! Perde-se o bom senso por tão pouco! O que faz o poder! Falso poder. Este passa de mão em mão e amanhã já não é nosso, ou vosso ou do outro. Perde-se e ganha-se de um momento para o outro. Alcandorado ao patamar governativo uma vez mais, a AD tem pela frente barreiras enormes para derrubar. Uma delas é o Chega. Isso só é possível com a anuência do partido socialista. Desfeito e num processo de reconstrução nacional, não tem tempo para fazer oposição ao governo. Mas se ajudar o governo aprovando as medidas essenciais a começar pelo Orçamento, o Chega começará a ficar de lado, quase inútil, como a direita necessária para mexer na Constituição. Desta vez, Ventura ainda não chegou onde pretendia. Talvez um dia. Talvez. Por agora fica a aguardar ainda se será ou não o líder da oposição no Parlamento. Mas esta faca continuará apontada à cabeça dos portugueses durante mais algum tempo.

Fumo branco

Na Praça, a multidão esperava o anúncio do novo Papa. Mais de quarenta mil pessoas, ansiosas, bamboleavam-se de um lado para o outro, com a esperança de assistir à saída do fumo branco na chaminé colocada no telhado da Capela Sistina. A curiosidade era tremenda. A ansiedade consumia aos poucos a paciência de cada um com o receio de não conseguirem ver nada e sair de Roma sem ter essa oportunidade única na vida de assistir ao anúncio do novo Papa e poder vê-lo na sua primeira aparição na varanda mágica da Basílica de S. Pedro. Os que ficaram, tiveram a sorte de ver o novo Papa. O Mundo estava suspenso e suspirou de alívio, como se este facto fosse a libertação das apreensões gerais, como se ele fosse o a solução urgente para acabar com as guerras e as angústias de tantos seres humanos. E, subitamente, ali estava ele, anunciado como Leão XIV. O nome a adotar também era uma incógnita. A sua origem era outro segredo que todos queriam conhecer. Norte americano! Inesperado certamente. Mas quem é este novo líder da Igreja Católica? Porque adotou Ângelo Roncalli o nome de Leão XIV? Quem foi Leão XIII? Há continuação? Possivelmente sim. E também haverá uma continuidade do apostolado de Francisco, segundo se pensa e se espera. Leão XIII foi o Papa do Concílio Vaticano II em 1962, da crise dos mísseis em Cuba, do diálogo e do ecumenismo. Simples, amigo das crianças, gentil e diplomata, assim era Roncalli. Conseguiu focar o seu apostolado no aspeto teológico, cultural e histórico conjugando tudo com o seu enorme coração pastoral. Mediou o conflito, após a ocupação nazi, entre o Estado francês e a Igreja. Foi um profeta da dimensão específica de uma igreja ao lado do povo, tal como Francisco. Foi a sua intervenção que evitou o agravamento da crise dos mísseis de Cuba. Teve um pontificado curto, morrendo a 3 de junho de 1963. Foi beatificado por outro importante Papa, Wojtyla, João Paulo II, no ano 2000 e viria ser canonizado pelo Papa Francisco a 27 de abril de 2014. Dois meses antes de morrer, fez a Encíclica Pacem in Terris, uma bênção de serenidade e que nos dias de hoje se mantem bastante atual. Num dos trechos, diz “As relações entre os indivíduos, devem-se disciplinar não pelo recurso à força das armas, mas sim pela norma da reta razão, isto é, na base da verdade, da justiça e de uma ativa solidariedade”. Depois do que vivemos com Francisco durante o seu papado, pensaríamos que seria difícil alguém substituir o seu legado e a sua simplicidade, honestidade, candura, solidariedade, carinho e amizade pela juventude, mas talvez as vivências que Leão XIV teve até aos dias de hoje, pode bem servir de exemplo a um caminho paralelo ao de Francisco e próximo do de Roncalli. Vinte anos de permanência no Peru e a aquisição da nacionalidade peruana, apesar de nascido na América do Norte, dão-lhe essa experiência, segurança e proximidade do povo, entre o qual viveu e de quem foi amigo. Francisco confiava nele. A Igreja Católica necessita de uma viragem sustentada e de uma modernidade face às vicissitudes dos dias que hoje se vivem. A afirmação dos valores humanistas é mais do que nunca, uma necessidade premente para consciencializar as mentalidades mais controversas. A pacificação das belacidades que alguns teimam em manter, é urgente. O chamamento à realidade está nas mãos da igreja. Está agora nas mãos de Leão XIV. Uma tarefa enorme e tormentosa. Só será conseguida com a união de todas as igrejas e de todos os credos. Afinal, Deus é só um, chamem- -lhe o nome que chamarem. Leão XIV, agostiniano, tem em Leão XIII o mentor escolhido, o exemplo necessário para alicerçar a sua tarefa e cimentar o seu pensamento. Robert Francis Prevost é o 267.º Papa da Igreja Católica, mas é o primeiro norte-americano e o primeiro da Ordem de Santo Agostinho. Consigo traz ideais de comunidade, com base em estudos científicos, na continência e castidade e na autêntica pobreza. Santo Agostinho é o doutor da graça, o mestre da interioridade. Acredita-se que ele será um continuador entusiasta do processo sinodal que Francisco iniciou. Disse já que pretende “estender pontes, o encontro, a paz”. Aliás “Pontífice” significa fazedor de pontes e essa será, sem dúvida, a sua enorme tarefa no pontificado que agora começa. Depois de um franciscano devoto e muito bem aceite no mundo inteiro, resta saber se este agostiniano também o será. Resta-nos a esperança de que assim seja. O Mundo inteiro está de olhos fixos no novo representante de Pedro, o escolhido, confirmado pelo fumo branco saído da capela Sistina. Que seja o arquiteto das novas pontes.

Franciscus, o Papa sorriso

Despediu-se depois de abençoar o Mundo inteiro na bênção Urbi et Orbi desta Páscoa. Talvez fosse uma despedida anunciada ou esperada. Foi, no entanto, inesperada para todos nós. Com a voz arrastada e quase impercetível, abençoou todos os presentes na Praça de S. Pedro e todo o Mundo. Foi um momento curto, mas pesado, que a sua doença mais não lhe permitia. Mas quis mais e desceu à Praça e andou por entre os que lá estavam para o ver e cumprimentar. Foi a sua última viagem. Agora todos o queremos recordar. Reviver os momentos marcantes do seu pontificado, as suas frases mais emblemáticas e com maior significado. Fazemos comparações com os que o antecederam, inseridas na validade subtil de cada uma delas. São opiniões pessoais, simplesmente. E nesse aspeto, será difícil que o seu substituto seja um seguidor idêntico, com as mesmas diretrizes, a mesma força, os mesmos valores e o mesmo sorriso. Penso que não queremos uma cópia, mas a genuinidade da essência global de Francisco. Foi o Papa dos jovens. A juventude foi, quase sempre, o objetivo da sua mensagem e foi entre os jovens que sempre se sentiu seguro, fiel e à vontade. Falou-lhes com o coração, sempre com um sorriso na boca e levou-os a confiar na palavra da Igreja. Brincou com eles e fê-los rir coloquialmente. Foi assim nas Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa. Todos vivemos essa faceta bem de perto. Vimos o Papa alegre, humorista e brincalhão. Foi o Papa dos simples, dos mais fracos e desamparados. Ele era simples. Era franciscano. Recusou usar os sapatos vermelhos cardinalícios e usou sempre os sapatos pretos de couro feitos pelo sapateiro de Buenos Aires. Foi humilde. Não quis usar o ouro e as vestes vermelhas bordadas a ouro e com pedras preciosas. Trocou tudo isso pela prata e pelas vestes brancas. Dizia que “O homem só deve olhar de cima para baixo, se for para dar a mão a alguém que precisa de se levantar.” Era contra todos os que não sabem repartir o muito que têm, pelos que menos possuem. Fazia questão de dizer, rindo, que iniciava todos os dias com a oração de Tomás Moro – “que eu tenha uma boa digestão, mas que tenha algo para digerir”. De um bairro da classe média de Buenos Aires para o Vaticano, foi um salto enorme. Contudo, não voltou mais à terra natal e isso talvez os argentinos não lhe perdoem. Mas ele não esqueceu o seu clube do coração – o S. Lourenço, de Almagro. Foi um Papa corajoso. Enfrentou sem medo os desvios da Igreja e condenou os abusadores sexuais. Falou com abusados e expulsou alguns dos condenados por crimes de abuso sexual. O Papa Bento XVI resignou ao aperceber-se que era demasiado pesado o fardo que teria de carregar para tomar decisões justas neste âmbito. Faltou-lhe a coragem e Francisco teve-a, pelo menos em parte. Reformou o Direito da Igreja. Reformou a Cúria. Abriu um processo sinodal e aproximou- -o do clerical, dando à Igreja um modo diferente e mais aberto de refletir e decidir. Deu importância às bases incluindo os laicos. Foi uma desclerização da Igreja. Deu à mulher um lugar importante no mundo católico. Hoje há muitas mais mulheres na Igreja. Mesmo brincando e com o sorriso aberto, dizia que tudo sai melhor quando é a mulher a mandar. Abordou o capítulo sensível do celibato clerical. Aqui a coragem tinha de ser enorme, mas iniciou o caminho que outros deverão percorrer. Deu a entender que era necessário dar esse salto, mas que teria de ser cauteloso para não se cair. Aceitou a homossexualidade. Clamou pela igualdade entre todos. Quis derrubar barreiras e muros e criticou Trump, sem o nomear, ao dizer que quem cria muros não é verdadeiramente cristão. Abriu a Igreja a todas as religiões e aproximou a Igreja Católica à religião Islâmica. Foi ao Iraque. Um passo enorme. A Igreja necessita ser renovada, dizia. O dinamismo de transformação da Igreja católica que ele imprimiu, tem de ser continuado. Fez quarenta e sete viagens pelo mundo, clamando pela paz, pela fraternidade, pela igualdade, pela esperança num mundo melhor. Enfrentou os maiores do planeta com as armas da humildade e da humanidade. Os maiores que estiveram presentes na missa de homenagem e despedida. A despedida, não poderia ser mais humilde. É dentro desta humildade, que ele deixou escrito o modo como queria ser sepultado. Queria ficar sepultado à sombra de uma mulher – Virgem Maria. Sempre a importância da mulher. Escolheu a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma para descer à terra e esperar pela Ressurreição. Foi o 8º. Papa a ser sepultado fora do Vaticano. Quis cerimónias simples na hora da despedida. Um caixão simples de madeira e na lápide, simples, apenas a palavra “Franciscus”. Dentro de dias o Conclave reunirá para escolher o novo Papa. O tempo dirá se será fácil ou difícil a escolha. O fumo branco que vai sair da chaminé da Capela Cistina, ditará a hora da escolha e o nome escolhido para representar Cristo nesta terra cada vez mais abandonada e desprezada pelos homens. Vestidos com as roupas do poder e do luxo, esquecem-se que é urgente olhar para o lado e ver o resultado da sua pouca humildade. A ganância é um pecado mortal. É necessário valorizar o ser humano. Este é o legado de Francisco. O próximo que o siga, sorrindo. 

Quem quer esta guerra?

As guerras não se compram nem se vendem. No entanto, há sempre interessados em fabricá-las. Porquê? Talvez porque não é necessário montar uma fábrica para fabricar os moldes e as linhas de produção. Elas são de várias espécies. Podem ser bélicas, económicas, políticas, todas desafiantes e perigosas. Se umas matam milhares de pessoas, outras arrastam para a lama, igualmente, outros milhares. Vivemos hoje um tempo demasiado belicoso, perigoso e insustentável a vários níveis. Nos quatro cantos do mundo, como se o Mundo fosse quadrado, vivem-se guerras que aparentemente ninguém quer, todos criticam, mas parecem eternizar-se como se o tempo se prolongasse somente para que elas existam. Os continentes estão em ebulição contínua. O planeta, exausto, parece desanimado e sem vontade de se manter vivo. Os sinais são mais do que evidentes. Através do clima, completamente alterado, dá sinais de aviso frequentes, mas parece que os homens não se incomodam muito com isso. Furacões, tempestades, sismos, tsunamis, tornados, vulcões, tudo se conjuga num aviso intenso que ninguém quer perceber. É o planeta a dar o sinal vital da sua existência. É o estrebuchar de quem se sente aflito e quer chamar a atenção. É uma guerra contra o tempo e contra a estupidez dos homens. Parece, contudo, haver pessoas interessadas nesta guerra. Quem perderá? As guerras bélicas, outra vertente que ninguém quer, mas em que todos entram, estão bem patentes diariamente nos noticiários dos meios de comunicação. Da África à Ásia, passando pela Europa, ela aí está para assinalar a sua presença, com determinação e sem vontade de se extinguir, como se fosse necessária. Não é! Mas são muitos a querer. Porquê? Do Sudão ao Congo, do Congo ao Iémen, do Iémen a Israel, de Israel à Síria e ao Líbano, do Líbano à Ucrânia e à Rússia e daqui para o Pacífico, o belicismo atroz mantém-se como se fosse preciso matar muitas pessoas para que outras possam sobreviver. Nada disso. Por um lado, a fraqueza dos homens e por outro a sua estupidez intrínseca, levam a que se aceite este estado de guerra interminável que se alastra cada vez mais. Ninguém compra e ninguém vem estas guerras, mas alguém as financia. E aqui é que está o que as mantém sempre vivas. As grandes indústrias de armamento precisam de ganhar dinheiro, mas só ganham se venderem o que fabricam e para isso têm que criar situações de guerra onde se gasta esse armamento. É o círculo perfeito onde os investidores ganham se outros forem mortos. Eles têm de sobreviver. As guerras económicas sempre estiveram presentes nas sociedades ao longo de toda a nossa História. Desde os tempos mais remotos em que a simples troca de produtos era o sistema económico vigente, até à invenção da moeda e do papel moeda, sempre o ganho foi intencional e o motor principal de funcionamento dessas sociedades. Com a globalização parecia que tudo iria ser diferente e mais facilitado. E com o aparecimento das comunicações por satélites, com a Internet e todos os sistemas aí ligados, tudo é mais facilitado, mais rápido, mas também mais perigoso. A evolução que o homem consegue fazer tem o seu lado negro. O reverso da medalha. A facilidade dos negócios também se pode complicar de um momento para o outro. Não se vivem hoje os tempos em que a economia assentava essencialmente nos princípios mercantilistas e no protecionismo. Contudo, estes princípios mantêm-se, só que alargados a outras vertentes, com variantes subtis e com a facilidade de alterações instantâneas das condições económicas e dos acordos estabelecidos entre os parceiros. Veja-se o que está a acontecer com a política económica que Trump está a levar a cabo. O seu protecionismo, que até poderia ser de louvar, está a estrangular os mercados internacionais através de tarifas extraordinárias que está a impor. As consequências serão desastrosas para todo o mundo porque todos os países estão ligados economicamente através das importações e exportações que fazem, necessárias às suas economias e à sua sobrevivência. A China que parece ser a mais atingida, replicou, mas não quer a guerra. Contudo avisou que está preparada para ela se for necessário. Com a cimeira económica marcada entre a UE e a China para o próximo mês, os EUA, especialmente Trump, parecem ter tremido um pouco e alguém terá avisado o Presidente dos EUA que abrandasse a sua política já que a mesma poderia ser fatal e levar mesmo a que perdesse as eleições intercalares no próximo ano. Os próprios republicanos, já se mostraram céticos e alguns, mesmo contra esta guerra de tarifas. Conseguiram um adiamento de 90 dias. Será suficiente? Parece que esta guerra não interessa muito aos EUA se continuar a ser travada deste modo. Afinal a quem é que ela interessa? O resultado vai ser catastrófico se ninguém for capaz de parar esta guerra. E se ninguém a quer comprar, parece que alguém a quer vender. Será que consegue? No fundo, não se trata senão de uma só guerra. Uma guerra global com várias vertentes e vários ramos de atividade bélica. Perde o planeta e perdem os homens. A estupidez humana e a ganância são os fabricantes do desespero mundial que se vive. Ninguém compra guerras!

As exigências servidas à mesa

As intenções de Trump, antes de tomar posse e depois de ser Presidente dos EUA, quanto à paz na Ucrânia, foram um falhanço. De uns dias passou a semanas e depois já não dá certezas nenhumas porque as não tem. Na política nada é certo e nada é fácil. Mas isto já Trump devia saber. O quero, posso e mando, nem sempre funciona. Mas parece haver exceções lá para os lados de Moscovo. Por enquanto, Putin ainda pode dizer quero, posso e mando. Prova disso mesmo é o controlo constante sobre o que à mesa se deveria discutir entre os presentes para chegar a um efetivo cessar-fogo entre a Ucrânia e a Rússia. Em cada reunião entre os interessados, mais uma proposta é apresentada por Putin, que vem alterar o alinhamento da reunião. Ele não quer discutir a paz nem o cessar-fogo. Ele quer protelar a situação enquanto continua a bombardear o território ucraniano. Perante isto, Trump, ainda não chegou à conclusão que Putin controla tudo e que os EUA não têm voto na matéria. Afinal o que conseguiu Trump com estes encontros em prol da paz? Nada. O suposto cessar-fogo, que o não é na realidade, só interessa a Putin, devido à possibilidade de escoamento dos cereais russos pelo mar Negro que, em princípio, não haverá ataques nesse espaço. E uma coisa é certa: Moscovo não vai atacar nada no Mar Negro pois estaria a prejudicar-se, já que ele é controlado pela Ucrânia. Assim, tem todo o interesse em manter aí o cessar-fogo. Esta é a única vertente válida das tréguas. O adiamento interminável das discussões que estão na mesa das negociações, de pouco valem, já que Putin envia sempre mais uma exigência para que se percorra o caminho para o cessar-fogo real. Não é caminhar para a paz. Não. Putin não quer a paz, pelo menos não sem antes obter o que pretende através das exigências que vai pondo em cima da mesa. Trump está a ser completamente embrulhado por Putin e o que ele pretende, não é assunto de discussão. Putin quer discutir o que lhe convém e isto é muito vasto. Mas, aos poucos, Trump vai perceber que está a ser levado pelas ondas russas e se vai afastando cada vez mais da praia de areias brancas onde deveria residir a paz ucraniana. Estão longe as férias. O esforço que a UE está a fazer com tantas reuniões, também não está a resultar como deveria e para Putin, isso nem é assunto com que se deva preocupar. Nas suas declarações ocasionais, nem sequer menciona a Europa. As preocupações da Europa vêm tarde. Demasiado tarde. Claro que é sempre tempo para se acautelar a segurança europeia e agora cada vez mais. Mas isto demora muito tempo. Não é para amanhã e a guerra já cá está. Trump é um homem de negócios e só. De político tem pouco. Parece demasiado inocente ao lado de Putin, ao aceitar certas exigências, sem sequer estar presente, confiando nos que envia para a cabeça do touro, sem ter a certeza de que são capazes de o segurar pelos cornos. Não são. Acabam por discutir tudo menos o que deveria estar em cima da mesa. Putin serve, assim, à mesa, as suas exigências para que se entretenham com elas e não discutam o prato principal. São as entradas que acabam por tirar a fome para o que se segue. Entretanto, continuam a bombardear as cidades ucranianas, deixando de lado o espaço energético de um lado e de outro, pois Putin também quer evitar perder mais centrais de energia, especialmente de petróleo e derivados, os quais já vai tendo necessidade de importar. Só por isso. As aldeias e pequenas localidades, vai atacando sem dó nem piedade para mostrar que está a toda a força e que, mais tarde ou mais cedo, a Ucrânia terá de se render ou sair da guerra com perdas bastantes. Será assim? O que fará Trump para evitar tal disparate? Putin está a passar de inimigo a parceiro de negócios e compincha de Trump e este não se dá conta do caminho que está a percorrer. Trump está a var o fosso que o vai engolir. A população americana já está contra as suas propostas. Cerca de 60% dos americanos não aprovam a política que ele está a seguir no que se refere à Ucrânia, especialmente ao abandono da defesa que os ucranianos esperavam. É por isso que a Europa está a tentar substituir os EUA nesse aspeto, mas não é fácil, porque há tecnologias que só os EUA têm e que permitem a Ucrânia defender-se melhor. A verdade é que Trump está a ficar farto das exigências que Putin põe em cima da mesa cada vez que se juntam para negociar o cessar-fogo. Putin diz que este já começou, mas ele ainda não parou de atacar a Ucrânia. Cumprir acordos nunca foi apanágio dos russos e aqui é mais um dos casos que o prova. Trinta dias de cessar-fogo, mas quando começa? Com começo dia 18 de março, como diz Putin, só faltam mais uns dias para recomeçar a guerra a sério e mostrar a Trump que está a ser comido de cebolada, sem dar conta. Em cima da mesa está tudo menos o que deveria estar. É sempre assim. Zelensky tem razão e tem … medo. A comida não se lhe engole.

UMA RAPARIGA SEM PRETENDENTES

Nem todas as raparigas bonitas têm pretendentes e nem todas se casam. Por isso mesmo muitas permanecem solteiras a vida inteira e morrem sem que ninguém as olhasse com olhos de ver. Mas há algumas que sendo menos bonitas, sempre conseguem ter pretendentes, casar e deixar descendentes. Enfim. Há, contudo, uma que ninguém quer. É uma rapariga airosa, sábia, atrevida e que poderia ser cobiçada por muitos, mas na verdade ninguém a quer. Independentemente do nome que as raparigas possam ter ou do nome se adaptar ou não à cara laroca da sua aparência, o certo é que isso tem conotação diferente. A rapariga chama-se culpa. Poderia ser um nome como qualquer outro, mas é tão intenso que ninguém o deseja ter ao seu lado, mesmo que o possível companheiro se pudesse habituar à sua companhia. Não, definitivamente. São poucos os que admitem ter por companheira essa rapariga. Infelizmente, ou não, ainda há quem admita ter por companheira essa carinha laroca. Há gostos para tudo. A recente aventura vivida nos meandros da política portuguesa e que levou à dissolução da Assembleia da República, teve por base, além da desconfiança, a não aceitação do casamento com essa rapariga tão carismática. Depois de esgrimidos os argumentos tendentes a justificar o possível casamento com um dos dois pretendentes, nenhum deles a quis aceitar e o casamento ficou adiado. Outras núpcias! No início, a rapariga andava por aí, passeando pelos corredores da política, deambulando pelas vielas da desconfiança e da suspeição, procurando noivo jeitoso, fiel e atencioso, mas nada encontrava. Eis senão quando ao virar da esquina se deparou com dois ou talvez três possíveis pretendentes. Ficou indecisa e esperou para ouvir o que tinham a oferecer cada um deles. Não tinham muito que dar em dote, mas, mesmo assim aguardou. Travaram-se de razões os dois, mas nenhum quis assumir a rapariga como parceira para a vida. Nada disso. A culpa que ficasse solteira. A contenda teve de ser resolvida pelas instâncias superiores e assim, o juiz decidiu que não haveria casamento possível e que deveriam todos fazer um exame introspetivo profundo durante dois meses. Assim disse e assim ficou escrito. Caberia ao povo decidir se algum deveria ficar com a culpa ou não. Mas o povo não poderá ajuizar tão levemente. E a culpa pouco poderá dizer em seu favor. Agora, em tempo de discussão política, os dois contendores, irão exibir os seus dotes para prendar ou não, essa rapariga airosa que afinal ninguém pretende. É, no entanto, contrário ao normal, a exibição dos dotes perante a culpa. Ela não quer dotes, quer injurias. Ela quer perjúrios. O seu pretendente deve exibir o lado mais negro do seu temperamento para que ela fique suficientemente satisfeita. Ela não quer um pretendente bem- -comportado. Pelo contrário. Isto torna mais difícil o casamento. Ela, além de exigente, é perseverante. Desconfiando um do outro, os dois pretendentes à culpa, buscam testemunhas credíveis para justificar as suas atuações. Exibem feitos anteriores que, à partida lhes poderão dar créditos para fugir da rapariga atrevida. Não interessa aproximar- -se, mas afastar-se. Cada vez mais distante, a culpa vê a sua situação cada vez mais difícil. Nem o líder do PS, Nuno Santos a quer por companheira. Do mesmo modo, também Montenegro, líder do PSD, a não pretende. No entanto, todos os partidos a querem dar em casamento a Montenegro que, não pretende casar de novo e muito menos com uma rapariga tão airosa e que lhe poderia causar problemas graves. Nada tem a ver com ela. Nunca andou atrás dela e ninguém pode dizer o contrário. Não há nada que prove tal tendência. Mas, este quer atirá-la para os braços de Nuno que, continua a rejeitá-la apesar de tudo. Coitada da culpa! No meio de tanta incerteza, andam todos a atirar a culpa para os braços uns dos outros. Ela continua a não ter cama onde se deitar. Talvez fique mesmo solteira. É uma guerra desnecessária cuja razão é tão banal como as pretensões da rapariga atrevida que não arrasa com quem casar. Mas poderá ter esperanças, já que esta é a última a morrer. A vontade de Nuno em conseguir provas para casar a culpa, talvez não seja conseguida, mas o PGR vai tentar, pelo menos saber quem tem os argumentos mais válidos para casar com ela. É atraente e airosa, mas mesmo assim não é apetecível para ninguém. Com culpa ou sem ela, o certo é que conseguiu derrubar um governo que fazia o seu trabalho bem feito. Teve esse defeito. Agora vamos esperar pelo veredicto final. Talvez alguém casa com ela.

Até onde chega a falta de respeito

O mundo inteiro assistiu na passada sexta feira à reunião encenada entre Trump e Zelensky na tão famosa sala Oval, da Casa Branca. Uma desilusão completa. Supostamente havia um acordo para assinar entre os EUA e a Ucrânia, mas Zelensky não assinou porque os termos não lhe eram favoráveis. Apesar de necessitar da ajuda doa EUA, Zelensky não se submeteu aos desígnios de Trump nem se ajoelhou perante o mais poderoso, como pensavam que aconteceria. Não. De braços cruzados, Zelensky ouviu e contrapôs os seus pontos de vista face a um acordo que era manifestamente favorável à Rússia e aos EUA e pouco trazia aos ucranianos. Havia subjacente um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia, mas faltaram garantias de segurança para os ucranianos o que deixava abertas as portas aos avanços russos. A deselegância dos americanos começa com o problema de Zelensky não usar fato e as questões que a esse respeito lhe foram feitas. Indigno de um jornalista pago pelo erário americano e gáudio para os assistentes, como se tudo fosse deveras ensaiado ao pormenor. Pena foi Zelensky não se ter lembrado de perguntar por que razão Elon Musk não entra de fato na sala Oval e anda de T-shirt pelos corredores como se fosse tudo dele. Ficou por responder, mas certamente muitos se perguntaram isso mesmo. Que falta de respeito. Afinal Zelensky é um Chefe de Estado como qualquer outro, não é um palhaço para se rirem na sua cara. Foi tão baixo o comportamento dos americanos que nos deixa envoltos numa raiva imensa e com vontade de ver o reverso da medalha. Ver um chefe de Estado a ser humilhado e objeto de escárnio pelo Presidente mais poderoso do mundo e pelo seu lambe-botas foi um espetáculo indigno e desconfortável para os Ucranianos. A humilhação de gente pequena que se acha grande foi um desrespeito enorme a que Zelensky assistiu sem se dobrar, mantendo-se sempre de pé, firme e sem mostrar subserviência. Talvez esta atitude fosse a que os irritou mais. Esperavam que Zelensky se dobrasse e lhes desse o que queriam e estaria no acordo. Território para a Rússia, minerais para os EUA e para os ucranianos uma mão sempre estendida à espera das esmolas que nunca chegariam. Um líder não precisa de um palco, mas um palhaço sim e aqui os palhaços estavam bem visíveis e tinham um palco enorme para fazer rir. E riram, sim, das suas anedotas horríveis e sem sentido. O Mundo ficou certamente horrorizado perante este espetáculo degradante e não irá esquecer tão cedo. O último a rir é o que ri melhor, diz o povo e com razão. Um país devastado à espera de soluções e apoios não pode ser objeto de galhofa e de humilhação. Claro que a Rússia e Putin, riram e festejaram o sucedido. Claro. O suposto pedinte foi rechaçado e mandado embora sem soluções. Mas mostrou dignidade, respeito e humildade perante a fanfarronice dos interlocutores americanos, que o atacaram como se estivessem num ringue de box. Mas não conseguiram derrubá- -lo. A guerra da Ucrânia não acabou nem acabará tão cedo. Entretanto os EUA continuarão sem os minerais e a Rússia sem os territórios conquistados. Pelo meio ficarão estendidos sem culpa nenhuma, milhares de soldados mortos que não poderão reclamar ajudas nem salvação a não ser a divina. Para o mundo inteiro ficou o conhecimento de que Trump é um produtor político e cinematográfico e que sabe encenar tudo muito bem, desde que tire resultados positivos, que os discursos proferidos não precisam de ser coerentes nem necessitam de guião e que o sofrimento humano é apenas uma publicidade momentânea. A Europa, perante este espetáculo deprimente e indigno, deverá tomar uma decisão. Ridicularizar Trump seria o mais correto, mas politicamente desaconselhável. A Ucrânia continua à espera de uma oportunidade de apoio dos EUA e a Europa não quer nem lhe interessa t^-los como inimigos. Mas a História não acaba aqui e nela se escreverão certamente páginas com mais dignidade do que a que agora se escreveu. Mas esta não será esquecida. Apesar de ter acordado tarde, a Europa terá de se armar e preparar para todos os palcos possíveis que o futuro possa trazer. Os EUA não sobrevivem sozinhos, mas a Europa também não. São jogos de números que não explicam tudo, mas é preciso saber fazer as contas. Com respeito. Ficamos à espera dos próximos acontecimentos, mas dos EUA já sabemos que a falta de respeito pelos outros é uma das suas caraterísticas. E se Zelensky pedisse ajuda à China? O que diria Trump? Será que continuaria a rir?

A nova ordem mundial

O tempo é feito de mudanças e a humanidade tem de se habituar a elas, mas nem todas são desejáveis. Possivelmente, a maior parte delas não são mesmo do agrado de ninguém com bom senso. Não falamos apenas das alterações climáticas, mas também da sociais, políticas e económicas. As consequências são graves e abrangem todo o mundo. O clima é fruto das ações do homem e todos pagam por elas, mas ninguém quer baixar os braços e admitir que o planeta corre riscos terríveis dentro de alguns anos. Já todos sabem disso, só os líderes dos países mais industrializados parece não quererem dar-lhe a importância que isso merece. Enfim. À parte essa vertente, não menos importante são as vertentes política e económica. As notícias que recentemente têm ocupado os noticiários de todos os canais televisivos, são de fazer tremer o mais pacato dos cidadãos. Já desconfiávamos que a eleição de Trump traria alterações enormes para alguns países, mas não descortinávamos que ele fosse tão longe. O que ele disse e mandou dizer recentemente são de uma agressividade incomensurável. Não sabemos se o pensou ou não, mas se levar por diante o que ele pensa executar, acaba com a ordem de funcionamento normal das relações entre os EUA, a Europa e do mesmo modo com a Rússia e com a América do Sul, para não falar do Canadá. Trump quer impor-se ao mundo e para isso usa as taxas como arma de arremesso. Nacionalista e autocrata, todos lhe devem obediência dentro da América. Fora dos EUA ele pretende dobrar os governos de modo a seguirem as suas determinações como se fossem cães de caça. A humilhação é outra arma do seu agrado. Submeter a Europa à sua vontade é uma tentativa expressa, mas pouco aceitável. Será o fim da ordem mundial que levou anos a implementar depois da Segunda Guerra Mundial. Ele não conseguiu acabar com a guerra da Ucrânia em dois dias, mas ao fim de um mês ele já falou com Putin para desenhar uma Paz duradoura naquela contenda. Isso seria ótimo se ele tivesse envolvido a União Europeia e a Ucrânia, a mais interessada, nessa conversa. Ele não pode impor à Ucrânia a sua vontade. É certo que os EUA já deram muito para essa guerra, mas isso não justifica que agora queira mandar em todos, incluindo a Europa. Zelensky não aceita essa solução de paz sem estar presente. Putin só aceita se a Ucrânia for a eleições. Isto quer dizer, se a Ucrânia eleger um Presidente pró-Moscovo. Um pau mandado. Trump e Putin são loucos. O certo é que os EUA se afastam da Europa e da NATO e querem que a Europa se defenda sozinha. A necessidade de segurança da Europa não é de hoje, mas infelizmente só agora é que os países europeus deram conta dessa necessidade. Trump quer que a Europa não dependa dos EUA e exige que os países da NATO aumentem o seu contributo para cerca de 5% do PIB o que nem a América cumpre. Como é possível? Diz ele que a América já deu demais e chega. A aproximação à Rússia e a Putin é demasiado perigosa. Os dois são espertos, mas qual dos dois é o mais hábil? Trump é um negociador e só o ganho está presente na sua estratégia de negociação. Putin tem o mesmo sentido, mas não se resume só um negócio. É mais do que isso. Ele quer ganhar e dominar. Não quer a Ucrânia na NATO nem Zelensky na Ucrânia para poder controlar tudo ao seu redor. Trump, daquela região só quer Terras Raras. Queria, pois Putin não está disposto a retalhar a Ucrânia para dar a Trump os minerais que lhe interessam. Não é fácil. E o que dirá a China? Será que Xi aceita esta negociação sem meter a colherada? O corrupio de encontros e negociações entre os representantes dos EUA, da União Europeia, da Ucrânia e talvez da Rússia, poderão levar a um retardar do final da guerra na Ucrânia. E o Médio Oriente? O que será de Gaza? A Riviera que Trump quer construir, se chegasse a comprar Gaza, outra loucura, está cada vez mais distante. O Egito e a Liga Árabe vão apresentar um Plano para a sua reconstrução a 30 anos. Isto é uma machadada nas intenções de Trump e o aplauso para os Palestinianos. Apesar de quase toda destruída, Gaza pertence aos Palestinianos e eles não vão querer abandonar a sua terra natal. Sem condições de habitabilidade, agora o Egito e a Liga Árabe esperam que Trump contribua com a sua parte para a reconstrução que ele tanto apregoa e quer fazer de modo a albergar todos os palestinianos. Mas a dúvida subsiste. Será que Netanyahu quer isso? Por vontade dele, Gaza deveria ser território de Israel e os Palestinianos deviam sair todos, acabando com o Hamas de uma vez por todas. Mas uma coisa é certa. Os 60 mil palestinianos mortos que atapetam o território de Gaza, não poderão nunca sair do solo que os acolheu. Farão parte da terra sagrada para sempre. A nova Ordem Mundial está a delinear-se, mas não sabemos exatamente qual é. O desenho que se esboça não está nítido e não agrada certamente à maioria dos países. Os três grandes querem repartir entre si os pelouros mais importantes e os mais pequenos que lhes obedeçam e aqui está a Europa que só agora começa a acordar da letargia de décadas. Assim, tem uma tarefa enorme pela frente e terá de enfrentar os desígnios de Trump. A vontade de um louco não pode vingar só por que sim. Acorda Europa, antes que seja tarde demais.

A presunção de Trump

Não foram necessários muitos dias para nos confrontarmos diretamente com as loucuras de Trump. No mesmo dia da tomada de posse, fez questão de mostrar ao mundo que ia assinar decretos destinados a alterarem o rumo de posições do governo anterior, especialmente no que se refere à imigração. E mostrou, note-se, a sua assinatura perante as câmaras para que todos vissem que tinha assinado os decretos. Francamente! Presunção ao mais elevado nível! Mas os primeiros dias foram destinados a destacar o que vai fazer e quais os objetivos desta administração. Impor a sua vontade por todo o lado e espalhar um patriotismo bacoco, assente numa falsa democracia, que ele desconhece o que seja e espalhar o medo a milhares de pessoas, fora e dentro dos EUA, é a sua razão de governar. E está a conseguir. As ameaças de taxas a aplicar aos países que o enfrentam economicamente ou não, são as armas imediatas que tem na mão. Vejam o que fez com o Brasil e com a Colômbia. O enfrentamento da Colômbia, levou-a a recuar para não sofrer 25% no agravamento das taxas dos produtos exportados para os EUA. Funcionou a ameaça. Mas será que vai funcionar sempre? A nova Administração, escolhida pessoalmente entre os seus amigos mais próximos, não parece que vá ter sucesso, mas isso também não lhe interessa muito, pois ele pode, quer e manda fazer tudo o que quiser. Até quando? Nada dura para sempre. A verdade é que está rodeado de anormais que agora pensam que são importantes e vão agir como tal. Parece um reality show, mas infelizmente não é. Ora vejamos como está formada esta Administração. Temos o homem mais rico do mundo, que lança foguetes no espaço e compra uma rede social; temos um anti vacinas fanático das teorias da conspiração que diz que um verme lhe comeu o cérebro; um médico que receitou remédios para a malária, para curar o Covid; temos uma das sócias da maior empresa de luta livre dos EUA; um ex- -jogador da NFL; um rainha de beleza que ficou famosa por confessar que executou o seu cão com um tiro na cabeça; um ex-soldado que se tornou apresentador de noticiários; um amigo do golfe. Este é o gabinete de Donald Trump. Se fosse um reality show seria certamente um sucesso, mas não é. O homem mais rico vai- -se encarregar de agilizar os procedimentos burocráticos. O senhor anti vacinas vai ser o Secretário da Saúde. O médico da malária vai ser o chefe do Serviço Médico público. A empresária de luta livre vai ser Secretária da Educação. O ex- -jogador de futebol americano será secretário da Habitação. A que matou o cão, tomará a seu cargo a Segurança Nacional. O ex-soldado, apresentador de noticiários, será Secretário da Defesa. O amigo do golfe é enviado para o Médio Oriente. Todos eles são comandados por um herdeiro caprichoso, magnata do setor imobiliários, amante do mundo das celebridades que foi à falência e foi declarado culpado de 34 delitos e até há pouco tempo tinha pendentes 24 processos penais, ou seja, Trump. Com tudo isto vai ter de lidar o mundo inteiro incluindo os americanos. São estas pessoas que vão ajudar Trump a decidir, se ele deixar, no que respeita à compra da Gronelândia, o que se vai passar quanto ao Canal do Panamá, o que se vai passar na Ucrânia, no Médio Oriente e até no Canadá. Autênticas loucuras. A mudança do nome do Golfo do México para Golfo da América, já foi feita, somente para os americanos. Fora da América o nome continuará a ser o inicial. Mesmo com o dono da Google ao seu lado, não significa que possa alterar tudo. Não pode. Ele é que ainda não se deu conta disso. Mas vai acabar por dar. A sua presunção de poder controlar tudo e todos vai acabar por derrotar a sua própria política. Vai ganhar mais inimigos do que amigos, a começar dentro da própria América. A China, a Rússia e a Coreia do Norte, são inimigos com que terá de contar. O Irão é um inimigo figadal e perigoso. Trump não pode virar-se para todos os lados e enfrentar toda a gente ao mesmo tempo. Não vai querer fazê-lo. Não lhe interessa, pois pode perder. O que lhe interessa de imediato é a questão da imigração onde dita as regras e, com reticências, o que se passa em Israel e na Palestina. A este respeito é bom não esquecer a loucura pronunciada de levar todos os palestinianos para outros países e acomodá-los lá, o que significaria acabar com a Palestina e com Gaza dando a Israel o poder de controlo absoluto sobre todo o território. Simplesmente aberrante. Certo é que tantos meses de guerra não foram suficientes para acabar com o Hamas. Netanyahu não conseguiu e mesmo que Trump lhe dê pano branco para continuar, talvez não consiga. A guerra nunca será solução para este conflito, nem para outros como a Ucrânia. A presunção de Donald Trump não será bastante para levar a paz a alguns lugares, mas também é verdade que nenhuma guerra lhe interessa. Mas que ele tem muita presunção, alguma loucura, água benta e vaidade, isso todos vemos.