Luís Ferreira

A presunção de Trump

Não foram necessários muitos dias para nos confrontarmos diretamente com as loucuras de Trump. No mesmo dia da tomada de posse, fez questão de mostrar ao mundo que ia assinar decretos destinados a alterarem o rumo de posições do governo anterior, especialmente no que se refere à imigração. E mostrou, note-se, a sua assinatura perante as câmaras para que todos vissem que tinha assinado os decretos. Francamente! Presunção ao mais elevado nível! Mas os primeiros dias foram destinados a destacar o que vai fazer e quais os objetivos desta administração. Impor a sua vontade por todo o lado e espalhar um patriotismo bacoco, assente numa falsa democracia, que ele desconhece o que seja e espalhar o medo a milhares de pessoas, fora e dentro dos EUA, é a sua razão de governar. E está a conseguir. As ameaças de taxas a aplicar aos países que o enfrentam economicamente ou não, são as armas imediatas que tem na mão. Vejam o que fez com o Brasil e com a Colômbia. O enfrentamento da Colômbia, levou-a a recuar para não sofrer 25% no agravamento das taxas dos produtos exportados para os EUA. Funcionou a ameaça. Mas será que vai funcionar sempre? A nova Administração, escolhida pessoalmente entre os seus amigos mais próximos, não parece que vá ter sucesso, mas isso também não lhe interessa muito, pois ele pode, quer e manda fazer tudo o que quiser. Até quando? Nada dura para sempre. A verdade é que está rodeado de anormais que agora pensam que são importantes e vão agir como tal. Parece um reality show, mas infelizmente não é. Ora vejamos como está formada esta Administração. Temos o homem mais rico do mundo, que lança foguetes no espaço e compra uma rede social; temos um anti vacinas fanático das teorias da conspiração que diz que um verme lhe comeu o cérebro; um médico que receitou remédios para a malária, para curar o Covid; temos uma das sócias da maior empresa de luta livre dos EUA; um ex- -jogador da NFL; um rainha de beleza que ficou famosa por confessar que executou o seu cão com um tiro na cabeça; um ex-soldado que se tornou apresentador de noticiários; um amigo do golfe. Este é o gabinete de Donald Trump. Se fosse um reality show seria certamente um sucesso, mas não é. O homem mais rico vai- -se encarregar de agilizar os procedimentos burocráticos. O senhor anti vacinas vai ser o Secretário da Saúde. O médico da malária vai ser o chefe do Serviço Médico público. A empresária de luta livre vai ser Secretária da Educação. O ex- -jogador de futebol americano será secretário da Habitação. A que matou o cão, tomará a seu cargo a Segurança Nacional. O ex-soldado, apresentador de noticiários, será Secretário da Defesa. O amigo do golfe é enviado para o Médio Oriente. Todos eles são comandados por um herdeiro caprichoso, magnata do setor imobiliários, amante do mundo das celebridades que foi à falência e foi declarado culpado de 34 delitos e até há pouco tempo tinha pendentes 24 processos penais, ou seja, Trump. Com tudo isto vai ter de lidar o mundo inteiro incluindo os americanos. São estas pessoas que vão ajudar Trump a decidir, se ele deixar, no que respeita à compra da Gronelândia, o que se vai passar quanto ao Canal do Panamá, o que se vai passar na Ucrânia, no Médio Oriente e até no Canadá. Autênticas loucuras. A mudança do nome do Golfo do México para Golfo da América, já foi feita, somente para os americanos. Fora da América o nome continuará a ser o inicial. Mesmo com o dono da Google ao seu lado, não significa que possa alterar tudo. Não pode. Ele é que ainda não se deu conta disso. Mas vai acabar por dar. A sua presunção de poder controlar tudo e todos vai acabar por derrotar a sua própria política. Vai ganhar mais inimigos do que amigos, a começar dentro da própria América. A China, a Rússia e a Coreia do Norte, são inimigos com que terá de contar. O Irão é um inimigo figadal e perigoso. Trump não pode virar-se para todos os lados e enfrentar toda a gente ao mesmo tempo. Não vai querer fazê-lo. Não lhe interessa, pois pode perder. O que lhe interessa de imediato é a questão da imigração onde dita as regras e, com reticências, o que se passa em Israel e na Palestina. A este respeito é bom não esquecer a loucura pronunciada de levar todos os palestinianos para outros países e acomodá-los lá, o que significaria acabar com a Palestina e com Gaza dando a Israel o poder de controlo absoluto sobre todo o território. Simplesmente aberrante. Certo é que tantos meses de guerra não foram suficientes para acabar com o Hamas. Netanyahu não conseguiu e mesmo que Trump lhe dê pano branco para continuar, talvez não consiga. A guerra nunca será solução para este conflito, nem para outros como a Ucrânia. A presunção de Donald Trump não será bastante para levar a paz a alguns lugares, mas também é verdade que nenhuma guerra lhe interessa. Mas que ele tem muita presunção, alguma loucura, água benta e vaidade, isso todos vemos.

A possível confrontação de blocos

A tomada de posse de Trump depois da tremenda vitória que obteve nas eleições, vai-lhe permitir ter uma larguíssima margem de manobra sobre quase tudo o que quiser. Certamente não vão bastar os apelos de Biden no seu discurso final, para incutir uma democracia aceitável nas ideias do novo presidente dos EUA. Se assim fosse, estaríamos todos mais sossegados. A verdade é que com Trump, o que hoje é verdade, amanhã pode não ser. Disse que acabaria com a guerra da Ucrânia em dois dias e agora já veio dizer que demorará algumas semanas ou meses até chegar a um acordo. Claro. Conhecemos bem o show off a que ele nos habituou. A vaidade é um dos seus atributos e não é dos piores, apesar de tudo. O acordo que está em vias de se efetivar entre o Hamas e Israel, devido a um esforço titânico da administração Biden e também de elementos das nova administração, nada tem a ver com o trabalho de Trump, mas não evitou que ele se gabasse e dissesse que se não fosse ele e a sua vitória, isso não seria possível. Biden riu-se da presunção. O que havia de fazer? No entanto, inicialmente o Gabinete de Israel não aprovou o acordo, tal como todos contavam que acontecesse. Viveu-se um impasse cuja culpa foi atribuída a novas exigências do Hamas, mas a verdade é que o governo de Israel não aceitou e nós sabemos que o próprio governo está dividido sobre o assunto. Uns querem a exterminação completa do Hamas e outros acham que já houve demasiados mortos e uma destruição que demorará algumas décadas a reparar. Segundo alguns analistas, a reconstrução de Gaza demorará cerca de um século. Significa isto que tudo foi completamente destruído. Talvez o acordo se mantenha para dar sossego aos palestinianos. Mas voltemos a Trump. Ele já afirmou que se iria reunir com Putin para falar sobre um possível acordo de paz sobre a guerra da Ucrânia. Curiosamente, Putin já informou que ele ainda o não contactou. Típico. Resta saber o que resultará dessa possível reunião entre os dois e as possíveis consequências para a Ucrânia. Por sua livre vontade, Trump não gastaria mais dinheiro na defesa da Ucrânia e abandonaria o país ao seu destino, culpando a União Europeia do que daí possa resultar. Se isso acontecesse, seria mais fácil à Rússia dominar a Ucrânia e depois tentar alargar o seu domínio a outros Estados satélites mais fracos, cujo domínio não teria muitas barreiras. Isto não parece muito irreal, especialmente se nos fixarmos nos objetivos de Putin. Por outro lado, ele está a alargar os seus contactos para a Eurásia, Índia e mais países asiáticos, além do Irão, com quem firmou mais um acordo, com a China e Coreia do Norte. Ao formar estas alianças, inicialmente económicas, mas não só, ele está a enfrentar, de certo modo, a enorme influência que os EUA têm no mundo em quase todas as regiões, formando um bloco enorme de influências. As tontices de Trump em querer “comprar” a Gronelândia, dominar o Canadá e controlar o Canal do Panamá, não são a melhor estratégia para demonstrar o seu poder e pode ser catastrófico. Criticado por todos perante estas ideias surrealistas, pode ver-se sozinho e mesmo abandonado pela Europa que ele tanto critica. O aumento das taxas e impostos específicos que quer impor à China e à Europa também não são benéficos a entendimentos políticos. Restam poucos “amigos” a Trump se continuar a afastar a Europa e a NATO dos seus interesses. É verdade que os EUA estão longe de Moscovo e de Pequim, mas não tão longe que o seu território não possa ser atingido com os novos mísseis e mesmo com uma bomba atómica, se isso passar pela cabeça de Putin, o que não seria despiciendo. Não é difícil ver a construção de dois blocos enormes e a possibilidade de uma confrontação futura se nada for feito, entretanto. As cabeças duras destes líderes têm de ser iluminadas de modo a que a luz lhes indique o caminho do bom senso. A questão da Gronelândia não é nova. A maior ilha do mundo tem imensas riquezas no seu subsolo, tendo só o frio como contratempo. Há uns anos atrás já foi ventilada a ideia da compra pelos EUA. Aliás, sabemos que a América tem lá uma base com cerca de duzentos militares, o que é muito pouco, mas serve os seus interesses imediatos. Também a China tem interesse igual, mas está muito mais longe. No entanto, se acontecesse a ideia de Trump, serviria à China para justificar uma invasão a Taiwan, por exemplo. No fundo, Putin fez o mesmo à Ucrânia! A bola de neve continua a rolar e a ficar enorme. O Canadá já é outra coisa diferente. Claro que está “à mão se semear” dos EUA, mas não é uma ilha fria e quase deserta. Se os EUA compraram o Alasca à Rússia por 20 dólares no século passado, o mesmo seria impossível hoje em dia. Nem a Gronelândia nem o Canadá estão à venda e comprar uma guerra com a Dinamarca ou com o Canadá deve estar fora dos objetivos imediatos de Trump. Imaginemos, contudo, que eles pediam ajuda à Rússia para impedir as loucuras de Trump? Teríamos um confronto enorme entre dois blocos imensos e o EUA não seriam os mais beneficiados certamente. As loucuras pagam-se sempre, mais tarde ou mais cedo.

Será que o novo continua velho?

Para trás ficou 2024 com todas as suas terríveis mazelas, rodeadas de consequências atrozes onde só esta humanidade desprotegida foi completamente atingida. Todos os anos, quando chegam ao fim, faz-se o levantamento do que mais sobressaiu ao longo dos 365 dias. Muitas coisas más e poucas boas. É sempre assim. Nada muda ou muda muito pouco. O ano que terminou foi diferente. Repleto de acontecimentos muito maus e inesperados que rotularam alguns dos intervenientes de assassinos e genocidas. Fez lembrar o tempo em que Hitler imaginou conquistar um Império igual ao de Napoleão e dominar a Europa. A diferença é que parece que são muitos a tentar fazer o mesmo. Não é só um. Putin começou há quase três anos, com a tentativa falhada de conquistar a Ucrânia em três dias. Invadiu um país independente e soberano com uma desculpa esfarrapada envolta numa operação especial contra o nazismo. Esta guerra sem sentido vai entrar em 2025. Cansados da contenda, todos clamam por uma paz justa, mas ainda não deram um passo em frente. Esperam por Trump. Quem espera? O ano passado levou a guerra à Palestina e à destruição de Gaza, numa busca incessante pela derrota do Hamas. Teve o condão de se estender para a Líbia e para a Síria. Em busca da derrota do Hezbollah e indiretamente do Irão, levou à fuga do Presidente da Síria, que abandonou o cargo e refugiou-se na Rússia, junto com o seu amigo Putin. Isto foi a derrota de Putin naquela região. As bases que lá tinha, foram desativadas quase completamente. A Rússia ficou sem um porto na zona do Mediterrâneo. Uma fragilidade enorme para a Rússia. Entrámos em 2025 com a esperança de que os horrores das guerras em presença se extingam rapidamente. Na mesa estão afirmações importantes a este respeito. Trump disse que acabaria com a guerra da Ucrânia de um dia para o outro. Ninguém acredita, mas Zelensky continua a acreditar que algo de positivo poderá vir dos EUA e que Trump poderá travar Putin. A partir do dia vinte deste mês, logo veremos, mas não sejamos demasiado crentes. Seria bom, mas… Por outro lado, ele também se está a voltar contra a Europa e a querer abandonar a NATO. O jogo do aumento das taxas à China e aos países europeus, pode ter consequências económicas mundiais terríveis. Que impere o bom senso. Zelensky, para marcar a sua posição contra a Rússia, cortou a passagem de gás para a Europa, pelo seu território, o que significa um prejuízo enorme para a economia russa. Mas a Moldova já está a pagar por isso. O frio não é bom conselheiro! É a moeda de troca possível para a Ucrânia. O conjunto de sanções que os diferentes países fizeram à Rússia, não foram suficientemente persuasivas para Putin se sentar à mesa das negociações. Talvez uma ameaça de Trump a Putin consiga levar Putin a uma negociação de paz. Resta saber os contornos das negociações. Haverá cedências de parte a parte certamente, mas quais? Vamos esperar. Por outro lado, Netanyahu quer uma vitória para Israel, mesmo à custa de um quase genocídio em Gaza e de atrocidades inqualificáveis no Líbano e na Síria. Ainda restam o Iémen e os Houtis a quem Netanyahu jurou destruir igualmente. E se as negociações entre o Hamas e o Estado de Israel andam aos soluços e não se vê solução, o cessar fogo com o Hezbollah está constantemente a ser violado, levando a inúmeros mortos incluindo crianças que não têm culpa nenhuma das tontices dos senhores da guerra. Neste início de ano, continuamos a ter a mesma roupagem do ano passado. Está difícil mudar a roupa velha por uma nova e mais acolhedora. A busca pela paz em todas estas paragens do globo, não é fácil de concretizar. Entretanto, luta-se contra o tempo e contra a morte. Luta-se contra o tempo e contra a morte…matando. Incongruência terrível. Os milhares de mortos já contabilizados não são suficientes para sensibilizar os donos da guerra. A morte de crianças aos milhares, nada significam para eles, talvez porque não têm filhos na guerra ou não têm mesmo filhos que os olhem profundamente nos olhos e lhes chamem assassinos. Os intervenientes destas guerras loucas deveriam ter a humildade de reconhecer o horror que praticam diariamente e parar para não carregarem mais culpas que, mais tarde ou mais cedo, os vão enfiar numa vala pouco profunda, onde desaparecerão comidos por bichos não tão horríveis como eles. Infelizmente, é difícil acreditar que tudo termine neste Ano Novo. Mas é urgente que algumas das regiões afetadas pela guerra cheguem a uma paz que já tarda. Todos desejamos que 2025 vista roupa nova e não seja uma simples continuação da miséria que acaba de terminar. Bom Ano Novo é afinal o que todos pedimos, mas dificilmente acontece.

A 1ª derrota da Rússia

O mundo está em convulsão. O caminho indicado não é o da paz, mas sim o da guerra, como se nada mais interessante houvesse ao cimo da Terra para entreter os homens desocupados. Todos ansiamos pelos tempos de tranquilidade e sossego que se viviam há una anos atrás, mas cada vez mais nos afastamos deles. A tranquilidade que vivíamos na Europa acabou e hoje somos todos arrastados para uma guerra que não é nossa, mas que acaba por nos influenciar totalmente. E se a Ucrânia é parte integrante nessa guerra com a Rússia e nos afeta, neste momento não é o único foco de desestabilização e de guerra aberta neste mundo de loucos ou onde só os tontos parecem querer governar com a autorização dos que deviam ser mais inteligentes e menos permissivos. O conflito no Médio Oriente alargou-se contrariamente ao que se pretendia. Os rebeldes Sunitas tomaram Damasco em poucos dias. O regime totalitário de Bashar Al-Assad caiu. Faltou- -lhe o apoio da Rússia que, comprometida com o que se passa na Ucrânia, não tinha forças para continuar na Síria. Bashar Al-Assad fugiu ou simplesmente desapareceu. Há quem diga que o avião onde seguia caiu, mas certamente estarão no Irão ou na Rússia. Não se sabe. A Rússia tem a sua primeira derrota. Um dia amargo para Putin. Perde toda a influência que tinha no local e só lhe resta o Irão que, acaba por perder igualmente já que não conta com o Hezbollah que Israel desmantelou. A Síria está nas mãos dos rebeldes sunitas. Moderados e dissidentes do Daesh parece quererem um país livre e independente. Querem boas relações com Israel. Sendo Israel inimigo do Irão e este inimigo dos rebeldes e amigo da Rússia, claro que interessa não se meterem com Israel depois de verem o que aconteceu ao Hezbollah. Mas que governo poderá surgir depois deste caos? O Primeiro Ministro sírio quer colaborar com os rebeldes numa transição pacífica. O povo terá de colaborar com os revoltosos até porque há muito que queriam derrubar o regime de Assad. Esperemos que estes supostos moderados, sejam mesmo moderados. Os EUA não querem esta guerra nem se querem meter. Como disse Trump, “esta guerra não é nossa”. E não, embora pareça um contrassenso. Mas há mais neste mundo em mudança. A Rússia começa a ter outros problemas fora do Médio Oriente e da Ucrânia. O seu aliado, a China, informou que uma ilha que repartia com a Rússia, é toda dela. Isto levantou uma celeuma enorme que levou os dois países a justificarem as suas posições. Mas a China não desmentiu a sua ação nem reverteu o que inscreveu no mapa de ocupação. Para Putin, isto terá sido um alerta e uma desconfiança face ao seu suposto aliado, mas como necessita da China para desenvolver a sua economia e depende dela, não foi além de uma declaração. Mas Taiwan está ali ao lado e numa situação semelhante. Por isso, este evento diplomático poderá funcionar como alerta ao mundo e aos EUA que Taiwan continuará a ser da China, mesmo que ninguém concorde com isso. E a ser assim, um conflito enorme pode surgir na região entre a China, os EUA, Taiwan e a Rússia. O epicentro de uma possível terceira guerra mundial, que ninguém deseja, pode acontecer, não no Médio Oriente, mas no Pacífico. Entretanto e enquanto Zelensky espera o apoio de Trump para a Ucrânia, Putin continua a bombardear o território ucraniano e a apoiar o novo governo da Geórgia. Eleições fraudulentas que levaram ao poder um partido impensável, teve seguramente a influência de Putin, já que esse governo é pró-russo e não pró-União Europeia. O povo saiu à rua e as manifestações sucedem-se. Pobre mundo este que enfrenta o pior que os homens têm. O belicismo terrível que atravessa este globo perdido no espaço, vai servir não só para o destruir como para acabar com todas as boas intenções que ainda existem para o salvar. Também em França, o governo caiu. Perdido entre a extrema esquerda e a extrema direita, Macron não sabe muito bem o que fazer e quem vai indicar para formar governo. Que governo? Os socialistas não gostam dele e Le Pen já disse que apresentaria nova moção de censura se o governo não integrasse as suas linhas orientadoras de governação. Macron não vai indicar um primeiro ministro de esquerda, embora fosse a esquerda que tivesse ganho as eleições. Faltou-lhe a maioria. O centro direita pode ser uma solução, mas já não será novidade. Numa imensidade de partidos e divisões políticas em França, o que resta a Macron? Ele não se demite. O que espera os franceses? O caos político e novas eleições dentro de meses. Mas se pensarmos bem, tudo isto está ligado. Ninguém está a salvo desta loucura coletiva mundial. E Portugal também não, já que apanhamos por tabela as alterações que se verificam nos quatro cantos. A Europa está em cima de um barril de pólvora.

Enigmas explosivos

A indecisão dos EUA e as recentes eleições americanas, levaram ao solo ucraniano, consequências inesperadas, especialmente para o líder ucraniano. A eleição de Trump trouxe para a América uma indecisão momentânea quanto ao modo como encarar a guerra ucraniana. A divisão da sociedade americana e dos políticos americanos não sossegou o mundo ocidental. As promessas de campanha que Trump fez foram tão somente isso mesmo, promessas de campanha, já que também ele não contaria com o acelerar dos acontecimentos subsequentes. Para a Ucrânia, a eleição de Trump não trouxe um futuro descansado, muito embora ele prometesse acabar com a guerra de um dia para o outro. Zelensky adivinhou um futuro negro, não em termos de guerra, mas em termos de uma paz que ambiciona, mas que nunca será a pretendida. Antes de se despedir da Casa Branca, Biden resolveu dar à Ucrânia o que Trump não daria. Zelensky já pedia há muito tempo a autorização para disparar mísseis de longo alcance contra a Rússia e Biden fez-lhe esse favor. Claro que isso traria consequências, pois Putin nunca se ficaria sem tomar decisões mais drásticas. E foi o que fez. Também ele lançou mísseis intercontinentais contra a Ucrânia, ameaçando com outras soluções mais contundentes não só em solo ucraniano como também em países que fornecessem mísseis à Ucrânia o que incluiria países da NATO. O mundo já se habituou a estas ameaças de Putin a às referências ao nuclear. São para amedrontar o ocidente e para consumo interno russo. Ninguém se mata avisando antes que se vai matar. Mas é facto que as ameaças não se devem descartar por completo, especialmente quando vêm de pessoas loucas como é o caso. É, de facto, um enigma que vai pairar no ar durante algum tempo. Pode ser que Trump consiga dissolve-lo logo que tome conta do seu lugar como Presidente. O acelerar desta guerra que ninguém queria nem quer, tem contornos esquisitos. Enquanto Putin enviava um novo míssil para a Ucrânia e lançava mais uma ameaça, uma porta-voz do Kremlin vinha à televisão dizer que a Rússia estava aberta a uma negociação de paz. Uma contradição que é enigmática, já que não se entende como é que se quer paz acelerando a guerra. Talvez Putin esteja à espera de retirar dividendos da Ucrânia antes de Trump começar a governar para depois dizer que já estava à espera de conversações de paz. Só que, entretanto, ganharia mais território do que já tinha perdido em Kursk, o calcanhar de Aquiles da Rússia e ao mesmo tempo, uma moeda de troca de Zelensky. Mas ainda faltam dois meses até Trump ser empossado. Entretanto, os mísseis continuam a explodir e a dizimar vidas, para entretenimento de Putin e para encher o seu ego imenso de líder imbatível. Mas será assim mesmo? Possivelmente não. Putin está com medo embora não pareça. A sua reação, aparentemente furiosa e drástica contra a Ucrânia, não é tão real como quer fazer crer. Se assim fosse, não necessitaria de comprar armas ao Irão nem aceitar tropas e armamento da Coreia do Norte. Isto é a demonstração cabal do seu temor e da sua fraqueza. Claro que a Rússia é um país imenso e com recursos enormes, mas o armamento que usou até agora era antigo e ainda do tempo da União Soviética. Está a acabar-se. Agora, só uma paz urgente servirá para tapar esta fraqueza e para acelerar essa paz, nada melhor que pôr no terreno os últimos recursos balísticos e as ameaças que quer que todos acreditem ser reais. Pode não ter tempo para isso. A escalada da guerra pode vir a ter outros contornos. Mas para Trump existem outros problemas para resolver. Internamente já vimos que as escolhas para cargos políticos têm sido péssimas e já há desistências. Com- por o seu Gabinete não está a ser fácil. Além disso, tem a guerra no Médio Oriente e agora a decisão do Tribunal Penal Internacional contra o seu amigo Netanyahu. Mais dia menos dia, este terá de ir para os EUA já que não são signatários do TPI. Sorte a sua. Assim, em termos geopolíticos jogam-se interesses profundos e alargados. A tentativa de domínio de Israel em Gaza e na Cisjordânia, arrasta-se no tempo e envolve os países da região e não só. Os inimigos de Israel têm-se limitado a verbalizar a situação e algumas ameaças. Esperemos que não vão além disso, ao mesmo tempo que a esperança de Trump contribuir para essa paz se mantenha. A Turquia insurgiu-se contra o líder israelita e contra o que tem feito em Gaza e no Líbano. Tem as suas razões. Por sua vez, a entrada da Coreia do Norte no conflito ucraniano, alarga a influência geopolítica dos conflitos e ninguém quer perder. A Coreia do Sul, receosa, já se pronunciou. Nesta parte do globo onde tudo já foi muito mau, pode reacender-se um conflito maior. A China mesmo ao lado, atenta, mas não interventiva inteligentemente, mantem a ameaça sobre o que poderá acontecer com Taiwan. Um enigma enorme que pode explodir também. Qual será então o papel de Trump? Perante tudo isto, será que vai preferir descansar em Mar-a-Lago? Enigma.

Condenado e Presidente

A América tem finalmente um Presidente eleito que é um criminoso já condenado e com muitos processos em andamento que o podem condenar e até levar à prisão. Se não tivesse sido eleito, certamente iria agora diretamente cumprir pena pelos crimes de que é acusado. A condução do assalto ao Capitólio como protesto da derrota que sofreu para Biden, é talvez o processo mais importante e que o irá condenar mais tarde ou mais cedo. Um rol imenso de crimes e acusações contra ele bastam para o rotular e esperar uma condenação severa. Será a primeira vez que um Presidente americano é condenado, mas há sempre uma primeira vez. A vitória republicana não seria nada de especial se não fosse protagonizada por uma pessoa que já conhecemos e que não deixou saudades. Contudo, muitos hoje, referem que se ele se tivesse mantido no governo da América, o mundo hoje estaria melhor. Estaria? Putin gostou da vitória de Trump. Diz que está disposto a encontrar-se com ele e a discutir a paz da Ucrânia e a voltar ao tempo da confiança com o Ocidente e com os países europeus. Será? Entretanto é aliado do Irão, da Coreia do Norte e da China. Ele fez grandes promessas durante a campanha e uma delas é que acabaria com a guerra da Ucrânia de um dia para o outro, mas não disse qual seria o dia. Mais amigo de Putin do que de Xi, talvez chegue a um acordo sobre essa tão desejada paz, mas Zelensky terá certamente a última palavra. Aliás, esta vontade de Putin chegar a uma paz, seja ela qual for, só põe mais a claro as dificuldades que a Rússia enfrenta em termos globais, seja de armamento ou de soldados. Já foi preciso recrutar imberbes da Coreia do Norte para colmatar as falhas. Enfim! E dizer que quer que as relações com o ocidente e com a União Europeia voltem à normalidade com confiança de parte a parte, é igualmente prova disso mesmo. Resta saber o que é que ele vai querer em troca. Victor Órban é outro presidente que queria que Trump tivesse ganho há quatro anos. Diz que não teria havido guerra na Ucrânia e que a Europa estaria mais forte e segura. Acrescenta que a América seria mais forte economicamente e Trump teria cumprido os acordos assinados. Quais? Ele até saiu do Acordo de Paris e talvez queira agora acabar com a NATO. E ainda não sabemos o que vai na ca- beça dele a esse respeito. A verdade é que os pretensos ditadores se juntam e comungam das mesmas ideias. Com a vitória de Trump, talvez a China não se movimente contra Taiwan, já que pode enfrentar um escudo que a impede de chegar ao Pacífico, desde o Japão, Indonésia, Taiwan, Coreia do Sul e Austrália onde existem bases americanas. Talvez Taiwan continue a salvo de uma invasão da China. Mas fica no ar o acordo que Putin fez com Xi e com o líder da Coreia do Norte. Como vai descalçar a bota? Isto é francamente o saldo mais positivo da vitória de Trump. Na verdade, a América não quer guerra com ninguém, mas não vai deixar para outros a liderança da política mundial. Do mesmo modo, os outros líderes também não pretendem a guerra. Talvez Israel seja exceção. Com a vontade de se afirmar e conquistar território, deixa para segundo lugar a destruição, os mortos que ficam pelo caminho e o genocídio que leva a cabo em Gaza, sem razão alguma que não seja essa mesma. Mas também Netanyahu espera de Trump o maior apoio nesta guerra que não é americana e onde todos têm a perder. Só Netanyahu espera ganhar. Assim, Trump tem pela frente uma série de problemas que terá de resolver o mais rapidamente possível, se conseguir. Tem pelo menos a facilidade de ter ganho em todas as frentes e nada o impedir de tomar decisões e alterar inclusive, leis do anterior executivo. Perigoso, muito perigoso. Sem ninguém para o controlar, imprevisível e até contraditório como é, pode pôr em perigo a estabilidade do planeta e levar a uma terceira guerra mundial. Se a guerra da Ucrânia não parar e a Rússia continuar a entrar pela Ucrânia dentro, se Trump retirar o apoio à NATO e à Europa, nada impede Putin de querer refazer o antigo território da Federação Russa, o que leva ao facto de haver três países satélites da Rússia que pertencem à União Europeia. Como vai a Europa defender esses países que pertencem à UE e à Nato? Onde estão as tropas europeias? A Europa só agora acordou para esse facto. Nunca se pretendeu construir um exército europeu que defendesse a Europa de qualquer ataque, porque nunca se imaginou que isso fosse necessário, mas pelos visto é. A Europa precisa de garantir a própria segurança. Demasiado tarde, talvez. Ninguém quer a guerra, mas certo é que ela ronda a Europa, o Médio Oriente e até a Ásia. Assustador. Os americanos têm agora o presidente que escolheram democraticamente. Bom para uns, mau para outros, a ele cabe resolver os grandes problemas que existem den- tro da América e fora dela, especialmente os que a ela se ligam diretamente. A América não é uma ilha. Precisa de todos e todos precisam dela em termos de segurança e em termos económicos e sociais. Curiosamente, cabe a um condenado e criminoso, resolver as equações que estão em cima da mesa. Não é fácil, mas se as resolver, ficará para a História com uma página bem menos negra.

A aventura de Ventura

A novela que tem vindo a passar a nível nacional em todas as televisões e órgãos de comunicação social, tem tido o condão de prender, de algum modo, os espectadores e leitores portugueses e não só, ao desenrolar da trama que envolve o tema central. De facto, o Orçamento Nacional e a sua viabilização têm assumido a primazia temática no dia a dia dos portugueses e de todos os partidos, sendo estes os mais interessados em criticar e lançar achas para a fogueira que continuará a arder nas semanas próximas. Na verdade, o que tem contribuído mais para esta intriga é o constante ataque entre os dois maiores contendores, o governo e o Partido Socialista, remetendo para segundo plano todos os outros. De facto, a viabilização do Orçamento tem levado a uma série de reuniões entre o Primeiro Ministro e o líder do PS, com a finalidade de chegarem a um acordo que permita essa viabilização orçamental. Mas não tem sido fácil. O que se tem visto é um aceitar das exigências do PS por parte de Montenegro, aproximando as linhas do Orçamento às pretensões de Nuno Santos. Mas a verdade é mesmo essa. As linhas vermelhas do PS já não existem. Ora isto levou a considerações várias dos outros partidos que criticaram essa aproximação ou até ficarem longe das propostas apresentadas por eles, como é o caso do IL e do CHEGA. Curioso é verificar que os partidos de esquerda estão, não só contra essa aproximação como rotular o PS como um partido de centro direita. Na realidade, quando as coisas não interessam, critica-se tudo e mais alguma coisa, demonstrando que a melhor defesa será realmente o ataque. Mas não é. Neste caso não é. O que se verifica é que esses partidos de esquerda não são tidos nem achados nestas negociações. Mas isto acontece porque o Partido Socialista com eles não consegue qualquer maioria que lhe permita impor a sua vontade política e governamental. Portanto, não vale a pena negociar com eles. Mas, também é facto conhecido que o governo reuniu com todos e ouviu o que todos tinham a dizer ou acrescentar para o Orçamento. Claro que coube ao governo aceitar o que se integrava nas suas linhas de pensamento e recusar as ou- tras propostas. Podemos dizer que este Orçamento tem um pouco da vontade de todos os partidos, até mesmo do Partido Comunista. Mal seria que estes não quisessem aumentar os salários de quase todos os funcionários das instituições públicas, uma melhor educação, melhorar as condições das forças de segurança, na saúde, na justiça, enfim, dar melhores condições de vida aos portugueses. Todos querem, embora uns quisessem ainda mais, como se o dinheiro nascesse debaixo do interesse e vontade de quem governa. Não há árvores do dinheiro. Mas a novela adensou-se nesta última semana com as pretensões do CHEGA e de André Ventura. Como um autêntico catavento, como disse Montenegro, ele veio à praça, como costuma fazer, lançar atoardas contra tudo e contra todos, especialmente contra o governo e o Primeiro Ministro. Porquê? Porque não foi ouvido nem achado na negociação final para a viabilização do Orçamento. Acusou o governo e Montenegro de só negociar com o PS e nada querer com o CHEGA. Veio a público e apareceu nas televisões nacionais como o artista principal da novela, procurando um papel para o qual não foi selecionado. Ficou-lhe mal. Muito mal. Como não conseguiu ter essa primazia que o levaria a ser o único a viabilizar o Orçamento, levou as suas críticas mais longe ainda, sustentando-se num milhão e duzentos mil votos que teve, para poder exigir alguma coisa do governo. A verdade é que este resultado lhe tem permitido ter uma aventura nas pistas da política como nunca imaginou, mas também é verdade que o PSD igualmente nunca esperou que viesse a acontecer. Os portugueses estavam fartos de oito anos de governação socialista. Foi um desabafo. Um desabafo que pode ter consequências graves. A viagem de Ventura tem sido tentar capitalizar politicamente esses votos. Será que consegue? A sua atitude de chamar mentiroso ao Primeiro Ministro foi grave. Sem provas concretas de ter havido proposta de lugar no governo, a sua critica e revelação fraudulenta foram desajustadas e graves. Mas também não sabemos se houve essa reunião com Ventura ou não. Não sabemos se é mentira ou não. Montenegro desmentiu, mas não justificou mais nada. Será que tem de justificar? Nuno Santos aproveitou e também veio a terreiro acusar Montenegro e Ventura desses arremessos de mentiras e promessas, tentando também ele, tirar lucros do impasse sobre a possibilidade de viabilização do Orçamento. Todos sabemos que este Orçamento não é do PS, nem tem que ser. Quem governa é a AD. Contudo Nuno Santos faz render o peixe sem querer tomar uma posição clara sobre o Orçamento. Reme tudo para a discussão na especialidade. Aí pode haver alterações, como sabemos. Conta com elas. Ventura também, mas a sua aventura quer chegar mais longe, arrepiando o caminho sinuoso que se avizinha. É uma aventura que pode sair bem, apesar do irrevogável! Quem ganhará este braço de ferro? Montenegro, Nuno Santos ou Ventura? Nada está decidido ainda e tudo está em aberto, até novas eleições. Contudo e para bem do país, espero que Nuno Santos tenha consideração pelos portugueses e não dê ao Chega a arma que ele procura para terminar esta aventura.

Sem trunfos na manga

A recente viagem de Zelensky aos Estados Unidos foi antecedida por avisos universais numa tentativa de alertar especialmente Putin do seu objetivo. Na mala, levava somente uma proposta para a paz sem saber se ela seria aceite por quem quer que fosse. Na verdade, tudo estava estruturado e programado, até mesmo o encontro com Biden, com Kamala e até com Trump. Trump! O tal que tão mal disse dele, que o criticou e que disse que lhe tirava todo o apoio se fosse eleito presidente da América. E disse mais: que se ganhasse as eleições terminaria com a guerra da Ucrânia de um dia para o outro. Como se isso fosse possível. Enfim. Coincidiu esta viagem com a reunião de todos os líderes mundiais com acento na ONU. A presença de Zelensky não foi coincidência. Foi mais uma porque ele é também um líder mundial de um país chamado Ucrânia e iria estar onde também a Federação Russa estava representada. No entanto, enquanto os outros nada tinham avisado sobre o que iriam dizer, ele já levava o assunto bem estudado e com um objetivo já conhecido. A paz. Mas ganhar a paz só com um discurso repleto de razão, não é coisa fácil quando do outro lado está Putin. Claro que ele não estava presente para não ser preso. Mas os representantes da Federa- ção Russa estavam lá e bem atentos ao que Zelensky disse. Certamente sem concordar, mas com uma vontade intrínseca de que a paz chegue sem demora e sem que Putin conheça essa vontade, sob pena de desaparecerem sem deixar rasto, como é habitual. Afinal, quem quer a guerra? Só a quem ela dá dinheiro, segurança e enche o ego do poder. Gente menor, mas em grande número infelizmente! Mas Zelensky levava um plano de paz bem estruturado. Entregou-o em mão a Biden, apresentou-o a Kamala e discutiu-o certamente com Trump, embora este não lhe tenha dado grande crédito, já que nada lhe dizia nem seria o seu plano para uma paz que ele tanto apregoa. Uma questão de cortesia, por parte de quem não tem cortesia nenhuma. Mas teria de o fazer sob pena de ser altamente criticado e condenado, coisa que não lhe dá jeito nenhum numa altura de campanha. Para Putin a paz significa ficar com o território que supostamente ganhou até agora a par de uma quase rendição da Ucrânia à Federação Russa e uma proibição da Ucrânia aderir à NATO. Isto é inaceitável para Zelensky assim como para Kamala Harris e para muitos países europeus que se têm empenhado na ajuda ao povo ucraniano. Perante estas condições, onde entra o plano de paz de Zelensky? Bem, para Zelensky a paz só será atingida se a Ucrânia obrigar a Rússia a capitular. Mas como? Para isso ele levou na sua bagagem um pedido não só ao Presidente americano, mas também aos líderes mundiais. A Ucrânia precisa de uma ajuda enorme de armas, de autorização para utilizar armas de grande alcance e de muito dinheiro. Dinheiro, ele conseguiu encher o bolso, mas armas de longo alcance para atingir a Rússia no seu interior, será mais difícil. A política internacional aqui funciona de modo diferente, até porque há dependências várias entre Estados incluindo a Rússia e muitos países europeus. Para além disso, Putin já avisou que usará armas nucleares se a Ucrânia usar armas ocidentais que atinjam o seu território ou até a Bielorrússia. Claro que ele usa esta ameaça com demasiada facilidade o que lhe confere pouca credibilidade, mas nunca se sabe. Se se sentir muito apertado e não almejar saída fácil, é muito capaz de usar a força nuclear como intimidação e defesa. As consequências serão terríveis, mas isso não conta muito para quem tem os dias contados. Deste modo, Putin não deu crédito algum ao plano de paz de Zelensky e ainda deixou um aviso a todos os que pretendem ajudar a Ucrânia e prolongar a guerra. Mas uma coisa é certa: Putin não atingiu os seus objetivos e está longe de os conseguir. A guerra está a sair demasiado cara à Rússia e ao povo russo. São já milhares de soldados mortos e o povo russo não vai aguentar esta situação muito tempo. Até quando? Afinal que trunfos levou Zelensky para a Assembleia da ONU? Nenhuns. Para além de uma proposta de paz que nada tem de novo, faltou-lhe um trunfo forte que obrigasse a Federação Russa a negociar uma paz real e credível. Mas isso não vai acontecer. Pelo menos por agora. Seja como for, ficou a ideia de que Putin está disposto a negociar a paz. Há uma abertura, mas duvida-se que seja a que a Ucrânia pretende. Isto reflete alguma fragilidade da Rússia nesta guerra e neste momento. O líder ucraniano quer aproveitar esta debilidade, mas para isso precisa do que não tem. Na ONU ele deixou somente um pedido e uma proposta de paz que não terá viabilidade sem a concretização do pedido. Sem trunfos na manga, Zelensky regressou a casa com uns milhões de dólares e a promessa de Joe Biden de que o ajudará até ao final do seu mandato. Será que chega? Penso que não. Nem mesmo as ajudas e os apelos da França e da Inglaterra para continuar a luta contra a Rússia, serão suficientes para assustar Putin. Ele já respondeu e com a ameaça que tem: o nuclear. Este sim, tem um trunfo na manga e que todos conhecem e não é pequeno. Zelensky terá de conseguir um trunfo rapidamente se não quiser ficar eternamente de mão estendida. E o nuclear está fora de equação. Dos EUA os trunfos existentes podem acabar de um momento para o outro.

O feitiço e o feiticeiro

Na vida nem tudo nos corre tão bem como imaginamos e mesmo quando nada preconiza o contrário, eis que surge uma contrariedade e estraga toda a estratégia preconcebida. Hoje são imensos os exemplos destas contrariedades. Nas conversas que no dia a dia temos e travamos com os amigos, salientamos estas nuances mais discrepantes que são expostas na comunicação social mais assiduamente. E é tanto mais acentuada e falada a contrariedade que surge quando menos se esperava, especialmente quando ela apanha quase de surpresa quem parecia ter a maior das certezas. Neste regresso das férias e quando todos estavam à espera das famosas rentrées dos partidos políticos, parece que nem todos o fizeram e nem todos disseram o que os seus seguidores queriam ouvir. Nada há de novo politicamente. O que se verifica é um jogo do empurra onde o PS empurra a AD a clarificar as entranhas do Orçamento e Montenegro a nada dizer além do que tem dito sempre. Nada parece ter mudado. É o jogo do Orçamento que terá de ser aprovado em outubro, ou não. Tudo depende de possíveis negociações entre eles, que parecem estar emperradas. A teimosia de um e de outro leva a um equilíbrio que nada mais é do que um impasse político que terá de ser ultrapassado. Diz o PS que sem informação não há negociação. Mas segundo parece, há cartas secretas trocadas entre os dois líderes a este respeito. O que dizem e o que propõem, não sabemos, mas eles dirão a seu tempo. Entretanto o CHEGA, como sempre, vai-se posicionando e tentando deitar achas na fogueira, para ver se, com algumas ameaças veladas, tira, a seu tempo, alguma vantagem política. Faz o seu papel e atira o voto no Orçamento como o trunfo que a AD necessitará para o aprovar. Para desviar a atenção, o PCP vai atirando que o PS namora o CHEGA para deitar o Orçamento ao chão e, com isto deixar a AD quase sozinha sem saber o que fazer com o Orçamento. Não se vislumbra, por enquanto, quem tem o feitiço e quem é o feiticeiro. Foi o que aconteceu este sábado quando Rui Costa resolveu dispensar o treinador Roger Schmidt da equipa do Benfica. De facto, após o empate em Moreira de Cónegos no sábado, já no prolongamento, pouco mais havia a fazer quanto à manutenção do treinador. No entanto, este nunca pareceu ter grande preocupação a esse respeito, pois sempre se mostrou confiante no lugar que ocupava e na relação de amizade que tinha com o presidente do Benfica. Enganou-se. A sua teimosia, quer na manutenção dos seus sistemas de jogo como na utilização dos jogadores disponíveis, saiu-lhe cara. Foi despedido, mas leva 20 milhões. Pois é! Deste modo e com estas condições muitos gostariam de ser despedidos. Os títulos ganhos nas épocas anteriores não lhe serviram de trunfo e perdeu. Virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Identicamente, aconteceu a Elon Musk quando convencido que todos lhe deviam obediência pela sua influência e riqueza por ser dono e senhor de muitas empresas e especialmente da X, viu Lula da Silva e o Brasil proibirem esta rede social no país. Não contava com esta contrariedade, mas nem o seu rótulo de um dos homens mais ricos do mundo, lhe serviu de grande coisa. Há coisas com as quais não se contam definitivamente. E porquê? Porque Lula associou o X à extrema direita e no Brasil isso não é viável com este governo. Simples. O feitiço da influência social do X, virou-se contra o feiticeiro. O poder e a riqueza têm destas coisas, felizmente. No Médio Oriente continua a pairar no ar, quer o feitiço, quer o feiticeiro, embora não se saiba exatamente quem se vai virar contra quem. Com o poder nas mãos, Netanyahu enfrenta uma guerra que mantem porque lhe interessa, contra a maioria das opiniões internacionais. De facto, no dia em que a guerra acabar ele será julgado e possivelmente condenado e preso apesar de ser o todo poderoso de Israel. Não gerou esta guerra, como todos sabem, mas tem ido muito além do que deveria especialmente depois de ter causado já mais de 40 mil mortos incluindo milhares de crianças. Hamas e Hezbollah são os seus adversários diretos e próximos, coadjuvados pelo Irão, inimigo secular. Como sair desta guerra? Nunca pensou que teria de enfrentar durante tanto tempo os terroristas do Hamas. Mas enganou-se. Com quase mil dias de guerra e com as ameaças e ataques do Hezbollah e do Irão, Israel e o seu líder vivem momentos muito difíceis. Gaza está destruída. As famílias, já de si com poucas posses, vêm-se sem casas, sem trabalho, sem nada. O futuro é um deserto onde nada nasce e nada existe. Não parece que Netanyahu seja o feiticeiro capaz de dar o que lhes faz falta depois de lhes ter destruído tudo. Quem terá o feitiço? Também a Putin, detentor de um feitiço que pensa inabalável e indestrutível, vê-se confrontado com o que nunca pensou que acontecesse. Zelensky entrou na Rússia e domina agora mais de cem localidades, além de atingir com alguma facilidade pontos chaves dentro da Rússia. Putin parece pasmado perante tal sucesso ucraniano e parece não saber muito bem o que fazer. Não desiste do seu projeto e diz que nada disto é demasiado, mas o território que a Ucrânia conquistou é muito e será moeda de troca numa possível negociação de paz entre os dois países. Será que Putin vai acordar? Agora que o feitiço se virou contra o feiticeiro, o melhor mesmo é pensar duas vezes. Sempre é melhor a paz negociada, do que pressionada. Venha o feiticeiro.

Quem são os condenados?

Acabaram os Jogos Olímpicos. O Mundo “quase” todo esteve unido pelos atletas em cuja mente perpassa simplesmente a competição saudável, a união, a amizade, o desporto. Nada de guerras. Outros na exuberância de comportamentos, arrogam-se do poder que não têm para a justificar e não aceitam criticas de ninguém. Ao longo dos muitos séculos de História isso mesmo nos foi confirmado para mal da humanidade. Mas restava para o Mundo, a fraternidade dos desportistas. Pena é que os que se seguiram não aprenderam com os erros dos outros e continuam a apregoar o seu poder pessoal frente ao poder do povo que supostamente os deveriam eleger. Mas isso não acontece. Infelizmente. No entanto, alguns já estavam condenados sem saber que um dia seriam julgados por aqueles que subjugaram durante anos a fio. Aliás, a História ensina-nos muito claramente que é o que acontece a essas personagens poderosas e autocratas. Lembremos Napoleão, Mussolini, Hitler, Sadam, Kadafi para não descer na geografia do planeta que habitamos. Contudo os novos governantes que assumiram o poder por vias travessas e que pensam que é eterno, julgam estar a salvo da justiça humana, mas enganam-se. Mais tarde ou mais cedo serão julgados e condenados. E se não for pela mão dos que obrigaram a obedecer-lhes, será pela mão de um ser superior que lhes infligirá a morte como castigo merecido. À condenação não fogem, embora pensem que sim. O tempo aqui é que marca o momento do castigo. Poderá ser demasiado tarde ou antes do que eles esperam. A morte só avisa quando é anunciada. Um condenado à morte pela justiça, sabe até o dia em que vai morrer. É terrível que em pleno século XXI ainda haja a pena de morte, mas por mais que isso nos custe aceitar e custa, alguns condenados criam em nós tal raiva que lhes desejamos inconscientemente a morte. Depois de matar tantos seres humanos, seja pela guerra, seja pela condenação direta como fuzilamento ou pela cadeira elétrica ou por gás ou qualquer outro modo horrendo, o ódio e a raiva que cresce em nós não tem tamanho nem limites. O que custa saber é que esses indivíduos governantes ou simples detentores de poder, não tenham receio que lhes aconteça o mesmo nos dias mais próximos. O poder e o dinheiro não compram tudo muito menos a morte de que ninguém escapa e eles não vão escapar. Olhando o Mundo do alto da nossa parca sabedoria, encontramos umas dezenas de semelhantes espécies e só esperamos que sejam julgados rapidamente, porque condenados já estão. Basta passar uma rápida olhadela por alguns países para nos apercebermos efetivamente quem desempenha esse papel odioso de poderoso autocrata, de ditador, de prepotente ainda que alguns deles, exuberantemente se aleguem de democratas. Democratas! Como se a democracia coubesse em todos os buracos! O único buraco onde ela cabe é na boca desses alarves para não ir mais longe. Mas como sabemos é pela boca que morre o peixe. Também é verdade que alguns desses governantes foram eleitos mais ou menos democraticamente. O problema é que depois de terem na mão o poder, este subiu-lhes à cabeça e passaram a usá-lo como entenderam e entendem, para seu proveito e só. Vejamos o que passa com os governantes da Bielorrússia, da Federação Russa, da Síria ou da Venezuela para simplesmente exemplificar alguns dos condenados. Sim, condenados, porque serão julgados mesmo depois de já serem condenados. Que ninguém duvide. O mal que têm feito aos povos que governam e não só, é demasiado evidente e terrível para não serem condenados. Pior, é que o mal que descarregam estende-se a mais países e mais povos que nada têm a ver com eles e não são culpados de nada para serem abrangidos pela sua arrogância, prepotência e ganância. Que culpa têm os ucranianos para serem es- magados pela arrogância e prepotência da Rússia? Quantos mortos e quantas cidades destruídas já assinam a sentença merecida da condena- ção de Putin? O que ganha com tudo isto esse governan- te ditador da Rússia? Sujeitou e está a sujeitar o povo russo a uma guerra que lhes infligiu já igualmente milhares de mortos. Pensa que tudo isto não tem consequências? Engana-se se pensa que não. Já está a ter algum retorno. Também convém não esquecer o que se passa em Israel. A condenação do primeiro ministro vem a caminho. E Maduro da Venezuela? Perdeu as eleições e não quer perder o poder. Não aceita as exigências esclarecedoras pedidas pela comunidade internacional,vai adiando a apresentação das atas que estão a ser “fabricadas” para enganar os incautos e justificar a sua permanência no poder, ameaçando com banhos de sangue se o empurrarem contra a parede. Até diz que não está disposto a entregar o poder a fascistas e ditadores. Francamente. Ele sabe que vai acabar por ser julgado e condenado. A sua permanência no poder, terá fim. Possivelmente mais rápido do que ele pensa. No dia em que o povo unido deixar de ter medo, ele cairá sem misericórdia do pedestal que criou.