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Falsehood

Fake news… De um momento para o outro uma expressão que não conhecíamos salta para o ar ou, como se diz agora, para o ciberespaço. E com o mesmo fascínio da rapaziada que se esfalfa para apanhar a cana de foguete caída no meio de umas touças, corremos sôfregos a apanhá-la para lhe chamar nossa, mostrarmos que estamos à la page e nada nos escapa do que se passa à nossa volta. O mesmo se poderia dizer de muitas outras, tais como austeridade ou crise.

No entanto nem ela nem aquilo para que aponta são realidades novas. A falsidade é parte inerente do mecanismo da vida. O predador tem que ser falso se quer apanhar a presa, e esta também se lhe quiser escapar. Se não fosse a falsidade nenhum de nós estaria aqui para tomar conhecimento dela. É certo que no universo humano o jogo do faz-de-conta se aprimorou de forma extraordinária. Curiosamente, chamou-se secretário à pessoa mais próxima do chefe porque o segredo, o fingimento, a astúcia, a mentira, andaram sempre estreitamente ligados a todos os tipos de poder. Mas não é necessário saber isto nem ir buscar sociedades ou polícias secretas, contrainformações, segredos de estado, de justiça e de família para o exemplificar porque, na verdade, nas nossas vidas pessoais quase todos vamos gerindo melhor ou pior diferendos confidenciais com a verdade.

Quando o velho Sócrates, há vinte e cinco séculos, fez a célebre recomendação “conhece-te a ti próprio”, estava no fundo a informar-nos de que por detrás das máscaras mais ou menos produzidas que exibimos existe outra realidade, muito mais verdadeira do que essa, que seria necessário conhecermos para conhecer (todo o universo). Portanto, assumia claramente que não somos o que parecemos, que as nossas vidas acabam por ser um teatro, uma representação.

Já mais perto de nós, em princípios do século que passou, um vienense de barbas brancas, Sigmund Freud de seu nome, foi mais longe. Jurou a pés juntos que o nosso comportamento é controlado por forças que desconhecemos, tão poderosas quanto irracionais. Era gravíssima uma das coisas a inferir das suas descobertas: a parte racional, consciente, não controla mais do que uma pequena porção dos nossos atos. Numa fórmula mais crua ainda, apenas somos senhores de uma parte reduzida daquilo que fazemos. Na época, a indignação e o escândalo não poderiam ser maiores, tanto assim que tudo foi feito para desacreditar, e depois esquecer, esse clínico de aspeto venerável. É que se tratava de uma machadada de vulto no orgulho de quem há muito se vinha denominando “animal racional” ou, com uma pompa que a ciência caucionava, “homo sapiens”. Mas pouco importou: a partir daí compreendeu-se que era extremamente difícil a um ser humano descobrir a sua própria verdade, quanto mais pretender atingir qualquer tipo de verdade. 

Todavia, já mil e novecentos anos antes, quando um dia tinham desafiado Jesus a que se definisse ele declarara simplesmente: eu sou o caminho, a verdade, a vida. Aquela palava do meio não deixa dúvidas de que ele via a fuga e a traição à verdade íntima como a fonte do padecimento humano, assim como a sua procura a única coisa suscetível de o poder salvar desse padecimento. E tendo em conta que também conhecia bem de mais a dificuldade da tarefa, tudo isso lhe inspirava uma infinita comiseração pelo ser humano.

De facto, a verdade pode provocar-nos calafrios. A sua recusa tem o potencial de nos fazer adoecer com gravidade. Quando por vezes ousa assomar sem ser chamada, desviamos a vista aterrorizados. Usamos de mil subterfúgios para lhe escapar. Criamos vidas que se situam entre a comédia, a farsa e a tragédia só para a esconder. Assassinamos se for preciso para que não seja conhecida e conste aquilo pelo qual a queremos substituir.

E então, no meio disto tudo, fake news... E toca de brincarmos com as duas palavrinhas novas como com um brinquedo que um tio trouxe do estrangeiro (quando os tios traziam brinquedos do estrangeiro). Virgem santa, chocarmo-nos por saber que há pessoas que publicam coisas falsas! Descobrimos então agora de repente que somos enganados, manipulados, instrumentalizados, coisa que sempre fomos e vamos continuar a ser. Mas não será isso apenas um simples retorno resultante de cada um de nós instrumentalizar, enganar, manipular?

O mel turístico e a regionalização

Afigurava-se-lhe que o seu currículo, até ali, demonstrava amplamente ser o candidato mais bem preparado para suceder ao detido Merlchior Moreira, no blasonado cargo de Presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal. Afigurava-se-lhe que a hegemonia da «sua» família socialista o iria apoiar e proteger de modo o exame eleitoral ser mero pró-forma, um aperitivo de vinho fino antes do suculento jantar de entronização. Raciocinava, era certo, que ninguém está na cabeça dos outros, ele próprio sabia quão volátil é palavra dada no circuito político, muitas recordações desse género guardava desde o seu primeiro mandato enquanto Presidente da Câmara de Miranda do Douro, benjamim posteriormente condecorado por Ramalho Eanes. Adiante!

Intensas e mastigadas palavras nos bastidores acordaram-no do sonho, avisaram-no da existência de outro candidato saído da mesma família, escorado na génese portuense, enfunado pela brisa do litoral, podendo reivindicar costado bragançano. E o currículo lembrou o sevilhano mirandês? Ora, o currículo! O rival foi deputado oriundo da Jota, coevo de Jamila Madeira, dele os anais parlamentares não rezam nada de relevante, ficaram as incursões nocturnas, no presente exerce burocraticamente um cargo na Torre dos Clérigos, estando a ler o dicionário e manuais de economia turística. Um espanto!

O transmontano sentiu um amargor a amolecer-lhe os cantos da boca, consequência de não ter sabido granjear outros esteios a sustentarem a sua propositura. O acontecido era grande culpa dos outros sem dúvida, mas também culpa dele e de quem lhe disse serem favas contadas. Saiu-lhe a fava, preta, favas tenras, verdinhas só na Primavera.

O Dr. Júlio Meirinhos teve de aceitar um lugar sem lustre num órgão consultivo, daqueles onde se colocam comendadores ao modo de jarrões de várias qualidades de louça, desde a porcelana ao barro de Pinela.

Lastimo este desfecho para o antigo membro do Leal Senado de Macau e Governador Civil de Bragança.

Este exemplo, mais um, cimenta a minha velha e firme recusa da regionalização a qual é muito querida nas bandas da Comissão Coordenadora e Desenvolvimento do Norte, cujo Presidente tal como Luís Braga da Cruz vê na dita regionalização a fórmula mágica capaz de num ápice resolver os problemas existentes no Porto e arredores, tal como Astérix derrubava romanos depois de ter tomado o xarope do druida.

O senhor professor Sousa tem todo o direito em erguer o pendão do regionalismo muito distante do outrora defendido pelo sincero amigo da sua região, refiro-me a Ferreira Deusdado, eu também ainda tenho o direito a defender posição contrária porque não sou do Norte, sou de Trás-os-Montes, parafraseando o meu saudoso amigo Afonso Praça.

Se tivermos em linha de conta as afirmações do Presidente da Câmara do Porto logo verificamos a sua disposição tentacular no princípio para o Porto tudo, para os vizinhos as migalhas, os acima de Baltar, nada. O senhor professor Sousa não navega em águas muito diferentes das do Dr. Rui Moreira, por tacitismo e realidade territorial procura atrair os autarcas do Nordeste, já os beira Douro é uma questão de pormenor, recentemente o município da Carrazeda de Ansiães transferiu-se dando a ideia de não estar só nesse propósito. Razão tinha o almocreve ao exclamar – onde há lúcaros, não há escrúpalos! – , por assim ser, repito o escrito durante a campanha do referendo: “os nordestinos ganham mais tendo como tutela o Terreiro do Paço, do que a Torre dos Clérigos”.

Enquanto do Professor Marcelo professar as dúvidas professadas no decurso de referendo estou descansado, o Senhor Professor Sousa terá de continuar a gritar até ficar rouco, o problema reside na possibilidade de o Presidente da República se converter tal como Rui Rio está (quase) convertido.

Eu sei, nós sabemos, da gula alfacinha, gula aumentada dada a insegurança e custo de vida noutras cidades europeias, apesar da voracidade lisboeta nós, os do interior, das serranias, do gelo, do fumeiro, dos lameiros primaveris, do Estio tórrido, do fumeiro, do folar, das trutas de pinta vermelha, os vindos do «reino maravilhoso», caso se interessem conseguem fazer medrar os seus direitos no seio da burocracia estatal. Inúmeros exemplos o atestam.

Os Nordestinos têm o dever de afirmarem a singularidade de terem chegado à capital desprovidos de padrinhos, de capital, de penduricalhos reluzentes, disfarçaram a pobreza estudando, afirmando-se, dizendo o evidente – podemos andar de socos, mas não somos brutinhos –, depressa demonstraram as qualidades de poderem ser burros, nunca de jericos. Entendem caríssimos capatazes do Porto?

Várias vezes, nestas colunas, critiquei Melchior Moreira, a crítica residia no facto de o antigo deputado privilegiar a «aulazinha» dos tempos de S. Bento em detrimento do Nordeste, na dele contava o litoral dos votos, o rio do vinho generoso e as arribas fronteiriças. Saiu sem honra e glória.

O noviço Presidente pode ribombar feliz e contente, porém não se esqueça de Marco Aurélio e a efemeridade da glória. Trago a terreiro Marco Aurélio porque os seus comentários filosóficos continuam na ordem do dia, caso queira conselhos acerca da política turística faça o favor de rumar até Delfos, o oráculo continua difuso e intrigante.