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António Pinto apadrinha VIII Grande Prémio Marcelo de Azevedo

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Ter, 17/04/2018 - 15:40


Vai para a estrada, no domingo, o VIII Grande Prémio Marcelo de Azevedo, em Vila Flor. A prova homenageia Marcelo de Azevedo, um jovem que faleceu em Vila Flor e cujos pais, a viver no Brasil há cerca de 50 anos, continuam a apoiar o evento. 

Levante-se

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Sabia que Eça de Queiróz escrevia sempre de pé, porque isso aumentava a sua criatividade?
 

NÓS, TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - Tomás Lopes (n. Carção, 1694)

Geralmente, a entrada da inquisição numa terra era seguida de fugas para outros sítios e, sobretudo para o estrangeiro. Em Carção, ao contrário, parece que eles teimavam em ficar e apenas se conhece um ou outro caso de fuga.
Regista-se também, na generalidade das terras, que a inquisição, a mais curto ou longo prazo, conseguiu nelas extirpar “a heresia judaica”, ao menos na aparência, já que em matéria de religião, nunca “uma guerra” se ganha. Pois, em Carção, os filhos, os netos e os bisnetos… ao longo de gerações, continuaram “a luta” de seus pais, avós e bisavós… na resistência à inquisição. Ao contrário de outras terras Trasmontanas, em Carção a “vacina” do santo ofício nunca surtiu efeito e os Carçonenses nunca deixaram de resistir.
A família de Tomás Lopes é disso um exemplo. Outros poderíamos apontar. Por agora fiquemos com seu bisavô, Belchior Lopes, curtidor, nascido por 1615. Foi preso na primeira grande investida da inquisição, em 1664, juntamente com sua mulher, Ana Rodrigues e o genro, Tomás Lopes, regressando a Carção vestidos com o ignominioso sambenito, em março de 1667. (1)
Trinta anos depois, nas grandes levas da década de 1690, foram arrebanhados pelo santo ofício uns 130 Carçonenses. Entre os prisioneiros contaram-se então 5 filhos (as) e 5 genros (noras) de Belchior Lopes. (2) Destes, a filha, Francisca Lopes e a nora, Isabel Luís, a bonita, de alcunha, foram queimadas nas fogueiras do auto da fé de 25.11-1696. (3)
Quando alguém era condenado à morte, a inquisição mandava pintar o seu retrato e escrever o nome em um sambenito que era enviado para a terra do condenado e pendurado na parede interior da igreja matriz. Ficava ali, como bandeira sempre hasteada, para lembrar a ignomínia dos judeus e “domar a soberba dos cristãos-novos”. Era a maior humilhação que podiam sofrer os filhos, netos e bisnetos… dos condenados.
Imagine-se o que sentiriam os netos de Belchior Lopes, quando assistiam à missa dominical e olhavam para aqueles retratos de seus tios, cônjuges, pais ou irmãos!
Outra humilhação foi lançada sobre os cristãos-novos de Carção pelo bispo de Miranda, João de Sousa Carvalho, proibindo-os de servir no cargo de juiz da igreja. E tal proibição terá acontecido exatamente quando o pai de Tomás Lopes ocupava o lugar. E a vara de juiz ter-lhe-á sido ostensivamente tirada da mão pelo pároco, à frente de toda a gente, na missa dominical.
Resilientes, os cristãos-novos de Carção recorreram às justiças eclesiásticas superiores e conseguiram a reversão do decreto do bispo Sousa Carvalho e, em cada ano, revezavam-se no cargo cristãos-velhos e novos. E o primeiro cristão-novo que foi nomeado para o cargo de juiz da igreja foi exatamente o bisneto de Belchior, o nosso biografado Tomás Lopes, no ano de 1721. Tinha então uns 27 anos, era casado com Brites Luís, pai de 4 ou 5 filhos e seria já o homem mais rico da aldeia, morando na casa que fora de Jorge Lopes Henriques que a vendera quando foi para Livorno ao referido bisavô de Tomás.
Uma das obrigações do juiz era manter a igreja limpa, as vestimentas lavadas, os utensílios cuidados e, no dia do orago, ornamentar o templo e pagar a festa.
Pois, nunca em Carção se tinha visto a igreja tão bem ornamentada, com as paredes todas cobertas de papel e seda e brilhantes, como naquela festa! Tudo à conta do juiz Tomás Lopes que até contratou um pintor de Sambade para dirigir os trabalhos.
Particularmente satisfeitos estariam os cristãos-novos da terra que, pela primeira vez, podiam assistir à missa e ouvir o sermão sem ter de encarar os retratos dos relaxados da inquisição, que eram cerca de 20, tapados que estavam com os ornamentos. (4)
Passada a festa e desmontada a decoração, verificou-se que tinham desaparecido 6 ou 7 daqueles retratos, o que não terá motivado qualquer celeuma, não constando que o abade se tenha importado com isso.
Anos depois foi juiz da igreja um primo segundo de Tomás Lopes, chamado Belchior Rodrigues de Lucena e desapareceu a maior parte dos retratos. Os últimos 2 seriam tirados quando o juiz foi Roque Rodrigues da Praça, outro primo segundo de Tomás Lopes, filho da “Bonita”.
No dia de Santo António de 1736, no decurso de uma récita teatral realizada no largo da aldeia, um pastor lançou a seguinte trova:
Graças a Deus para sempre
Agora fará um ano
Que na nossa igreja posta
Naquela parede toda
Ainda se via estopa
E agora por desgraça
Nem uma que ali se topa.

Era o rastilho a atear a pólvora! Logo o roubo dos sambenitos da igreja de Carção se transformou em notícia que correu por toda parte e chegou a Coimbra. Era o maior dos crimes, uma facada na própria inquisição.
De imediato foi ordenada uma devassa, conduzida pelo comissário Pedro da Fonseca Carneiro, abade da igreja de Bouçoães, termo de Valpaços. Confirmada a notícia, mandaram os inquisidores ao comissário António Luís Noga, reitor da matriz de Alfândega da Fé promover uma investigação mais profunda, no sentido de se descobrir os autores dos roubos e a finalidade dos mesmos. Sim, que o receio maior era que os sambenitos fossem usados pelos cristãos-novos como objetos de culto, à imagem do que faziam os cristãos com as relíquias dos santos.
A este respeito, ficariam os inquisidores sossegados, pois nenhum indício apontava para um tal objetivo, já que as vagas notícias colhidas apontavam para os restos de uns retratos que teriam sido vistos enterrados numa vinha e outros metidos debaixo da albarda de um burro. Apenas um Manuel Marinho afirmou que, ”viu ele testemunha em um buraco da parede da casa do banho de Tomás Lopes uma estampa das que estavam na igreja (…) mas passado coisa de 3 horas a quis ele testemunha tornar a ver, já a não achou na mesma parte”.
Sobre os autores materiais do furto, não se encontraram provas concretas e indesmentíveis. Mas todos apontaram que o responsável primeiro foi Tomás Lopes, acompanhado por 4 familiares. (5) Compreende-se a presunção, na medida em que foi com o juiz Tomás Lopes que desapareceram os primeiros retratos; foi em sua casa que alguém disse ter visto um sambenito e ele era o principal entre os cristãos-novos da terra. Ele próprio, aliás, se incriminou, dirigindo-se a Coimbra, ao tribunal, a queixar-se da parcialidade da devassa conduzida pelo comissário Noga e propondo-se pagar do seu bolso uma nova devassa em que fossem ouvidas pessoas indicadas por ele próprio. Que atrevimento!
Obviamente que logo foi mandado prender, seguindo o seu processo os trâmites normais. Não vamos analisá-lo, pois o espaço não permite. Diremos que acabou condenado em 5 anos de desterro para a vial de Cabeção, arcebispado de Évora. Condenado ainda nas custas do processo e nas despesas a haver com a reposição dos sambenitos na igreja de Carção.
Foi a tarefa encarregada ao familiar do santo ofício José da Guerra e Faria que se fez acompanhar do notário Francisco Geraldes da Guerra. Não sabemos como ele houve os sambenitos, já que da generalidade dos que foram roubados se perdeu o rasto. Porventura foram feitos novos retratos, a partir dos originais que se conservariam em Coimbra? Apenas temos a ata certificando que foram pendurados 15 retratos e o nome dos retratados, no dia 27-12-1744. (6)

Notas:
1-Para além de curtidor e agricultor, Belchior Lopes era o responsável pelo fornecimento do pão às tropas aquarteladas na região, trabalhando com o seu irmão Baltasar Lopes de Oliveira, que era o representante, em Trás-os-Montes, da firma dos argentários Mogadouro. Quando foi preso, tinha no “celeiro”, em Carção, uns 400 ou 500 alqueires para o efeito. No mesmo auto, com Belchior Lopes, saíram penitenciados 19 réus de Carção. – ANDRADE e GUIMARÃES – Carção Capital do Marranismo, ed. Associação Cultural dos Almocreves de Carcão, Associação CARAmigo, Junta de Freguesia de Carção e Câmara Municipal de Vimioso. 2009.
2- ANTT, inq. Coimbra, 5509C, de Belchior Lopes; pº 5502, de Ana Rodrigues; pº 607, Baltasar Lopes; pº 6652, de Isabel Dias ; pº 8894, de Gaspar Rodrigues; pº 6731, de Isabel Luís, relaxada; pº 4633, de Francisco Lopes; pº 3860, de Francisca Lopes, relaxada ; pº 5204, de Luís Lopes; pº 2703, de Catarina Lopes; pº 394, de Francisco Rodrigues, sargento; pº 9453, de Manuel Jerónimo Pires.
3-Neste auto, saíram 88 pessoas, sendo 43 de Carção; foram 14 os relaxados em carne, 12 deles de Carção e 5 relaxados em estátua, sendo um de Carção.
4-Os números não coincidem, variando entre os 18 e os 30. Nós inventariamos 19 relaxados em Carção.
5-Os outros responsáveis indicados foram 3 netos de Belchior Lopes: (Belchior Rodrigues Lucena, Roque Rodrigues da Praça, Miguel Luís) e um Jerónimo Álvares, genro de Miguel Luís. Todos foram condenados em desterro.
6-ANDRADE e GUIMARÃES – A reposição dos sambenitos roubados na igreja de Carção, in: revista Almocreve 2012, pp. 48-53.

Em defesa da alma

Quando em 2015 me propus colaborar regularmente com este jornal, desconhe-
cia por completo quanto tempo duraria a parceria, nem tão pouco qual o rumo das temáticas a abordar. Tive algum receio, admito, mas segui em frente. Recordo, no entanto, que o único propósito que assumi para comigo foi o de nunca escrever sobre assuntos relacionados com a igreja católica. Parece que, mais uma vez, o “nunca digas nunca”, levou a melhor e vejo-me na iminência de quebrar a promessa.
Em Semana Santa, um jornal italiano publicou uma suposta entrevista com o Papa Francisco, onde terá dito que o Inferno não existe e a alma pecadora apenas se encontra afastada da presença de Deus. Isto terá bastado para que a comunicação social fizesse eco das supostas palavras e o Vaticano viesse desmentir o La Republica e o jornalista Eugenio Scalfari dado este não usar apontamentos nem gravador nas entrevistas que realiza. Mas, mais uma vez, o foco situa-se no acessório deixando o que é fundamental para um mundo onde alguns dizem que a espiritualidade aumentou mas diminuiu a religiosidade, e eu digo que a cultura religiosa, se é que existiu alguma vez, está extinta e, porque a tradição deixou de fazer sentido, qualquer afirmação que soe a estranho se é replicada, também, com a mesma rapidez, é contestada.
Ora se a metáfora do fogo infernal se impôs ao longo de séculos e povoou o imaginário que traduziu nas mais belas expressões artísticas uma determinada visão de uma realidade transcendente, também há quem entenda que a imagem bíblica é para ser levada à letra. Esta realidade designada por sheol em hebraico, hades em grego ou infernus em latim designa nas três culturas uma mesma realidade de afastamento da Luz e de sofrimento porque a alma privada do contato com Deus não consegue, portanto, realizar-se. Por isso, sem grandes teologias ou filosofias, e com toda a humildade científica que me assiste, mesmo que o Papa Francisco tivesse feito tal afirmação não me parece que tenho colidido com os ensinamentos da doutrina católica, podendo, simplesmente, ter beliscado a memória cultural de alguns que agarrados ao passado o tomam como presente.
Mais preocupante é, quanto a mim, o facto de, no seio da igreja haver tanta contestação a tomadas de posição a Bergoglio enquanto arcebispo de Buenos Aires, e agora como Papa, chegando a haver páginas da internet, identificadas como de inspiração católica, que o apelidam de antipapa com base nas suas ações ecuménicas e nas palavras proferidas, nomeadamente, quando se refere a judeus e muçulmanos, na continuação do que preconizava o concílio Vaticano II, nos idos de 1962. Ora se nem o próprio Cristo agradou a todos e foi traído por um entre apenas um punhado de crentes, não admira que, sendo agora milhões, o seu representante na terra seja alvo de censura por parte dos que dizem crer.
Também por cá os exemplos se vão repetindo, sendo que, não atingindo a profundidade teológica dos iluminados vaticanistas, a censura fica-se mais pela perspetiva ideológica, construindo epítetos que vão desde “bispo vermelho” em alusão a D. Manuel Martins ou “frade cripto-comunista” por referência a Frei Bento Domingues, quando e porque, segundo ele, mais do que a divisão entre católicos e ateus, é necessário pensar no que se encontra entre opressores e oprimidos.   
Em abono da verdade, as maiores preocupações da igreja católica não serão os ateus, os agnósticos ou as outras religiões e seitas que vão ocupando o espaço que esta deixou, ao que parece envolta em querelas internas. Lamenta-se que quem as alimenta se tenha esquecido do que Marcos adverte: “se um reino se dividir não pode subsistir” e mais significativo do que a forma é o conteúdo. E porque tão esquecidos andamos do que é a verdadeira igreja, permita-se recordar as sábias palavras de D. António José Rafael que, com a frontalidade tão caraterística, repetidamente advertia: “a igreja é vida, e a vida ou se renova ou morre…”.
Da minha parte, prefiro sentar-me à mesa com todos, orar com a minha igreja e sentir a vida com todos os irmãos, crentes e não crentes, brancos, negros ou amarelos porque, enquanto não nos provarem para onde se vai verdadeiramente, o melhor será acreditar no Deus de nossos pais… pelo menos dá esperança.

 

O capital não tem pátria e a corrupção não tem partido

Tudo que de relevante acontece no Brasil é acompanhado em Portugal como se de uma telenovela se tratasse. E não é só porque os meios de comunicação social internacionais, e os portugueses em especial, lhe dão particular importância mas também por um visível fenómeno de afectividade histórica.
Para lá de que o Brasil continua a ser o maior país onde se fala a universal língua de Camões, ainda que desgraçadamente adulterada, e também porque as relações familiares ancestrais entre portugueses e brasileiros continuam a ter forte peso social e económico. E político, naturalmente.
Não é de estranhar, portanto, que os monumentais casos de corrupção que ocorrem no Brasil tenham especial relevância para os portugueses, até porque o Regime reinante em Portugal também se encontra atolado em escândalos que parecem não ter fim.
A prisão de Lula da Silva como corolário de um demorado processo judicial conduzido por alargado número de investigadores e tratado por vários tribunais qualificados, representa um sério aviso, mais um, para todos aqueles que se julgam acima da lei ou se sentem protegidos pelo sistema. E também constitui uma lição exemplar para a classe política portuguesa que continua a menosprezar o papel da Justiça na democracia.
Não é preciso ser-se conhecedor de ciências políticas e jurídicas para justamente se compreender que o Regime político português está mais próximo das pseudodemocracias russa, chinesa e latino-americanas em que a corrupção e o nepotismo são lei, do que das verdadeiras democracias do mundo livre.
Em Portugal os processos judiciais que envolvem rufiões políticos e financeiros são quase sempre inconclusivos ou postergados indefinidamente, enquanto políticos e magistrados do topo da hierarquia fazem discursos eloquentes em actos solenes, por mero exercício intelectual ou evidente hipocrisia política, já que a reforma da Justiça continua a marcar passo e a moralização da vida pública não passa de letra morta. Em matéria de corrupção Portugal e Brasil são, sem dúvida, países irmãos.
O povo português, porém, já não vai em cantigas e sabe muito bem que o capital não tem pátria e a corrupção não tem partido. Por isso exige a todos os governantes indiscriminadamente que não se limitem a bem governar mas que igualmente o façam com honestidade. Santo que seja quando peca deixa de o ser.
Não é de admirar, portanto, que a opinião pública prevalecente em Portugal seja que, na democracia portuguesa, o crime político e a corrupção de Estado continuam impunes e a compensar. É de esperar, por tudo isso, que a actuação corajosa e pertinaz do juiz Sérgio Moro também se repercuta positivamente do lado de cá do Atlântico.
Sobretudo agora que já vai adiantado o processo Marquês, cujas semelhanças com o processo Lava Jato são mais do que evidentes, ainda que a opinião pública não esteja tão dividida em Portugal como no Brasil.
Cá como lá, é de lastimar que governantes destacados quando acossados pela Justiça lancem mão, em desespero de causa, de argumentos e artifícios políticos e populistas à falta de outros melhores. É o caso de Lula da Silva e do seu partido que pretenderam anular a Justiça com uma estrondosa golpada que não teve, até ver, o sucesso esperado mas que, tudo leva a crer, vai prosseguir.
Também o processo Marquês se prefigura como a verdadeira prova de fogo da Justiça portuguesa. Esperemos que em Portugal não haja lugar a golpadas políticas, públicas ou sub-reptícias, e que deixem a Justiça funcionar plenamente sem constrangimentos ideológicos e partidários.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.