Vitória expressiva e convincente
Ter, 10/04/2018 - 14:59
As brigantinas venceram e convenceram. A formação treinada por Paulo Touças aliou a vitória a uma exibição positiva.
Ter, 10/04/2018 - 14:59
As brigantinas venceram e convenceram. A formação treinada por Paulo Touças aliou a vitória a uma exibição positiva.
Ter, 10/04/2018 - 14:58
Na cerimónia foram homenageadas todas as direcções do clube desde 1978 até à actualidade. Também Mário Damasceno foi distinguido já que foi um dos impulsionadores do projecto, em 1977, liderando uma direcção provisória.
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Ter, 10/04/2018 - 14:55
Mais importantes que os resultados são a experiência, o convívio e o enriquecimento desportivo e pessoal quer de atletas, treinadores e directores das selecções distritais.
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Ter, 10/04/2018 - 14:52
É já nos dias 21 e 22 de Abril que vai para a estrada a I Volta ao Nordeste. Trata-se de uma competição inédita no distrito de Bragança organizada pela Associação de Ciclismo (ACB) em parceria com seis municípios.
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Ter, 10/04/2018 - 14:50
A formação de escolares do CAB fez o pleno na viagem à Madeira no V Torneio de Hóquei em Patins do C.D. São Roque. Os brigantinos terminaram a prova só com vitórias nos cinco jogos realizados: 12-0 São Roque, 4-1 HC Madeira, 1-16 C. Albergaria, 0-4 GD Estreito e 2-1 Azeitonense.
Foi no passado dia 2 de Fevereiro que um grupo de cidadãos do País proclamou, “urbi et orbi”, a sua constituição em Movimento pelo Interior para estudo e resolução das questões de interioridade. (Parecia que se tinham constituído assistentes de um hipotético processo “Interior versus Estado”, que aquele moveu a este por reiterada denegação de Justiça por acção ou omissão desde 1976 até à actualidade.) O dito Movimento é constituído por 2 autarcas, três professores de Politécnicos e dois empresários. A estes “Cavaleiros do Apocalipse” juntou-se, por fim, Silva Peneda e entende-se mal porquê, por duas razões: 1.º – se é para mostrar que não sabe, é redundante, escusava de lá ir; 2.º – se é para mostrar que sabia, fica-lhe mal porque já o podia ter evidenciado quando ocupou cargos de poder.
O dito Movimento diz que vai reunir mais vezes para esclarecimento e recolha de contributos que relevem e depois dessa ronda compromete-se a apresentar 6 medidas que serão as panaceias para os males da desertificação, interioridade e abandono. Porquê 6? Sem fazer um levantamento, sem definir objectivos, sem avaliar das necessidades e sem as valorar, sem programar e calendarizar estratégias, como sabem que são 6 medidas? Ou será que as 6 medidas já pertencem à “Lei Mental” e só é preciso arranjar justificação para a sua formalização? Um pouco em jeito daqueles concursos em que o ganhador já se sabe quem é. Lendo o artigo de Jorge Nunes verifica-se que as 6 medidas já existem faltando apenas arranjar interioridade e desertificação que as justifiquem.
Olhando para a constituição do Movimento entende-se bem a presença do Sr. Nabeiro, um patriarca que investiu na sua terra, como uma tentativa de conquistar outros pelo seu exemplo. Suponho que a presença do Sr. Fernando Nunes, presidente da Visabeira terá a mesma explicação. Os três homens dos Politécnicos estão lá por duas razões: uma é conferir o estatuto científico às conclusões que o Movimento produzir (uma espécie de caução de qualidade); outra é na qualidade de parte interessada porque a diminuição da população pode pôr os Politécnicos em risco. Pois bem, as partes interessadas nunca foram aquelas que produziram melhores raciocínios. (“Não é grande Juízo aquele que é só de Capelo que não de Borla” A. Perdigão) Mas quem eu não aceito nessa Comissão, são os autarcas. Os autarcas são parte interessadíssima no processo. Portanto que façam como quiserem, que se constituam em lobby ou que de qualquer outra maneira lutem pelos seus interesses mas que não se escondam detrás de um Movimento pretensamente científico que irá concluir aquilo que eles querem concluído. Assim, não!
Álvaro Amaro, da C.M. da Guarda e Rui Santos da C.M. de Vila Real são os autarcas do Movimento. Álvaro Amaro, com uma entrada de leão, disse que vão propor ao Governo “medidas radicais, até mesmo violentas”. Um outro, Jorge Nunes, ex-autarca de Bragança que não pertencendo à Comissão Instaladora do Movimento, apareceu agora na figura de pivot com um longo artigo no Jornal Nordeste e tem por lema propor “políticas de ruptura”. Não sei o que isso é como também não sei o que são “medidas violentas” mas uma análise ligeira à demografia dos concelhos que eles geriram ou gerem talvez nos explique a razão destes chavões sindicalistas de mau gosto. Assim: fazendo uma análise comparativa entre os anos 1981 e 2011 das populações dos concelhos e das respectivas sedes temos:
Uma conclusão é mais ou menos óbvia: todas as sedes de concelho aumentaram a população enquanto a parte rural perdeu, com especial incidência no caso de Bragança. Repare-se que o concelho de Bragança manteve mais ou menos a mesma população mas a cidade de Bragança teve um acréscimo de mais de 7500 pessoas. Logo, a parte rural do concelho perdeu mais de 7500 habitantes. Todas as sedes de concelho parasitaram o resto do concelho assim como o litoral parasitou o interior. Rigorosamente igual ao que se passou no País. Logo, se entendermos a mobilidade demográfica para o litoral como razão das políticas dos sucessivos governos, assim podemos concluir que as causas próximas da desertificação da parte rural destes concelhos se devem, pelo menos em parte, às políticas dos seus Presidentes de Câmara. De que se queixam então? Para quem virar as “medidas violentas” e as “políticas de ruptura”? E enquanto aquele discurso saloio sobre o despesismo lisboeta com as auto-estradas, com as travessias do Tejo, com a Expo, com o Europeu de Futebol, com o Centro Cultural de Belém, com o Aeroporto e com o TGV ia subindo de tom, nós cá íamos fazendo o Polis, o Procom, o Teatro, o aeródromo, o centro comercial, o conservatório de música, o parque de estacionamento subterrâneo, o Museu da Ciência Viva, o Museu Militar, o Museu da Máscara, o Museu da Judiaria, o Brigantia EcoPark, o Mercado Municipal, o Shopping, o auditório Paulo Quintela, o Centro Graça Morais, o parque de desportos radicais, o parque de campismo, as piscinas, os multiusos, a arena, o terminal de camionagem, o Politécnico e nem todos isentos de tiques provincianos de megalomania e de novo riquismo. (curiosamente os dois únicos espaços de lazer no Verão, as nossas duas “praias”, a presa de Oleirinhos e o Rebolo, foram desactivadas). Claro que ao “cheiro desta canela” o concelho se despovoou. Mas, perguntarão: então estas obras não eram necessárias? Embora tenha muitas reservas em relação a muitas delas, direi que sim. Mas a questão que aqui se põe é que o Estado dentro do quadro de procedimentos que adoptou não só permitiu como contribuiu para que aquelas obras se fizessem. Não tem, pois, cabimento a queixa, já insuportável, da falta de obras no interior em contraponto ao seu excesso no litoral. Melhor fariam que se penitenciassem dos gastos autenticamente despropositados e irracionais com o saneamento e ETAR(s) em aldeias onde era já previsível a drástica redução da sua população. (lembro que os bairros das Antas no Porto tinham na fossa séptica a sua solução sanitária quando já nós aqui exibíamos emissário de esgotos e ETAR na aldeia mais recôndita.) Hoje temos uma série de equipamentos, que o bom senso diria para não serem feitos, sem serventia. Estes gastos podem contabilizá-los na rúbrica de “esbanjamentos”.
E como consegue falar Nunes do municipalismo como factor de coesão nacional? Então o fosso entre aldeias e cidade não se alargou desmesuradamente nos últimos tempos? E onde foram feitos os investimentos de monta? Nas aldeias ou na cidade? Como se vê o municipalismo promoveu não a coesão social mas sim a sua diferenciação nos limites territoriais da sua influência. Mas é entre municípios vizinhos que essa “coesão” é mais visível. Todos estamos lembrados de um episódio que não teve importância mas revelador. Foi assim: quando os Serviços do Ambiente, depois de chumbarem o projecto da barragem de Veiguinhas, sugeriram como alternativa para o abastecimento de água a Bragança a água da barragem do Azibo, a Câmara de Macedo de Cavaleiros opôs-se frontalmente, numa atitude de um egoísmo e de falta de solidariedade que chocou. Por aqui se vê como o municipalismo está na vanguarda da defesa da coesão nacional. Outro bom exemplo da defesa da coesão nacional é, rigorosamente, aquilo que vocês, os do “Auto proclamado Estado do Interior”, estão a fazer ao país com a criação de dois tipos de municípios. Mas onde V. vão ver o que é coesão Nacional é quando forem fazer a delimitação dos espaços, litoral e interior. Estamos ansiosos.
De qualquer forma a desertificação das aldeias é um corolário lógico do desenvolvimento. Não tem nada de dramático. Dramático é ver dramatizar estes avanços civilizacionais criando um caldo de cultura para atitudes que ainda não sabemos bem o que são. O que são as “políticas de ruptura” e as “medidas radicais, até violentas” e o que se pretende com isso? De toda a maneira a aldeia acabou porque está a acabar a agricultura de subsistência, essa “arte de empobrecer alegremente”. Hoje, eles querem os filhos a estudar e acham que há mais vida para além da agricultura. Doravante o perfil tipo do agricultor é o de um empresário agrícola, que só faz 2 ou 3 culturas em que é especialista, mecanizado a 100%, vive na sede de concelho e faz férias. E os filhos quando chegam a casa já não vão ordenhar a cabra nem vão à erva para os coelhos. Os filhos depois das aulas vão para a música, para o desporto ou para as explicações. E isto é incompatível com a aldeia. Aldeia, jamais. Não sei o quis dizer Jorge Nunes com “É preciso apostar nas explorações familiares viáveis, agrícolas, de pastorícia…” mas parece-me um completo “non sense” aconselhar alguém a um regresso a um passado de que todos fugiram. Fico, até, sem saber que país querem alguns. Será que querem o Portugal dos anos 60 em que mais de 40% da população activa trabalhava na agricultura e que por isso teve de exportar milhão e meio de portugueses para França? Ou quererão um país moderno, evoluído onde a população activa na agricultura é pouco mais que residual? Repare-se que actualmente em Portugal ainda temos 6,3% da população activa a trabalhar na agricultura mas em França só já são 2,1% e nos Estados Unidos 1,2%.
Acho que toda a gente tem mais ou menos interiorizada a ideia que a aldeia, tal como a registámos, findou. Insistir na ideia que aquele espaço bucólico dos “Simples” de Guerra Junqueiro se pode manter e perpetuar se não é grotesco é pelos menos ridículo. Mas esse discurso cala fundo e tem os seus efeitos naqueles para quem “minha aldeia é todo o Mundo…”, para quem o sentimento suplanta em muito a razão. É ver a quantidade de casas novas, em aldeias desertificadas, que não têm qualquer serventia nem para os proprietários nem para a aldeia nem para o país mas que em muitos casos representam as poupanças de uma vida. E esse discurso não deixa de ter, aí, responsabilidades. Insistir na ideia da manutenção da ruralidade só já entendo como a maneira de preservar aquilo que alguém chamou, um dia, de “reservas morais da Nação” como último reduto de uma aspiração política.
Em relação aos fluxos migratórios para o litoral ou para as grandes cidades não sei como é que o Movimento pensa estancar ou mesmo inverter esta tendência. Isto porque segundo dados publicados pela ONU, em 1950 viviam 746 milhões de pessoas em cidades. Em 2014 esse número ascendeu a 3,9 mil milhões. Em 2014, 54% das pessoas eram urbanas e espera-se que em 2050 sejam 66%. Também diz que em 1990 153 milhões de pessoas viviam em 10 megacidades e em 2014 são 453 milhões a viver em 28 megacidades. Estes números revelam fluxos migratórios resultantes de dinâmicas sociais lentas, inexoráveis mas sempre no mesmo sentido. Serão invertíveis?
Uma das propostas avançadas no artigo de Jorge Nunes é a da discriminação fiscal positiva para o interior. Fixemo-nos nas reduções de 30% no IRS. A proposta de redução de 30% do IRS parece-me pouco menos que uma “boutade” que só a demagogia ou o populismo conseguem aceitar. Se não, vejamos: os trabalhadores por conta de outrem vencem por tabelas Nacionais. Quer sejam da função pública quer tenham contractos de trabalho individuais ou colectivos. Nesse aspecto os de cá estão como os de lá. Onde não estão iguais é no cabaz de compras (conjunto de bens essenciais cujo custo nos dá a indicação do custo de vida). Ora o cabaz de compras do interior é muito mais barato que o das grandes cidades com especial relevância para as rúbricas “habitação” e “transportes”. Como se vê, nesta matéria, a desigualdade é favorável ao interior. Além disso o IRS é um imposto progressivo. E os impostos progressivos são a menina dos olhos da fiscalidade em democracia porque neles está explicita a preocupação pela equidade e pela tentativa de redução do fosso que separa os rendimentos de uns dos dos outros. Fazer um corte cego, ainda por cima proporcional, é subverter completamente a filosofia da fiscalidade moderna. E já agora pergunta-se: porquê fazer uma redução no imposto a pagar por um alto funcionário do Estado ou um empresário de sucesso que residam em Bragança em detrimento de um empregado têxtil do Vale do Ave ou um merceeiro de bairro dos Guindais?
O esquema vacinal tem como objetivo obter a melhor proteção, na idade mais adequada e o mais precocemente possível. No Olho Clínico deixamos-lhe dicas importantes sobre a importância da vacinação para a sua saúde e para a saúde da sua família.
Ter, 10/04/2018 - 10:16
Olá familiazinha!
A nossa gente está em pulgas para começar a trabalhar nos escritórios da terra, mas como a seca foi grande e as orações para que chovesse foram muitas e a todos os santos, agora se cada um fizer chover um dia, ainda vamos ter chuva para dar e vender…
Na última semana tivemos os relatos diários e em directo do nosso tio Hélder Magnífico, de Braga, que foi a pé a Santiago de Compostela com mais dois amigos, o Hélder Sequeira e o Carlos. Todos os dias nos mantinham informados de como estava a decorrer a sua peregrinação. De Braga a Santiago percorreram 190 quilómetros em cinco dias, chegando à catedral de Santiago no dia 5 de Abril, quinta-feira, às 16:30 horas, momento que também quiseram partilhar comigo através de telemóvel. Muitos foram os tios e tias que os animaram com as suas mensagens de apoio, canções e músicas, para que o caminho não lhes rendesse tanto. Ouviram-nos diariamente durante a sua peregrinação pelos caminhos de Santiago.
No dia 6 de Abril também compartilhei as minhas Bodas de Crisopázio (27 anos de casado) com a nossa família, que nos encheu de mimos e nos desejou que “sempre dure o pão da boda”. Bem haja a todos por fazerem parte da nossa vida.
Estiveram de parabéns a senhora minha sogra, a nossa tia Sarinha (66), de Caravela (Bragança); a tia Maria Alice (97), de Podence (Macedo de Cavaleiros); as duas maninhas, Fátima (53) e Ana Maria (57), de Vale de Lamas (Bragança); Manuel Farruquinho (62), de Coelhoso (Bragança), emigrado em França; o tio Carlos Andrade (80), de Valongo dos Azeites (S. João da Pesqueira); a tia Etelinda Bastos (59), de Bragança; a tia Catarina Freitas (83), de Caravela (Bragança) e a tia Antónia (69), de Deilão (Bragança). Para todos muita saúde e que coza o forno e o pão seja nosso.
Num aglomerado populacional pequeno e remoto, como era Carção no século XVII, o papel do barbeiro era muito importante e para exercitar a função era necessário ser encartado por alvará régio, antecedido de exame após longa aprendizagem com um mestre. E a função do barbeiro não se limitava, como hoje, a cortar cabelo e barba. Competia-lhe também fazer sangrias, aplicar mezinhas e outros curativos, coisas que hoje pertenceriam a um enfermeiro.
Nascido em Izeda, Domingos Oliveira foi levado em criança para Carção onde os pais e avós o terão iniciado no judaísmo. Jovem ainda, rumou a Castela, fixando-se no lugar de Pobladura d´el-Valle, terra de Benavente, onde assistiu 6 ou 7 anos.
Não sabemos se foi em Carção ou Castela que aprendeu a barbeiro e supomos que fosse a oportunidade de exercer o ofício que o fez regressar a Carção. Vivia-se ali, ao tempo, um clima de terror, com a aldeia a ser varrida por uma vaga de prisões lançada pela inquisição. Tal como o pai, a mãe e os dois irmãos mais velhos, Domingos tomou então a iniciativa de se ir apresentar no tribunal de Coimbra, onde chegou no dia 22.10.1667. Depois de ouvido, foi mandado regressar a Carção, sendo chamado depois para ser reconciliado no auto da fé de 14.6.1671, em cárcere e hábito que lhe foi tirado depois de abjurar. (1)
Regressado a Carção e contando já uns 26 anos, Domingos decidiu casar, com sua prima Maria da Costa. Para isso necessitava de dispensa papal, que podia mandar pedir. Decidiu, porém, ir ele próprio a Roma buscá-la. Durou a viagem mais de meio ano, aproveitando ele para visitar muitas terras e comunidades hebreias, de França e Itália, (2) muito especialmente a cidade de Livorno onde terá permanecido mais tempo, com frequência da sinagoga e instrução específica na lei de Moisés. De Livorno terá trazido um livro de orações e textos bíblicos, com uma “tabuada perpétua” que lhe permitia saber o calendário judaico das festas e dias de jejuns.
António Ortuño, um mercador castelhano estabelecido em Bragança, depois de contar que foi a casa de Baltasar Oliveira a vender ferro, acrescentou:
- Seu filho disse a ele confitente se queria ouvir e ver um livro, que havia de folgar de ver que trouxera de Livorno (…) e dizendo ele confitente que sim, tirando o dito Domingos Oliveira do forro dos calções um livro de meio quarto, com 3 dedos de altura e abrindo-o leu nele algumas orações, uma das quais se chamava Shemá e outra Midá e outra sacrifício de Abraão… (3)
Depois que o santo ofício entrara em Carção, nos anos 60, a terra parecia vacinada contra a heresia judaica. Porém, 20 anos mais tarde, ao final da década de 80, começaram a chegar a Coimbra notícias alarmantes, dando conta do extraordinário crescimento religião mosaica. E Domingos de Oliveira era geralmente apontado como sendo o oficiante das cerimónias realizadas em casas diversas, feitas “sinagogas de judeus”. Dizia-se até que ele celebrava missa judaica na capela de Santo Estêvão!...
No seguimento daquelas notícias e de um processo de averiguações conduzido pelo comissário da inquisição Bartolomeu Gomes da Cruz, (4) prior da matriz de S. Maria, de Bragança, começou nova operação, com o rolo compressor da inquisição a esmagar a comunidade hebreia de Carção. A primeira leva aconteceu em Junho de 1691, com a prisão de 10 pessoas, que foram conduzidas a Coimbra.
Domingos não esperou que o prendessem. Abalou para Espanha. E, acaso por não conseguir licença ou clientela para o exercício da profissão de barbeiro, fez-se mercador de açúcares que vinha buscar ao lado de cá da fronteira para vender em Castela. Provavelmente negociava em ligação com familiares seus de Mogadouro e Azinhoso.
Entretanto, na inquisição de Coimbra as denúncias no processo de Domingos iam-se avolumando. Veja-se uma delas, relatando a celebração do dia do Kipur de 1688, feita por João Rodrigues:
- Sendo pelas 10 horas da noite foi a casa de Clara Lopes, viúva e vigiando por um buraco da porta viu estar uma mesa baixa coberta por uma toalha branca com 2 castiçais tendo cada um uma vela amarela, apagados, (…) e sobre a dita mesa uma albarrada (vaso) de estanho e um pedaço de pão e na dita casa estava uma candeia de granado acesa e nela estavam (…) de joelhos diante da dita mesa e os mais e alevantando-se este (Domingos Oliveira) pegara na dita albarrada e a levantara sobre a cabeça e disse para os mais que não cressem nos santos de lá que eram santos de pau e logo pusera a dita albarrada sobre a mesa…
Se a noite do Kipur de 1688 foi assim celebrada em casa de Clara Lopes por um grupo alargado e presidindo Domingos Oliveira, já o de 89 seria em casa deste, para onde foram vistas entrar algumas pessoas pela porta das traseiras. A propósito, contou o padre Manuel Ochoa:
- Domingos Oliveira, barbeiro, tinha um livro que trouxera de Livorno pelo qual ensinava a lei de Moisés a todos os cristãos-novos do dito lugar e que era mestre de cerimónias e que ouvira dizer ao padre Sebastião Vaz que no dia grande estivera fechado em sua casa com Clara Lopes e Maria Fernandes ensinando-lhes as rezas do livro.
Da tal missa na capela de S. Estêvão não temos qualquer relato, antes a afirmação de muitas testemunhas dizendo que era voz pública a sua realização. (5)
Por 1687, faleceu sua mulher e a Coimbra chegaram informações, como esta, produzida por Maria de Morais:
- Disse que estava em casa do réu quando morreu Maria da Costa e ele lançara as pessoas fora e esteve cerca de 2 horas sozinho com a defunta e ela se veio para casa e presume que era cerimónia judaica.
Miguel Fernandes, contou que se encontrara na rua uns dias depois com Domingos e este lhe deu “um bacalhau e uns poucos de ovos e um ou dois tostões para fazer um ou dois jejuns judaicos…”
Uns 3 anos depois, morreu o pai de Domingos e apareceram testemunhas a dizer que este, durante 9 dias manteve uma candeia acesa no quarto dizendo “que a alma do defunto vinha ali descansar naquela cama” e que durante um ano Domingos não comera carne e que pagara 4 tostões às pessoas que faziam jejuns judaicos por alma do pai.
Não vamos continuar o relato das dezenas de denúncias feitas contra o nosso biografado. Vamos antes a Castela, ao lugar de Corposário, para onde fugira, pelo verão de 1691. Terrível acidente: ao passar junto a uma igreja caiu-lhe em cima o badalo de um sino. Pensou-se que o homem morria e logo veio um emissário ao Azinhoso a casa do irmão buscar a mortalha que havia de vestir, que seria amortalhado ao modo judaico. Felizmente que não morreu. Acrescentemos, porém, que no Azinhoso estaria já então desposado para casar com Inês Lopes da qual tinha um filho de tenra idade.
Entretanto e porque em outubro de 1691 a inquisição decretara a prisão de Domingos Oliveira, os comissários, familiares da inquisição e as autoridades… todos andavam vigilantes pela zona da fronteira. Efetivamente foi preso pelas milícias de Penas Roias, em 15.10.1692, junto à fronteira, na região de Lagoaça, onde viera buscar mercadoria para vender em Castela.
Se as denúncias na inquisição de Coimbra eram muitas e de extrema gravidade, a defesa de Domingos foi verdadeiramente desastrosa. Imagine-se: perguntado sobre o livro, respondeu que não sabia ler, quando as testemunhas por ele indicadas diziam exatamente o contrário! Perguntado sobre a “missa judaica” celebrada na capela de Santo Estêvão, respondeu que, ao contrário, ele era mordomo da mesma e que até trouxera de Roma um breve papal concedendo indulgências a quem visitasse a mesma capela. (6)
Domingos terminou os seus dias queimado nas fogueiras do auto da fé celebrado em 25.11.1696.
Notas:
1-ANTT, inq. Coimbra, pº 2865, de Domingos de Oliveira.
2-IDEM - Veja-se o itinerário seguido: - Rio Seco, Vitória, Pamplona que fica na fronteira, com Foix, reino de França e dali passando a Carcassone foi para Montpellier a Marselha onde embarcou para Viareggio, porto de Itália, de onde passou a Roma onde, fazendo o seu negócio só com a dilação de uma doença que ali teve em que tudo gastou 3 meses, se voltou pelas mesmas terras. – Note-se que ele omitiu a estada em Livorno, Bayonne, estas no regresso.
3-IDEM – Francisco Cardoso, seu cunhado, casado com Domingas de Oliveira, fez a seguinte descrição do mesmo livro: - Era ainda novo, dourado por fora e de folhas vermelhas, que seria ao modo de ripanço (breviário) e chegando a par dele viu letras vermelhas e pretas e não pôde ler por lhe parecerem estrangeiras…
4-Bartolomeu Gomes da Cruz obteve provisão de comissário em 3.1.1689 – TSO, Conselho Geral, Habilitações, mç. 2, doc. 51.
5-ANTT, inq. Coimbra, pº 2865. Testemunho de Gaspar Luís: - Por ele testemunha duvidar que o dito Domingos Oliveira dissera missa sendo secular, respondeu então a dita Francisca Lopes que o dito Domingos Oliveira sim dissera missa na ermida de Santo Estêvão que para tudo havia jeito e também (…) tinham assistido Baltasar Lopes, Francisco Rodrigues…
6-IDEM - Disse que trouxe de Roma breves para se celebrarem festas com jubileus, como foi para a Santa Rainha e para Santo Estêvão e para ser privilegiado o altar do Santo Cristo de Carção, trazendo agnus dei e outras muitas relíquias e crónicas de santos que deu pelo dito lugar, com que era muito conhecida a sua piedade cristã.
A cidade, a nossa cidade, começa a despontar de modo rigoroso e constante no universo das artes, das ciências, da educação, da gastronomia e por isso mesmo nos guias da especialidade. Assim, acontece com o Boa Cama, Boa Mesa. Na edição deste ano, no respeitante ao Distrito de Bragança, das dezoito citações sete pertencem ao burgo do Braganção, num total de dezoito. Acresce uma distinção a do – garfo de ouro – ao jovem chefe Óscar Gonçalves à frente dos fogões da Pousada de S, Bartolomeu. Retenha-se o facto de tal distinção já lhe ter sido atribuída quando exercia o ofício no Restaurante Geadas, da família, no qual pontifica a sua Mãe, Dona Iracema, que trabalha a preceito o receituário da cozinha transmontana.
Para além dos nomeados e louvados restaurantes no referido Boa Cama, Boa Mesa, outras casas de comeres existem na cidade que não deixam os seus créditos por mãos alheias, juntando-se ainda expressões culinárias de cunho étnico e internacional para lá do fast-food, cuja causa está na vigorosa implantação do Instituo Politécnico de Bragança no mercado educacional como tivemos ocasião verificar através do documentário da SIC passado na pantalha no dia sete de Abril.
Estaremos ante um milagre? Da multiplicação dos pães? Sim, estamos ante o milagre de enorme esforço, entusiasmo e perseverança contra ventos de ciúme, tempestades de maus augúrios e raivosas invejas daquela e daqueles que durante nos escarneceram dos dois principais fazedores de milagres. Escarrapaacho os nomes: António Jorge Nunes e Hernâni Dias. Cada qual a seu modo souberam congregar vontades, concitar interesses, agregar especialistas de várias áreas do saber cuja influência, massa crítica e consequente representação está expressa em obras emblemáticas – Teatro Municipal, Centro s de Arte e de Interpretação, Museus e Memórias – que transbordaram largamente as margens do Sabor e do Fervença, obrigando públicos de várias pigmentações, aculturações variadas e de múltiplos gostos cromáticos a olharem, observarem e perscrutarem as serras, os montes, os vales, os vergéis, as searas e os soutos do concelho de modo a ficarem cansados, derreados e esfomeados e a clamarem por gasalho e pitanças. Tudo isto demorou muitos anos, muitos sorriram de mofa quando se levou a bom termo a exposição do Eixo-Atlântico e o pintor Armando Alves passou a entusiasta da cidade, a mofa aumentou ao se falar na ideia de transformação da cidade na capital gastronómica de Trás-os-Montes (estamos no bom caminho), depressa nos mofadores minguaram as queixadas abertas nas tentativas de escárnio, os resultados foram aparecendo, as marcas identitárias e consequente investimentos granjearam o interesse de investidores, investigadores, artistas, criadores de sons e tons que vão da polifonia à individualidade suscitando sonhos e desejos levados à prática.
O caminho faz-se caminhando escreveu o poeta sevilhano, na vetusta cidade de Bragança o caminho continua a fazer-se, caminho eivado de calhaus, de valas, de pedras, de abrolhos, de silvedos e outras dificuldades, desde o desvios de fundos europeus à pouca atenção da Entidade de Turismo do Porto e Norte de Portugal, passando pela cupidez do autarca Rui Moreira, apesar de tanta contrariedade os jornais de referência apontam Bragança como terra coriácea, teimosa no querer, revigorada e no caminho do continuado crescimento sustentado, empenhada no imitar as suas Mestras cozinheiras, do pouco faziam muito, das humildes ervas, dos frutos silvestres e dos saborosos malápios do Gamboa.
As indústrias da cultura geram lucros de índole económica ao fim do gasto de meses quando não de anos, os contabilistas de contas estreitas e vistas curtinhas na sua maioria não sabem o significado de aculturação escorada nos patrimónios imateriais, sabem ronronar nas assembleias até se falar de cultura. Nesse exacto momento acordam e trovejam – estamos fartos de cultura – preferimos salpicões e alheiras. Saberão eles os cuidados e os trabalhos realizados pelos nossos ancestrais para nos deliciarmos com esses enchidos, um deles é massa principal de uma lenda? Pois é, tudo tem um começo e uma história, no começo o palato saliva ao cheirar a alheira, depois saboreia-a e percebe a diferença entre a realidade e a lenda. As pessoas gostam de lendas, Bragança é uma terra de lendas sápidas e a ficarem na memória. Na memória do gosto!