Então, e agora? Pois bem, valendo o que vale, no meu entendimento, agora restam apenas duas tarefas: entender o que se passou e agir em conformidade. Apesar do muito que já foi dito e escrito, não me parece que haja forma de escapar ao que se tornou evidente: o descontentamento, a indignação e a revolta dos mais fracos que, tradicionalmente alimentaram e fortaleceram os partidos de esquerda deixou de encontrar aí o abrigo e conforto e passou a ser magistralmente usado pela extrema-direita como adubo eficaz das sementes da intolerância plantadas na injustiça e enxertadas na imunidade de alguns poderes, assentando aí o seu programa de protesto para atacar o regime democrático, paradoxalmente, mais do que na organização e direitos políticos, querendo destruí-lo nas questões sociais, na solidariedade e na proteção dos mais desprotegidos. E a realidade deu-lhes uma ajuda. Paulo Raimundo e os dirigentes do PCP não podem estranhar terem perdido o apoio das dezenas de milhar dos trabalhadores desfavorecidos que a somar aos sacrifícios diários se tenham deparado com a infernização de uma greve dos transportes e que apenas a eles prejudica, organizada por um sindicado apoiado pela estrutura comunista que, inclusive, colocou nas listas para a Assembleia da república o seu mais destacado sindicalista. Por idênticas razões, só por exagerada ingenuidade Maria Mortágua poderia esperar ter o voto daqueles que, oportunamente, acompanhou, de madrugada, na sua penosa jornada diária em busca da subsistência do dia a dia com enormes sacrifícios e abnegação mas a quem abandonou, nos dias da tal greve, atrás referida, sem uma única palavra de conforto e muito menos qualquer condenação, por mais tímida ou leve, para quem se recusou a transportá-los para os longínquos e necessários locais de trabalho. E o que dizer de quem espera e desespera, nas urgências dos Hospitais, sobretudo aqueles que, fruto de competentes PPPs, funcionavam bem e agora não conseguem dar uma resposta satisfatória aos utentes quando, apenas por uma questão ideológica, voltaram a ter gestão pública? António Costa entendeu bem que, tendo-se apoiado à esquerda para ascender ao governo da Nação, a ideologia que lhe estava a ser imposta, de pouco valia se não se traduzisse em atuação prática e, sobretudo, pragmática. Por isso, logo que pode, começou a afastar-se da linha original e, com isso, alargou a base eleitoral chegando à maioria absoluta. Pedro Nuno, pelo contrário, entendeu que era altura de “fazer render” os créditos alcançados na bem-sucedida negociação da geringonça e… arrastou o seu partido para o conhecido descalabro. Outros argumentos poderiam ser avocados para justificar (se mais justificações fossem necessárias) para entender a escolha do eleitorado no passado dia 18. Mas, entendê-la, não quer dizer que se tome como boa. Respeitando, obviamente, a escolha eleitoral, é tempo de abrir trincheiras e combater, de forma democrática e racional as soluções que, alavancando-se no medo, na falsidade e na deturpação de realidade percetível, apelam ao ódio, à intolerância, ao xenofobismo e ao racismo, usando a demagogia e o endeusamento de quem, falsamente, a todos promete a esperada bem-aventurança.