O Major General Isidro Morais Pereira fez saber que, respondendo a uma persistente e continuada insistência de inúmeras pessoas, para se candidatar à Presidência da República Portuguesa, decidiu dar um passo em frente. Talvez, em boa verdade, um meio passo, pois apenas admitiu estar a ponderar essa hipótese, prometendo divulgar o resultado da reflexão que vai fazer, depois das autárquicas (entende-se bem porquê e já lá iremos), e mesmo esse arremedo de avanço, algo tremido, como veremos.
Porque, vindo de alguém perto do militar, surgiu a notícia de estar agendada uma reunião entre o protocandidato e o partido de extrema-direita, Chega. Pedro Frazão, vice-presidente desse partido, por ocasião do anúncio da sua candidatura à Câmara Municipal de Oeiras, confirmou o respetivo agendamento. O próprio General e comentador televisivo deu cobertura às notícias que disso davam eco, afirmando:
“Sinceramente, se a minha decisão for no sentido de me candidatar, não enjeito o apoio dos partidos. Os partidos fazem parte da democracia portuguesa. É sempre um conforto. Todo e qualquer partido que merece um apoio significativo dos portugueses, como foi o caso do Chega, que teve mais de um milhão de votantes… não há razão nenhuma para que não aceitasse esse apoio. Isto não quer dizer que concorde com todas as bandeiras do Chega.”
Logicamente, iriam, em consequência, reunir-se. Mas não se reuniram. Facilmente se percebe porquê. Porque, tal como o PS, provavelmente pelas mesmas razões, o Chega não quer definir a sua estratégia antes das autárquicas. Nunca, como agora, as eleições locais condicionaram tanto as presidenciais. Porque, como referiu Morais Pereira, uma fatia eleitoral com mais de um milhão de votos é muito apetecível para qualquer um que se queira submeter ao sufrágio popular… desde que houvesse uma garantia mínima de que poderia ser abocanhada na sua totalidade ou, pelo menos, numa parte substancial.
Ora, a trajetória ascendente do partido de André Ventura sofreu um revés nas europeias… onde o próprio não era candidato. Terá sido isso apenas um “acidente” ou a revelação de que, sem o seu líder e principal figura de destaque, o partido vale muitíssimo menos? É isso que as autárquicas irão revelar. E fará toda a diferença! Aí o PS ficará a saber se o seu partido foi realmente ultrapassado ou se foi “apenas” Ventura que superou Pedro Nuno Santos, deixando José Luís Carneiro livre para a decisão do apoio socialista ao pretendente presidencial da sua área.
Igualmente, o comentador da CNN verá se a tão apetecível parcela de eleitores pode ser minimamente garantida ou se apenas a teatralidade do inefável André a consegue mobilizar. O problema é que, apesar de não ter conquistado ainda nada nem ninguém de forma substantiva, a aproximação à ideologia extremista já lhe granjeou anticorpos e, como tal, tendo-o constatado, apressou-se a recuar tanto quanto lhe é ainda possível. Veja-se a enorme distância da declaração inicial, atrás referida, da mais recente, que, a este propósito, é conhecida:
“Meus estimados amigos, tendo surgido algumas notícias tentando associar o meu nome a um partido político (CHEGA), quero deixar bem claro, para que não restem quaisquer dúvidas, que não tenho NENHUM TIPO DE LIGAÇÃO, com o partido em questão.”
Esclarecedor!