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A hora é dos independentes

Diz-se que a democracia está em crise, hoje em dia. Numa abordagem superficial, ainda que pragmática, sem grandes preocupações epistemológicas, portanto, poder-se-á aceitar que sim, sobretudo no que ao regime político português diz respeito, mas não só, sendo que o problema não é de agora.

Crise que ganha corpo com o persistente desprestígio dos partidos políticos, sem exceção, que, quanto a mim, tem na hegemonia partidária a sua causa principal. Ou seja: os partidos políticos, que originalmente nem sequer foram citados pelos redatores das primeiras constituições democráticas, como é correntemente realçado por conhecidos politólogos, acabaram por eles próprios monopolizar e condicionar o acesso ao poder político democrático, arredando quaisquer outras organizações cívicas, culturais, ou de que natureza for, de se poderem candidatar a uma participação justa e construtiva na vida política comum.

É por demais evidente que este hegemónico monopólio partidário levou a que os partidos fossem preferencialmente tomados de assalto, mais do que seria razoável, por agentes oportunistas de inferior competência e tendencialmente corruptos, em procura de benefícios próprios ou pugnando por proveitos ilícitos de empresas privadas, remetendo o interesse nacional para segundo plano, com os prejuízos gravosos que daí advêm para a coletividade.

Claro que, se esta análise se alargar a todos os Estados da Europa democrática, haveremos de admitir que, mais do que uma crise da democracia, eventualmente tida como circunstancial, é a própria civilização europeia que está em causa. Civilização que tem história longa, como se sabe, cujas origens são vulgarmente remetidas para gregos, romanos e mesmo judeus, ainda que registe vários acidentes trágicos, os últimos dos quais aconteceram com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a ainda mais devastadora Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Certo é que a democracia, liberal e representativa, alcançou o seu máximo esplendor de liberdade, igualdade, humanismo, representatividade e afirmação do estado de direito, mais genericamente falando, no período dito de pós-guerra, assumindo-se como o emblema essencial da que poderá ser justamente designada por civilização europeia, agora perigosamente ameaçada.

Tanto assim é que, quer a civilização, quer a democracia aqui referidas correm o risco de mais uma vez serem sacrificadas num potencial conflito militar alargado, já em curso, com intensidade, nas suas fronteiras e mesmo no seu interior, na modalidade de guerra híbrida. Tão pouco será de excluir a hipótese muito séria de uma alargada guerra civil europeia, causada, sobretudo, pelo fanático proselitismo islâmico, que tem conhecidas raízes históricas e que diariamente ganha terreno e força em vários Estados, incentivado pela pusilanimidade de muitos dirigentes europeus e dos vícios de toda a ordem alimentados pela dita hegemonia partidária, como bem se vê no regime político português.

Partidos nos quais, em muitos casos, se instalaram nefastas teias familiares, facções antagónicas, bandos de malfeitores e até sub-reptícios agentes inimigos. De tudo isto resulta o desprestígio generalizado dos partidos, mais visível nos que têm governado Portugal desde a implantação da democracia, por entre sucessivos escândalos e fracassos, a nível central e local.

Só assim se compreende, de resto, que Portugal continue posicionado no mais baixo patamar europeu, por maiores ajudas financeiras que continue a receber da União. O que também explica o crescente interesse pelas candidaturas independentes, para já apenas viáveis a nível autárquico e presidencial, ainda que seja desejável e salutar que, a breve prazo, também sejam implementadas a nível governamental ou parlamentar, como se queira.

Acreditando-se que as candidaturas independentes introduzirão uma melhor ligação dos políticos ao povo, maior isenção e participação cívica, mais competência governativa e maior dedicação à causa pública e ao interesse nacional. Importa clarificar, ainda assim, o conceito de “independente”, sem excluir os que abandonam os partidos em que militam em litígio com evidentes más práticas partidárias, independentemente das questões ideológicas que, hoje em dia, não passam de discursos tendencialmente demagógicos e populistas.

Ainda que se deva pôr a tónica nos cidadãos que são motivados pelo genuíno interesse de bem servir, sem menosprezar o justo desejo de realização pessoal. Havemos de concluir, portanto, que as candidaturas independentes, a serem plenamente assumidas, poderão representar uma positiva reforma política, a salvação da democracia e uma certa renovação civilizacional, perante a inação criminosa dos poderes partidários instalados.

Certo é que, quanto mais os partidos se desprestigiarem, mais crescerá o interesse dos eleitores pelas candidaturas independentes.

Henrique Pedro