A arte do biscate, o trabalho que poucos sabem fazer e que a muitos livra dores de cabeça

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Ter, 08/08/2023 - 10:29


Fernando Jorge e Augusto Alho são biscateiros em Bragança

Há trabalhos que poucos querem ou sabem fazer. E só se dá conta de que há pouca gente para os cumprir quando a dificuldade bate à porta.

Persianas emperradas, canos de água danificados, torneiras a pingar, sanitas entupidas, tomadas que deixaram de funcionar… há um sem número de problemas com os quais é preciso lidar no dia a dia. Na hora do aperto não se sabe bem quem pode resolver a questão.

Fernando Jorge dá conta destes e de outros recados, em Bragança, tanto na cidade como nas aldeias, basicamente, “onde seja preciso”, e diz que “não há mãos a medir”, o trabalho “é muito”.

O brigantino diz que sempre gostou de construção, até porque o pai estava ligado ao ramo, e aprendeu algumas artes desde criança. Desde 1998 que tem a Briconor, uma empresa que “leva a bricolagem a casa”. “Faço vários serviços ligados a arranjar persianas, pintura, pichelaria, electricidade… tudo o que está ligado à construção civil. Serviços pequenos e grandes”, esclareceu. 

Apesar de dizer que, contas feitas, este trabalho “não dá muito dinheiro”, porque “há muitos custos”, nomeadamente ligados ao combustível, já que faz várias deslocações para ir avaliar trabalhos, concretizá-los e comprar material, Fernando Jorge assume que tem muitas pessoas a procurá-lo. “Há muita gente a solicitar os meus serviços. Há alturas em que não há tantos serviços, mas há outras, como esta, em que não há mãos a medir”, vincou.

Os serviços mais frequentes estão ligados ao arranjo de persianas e pichelaria, renovações em casas de banho, nomeadamente o retirar de banheiras e substituí-las por polibãs, trocar azulejos e mosaicos e trabalhos de pintura. E o mais complicado? Bem, “complicado … não é nada”. “Tudo se resolve, com mais ou com menos dificuldade… tudo se resolve. Há sempre uma solução”, disse Fernando Jorge.

Ligado à actividade há vários anos, tendo aprendido com o tempo, a experiência, os trabalhos realizados e o “ir vendo” como se faz, o proprietário da Briconor diz que “há falta deste tipo de trabalhadores e as pessoas queixam-se”. “Eu, que estou ligado a isto, vejo que há muito poucas pessoas que queiram fazer estes serviços”, rematou, assumindo os jovens não se interessam por estas actividades.

Fernando Jorge diz que “é difícil arranjar pessoas”. “Mesmo só para andar com a ferramenta e ajudar … não há pessoas. Não aparece ninguém”, disse, sublinhando que “o trabalho não é cansativo”, alguns dias sim, são mais custosos, mas outros não. O problema mesmo é que “os jovens não querem saber disto” e, por isso, vai faltando, cada vez mais, quem o faça.

Nos dias que correm, encontrar alguém que ainda faça biscates é um achado. E por serem poucos, por vezes, as pessoas chegam a esperar semanas até que o problema seja solucionado.

Augusto Alho é também biscateiro em Bragança, mas já não tem muito tempo para se dedicar a estes trabalhos.

Tudo começou quando a empresa onde trabalhou durante 35 anos faliu. Nessa altura decidiu começar a fazer biscates, “reparações de móveis”, “pinturas”, “arranjar torneiras”, “arranjar móveis partidos” e “colar cadeiras”.

“Há bastantes pessoas a procurar por um biscateiro, mas há pouca gente a querer fazer isto”, disse, acrescentando que os jovens “não se interessam” por esse tipo de trabalhos.

Augusto Alho tem ainda uma casa de móveis em Bragança. Vende móveis por medida e faz mudanças. O empresário disse ainda que fazer mudanças é outro dos trabalhos que poucas pessoas querem fazer. “Fazer mudanças ninguém quer, porque é um bocadinho difícil, subir escadas, descer escadas, com os móveis e é preciso saber e ter cuidado”, referiu.

Devido ao negócio, já não tem muito tempo para se dedicar aos biscates. “Agora o tempo já é pouco, porque temos a casa de móveis, vendemos cozinhas, roupeiros, e o tempo já não chega para os biscastes”, contou.

Houvesse mais tempo, que biscates não faltavam. “Se alguém quisesse trabalhar mesmo e aprender, governava-se bem”, afirmou, salientando que “trabalho não falta, querendo e fazendo bem, não falta serviço”.

Jornalista: 
Carina Alves / Ângela Pais