Bragança pode deixar de ter avião

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Qua, 27/12/2023 - 10:06


Contrato com Sevenair termina em Fevereiro e Governo ainda não voltou a abrir concurso

A ligação Bragança-Vila Real-Viseu-Cascais-Portimão é feita pela companhia aérea Sevenair, desde 2009, no decorrer de sucessivos concursos, que têm o prazo de quatro anos. No entanto, a concessão termina já a 28 de Fevereiro e o Governo ainda não abriu o aviso para atribuir novamente a concessão.

O concurso público decorre, pelo menos, ao longo de um ano, o que significa que mesmo que, seja aberto agora, não estará concluído até Fevereiro. Assim sendo, Bragança pode mesmo ficar sem ligação aérea.

De acordo com o director de voos da Sevenair, Sérgio Leal, em declarações ao Jornal Nordeste, a companhia aguarda a abertura de novo concurso. Se até Fevereiro não for aberto, vão mesmo deixar de fazer voos, porque não quererem suportar as despesas, como já aconteceu. “Noutras situações em que a linha terminou o prazo e não havia uma solução imediata, a Sevenair continuou, por mais um tempo, porque faltavam apenas coisas do Tribunal de Contas, e nunca recebemos esse valor”, contou, acrescentando que só o voltariam a fazer se tivessem uma garantia.

 

Autarca de Bragança indignado

O presidente da Câmara Municipal de Bragança disse que não tolera esta situação e exige ao Governo que garanta a continuidade da ligação aérea. Hernâni Dias vincou que se deixar de ser feita é mais uma perda para a região e para o Interior, considerando que o Governo “mais uma vez esqueceu-se de olhar para Trás-os-Montes”. “Todos nós ficaremos mais pobres, mais afastados do Litoral e da capital do país”, afirmou.

O autarca defende que o Governo deve permitir aos habitantes do Interior os mesmos direitos e oportunidades que aos do Litoral.

Uma vez que a concessão ainda demora a ser atribuída, mesmo que o concurso seja aberto agora, para que Bragança não fique sem avião, Hernâni Dias entende que a solução passará pelo Governo fazer “um ajuste directo para a prestação deste serviço mantendo a carreira em funcionamento até que seja lançado novo concurso”. “Fomos os últimos a aceder àquilo que é a alta velocidade rodoviária, vulgo auto-estradas, portanto não queremos ficar neste momento numa situação ainda mais difícil”, afirmou.

O Jornal Nordeste contactou o Ministério das Infra-estruturas para perceber o motivo pelo qual o concurso ainda não foi aberto, se há intenções de o abrir e se caso não aconteça, como poderá ser resolvida a situação dos municípios afectados. Até ao fecho desta edição do jornal, não obtivemos qualquer esclarecimento.

 

Sevenair só concorre se oferta do Governo for melhor

A Sevenair disse ainda que não voltaria a concorrer se o valor da indeminização compensatória pela exploração aérea for o mesmo, porque não terão “condições”.

Durante os últimos quatro anos, receberam 10 milhões de euros, ou seja, 2,5 milhões por ano. No entanto, Sérgio Leal admitiu que devido ao aumento da inflação, a empresa teve um prejuízo “grande”, de “300 mil euros”, entre 2022 e 2023. “Na actual conjuctura que estamos a passar temos de pensar que houve muitos aumentos, que não foram contabilizados num concurso que foi feito há quatro anos. Basta falar de uma coisa que para nós é primordial que é o combustível. O aumento dos preços do combustível é um dos factores principais e afecta substancialmente a operação”, referiu.

Além do aumento do combustível, a pandemia e o encerramento, durante dois anos, do aeródromo de Bragança também trouxe constrangimentos financeiros à empresa, visto que “limitou substancialmente a venda de bilhetes”.

 

Vários dias sem voos

Durante as últimas semanas, a ligação a Bragança esteve comprometida.

Entre 11 e 13 de Dezembro, o avião não operou, segundo o director de voos, devido a um atraso “na renovação de documentação”, que “de três em três anos” é “mais profundada”. “Demorou um pouquinho mais esta última verificação e foi mais por questões processais e documentais, do que propriamente por manutenção ou aeronavegabilidade do avião”, explicou, acrescentando que alguma documentação pedida remontavam a “coisas que aconteceram há décadas” o que contribuiu para o atraso.

A empresa é obrigada a ter um segundo avião, que pode operar em situações como estas ou até mesmo devido a problemas na aeronave principal. Sérgio Leal esclareceu que a aeronave está no hangar, mas são precisos “alguns preceitos” para que o avião voe. “Dado que esta situação seria para resolver num espaço muito curto, embora depois tenha atrasado mais, não iria compensar o tempo, visto que que iria demorar a pô-lo a funcionar. Antes de se pôr em funcionamento há várias coisas que teriam que se fazer para que ele pudesse estar apto rapidamente para o fazer”, disse, esclarecendo que poderia demorar mais tempo e não compensaria.

Na semana passada, as condições meteorológicas também não deixaram que o avião aterrasse em Bragança. Entre segunda e quinta-feira, o nevoeiro impediu que fosse feita a ligação até Bragança. O avião voava apenas até Vila Real, mas a companhia disponibilizou um autocarro aos passageiros para que pudessem chegar a Bragança.

Jornalista: 
Ângela Pais