Burlas pelo Whatsapp aumentam na região

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Ter, 01/08/2023 - 11:05


António Gonçalves faz parte do grupo de pessoas que foi burlado através do Whatsapp, uma aplicação que permite fazer chamadas e mandar mensagens

Este tipo de burla já não é de agora, consiste numa pessoa que se faz passar por um “filho” ou “filha” e pede que lhe seja enviado dinheiro. Já várias pessoas foram enganadas assim e na região, recentemente, tem acontecido com frequência. António Gonçalves começou por receber uma mensagem, supostamente, do filho, que o estaria a avisar de que tinha um número novo, porque tinha deixado o telemóvel a arranjar. Foi o início de uma fraude de quase mil euros. “Manda-me uma mensagem, novamente, em que dizia ‘Pai, preciso de um grande favor teu. Se estiveres disponível, preciso de fazer um pagamento urgente só que para fazer esse pagamento preciso das password’s que tenho no meu telemóvel que está a reparar. Podes-me ajudar?’. E eu disse ‘Posso’. De seguida recebo outra mensagem ‘Olha, precisava que fizesses uma transferência ou um pagamento para esta entidade e referência’. Quando me disse entidade e referência fiquei convencido que o meu filho precisaria de ajuda. E aí deixei de raciocinar com pessoa normal e raciocinei como pai”, contou. Ainda antes de fazer o pagamento, ligou ao filho várias vezes, quer para o número novo, quer para o antigo, mas nunca conseguiu falar com o filho. Admite que o lado emocional o fez pôr de parte a hipótese que estava a ser burlado. “Tentei ligar para esse número que ele me tinha dado com alternativa e a resposta do lado de lá era um ruído muito estranho, o que me levou a pensar que o telemóvel que ele tinha estava avariado também. Entretanto, como ainda era cedo, tentei ligar para o número antigo do meu filho. Tocou mas ele não atendeu e eu fiquei muito mais preocupado. Entretanto recebo nova mensagem a dizer ‘Então pai, vais-me ajudar ou não? Pode pagar através de entidade e referência e manda-me o comprovativo de pagamento’. Fui fazer o pagamento e mandei-lhe o comprovativo”. Só depois de ter feito o pagamento, ficou realmente desconfiado. A pessoa continuou a pedir-lhe mais dinheiro e foi aí que percebeu que algo não estaria bem. Tinha acabado de ser burlado em “993 euros”. Agora quer alertar as pessoas para que não cometam o mesmo erro. “Tenham atenção, não ajam sobre brasas, raciocinem. Devem alertar as autoridades, a PSP, porque está receptiva a esse tipo de denúncias, porque estão preocupados com o que está acontecer”, frisou. António Gonçalves já apresentou queixa na PSP de Bragança, mas tem poucas esperanças de conseguir reaver o dinheiro.

Denúncias às autoridades aumentaram nos últimos dias

A burla “Olá pai/Olá mãe”, que vitimou António Gonçalves, feita através do WhatsApp, surgiu em 2020. O fenómeno registou-se e continua a registar-se por todo o país e no estrangeiro. Segundo esclareceu o Comissário Eusébio Gonçalves, chefe do Núcleo de Investigação Criminal da PSP de Bragança, esta burla consiste em o criminoso contactar alguém, fazendo-se passar pelo filho/a dessa pessoa. “Por norma, é uma mensagem via WhatsApp que diz ‘Olá pai/Olá mãe, perdi o meu telemóvel, se precisares de me contactar fá-lo para este número’. O destinatário, se tiver filhos, por norma, não desconfia da mensagem. Depois deste contacto vem a burla. O criminoso manda nova mensagem dizendo à vítima que precisa de fazer o pagamento de um serviço, sendo que o prazo está para terminar, e que tinha os códigos no suposto telefone que já não tem. Dá à vítima a entidade e referência e esta faz o pagamento”, explicou o comissário, que acrescentou que é frequente que exista ainda um segundo pedido para pagamento. Normalmente é aí que as pessoas se apercebem de que há algo errado ou compreendem que sofreram uma burla quando acabam por falar com o familiar. Sobre esta burla em concreto, em Bragança já houve várias queixas. Conforme esclareceu o Comissário Eusébio Gonçalves, no início do ano “houve menos” e agora “há alguns acontecimentos”. “Tivemos um período em que este fenómeno parou mas, recentemente, tivemos novamente algumas denúncias. Não sei se isto significa que vai aumentar ou se são episódios esporádicos”, vincou, acrescentando que “as burlas através da internet tem vindo a aumentar” e este “é um fenómeno que preocupa a PSP”. Nesta e noutras burlas semelhantes, as vítimas são escolhidas aleatoriamente, o que “dificulta a investigação” mas “é essencial denunciar”. “A nível nacional há casos de detenções, de identificação de alguns suspeitos”, explicou, dizendo ainda que, no caso de Bragança, há pessoas que, recebendo estas mensagens e não tendo filhos, facilmente perceberam a situação e acabaram mesmo por fazer chegar o caso às autoridades, o que ajuda ao trabalho de quem investiga. Além desta burla, há outras que preocupam a PSP, nomeadamente a burla MB Way, em que os esquemas acontecem, normalmente, no contexto de vendas online, em sites como o OLX e o Custo Justo. O falso arrendamento também é outra burla comum é há denúncias em Bragança. Neste caso, o burlão coloca o anúncio de um imóvel na internet e os interessados respondem a esse anúncio. É-lhes pedida uma caução e acabam por ficar sem o dinheiro. Neste momento, “há outro fenómeno que também preocupa, que é o suposto criminoso fazer-se passar por agente da autoridade, da PSP, da GNR, da Polícia Judiciária, das Finanças ou, por exemplo da EDP”. Segundo contou o comissário, o criminoso “manda um email fraudulento fazendo acreditar que é de uma entidade credível e diz à pessoa que têm uma dívida ou coima, que têm de resolver aquela questão urgentemente. Propõe o pagamento de uma quantia muito inferior à dívida, que não existe, e a pessoa que é contactada, para evitar problemas com a justiça, faz esse pagamento para acabar com o processo”.

ALERTAS:

A PSP alerta as pessoas para se protegerem, utilizando antivírus no computador e no telemóvel. Também é aconselhável que não carreguem em links suspeitos, sempre que receberem emails e mensagens. E sempre que receberem uma mensagem ou email de uma entidade que não façam nada sem contactarem a entidade em causa. A polícia pede ainda que se evite fazer pagamentos por entidade e referência, estes devem ser feitos por NIB. Quando houver compras pela internet as pessoas devem pagar só quando o produto chegar.

 

Foto: Kriaction

Jornalista: 
Carina Alves/Ângela Pais